Aquele momento literalmente não seria bom. Benjamin tentava ir devagar para atrasar a situação, mas o policial ia o empurrando e mandando-o ir mais rápido. Então, ele chegou à porta da sala de visitas. Seus pais estariam ali. Não queria ter que enfrentar aquilo.
Não quero...
O policial abriu a porta da sala e empurrou Benjamin para dentro.
No centro da sala, uma mesa. O sr. e sra. Green estavam sentados em duas cadeiras, uma do lado da outra. Benjamin, olhando para o chão, se arrastou até uma cadeira na frente dos pais.
Benjamin então levantou o rosto e moveu os olhos até o rosto dos pais.
Antes de Benjamin falar qualquer coisa, sua mãe começou a chorar. Ela se apoiou no peito do sr. Green.
— O que aconteceu com você, filho? — o sr. Green segurou as lágrimas.
Benjamin percebeu que seus pais estavam tão confusos quanto ele.
— Antes do Frank sumir, você era o garoto mais doce do mundo — George choramingou. — Agora você está aí. Preso.
Benjamin pôs os braços em cima da mesa e deitou sua cabeça sobre eles.
No fundo, ele queria poder explicar o que estava acontecendo.
— O que mudou, filho? — questionou o sr. Green.
TUDO! Estou sendo ameaçado pela pessoa que matou o Franklin e essa pessoa está tornando minha vida um inferno, tudo porque me odeia, e eu não faço a mínima ideia de quem possa estar fazendo essa merda toda!!!
As palavras ficaram trancadas na garganta de Benjamin. Não conseguia. Era sobrenatural. Toda vez que tentava contar para alguém sobre a confusão que estava envolvido por culpa de Anônimo, algo lhe impedia. Simplesmente ele não conseguia.
— Vocês confiam em mim, certo? — Benjamin deixou as mãos no rosto para não demonstrar vergonha. — Sabem que eu nunca faria nada para o Frank, não sabem?
Vanessa assentiu.
— Claro que sabemos, Bennie — a sra. Green estava com o olhar triste.
— Nós acreditamos na sua inocência — contou o pai. — Mas a pergunta é: você acredita?
Benjamin deu de ombros.
— Que diferença faz?
— Apenas responda, Bennie — pediu a mãe. — Por favor.
Benjamin apertou os olhos com força.
— Enquanto você está aqui dentro de uma cela, vestindo esse macacão laranja e com os braços algemados — começou Benjamin. — Sabe, desse jeito, não é muito fácil acreditar na sua própria inocência.
Benjamin mordeu os lábios, segurando o choro. Não aguentava mais chorar. Era a única coisa que tinha feito desde que colocara os pés na Johnson County Jail.
Vanessa olhou pelo vidro da sala, por onde o policial observava a conversa. Ela aproveitou que ele estava distraído no momento e agarrou o braço do filho, com carinho.
— Você precisa ser forte, Benjamin — pediu a mãe. — Mais do que nunca.
O policial olhou pelo vidro e ela soltou o braço de Benjamin rapidamente.
— Vocês já falaram com o detetive Slater sobre isso? — perguntou o garoto.
— Sim.
— E vocês fizeram alguma pergunta? — Benjamin ficou curioso. — Eu digo, sobre fiança.
Dinheiro nunca era um problema para os Green. O Iowa Pit’s sempre dava muito lucro para Vanessa e George, portanto, se fosse necessário pagar milhares de dólares para ver Benjamin fora da cadeia, eles pagariam.
— Eu perguntei sobre isso. Foi a primeira coisa que me veio na cabeça — afirmou o sr. Green. — Mas ele disse que por enquanto não é possível fazer nada a respeito.
— Eles ainda não avaliaram a faca — completou a sra. Green. — Ele nos falou que só será possível pensar em fiança depois dos resultados da faca chegarem do laboratório.
Benjamin bufou. Aquilo significaria que ele teria que ficar preso até o momento que a faca ensanguentada fosse verificada pela perícia.
— E por acaso existe alguma previsão para quando a faca terminar de ser examinada? — Benjamin disse.
Os pais dele trocaram olhares. Não pareciam muito contentes em dar aquela notícia ao filho. Eles ficaram quietos.
— Por favor, não escondam nada de mim! — exclamou Benjamin. — Podem me falar tudo! Até quando eu vou ter que ficar aqui?
— Slater disse que não tem previsão correta — falou o pai. — Pode demorar dois dias, ou podem durar semanas.
— SEMANAS? — gritou Benjamin.
O policial que observava pelo vidro olhou com cara feia para ele ao ouvir o grito.
— Eu não quero ficar preso por semanas! — Benjamin ficou de pé. — Por favor, eu não quero!
— Se acalme, filho — a sra. Green fez sinal para ele sentar novamente. — Tudo depende da quantidade de sangue, da quantidade de digitais...
— Talvez tudo já esteja resolvido amanhã! — George tentou dar ânimo.
Benjamin apoiou o cotovelo na mesa e colocou sua cabeça contra a própria mão.
— Veja bem, Bennie — chamou o sr. Green. — Pode demorar qualquer tempo, mas eu e sua mãe vamos tirar você daqui!
— E não vamos medir esforços para isso! — motivou a sra. Green.
O policial abriu a porta da sala.
— O tempo acabou — anunciou ele.
— Certo... — gemeu Vanessa. — Benjamin, o detetive Slater permitiu entregarmos um livro para você.
Benjamin ergueu-se da cadeira. Pela primeira vez, sentia alguma coisa dentro da prisão que não fosse depressão.
A sra. Green entregou um livro que estava em seu colo para Benjamin. Ele olhou a capa. Era O Corvo. Aquele livro era o preferido de Benjamin, e ironicamente de Franklin também.
O policial agarrou Benjamin para tira-lo dali.
— Nós te amamos, Bennie — falou a sra. Green.
— Amo vocês também.
Benjamin já do lado de fora da sala, foi levado até sua cela novamente. Robert ainda não tinha voltado. Ele, sozinho, deitou-se em sua cama e abriu o livro em uma página qualquer. Aquela página estava sublinhada de caneta. Era a parte preferida de Franklin. Sempre que Benjamin estava deprimido, Franklin ditava o trecho.
“Não pode chover o tempo todo. O céu não pode cair para sempre. E embora a noite pareça longa, suas lágrimas não podem cair para sempre.”.
Benjamin sentiu-se vazio. Em um momento como aquele era que Franklin iria ler aquele texto. Porém, ele não estava mais ali para fazer aquilo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.