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História Anne With Ann "E" - Para sempre ( EM REVISÃO ) - Capítulo 97


Escrita por: CarolMirandaS2

Notas do Autor


Boa leitura a todos.

Capítulo 97 - Capítulo 97


A tampa do velho baú se fechou com um baque. Kakweet revirava suas roupas sujas depois de dois dias, procurando por algo importante nos bolsos. Não se conformava, começou a ficar aflita, foi até a gaveta da cômoda de cabeceira enroscando a manga da maldita camisola branca no processo rente a grade da cama.

Resmungou e se desenroscou rapidamente. Abriu, também nada,  se levantou e começou a andar de um lado para o outro, mechendo freneticamente no longo cabelo liso e negro como fazia quando estava nervosa demais o jogando de um lado para o outro.

Seria possível que algum dos empregados de tia Josephine tivesse mexido nas suas coisas?  Se sentia tímida em perguntar algo assim e ser destratada, alguns dos deles a detestavam pois achavam inaceitável a idéia de servir "alguém-não-branco". E não faziam questão de esconder seu desconforto em recolher um copo sujo ou preparar um banho para uma pessoa cujo o imaginário doentio popular, foi criada sem saber o que era uma banheira.

Hipocrisia conveniênte, era aquilo, não se atreviam a reclamar uma palavra com Josephine pois sabiam que caso ela suspeitasse da repulsa preconceituosa, estariam no olho da rua. Kakweet também não havia dito até hoje uma palavra nem a ela e nem a Cole, pois considerava uma tempestade no copo d'água e era incapaz de arruinar o emprego de alguém por mais que esse alguém fosse uma pessoa com uma visão horrenda de igualdade e compaixão ao próximo.

Porém dessa vez havia desaparecido algo tão importante quanto uma daquelas jóias de Gertrude que tia Josephine guardava no cofre. A nota promissória que comprovava a transação comercial entre Sr.Byron , irmã Abigail e as empresas Andrews que forneciam abastecimento a três regiões da ilha de Príncipe Eduardo.

Uma das poucas provas que tinha em mãos o seu único trunfo para não ficar a mercê daqueles miseráveis. A tinha até  pouco tempo antes da viagem e a levou na tentavativa de ter um modelo e conseguir outras iguais aquela nos documentos confidenciais do internato.  Seria possível que a perdeu pela floresta?  Ou havia esquecido na mochila de mantimentos que ficou esquecida lá durante a fuga? Não.  Essa não era uma hipótese, pois ainda lembrava de tê-la guardado dentro do corset em um bolso externo pequeno.

Então quando perdeu? Talvez ao cair no buraco? Perguntas demais e respostas de menos. Agora não iria se poupar de fazer um interrogatório em cada indivíduo que entrou no seu quarto nos últimos dois dias, nem que recebesse olhares de desprezo e duros discursos de auto defesa. Duro seria explicar a tia Josephine o por que tamanho alarde por uma mera nota promissória.

Saiu do quarto, e deu de cara com Cole no corredor já arrumado, porém igualmente de pijama, ele ergueu os olhos do livro que tinha em mãos e cumprimentou :

_ Bom dia.

Já haviam voltado a se falar, Cole tinha um coração mole com os amigos e perdoava as pessoas que realmente mereciam na sua percepção com facilidade. Ela abriu um sorriso afetuoso e respondeu : 

_ Bom dia Cole.

Ele parou e apontou interrogativamente para ela, que só então notou que estava com inúmeros objetos nas mãos completamente aleatórios, como um jornal, luvas e uma escova de cabelo.  Sem perceber,  havia permanecido segurando eles enquanto revirava o quarto :

_  Oh! sim, eu estava procurando algo importante... sabe...ando meio bagunçada.

Encolheu os ombros timidamente. Ele riu e respondeu : 

_ Entendo. Te vejo lá em baixo não demore.

Assim o rapaz sumiu pelo corredor , Kakweet prendeu os cabelos frouxamente nas pontas e entrou no quarto novamente. Foi até a toalete e jogou água no rosto mirou o espelho notando a feição cansada. Deu dois tapinhas na própria bochecha e se enxugou , iria procurar até em baixo da terra nos jardins da casa se fosse preciso, mas iria encontrar ao bendito pedaço de papel.

A ala estava lotada. Era um daqueles dias em que tudo parecia um pesadelo se você resolvesse prestar atenção em volta.

Ao fundo haviam gritos desesperados, Gilbert entrou correndo na sala, seguido do professor. Havia chegado a perguntar se não havia outra pessoa que pudesse ajudar nisso mas o outro foi irônico e apontou em volta :

_ Está vendo mais outros médicos aqui? Estou cercado de alunos eu sou o único então faça o que eu digo! 

Realmente ele era o único de plantão enquanto o hospital parecia um barco naufragando necessitando de atendimento com um número considerável de pessoas doentes devido a epidemia de gripe na última semana. Gilbert não podia se dar ao luxo de  contestar se lhe dessem uma ordem e foi, ao menos atrás dele estavam Juddy e Dominic igualmente nervosos mas que não iriam deixa -lo passar por isso sozinho.

Era um momento tenso, a paciente na cama era coberta por uma camada grossa  de suor e parecia que iria desfalecer a qualquer segundo. Hora ou outra gemia ou se contorcia de dor, tinha os cabelos castanhos era branca como um fantasma e suas pálpebras estavam roxas , e o corpo tão magro e esquálido que tinha a impressão de pesar como uma pena.

Os gritos que irrompiam eram do marido um trabalhador humilde de meia idade que ao vê - la quase fechar os olhos começou a gritar desesperado:

_ Salvem ela! Façam alguma coisa! Não durma, não durma...

Repetia incansavelmente ao lado da cama, não  necessariamente ouvido pela doente, estava transtornado. Juddy entrou e começou a checar o soro rapidamente ,  a mando do professor Gilbert ficou encarregado de verificar o pulso e Dominic iria ajuda-lo a reanimar a paciente. 

Com preocupação, constatou que estava cada vez mais fraca e caminhava para uma parada cardíaca. Felizmente se fizessem tudo rápido ainda havia uma chance, então  Gilbert se dirigiu a Juddy e perguntou :

_  Sabe se temos injeções para induzir adrenalina?  Ou alguma anestesia ? Qualquer coisa para diminuir o quadro de dor?

Ela mordeu o lábio apreensiva e disse :

_  Talvez, acho que há remédios para dor, não anestesia e também não me lembro de ter visto injeções de adrenalina. Creio que estão em falta.

Pelo visto o hospital voluntário não carecia só de médicos de verdade.

Dominic rosnou baixinho:

_  Droga, logo o mais importante. Vá  verificar tudo isso e traga o que encontrar.

A moça concordou e saiu em disparada para buscar as coisas. Enquanto isso, o professor tentava manter o esposo da paciente calmo e na porta para fora para não atrapalhar, Gilbert no entanto já  estava perdendo a paciência, pois foi mandado monitorar a temperatura no termômetro  mas era impossivel fazer isso com os gritos estridentes que tiravam a sua concentração. 

Ele finalmente pareceu se acalmar pois a gritaria  cessou e seu professor entrou torcendo o bigode grisalho nervoso, tinha a duras penas conseguido que o outro esperasse no corredor . Dominic punha as luvas e andava de um lado para o outro. Derrepente a mulher parou de emitir ruídos de agonia e seu olhar foi ficando lívido enquanto arregalava os olhos.

Se arqueou tanto na cama que seus ossos pareceram de borracha, em seguida, caiu no colchão sem abondonar a expressão torturada. O professor se aproximou e pôs os dedos sob a jugular do pescoço e  soube imediatamente do que se tratava.

Teriam que reanimar e forçar por via externa o coração a bater novamente. Iriam tentar um por vez , enquanto o corpo estava quente, primeiro ele, depois Dominic e por fim Gilbert. Nesse momento Juddy entrou correndo com uma bandeja com água limpa, algodão, uma única seringa de anestesia e comprimidos para a dor.

Assustada, quase freou o passo quando ouviu o professor gritar:

_  Abram espaço!

Deixou a bandeija sobre a mesa e abriu as cortinas deixando a corrente de ar circular pelo cômodo abafado. Em pleno inverno ali dentro fazia um calor sufocante fruto da aglomeração de cinco pessoas tendo que dividir o mesmo oxigênio em poucos metros quadrados. Ou talvez fosse somente a aflição.

Agora Dominic estava tentando, não  era uma  cena bonitinha, estavam forçando o tórax da mulher produzindo barulhos violentos e assoprando as narinas para tentar fazer chegar ar ao pulmão novamente. Quando ele se afastou para Gilbert tentar a olhou e perguntou : 

_ Por que demorou ? Encontrou a droga com adrenalina para injetarmos nela?  

_ Justamente por isso demorei, não havia em parte alguma. Só  trouxe coisas para aliviar a dor e a fazer dormir. Mas pelo visto não vão servir muito...

Durante o diálogo Gilbert tentava dar o seu melhor , era a primeira vez que tinha de tentar a reanimação dos sentidos em uma pessoa que não possuía mais batimentos, e por mais que seu professor berrasse as orientações estava cada vez mais  exausto, a paciente semicerrou os olhos devagar e assim permaneceu . Juddy e Dominic o olharam com pena, chegaram perto e ele estendeu a mão para tocar o ombro do amigo :

_ Blythe.

Foi ignorado. 

_ Gilbert.

Ao ouvir o seu primeiro nome ele se virou sem forças para falar. Seu professor, com o rosto morbidamente sério, e numa  calma enlouquecedora de quem já estava acostumado, chegou perto da cama , olhou o rosto esverdeado da mulher checou o relógio de pulso e disse em voz alta, arranhando o silêncio :

_  Horário do óbito : 07 horas e quinze minutos. 

O clima pesou sobre aquelas jovens cabeças e para Gilbert seria difícil apagar aquela cena, será que ele poderia ter feito algo melhor?  Ele foi o último. 

Juddy estava trêmula, parecendo segurar as lágrimas, Dominic estava sério como quem acumulava certa raiva ou frustração, a boca em uma  linha rígida e os ombros tensos.

O professor olhou para os três e perguntou : 

_ Alguém se voluntária para dar a notícia?  

Olharam para o corredor torturados e em silêncio. O homem deu um riso sem humor e murmurou : 

_ Foi o que eu pensei.

Deixou a sala. Depois disso nada foi ouvido por quase um minuto, até um ruído estranho seguido de um gemido de dor e um palavrão os arrancaram do estado de choque e obrigou aos três a irem para fora também.

Já no corredor branco, deram com o esposo da falecida em cima do professor desferindo socos sobre socos. Desesperados, Gilbert e  Dominic foram separa-los antes que o camponês o matasse. Juddy saiu correndo e se pôs a gritar por ajuda.

Gilbert conseguiu afastar o desconhecido porém foi agarrado no processo pela gola do jaleco. O homem tinha o rosto contorcido pela raiva e gritou : 

_ Você é um inútil!  Todos vocês  são! Eu mandei fazerem alguma coisa,  eu mandei! 

Ficou inerte, aguardando um soco igual ou pior do que o seu professor que agora era amparado por Juddy havia recebido. Como discordar?  Inútil ,  era assim que estava se sentindo mesmo, fora isso  ele entendia aquela raiva,  aquilo era alguém possesso pela dor.

Juddy largou o professor com Dominic e se aproximou dos dois tocando-o :

_  Pare com isso . Tentamos fazer o melhor, não haviam remédios o suficiente para a sua esposa eu sinto muito.

Ele largou Gilbert e se virou com os olhos vermelhos contribuindo para um olhar psicopata, segurou o braço dela como se segura uma boneca e se pôs a sacudi-la em meio  a novos gritos :

_ Que tipo de hospital é esse que  não tem remédios?! 

Juddy tentou se soltar mas ele parecia ter dedos de aço que se cravaram no seu antebraço como uma  garra. 

_ Você também é uma inútil,  não  tente justificar essa palhaçada! 

_ Me solte!

_ Não me diga o que fazer!

Ele ergueu o braço e ela fechou os olhos com força, porém o golpe não veio. Nem em Gilbert, nem nela ,  nem em ninguém. Dominic segurava a mão áspera e calejada no alto da sua cabeça e tinha um brilho intenso de ódio nos olhos. Era a primeira vez que Juddy o via asim, sem o ar brincalhão ou provocador que tinha com ela, parecia outra pessoa. 

Ficou assustada, Gilbert olhou de um para o outro. E num movimento inesperado Dominic abaixou o braço com uma força descomunal e o imobilizou no chão, com ares de um assassino se abaixou e disse num tom controlado :

_ Nunca mais se atreva a tocar numa garota assim de novo. Eu vou te soltar, e trate de controlar os seus impulsos, se chegar perto dela vou estar pronto para perder o estágio que demorei dois meses para conquistar sem peso na consciência ouviu? 

Não obteve resposta. Se levantou escutando o som da própria respiração ecoar, Gilbert com cautela estendeu a mão para o homem no chão que recusou bruscamente e se afastou sentando em um dos bancos a uma distância considerável.

Por fim outra enfermeira aprendiz num uniforme semelhante ao de Juddy chegou, claramente outra estudante. Gilbert a conhecia, ela lhe lançou um olhar preocupado praticamente ignorando a presença dos seus outros dois amigos  e analisou a cena :

_ O que houve aqui?  

_ Ah oi Bhetany. Só... leve-o para fazer um curativo, sim?

A moça anuiu e ofereceu apoio ao professor que estancava com a mão o sangramento no nariz , murmurou : 

_ O senhor vai precisar de um analgésico. Enquanto isso me conte exatamente o que aconteceu.

Ele a olhou e repreendeu : 

_ Deixe de ser curiosa. 

Em seguida se dirigiu aos outros :

_ Vocês, vão avisar para recolherem o corpo. Quando voltar espero ver isso resolvido. 

Os dois desapareceram de vista. Gilbert ficou sozinho com os amigos, ainda sim sentiu que precisava de mais privacidade ainda ou iria ficar louco. Havia acabado de ver uma pessoa morrer na sua frente, suas concepções do natural foram bruscamente alteradas. Se despediu deles e se foi também.

Agora minutos mais tarde estava no banco branco que dava de frente para o jardim, o jardim parecia ser o único lugar da instituição que cheirava a petunias, primulas , narcisos brancos e paz, muita paz.

Deixou as costas largas relaxarem no encosto e fechou os olhos, como havia aprendido com Anne. Esvaziar a mente, abrir espaço para a imaginação, embora naquele momento não quisesse nem mesmo a imaginação.

Logo seus ouvidos foram perturbados por gritos infantis. Abriu os olhos e viu Jimie vindo de longe, afobado. 

Seu pai teve alta duas vezes para a alegria de Gilbert , porém teve recaídas sendo a recente a pior de todas. Fez uma prece interna para que não fossem mais notícias ruins. Num tom preocupado perguntou : 

_ Tudo bem Jimie? 

O garotinho balançou a cabeça em afirmativo e abriu um sorriso encantador no rostinho jovem :

_ Tudo sim. Eu só  vim avisar que estão te chamando no portão.

Gilbert sorriu de volta aliviado, em seguida, curioso, perguntou : 

_ Ah sim, e quem é? Você chegou a ver? 

O pequeno Jimie olhou para o horizonte sonhador e fez uma carinha de deleite dizendo com toda a convicção do mundo:

_ Ah , uma moça muito bonita. Parecia uma... uma fada!

Não achou ele  melhor designação no seu limitado vocabulário para fazer a comparação ao ser peculiar e alegre que viu. Gilbert arqueou uma sobrancelha divertido e repetiu :

_ Uma fada então...

_ É  sim! - Insistiu ele batendo os pés de modo decidido _ O cabelo dela era vermelho ,  ela apertou minhas bochechas e disse que eu era um bom menino por me oferecer para chamar você. Era um vermelho diferente, era bonito, muito bonito... 

Seu sorriso se aumentou ao se dar conta de quem se tratava , se ele soubesse que Anne em outra época detestava esse vermelho tão adorado. Riu, até hoje era aquilo que as pessoas notavam de primeira e que a deixava em destaque, o que a fazia única.

Um pouco mais animado acompanhou Jimie até o portão durante o caminho envolvido em uma alegre conversa com o seu travesso amigo. 












Notas Finais


Espero que tenham gostado, entra em revisão. Perdão pelos erros de português, até o próximo ❤❤❤


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