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História Antes de Ir - Para Itachi


Escrita por: ThammiRB

Notas do Autor


✦Saindo do Hiatus e de volta das minhas férias^^ ✦

✦Boa leitura✦

Capítulo 8 - Para Itachi


Fanfic / Fanfiction Antes de Ir - Para Itachi

Para Itachi

Vinte dias. Haviam se passado vinte dias desde que Sasuke se foi e o luto de Itachi começava a sair da tristeza e se encaminhava para a revolta.

Passou os últimos vinte dias repassando o que Minato e Shisui tinham tentado falar para ele e não conseguia acreditar no que eles insinuaram. Seu irmão nunca faria mal a si mesmo. Contudo também não pode se abster do fato de que ele fazia acompanhamento psicológico. Não era incomum que pacientes com doenças congênitas e suas famílias recebessem ajuda de profissionais da área mental para ajudar a lidar com as adversidades que as limitações traziam.

 O impacto emocional podia ser enorme.

Mas Sasuke e nem seus pais nunca disseram a ele que o caso do seu irmão tinha se tornado mais complicado. Conhecia o médico responsável por Sasuke. Orochimaru era famoso por abranger técnicas alternativas e só receitar remédios em último caso. Já havia ajudado dezenas de pessoas e aparentemente falhado com o seu irmão.

Era atrás dele que estava indo agora. Terminou de se vestir olhando para Shisui que dormia na cama. Seu primo era o único naquela casa que tinha dado continuidade a sua vida. Seu pai não estava atendendo seus importantes pacientes, sua mãe estava vivendo em um mundo só dela onde alimentava a fantasia de que seu irmão iria voltar a qualquer momento e ele... Ele estava estagnado na negação.

A cada novo dia, Shisui saia mais cedo e chegava mais tarde. Sabia que se continuasse daquele jeito o relacionamento deles iria se esvaecer. Não era o que queria, mas naquele momento não havia espaço no seu coração para mais nada além de dor e mágoa.

Saiu de casa sem encontrar com ninguém. Até a vovó Neko estava relapsa com suas funções aqueles dias. Foi direto para o hospital e entrou sem cumprimentar ninguém, podia sentir os funcionários o olhando de modo disfarçado e cochichando uns com os outros. Nunca tinha se incomodado com o que os outros pensavam e não iria começar a se incomodar agora.

Mas tinha outra coisa que estava sendo difícil lidar.

Entrar no ambiente hospitalar trouxe uma enorme onda de emoções. Sua vida era medicina desde a tenra idade dos oito anos, que foi quando decidiu que seria médico. Aquela altura já devia ter começado a exercer suas funções na equipe de cirurgia, mas o luto pelo irmão o manteve afastado do mundo.

Estreitou os olhos ao ver o Dr. Orochimaru que para sua sorte pareceu ter escolhido chegar mais cedo também. Os olhos ambarinos focaram nele e o psiquiatra não pareceu nem um pouco surpreso em vê-lo.

- Itachi Uchiha. – Falou em tom neutro.

- Que bom que sabe quem eu sou. Assim poupamos tempo de apresentações formais. – Respondeu firme.

- Acho difícil existir uma única pessoa nessa cidade que não saiba quem é você. – O outro respondeu sem se abalar com a agressividade do moreno.

- Quero falar sobre o meu irmão.

- É, eu imagino que queira. – Abriu a porta do consultório e deu espaço para o Uchiha entrar. – Acomode-se, por favor.

- Não me trate com esse excesso de cortesia, como se eu fosse um dos seus pacientes. – A voz de Itachi era fria como gelo.

Contudo, mais uma vez, Orochimaru não se abalou. As pessoas enlutadas tinham todo tipo de reação e sabia que aquele não era o normal do rapaz. Enviou uma mensagem para sua recepcionista informando que era provável que se atrasasse hoje, uma vez que não sabia como seria a conversa com o jovem cardio-cirurgião.

- Antes de tudo quero que saiba lamento muito a morte do seu irmão. Ele era uma ótima criança.

A mandíbula de Itachi enrijeceu visivelmente e ele apenas assentiu rigidamente como se não tivesse palavras para responder.

- O que Sasuke tinha exatamente? Qual era o tipo de tratamento que você dava a ele?

- Por causa da condição do coração do seu irmão, o cardiologista indicou que ele fizesse um acompanhamento psicológico para enfrentar as adversidades que as limitações iriam impor a ele, principalmente com a chegada da adolescência. O psicólogo responsável o passou para mim quando ficou claro que ele tinha problemas emocionais profundos que iam além do fato de ser cardíaco.

 - Que tipo de problemas emocionais? – A voz de Itachi era quase descrente.

Orochimaru apoiou a mão na mesa se perguntando se seria correto e ético da sua parte falar sobre Sasuke uma vez que o garoto não estava mais ali. Uma pena que esse interesse todo não veio antes. Itachi teria sido um grande aliado para ajudar Sasuke.

- Seu irmão sofria de um enorme complexo de inferioridade, sentia que não era digno das coisas e das pessoas e também apresentava um quadro depressivo que vínhamos tratando há quase um ano.

A resposta do médico deixou Itachi estarrecido. Como assim seu irmãozinho se achava indigno? Que absurdo. Sasuke era doce, era determinado, era tão... Apertou os olhos sentindo-os se encherem de lágrimas e respirou fundo algumas vezes para afastar o choro. Quando abriu os olhos de novo percebeu que o médico olhava para a própria mesa e parte de agradeceu pela discrição.

- Quase um ano em depressão diagnosticada?

- Sim.

- Ele... Ele nunca – olhou para teto sentindo um bolo na garganta. – Ele nunca me contou.

Não deveria ter ficado tanto tempo longe. E com certeza devia ter notado quando a comunicação de Sasuke ficou cada vez mais seca até chegar ao ponto de não querer conversar com ele. Mas não, tinha que ficar na capital para se especializar mais um pouco.

- Para Sasuke era difícil falar dos sentimentos mais simples, imagine admitir uma coisa como essa.

- Suponho que você tenha falado com os meus pais. – Franziu a testa, mesmo que seu irmão não se abrisse com ele, no mínimo esperava que Fugaku e Mikoto compartilhassem aquela informação com ele.

- Sim, eu chamei seus pais para conversar algumas vezes. – Pelo olhar do Uchiha soube que ele não ficou satisfeito com a resposta rasa e decidiu dizer a verdade. – Fugaku e Mikoto fazem parte do time de pessoas que subestimam a depressão, nas vezes que conversamos ficou claro que eles achavam que era uma fase que passaria e que aquele comportamento cabisbaixo e inerte fazia parte da adolescência. Que ele era quieto por causa dos problemas do coração.

Uma risada cheia de escárnio escapou dos lábios de Itachi e ele não conseguiu repreender duas lágrimas que secou com rapidez. Era típico dos seus pais, o que não era perfeito, costumava ser ignorado.

- Eu não acredito...

- Eu decidi não insistir no diálogo com eles porque ficou claro que sempre que eles vinham aqui mais frágil seu irmão ficava. Eu usei a desculpa do acompanhamento por causa da condição cardíaca dele para continuar o tratamento e deixamos seus pais de fora do restante.

- Já que eles não eram muito úteis. – Itachi completou irônico e Orochimaru não teve como discordar.

O costume de pais, família, responsáveis e por aí em diante não dar a devida atenção à depressão na adolescência não era uma novidade. Eles iam à crença de que era uma fase, era drama, era necessidade de chamar atenção e mesmo entre os profissionais da saúde existiam pessoas que tinham aquela opinião errônea sobre aquela doença tão destrutiva. Mas que droga, existiam psicólogos, pedagogos e psiquiatras que pensavam daquele jeito. Ele passou a maior parte da vida estudando a mente humana e estava longe de compreender como ela funcionava em sociedade.

- Existe a possibilidade do meu irmão ter feito mal a ele mesmo? – Fez a pergunta que mais tinha medo de saber a resposta e que foi a que realmente o trouxe ali.

- Todos podemos ter pensamentos assim Itachi. Basta um único dia, um único momento, acontecimento e palavra. Pessoas depressivas podem ter esses pensamentos com mais frequência sim. – Precisava ser cuidadoso. – Eu não posso dizer que essa inclinação nunca passou pela cabeça do Sasuke, mas eu posso te afirmar com toda certeza que ele tinha motivos para querer viver e isso é importante. Ele adorava você, ele estava profundamente apaixonado pelo namorado e queria muito fazer medicina. Ele tinha sonhos e objetivos.

Itachi deu um sorriso triste com a informação. Seu irmão não tinha o costume de falar das suas ambições para o futuro e sabia que sua existência era a culpa disso. Porque não importava o que ele decidisse fazer, não tinha como superar o brilhante e genial irmão mais velho.

- Não sabia que ele queria ser médico.

- Ele queria e – Orochimaru sorriu terno com a lembrança. – Queria fazer parte dos Médicos sem Fronteira.

- Por que ele queria fazer isso? – O Uchiha perguntou em voz baixa.

- Vou responder usando as palavras dele: “eu sei que existem pessoas que precisam de ajuda em todos os lugares, mas eu quero ir aonde é mais difícil da ajuda chegar e fazer diferença lá.” Seu irmão queria fazer medicina porque era fascinado pela ideia de poder ajudar as pessoas. E você, Itachi? Por que você fez medicina?

O moreno ergueu a cabeça quase assustado, ninguém nunca tinha lhe feito essa pergunta. Quando disse pela primeira vez qual o curso que faria na faculdade todos agiram como se fosse óbvio, ele era um Uchiha e o Uchiha eram médicos. Não era necessário existir motivação.

- Obrigado por me receber – agradeceu levantando sem responder a questão feita pelo médico. Só queria sair dali.

- Itachi – Orochimaru chamou quando estava na porta. – Seu irmão te amava e sabia que você o amava também. Não se esqueça disso.

O médico psiquiatra observou o moreno partir sem dizer mais nada. Ele superaria o luto, só precisava de tempo para lidar com a culpa que sentia por não ter estado perto do irmão no momento final e nem antes.

Apertou a ponte do nariz desgastado. A morte de Sasuke o pegou em total surpresa. Foi constatado que a causa foi uma falha cardíaca e teve acesso aos exames dele que comprovaram isso. O caso do Uchiha caçula era controlável com os medicamentos corretos. Porém o sangue fino causado pela anemia, já que ele comia bem pouco, cooperou com o agravamento do defeito cardíaco. A tristeza era um veneno altamente corrosivo e uma pena que continuasse sendo tão subestimada.

Itachi pouco percebeu qual foi o caminho pelo qual suas pernas foram guiadas. Sentia-se febril, sua cabeça fervilhava com uma memória antiga e há muito tempo esquecida.

...Tinha feito oito anos a pouco tempo e sua genialidade já era amplamente reconhecida dentro da sua família e na escola. Seu intelecto superior era venerado dentro da família Uchiha, embora não achasse nada tão extraordinário assim. Só tinha facilidade em compreender as coisas, o que havia de tão especial nisso?

Fechou o livro que lia sem precisar marcar a página, tinha memória fotográfica a sua disposição, estava ouvindo barulho vindo do quarto dos seus pais e tinha certeza de que escutou eles falarem o nome do seu irmão. Sasuke estava internado de novo, ele tinha nascido com um problema congênito no coração que fazia com que o órgão não bombeasse o sangue com a eficácia necessária para ele ter uma vida comum. Como ele só tinha três anos, não entendia que não podia correr e brincar do mesmo jeito que o restante das outras crianças e isso causava episódios como aquele.

Caminhou pelo corredor na ponta dos pés, sabia que era muito mal educado ouvir a conversa dos outros, mas tinha o direito de saber o estado do seu irmãozinho.

- Adoraria saber de quem foi a ironia cruel de fazer um filho meu cardíaco – ouviu seu pai dizer com a voz abafada.

- Isso não importa, estou preocupada com o tratamento dele. – Mikoto respondeu calma. – Não seria melhor fazer logo a cirurgia?

- Não é aconselhável por enquanto, já que a recuperação pode ser dolorosa para uma criança da idade dele e como o caso dele não aspira fatalidade o cardiologista pediátrico aconselhou esperarmos mais um pouco.

- O meu receio é essa condição se agravar conforme ele for crescendo.

- Os medicamentos vão dar conta por hora e nós vamos monitorar ele Mikoto.

- Tudo seria tão mais simples se ele tivesse nascido perfeito – a morena suspirou alto o suficiente para Itachi ouvir. – De qualquer forma eu não quero qualquer cirurgião abrindo o peito do meu filho. Vai precisar ser o melhor...

O primogênito do casal voltou para o próprio quarto e não ouviu o restante do diálogo dos pais. Sua mente podia ser brilhante e se destacar das demais, mas ele continuava sendo uma criança e por isso ficou bastante agitado com o que tinha ouvido. Alguém ia precisar abrir o peito do seu irmãozinho? Como assim?

Sentou na cadeira e apoiou a testa na escrivania pensativo com as últimas palavras da sua mãe. Em um ponto ela estava certa, jamais permitiria que alguém incompetente cuidasse de Sasuke. Não deixaria nada de ruim acontecer com seu irmão...

 - Itachi? – Virou-se na direção que ouviu seu nome ser chamado e encarou o pai com frieza. Estava no corredor da área de cardiologia. – Shisui disse que você saiu cedo e sem falar nada. Veio conhecer a equipe? Vai assumir suas funções?

- Não, ainda não – respondeu depois de um tempo em silêncio.

- Não acha que já está na hora? – Fugaku se aproximou do filho e fingiu não reparar como todos saíram de perto deles, mas agradeceu pelo corredor ter ficado completamente deserto. 

- Nem todos se recuperam tão rápido quanto o senhor. – Atacou sem pena vendo o genitor recuar surpreso já que não era da sua natureza agir de modo emocional. –Vim falar com o Orochimaru. Por que não me contou que meu irmão estava enfrentando a depressão?

O patriarca Uchiha emudeceu e teve que se controlar para não engolir a seco. Sabia que uma hora aquilo voltaria para assombrá-lo e por mais que tivesse se enganado dizendo que estaria pronto para aquela conversa... A verdade era que não estava. A ferida continuava recente demais. Embora tenha conseguido voltar a atender depois daquela carta, ela não ajudou em nada a aliviar seus sentimentos de fracasso.

- Você estava terminando sua residência no melhor hospital da capital e aprendendo com os maiores profissionais da nossa área. Não achei correto te perturbar com isso.

- Não achou correto? – Repetiu lentamente sentido a temperatura de o próprio corpo subir drasticamente. – Meu irmão estava lutando com a doença que mais cresce nos últimos anos e você e a minha mãe permitiram que ele travasse essa luta sozinho.

- O que exatamente Orochimaru te disse?

- A essa altura o que importa? – Deus os ombros com escárnio. – Ele já está morto mesmo.

Fugaku estremeceu com a afirmação e colocou a mão na parede parecendo tonto.

- Não fale dele desse jeito. – Embora aparentasse estar fraco, a voz de Fugaku saiu autoritária.

Os olhos de Itachi se estreitaram. Nunca havia faltado com respeito a ninguém, muito menos aos seus familiares ou aos seus pais. Sabia que não era correto descontar sua fúria nos outros, mas não estava conseguindo se segurar.

- Agora você quer impor como devem ou não falar do meu irmão? Quantas vezes nossos parentes fizeram comentários depreciativos sobre a condição dele por baixo daquela educação hipócrita? Quantas vezes você, eu e minha mãe não permitimos que as pessoas criticassem e maltratavam ele com suas falas suaves e olhares cheios de repulsa por ter um Uchiha defeituoso na família? – Negou com a cabeça sentindo a visão embaçar com as lágrimas. – Sasuke merecia uma família melhor, um irmão melhor e definitivamente pais melhores do que você e a Mikoto foram para ele.

- Eu sei disso. – O mais velho concordou baixo e amargo. – Você está certo.

- Bem... – Itachi fungou tentando retomar o controle. – Pelo menos agora eu compreendi o porquê da minha mãe está afundada nesse estado de tristeza sem fim. É remorso. – Passou os dedos pelo cabelo que estava solto. – Eu vou para casa.

Fugaku permaneceu parado no mesmo lugar observando seu filho virar de costas e se afastar sem olhar para trás. Itachi era sem sombra de dúvidas a pessoa que mais amava Sasuke nesse mundo. Ele sempre teve dificuldades em demonstrar isso porque seu QE era muito baixo como costumava acontecer com pessoas de QI elevado e também na família deles ninguém estimulava afeição. E mesmo assim Sasuke sempre despertou um lado completamente humano em Itachi.

Apesar de ter dito que ia para casa e realmente ter ido, aquele era o último lugar que Itachi gostaria de estar. Foi ali que seu irmão morreu, foi ali que ele devia ter enfrentado um inferno emocional sozinho. E pela primeira vez passou direto pelo quarto dele sem parar.

Já chega de se enclausurar naquele cômodo e sentir pena dele mesmo. Precisava retomar o controle da própria vida. Franziu a testa ao ver que a porta do quarto dos pais estava aberta e caminhou até lá encontrando a vovó Neko secando o cabelo da sua mãe com devoção. Mikoto Uchiha era à sombra da mulher bonita e sofisticada que sempre desfilou com segurança pelo mundo todo como uma grande médica. A imagem dela era tão penosa que não teve nem coragem de enfrentá-la como fez com o pai.

- Pronto minha querida. – A vovó falou terminando de pentear os fios negros que tinham recuperado um pouco do brilho. – Não disse que se sentia melhor depois de um bom banho?

- Sim... Obrigada.

- Agora eu vou trazer algo leve para a senhora comer. – Não houve resposta, mas a governanta encarou aquilo positivamente. – Itachi, você quer alguma coisa? – Perguntou ao moreno ao vê-lo no corredor e ele apenas negou com a cabeça. – Hoje ela acordou melhor, não é ótimo?

O Uchiha assentiu e a velha senhora percebeu que tinha alguma coisa errada, mas não teve oportunidade de questionar porque o primogênito foi para o próprio quarto sem falar nada. Itachi era muito mais reservado do que Sasuke e muito independente também, péssimo em pedir ajuda, mesmo quando precisava. Suspirou cansada. Quanta tristeza para uma família só.

Dentro do quarto, o cardio-cirurgião se jogou na cama e abraçou o travesseiro de Shisui sentindo-se mais calmo com o cheiro do primo. Precisava dele naquele exato momento, mas não seria egoísta de exigir que deixasse o trabalho por sua causa. Iria esperar que ele chegasse em casa para conversarem sobre tudo que tinha descoberto.

Estava sem rumo.

Fechou os olhos recusando-se a chorar mais uma vez...

... Não podia ter dormido tanto tempo assim, foi o que pensou ao abrir as pálpebras e encarar o teto com a vista um pouco embaçada. Esfregou a testa tentando afastar o sono e sentiu uma movimentação na cama. Shisui devia ter chegado. Sentou e deu de cara com Sasuke de pernas cruzadas o observando, mas não era o Sasuke de dezessete anos, ele devia estar com sete anos, foi quando adquiriu aquela mania de correr para seu quarto para dormir com ele sempre dando uma desculpa diferente.

- O que foi otouto?

- Você está me chamando.

- Desculpe, eu devo ter te chamado enquanto dormia. Acho que eu estava tendo um sonho ruim – tentou alcançá-lo, porém ele se afastou e deu um sorriso tão triste que doeu seu coração. – Sasuke?

- Precisa parar de chamar Itachi. – Pediu com a voz embargada. – Tem que me deixar ir agora.

- O que? – Perguntou um pouco assustado.

- Está tudo bem – o menor garantiu sorrindo com os olhos negros aquosos. – Vai ficar tudo bem...

O Uchiha levantou da cama em um pulo e se ouviu chamando pelo irmão em plenos pulmões antes de tossir sem ar com a intensidade daquele sonho. Não demorou muito para a porta do quarto ser aberta por um ofegante Shisui que devia ter corrido até ali.

- Você tá bem? – O moreno de cabelos curtos acariciou suas costas com cuidado. – Ouvi você gritando...

- Eu sonhei com o Sasuke – murmurou depois de conseguir tomar fôlego. – Desculpe...

- Ah...

Os olhos de Itachi perceberam a movimentação das mãos do noivo que pareceu tentar esconder alguma coisa com o próprio corpo.

- O que é isso? – Franziu a testa ao identificar um envelope. – É uma daquelas cartas que você e o Minato disseram que o meu irmão escreveu? Para quem é essa?

Shisui deu um passo para confuso com o que deveria fazer. Estava conferindo a caixa de correio a dias porque tinha certeza absoluta que se tinha mais alguém que iria receber uma carta, esse alguém era Itachi. E sua dedicação foi recompensada ao encontrar o envelope negro endereçado ao seu primo. Só que não tinha certeza se ele deveria ler o que Sasuke tinha escrito pensando nele, mesmo que estivesse cruzando uma linha muito séria decidindo isso sem a autorização dele. Ao ouvi-lo gritar correu sem pensar e acabou trazendo a carta consigo.

- Essa está endereçada a você.

- Me dá – pediu esticando a mão.

- Itachi...

- Me dá a carta Shisui.

Sem escolha, o mais velho entregou o envelope ao primo com o coração na mão e sentou na cama o vendo romper o lacre sem muito cuidado como se mal pudesse conter a ansiedade em ler as palavras escritas ali.

De: Sasuke Uchiha

Para: Itachi Uchiha

Assim que viu a letra do irmão, Itachi fechou os olhos precisando de um momento. Deus, eles assinavam exatamente do mesmo jeito e nunca tinham combinado aquilo.

Itachi,

Antes de qualquer coisa eu quero que saiba que você é uma das pessoas mais importantes do meu coração. Foi assim desde que eu me entendo por gente. Eu queria ser capaz de te dizer isso, mas eu simplesmente não consigo. Acho que nós Uchihas somos geneticamente programados para não lidar bem com os nossos próprios sentimentos e por isso eu sou muito feliz por saber que você tem o Shisui do seu lado, ele é a exceção e sempre vai cuidar de você.

Irmão você é extraordinário. Sempre foi tão bom em tudo, mas nem por um pequeno instante você agiu de forma arrogante ou foi esnobe com alguém. Tenho certeza de que você vai salvar muitas vidas ainda. É uma daquelas pessoas que nasceram para deixar sua marca no mundo e você vai deixar sendo o melhor cirurgião de todos os tempos.

Me desculpe por estar tão afastado. A maior parte do tempo eu sinto que estou me afogando e nem entendo exatamente no que. Eu gosto de acreditar que você pararia sua vida apenas para estender a mão para mim. Só que eu não quero que mais ninguém se afogue junto comigo, especialmente você. Essa é a minha luta e eu estou tentando fazer o melhor que posso.

Alguns dos nossos parentes acham que eu tenho inveja de você, tem alguns que afirmam categoricamente que eu te odeio. Que hilário, além de hipócritas eles são cegos e intrometidos. Eu nunca odiei você e nunca vou odiar. Então se um dia ouvir algo assim, se é que você já não ouviu, por favor, não acredite nem por um segundo.

Em um sonho antigo nós lutamos por todas as pessoas que vieram em busca de ajuda, não faça distinções insignificantes e nunca se culpe por aqueles que não puder salvar, às vezes, está muito além do nosso alcance.

Eu amo você Itachi.

Obrigado por ser o meu irmão.

Sasuke Uchiha

Shisui ergueu os olhos para o rosto de Itachi quando este finalizou a leitura. O rosto dele estava seco, mas os olhos que tanta amava estavam tão miseráveis que era difícil encarar.

- Ele estava em tratamento da depressão há meses. – Murmurou dobrando a carta e colocando-a de volta no envelope. Ia guardar aquele pedaço de papel para sempre. – Eu fui falar com o psiquiatra dele. Meus pais sabiam e não deram a devida atenção.

- Sinto muito Itachi.

- Eu deveria estar aqui. – Admitiu com o peito dolorido. – Ele morreu sozinho e eu deveria ter estado aqui. Se tivéssemos vindo na data combinada, se eu tivesse recusado o convite do meu professor... - Apertou os olhos sentindo vontade de chorar, contudo parecia que todas as suas lágrimas tinham secado. – Eu estaria aqui e podia ter feito alguma coisa e mesmo que não pudesse... Pelo menos ele não estaria sozinho.

Shisui apenas apertou a mão do primo sabendo que não existia absolutamente nenhuma palavra que pudesse acalentar o coração dele. Não ainda. O atraiu para seus braços e o apertou contra o seu peito sabendo que aquele era o melhor consolo de todos.

“Seu irmão queria fazer medicina porque era fascinado pela ideia de poder ajudar as pessoas. E você, Itachi? Por que você fez medicina?”

Tinha escolhido fazer medicina porque ouviu seus pais falarem como o pequeno coração do seu irmãozinho era frágil. Foi por isso que se dedicou tanto. Foi por isso que aprendeu tanto. Mas em algum momento durante aquele percurso esqueceu-se do que importava mais.

- Eu me tornei cirurgião para ajudar meu irmão e agora que ele se foi eu não tenho mais certeza se ainda quero ser.


Notas Finais


✦Vou tentar manter o ritmo das outras histórias e atualizar semanalmente^^ ✦

✦Até o próximo✦


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