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História Ano 2033 - Part:2 - As primeiras horas do primeiro dia


Escrita por: MarceloFSBranco

Notas do Autor


Essa historia pode conter;
== Violência detalhada, Suicídio, Uso de drogas e Álcool, Sexo explicito, Nudez e Abuso sexual ==

== Necessário ter lido o capítulo "Ozymandias" do livro "ANO 2033" Parte 1 para compreender todo o capítulo. ==

Capítulo 5 - As primeiras horas do primeiro dia


Fanfic / Fanfiction Ano 2033 - Part:2 - As primeiras horas do primeiro dia

As primeiras horas do primeiro dia

11-04-2029

Era sete horas da manhã de uma quarta-feira quando meu telefone começou a tocar o bip característico de alarme.

Quarta-feira, dia onze de abril de 2029.

Bati a mão na tela touchscreen de meu telefone o desligando antes mesmo de abrir os olhos. O teto preto de meu Hyundai me lembrava o porquê de estar ali, deitado de mau jeito, com a cabeça no encosto de braço da porta traseira. Levei a palma da mão aos olhos e os esfreguei para ajudar a acordar. Havia dormido por algumas horas apenas durante aquela primeira noite.

Ainda sobre meu peito estava minha pistola CZ 75B e a camiseta branca que usava naquela noite estava ensopada em suor mesmo que as temperaturas naquela época do ano estivessem amenas.

Se não fosse pela ocasião dos acontecimentos da noite anterior, estaria me arrumando para minhas aulas na faculdade técnica. Cursava o quarto período de enfermagem e começaria no próximo semestre o estágio no The Salvation Army Toronto Grace Health Center.

Mesmo que o alarme da casa não tivesse sido acionado, passei com cuidado pela porta que dava acesso ao interior da casa. Caminhei com cuidado com a minha pistola em mãos em direção a cozinha. Andei por todo o andar inferior com a arma em punho, tentando ouvir qualquer som que viesse de algum cômodo daquela casa. Mas por sorte ouvia apenas as buzinas dos carros que passavam pela rua.

Parei na bancada da cozinha depositando sobre ela minha pistola e o tablet Surface Neo. Tinha fome, mas a cada notícia que passava pelos meus dedos no tablet faziam meu estômago revirar um pouco mais.

Comecei a navegar pelas páginas dos principais jornais do mundo. Aquela primeira noite após o pronunciamento já havia feito mais estragos e matado mais civis do que o atentado de 11 de setembro. O site da CNN havia uma matéria extensa sobre os mortos daquela primeira noite “As cidades de Detroit, São Francisco, Nova Iorque e Filadélfia lideram as cidades com o maior número de mortes causas de alguma forma por acidentes de trânsito e assassinatos, além das cidades mais afetadas por vândalos e saqueadores. Apenas nas primeiras horas da noite passada as centrais de polícia e bombeiros das cidades citadas nesta reportagem entraram em colapso sem conseguir atender todas as ocorrências de incêndio, principalmente nos distritos financeiros e de comodidade.“

Enquanto a ABC comparava as mortes durante aquela noite ao número de mortos no ataque terrorista de 11 de setembro. “Aquela manhã de 11 de setembro foi um dia triste que nunca poderemos nos esquecer, onde 2977 vidas se foram em Nova Iorque, Washington e Pensilvânia. Quando 19 homens do grupo Al-Qaeda sequestraram quatro aviões comerciais com a intensão de os jogar contra o coração e a alma de nossa nação. Após o pronunciamento do presidente James T. Johnson na noite de ontem, tivemos até o fechamento dessa matéria o número oficial de 3215 mortes.” A matéria continua exibindo gráficos e números por estados e as principais cidades dos Estados Unidos.

O The New York Times e o Boston Globe resolveram seguir pelo caminho racial, e ligou o número de mortes e as prisões ocorridas durante a noite anterior com os protestos que se seguiram por todo o ano de 2020 pelas ações violentas da polícia contra a população negra do país. A publicação do Boston Globe chegou a afirmar que muitas das mortes ocorridas durante aquela primeira noite, nada mais era do que uma limpeza étnica feita por grupos extremistas brancos. O Times seguiu um caminho mais brando, apenas afirmando que 80% daquelas mortes eram de afros-americanos.

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            Saber que aquela havia sido apenas a primeira noite, fazia meu coração palpitar em imaginar quantas mais pessoas morreriam apenas com o pronunciamento do presidente. As notícias das mortes dividiam os holofotes das publicações dos principais jornais do mundo com o meteoro que se aproximava. Apelidado de Thanatus, na mitologia grega o Deus da morte, alguns jornais já especulavam sobre os efeitos de sua queda. Resolvi por não ler mais nenhuma daquelas notícias.

            Tentei sem sucesso engolir uma tigela de cereais com um pouco de leite, mas aquele foi um grande erro e em minutos estava com o rosto debruçado sobre a pia da cozinha a vomitar o leite que era expelido pelo meu estômago junto da bile.

            Depois de desistir de tomar café da manhã, voltei até o carro e recolhi do chão meu telefone celular, havia descarregado durante a noite e assim que o conectei a tomada da cozinha e voltei a ligá-lo uma dezena de mensagens e notificações de chamadas perdidas apareceram no visor.

Na sua maioria de Brendon, com quem eu havia encontrado por coincidência poucos minutos antes do pronunciamento. E ao retornar as ligações de Brendon foi a primeira vez que senti toda a merda que é ter um lugar seguro para mim e não poder compartilhar com mais ninguém.

— Brendon? — Chamei.

Mas não foi Brendon que atendeu aquela chamada, era Nicole, sua namorada e minha ex.

— O Brendon... — Sua voz travou, era fácil notar sua dificuldade em continuar aquela frase. — Tob, mataram o Brendon.

Meu estômago se revirou novamente e senti a bile que restava em meu estômago subir até meu esôfago.

— O que aconteceu Nicole? — Perguntei.

— Estávamos voltando para minha casa, um cara bêbado bateu no carro de Brendon, com tudo que estávamos ouvindo pelo rádio falei para ele não sair do carro e ele concordou, mas o cara saiu do carro dele armado... — Ela fez uma pausa. — O Brendon tentou fugir com o carro, tentou arrancar com o carro, mas o cara atirou três vezes contra o para-brisa.

Ela respirou fundo, fungou segurando as lágrimas e o catarro que vinha junto sempre que choramos demais.

— Desculpe, eu não sabia para quem ligar, tudo foi tão rápido e estávamos tão próximo da sua casa que assim que peguei o telefone de Brendon só pensei em te ligar.

Ela explicou que um dos tiros que o homem deu contra o para-brisa atingiu o rosto de Brendon.

Eu poderia tê-lo salvo, eu poderia ter salvo os dois e esse foi o único pensamento que tive por semanas e durante o enterro de Brendon dois dias depois em uma cerimônia bonita no campo de treino do time de futebol americano da universidade Duke, não consegui olhar nos olhos de seus pais ou mesmo de Nicole.

Não ouve discursos, mas uma salva de palmas. E a cada minuto que passei ali, só tive um único pensamento em minha cabeça.

Eu poderia tê-lo salvado.

 

 

“O arrependimento sincero é geralmente resultado da oportunidade perdida.”

– Emanuel Wertheimer

 



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