História Anônimo - O Feitiço Virou Contra O Feiticeiro

O sinal tocou. Robert saiu da sala e foi para o corredor, buscar seu livro de matemática no armário.

            — Robert! — gritou Haley que vinha correndo atrás dele. — Precisamos conversar.

            Robert suspirou.

            — Sobre o que?

            — Você pensou? — perguntou a loira. — Já sabe se pode me perdoar ou não?

            O garoto cruzou os braços. Sim, ele tinha pensado a respeito daquilo. Mas com toda a confusão com Anônimo, a amante do seu pai e o corpo de Franklin Green, tinha até esquecido.

            — Na real, eu pensei sim — admitiu Robert. — Mas tem muita coisa doida acontecendo comigo agora e...

            — Que tipo de coisa doida? — interrompeu Haley.

            Robert sabia que não podia contar sobre aquelas coisas para ninguém. Muito menos para Haley, que não conseguia guardar nenhum segredo sequer.

            — Coisas que você não entenderia.

            — Se você me explicar, talvez eu entenda — Haley sugeriu.

            Robert balançou a cabeça, negando.

            — O que eu quero dizer, é que não posso te perdoar — Robert decidiu parar de enrolar. — Você arruinou minha vida, Haley.

            A garota ficou pálida, com uma expressão sombria.

            — Se você não tivesse partido sem me dar uma explicação decente, talvez eu não tivesse ficado deprimido o suficiente a ponto de ter feito o que fiz para Nolan Hard no verão! — Robert expôs toda sua raiva. Não conseguia parar de pensar que Haley era a grande responsável por tudo que aconteceu no verão. Toda vez que a via, era isso que vinha em sua mente. Ódio.

            — Eu fiquei sabendo sobre o que você fez no verão, aliás, como não saber? — o ar de ironia de Haley parecia o mesmo de sempre. — Que coisa linda foi, parece que a única forma das pessoas verem quem você realmente é por dentro foi dando facadas em um garoto inocente!

            Pensamentos, xingamentos, palavras rudes era tudo que ele gostaria de falar. Quando a garota falava aquelas coisas estúpidas, queria pegar o rosto de Haley e esfregar no asfalto quente, até ver a pele cair. Ao mesmo tempo, não queria. Não queria mostrar que era do mesmo nível dela. Robert queria ser diferente, mesmo tendo que resistir à todas as ofensas de Haley.

            — Você não sabe de nada sobre o que aconteceu no verão, Haley! — Robert estava vermelho, contendo a raiva. — Por favor, fique quieta!

            — Quer saber, então vá se ferrar, Robert Stevens! — Haley enfiou o dedo na frente do rosto do garoto. — Se você não é capaz de perdoar os outros, ninguém nunca vai o perdoar!

            Robert decidiu não brigar. Ele ficou parado, observando o escândalo que Haley estava fazendo.

            — Você é um monstro! — Haley saiu dali, bufando.

            A cena fez Robert lembrar-se de quando ele tinha terminado com ela. Haley tinha saído do corredor bufando da mesma forma nas duas vezes. Pelo visto ela não tinha mudado nada como ela disse. Talvez não perdoar ela tivesse sido até mesmo melhor. Assim ele tinha percebido que ela era a mesma garotinha mimada, egocêntrica e que pensava somente em si mesma.

O garoto até pensou em revidar, mas não levaria a nada. Ele não era mais infantil, tinha amadurecido. Suas atitudes não podiam mais ser as mesmas.

            Pelo menos, não haviam muitas pessoas no corredor. Todos já iam entrando nas suas respectivas salas de aula.

 Robert abriu seu armário e pegou seu livro de matemática. De repente, sentiu seu IPhone vibrando em sua perna. Alguém estava ligando. Era sua mãe.

            — Oi, mãe — falou ele, tirando o celular do bolso. — Estou no intervalo de períodos, você precisa ser rápida.

            — Ok — falou Martha do outro lado da linha. — Seu pai ligou hoje de manhã. Haverá uma festa com todos os funcionários da empresa de advocacia que ele trabalha, e ele quer que nós estejamos lá.

            — Certo — afirmou Robert. — Você sabe onde vai ser?

            — No salão de festas da empresa.

            — Ok — Robert ouviu sua mãe respirar fundo pelo celular. — E como você está?

            A sra. Stevens ficou um tempo em silêncio.

            — Estou indo... — a voz dela ficou um pouco fraca.

            — Preciso ir para a próxima aula, mãe. Nós conversamos depois. Tchau.

            Ele encerrou a ligação. Pensar no silêncio entre a família toda era angustiante. Os motivos da mãe eram compreensíveis. Será que contar tudo para o pai não seria a coisa certa a se fazer? O sr. Stevens poderia se redimir, e os pais de Robert ficariam juntos de novo. Mas era arriscado. Robert não queria ser o motivo do divórcio dos pais. Não queria que nada fosse motivo do divórcio dos dois. Entretanto, Robert não podia fazer nada. Por mais complicado que fosse, ele devia deixar os pais resolverem-se.   

Ainda com o IPhone na mão, Robert viu que tinha uma nova mensagem de voz. Era de Benjamin.

            — Robert, quando você ouvir isso, precisa me retornar — disse a voz de Benjamin na mensagem gravada. — Eu encontrei uma conversa entre Nolan e meu irmão, e descobri que eles tinham brigado um pouco antes da festa!

            Robert ficou boquiaberto. Ele já sabia que Benjamin não tinha ido para a escola, mas não sabia que ele tinha ficado em casa investigando. A inteligência e raciocínio de Benjamin era algo incrível. Robert se surpreendia a cada momento. Uma prova de que Nolan era perigoso, era fantástico e assustador. Agora ele sabia que não podia confiar em Nolan. Nem um pouco.

Nolan poderia até não ser Anônimo, mas era perigoso, e eles podiam ter certeza disso.

No momento que Robert foi responder a mensagem de voz de Benjamin, percebeu que precisava ir para a aula de matemática antes que chegasse atrasado.

Robert fechou seu armário e virou-se para trás. Ele ficou cara a cara com Nolan Hard. Robert deu um pulo, assustado. Desde quando Nolan estivera ali?

Robert desviou de Nolan e foi correndo para a sala de matemática. Podia ser estranho, mas Robert estava com medo de Nolan. Muito medo.