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História Antes de Ir - Para Sakura


Escrita por: ThammiRB

Notas do Autor


✦Olá chuchucos✦

✦Desculpem, essa história era para ter sido atualizada ontem, mas eu precisei focar em Correntezas Negras e só pude dar atenção para ela agora.✦

✦Vamos bater um papo... ✦

✦Esse capítulo foca muito na Sakura que vive um cenário bem delicado, então, por favor, no caso de qualquer sentimento ou pensamento ruim. Para de ler, ok? Vai ler outra história, uma comic, ouvir uma música bem legal. Abstrai e se for de mais, não leia. Respeitem os limites de vocês sempre, viu! ❤✦

✦Boa leitura✦

Capítulo 9 - Para Sakura


Fanfic / Fanfiction Antes de Ir - Para Sakura

Para Sakura

Os dias tinham se tornado mais longos e mais difíceis desde que Sasuke se foi. Pelo menos antes de conhecer o moreno, Sakura não sabia o que era ter um amigo então não sentia falta. Mas agora que conhecia a sensação de ter alguém para dividir seus sonhos, medos e esperanças e de repente estar sozinha de novo era como se estivesse se afogando. Shizune estava tentando ajudá-la a lidar com a dor que a partida do amigo tinha causado.

Só que estava sendo tão difícil!

Especialmente ali na escola. Mal tinha passado pelos portões do pátio e já queria voltar para casa e se esconder debaixo de um edredom e dormir para não pensar em nada. Virou o rosto um pouco de lado e sentiu uma onda massiva de raiva ao ver Naruto Uzumaki cercado pelo seu séquito de amigos que falavam, falavam e falavam sem parar. O loiro não participava da conversa, na verdade o brilho que sempre o cercava parecia ter esmorecido.

Irracionalmente, Sakura ficou feliz em ver o Uzumaki sofrendo. Ele não fazia ideia de como Sasuke tinha sofrido por causa dele, de como tinha se desesperado com a ideia de perdê-lo. Aquele idiota alegre e convencido que foi criado em um mundo perfeito. Apertou os punhos respirando fundo para lutar contra a vontade de chorar. Bolsas enormes já estavam mais do que marcadas embaixo dos seus olhos de tanto que havia chorado no último mês.

Só mais alguns meses... Só precisava aguentar mais alguns meses e faria dezoito anos, poderia ter acesso ao fundo que seu irresponsável pai fez para ela, nunca mais teria que se preocupar com sua mãe narcisista, se formaria e iria para longe daquela cidadezinha pequena e irritante.

- Ei... – Franziu a testa ao sentir alguém tocando de leve seu ombro. – Posso falar com você?

A expressão de Sakura que era pesada se tornou sombria ao ver Naruto Uzumaki tão perto dela.

Ir para escola era quase tão ruim quanto ficar em casa, o problema era que em casa sua mãe ficava por perto o tempo todo. Kushina arrumava uma desculpa de dez em dez minutos para passar pelo corredor e trancar a porta do quarto ou do banheiro foi totalmente proibido. Ela e Minato temiam que  ele pudesse fazer alguma idiotice. Haviam tantas lembranças de Sasuke em casa, quantas vezes eles não assistiram filmes na sala... Quantas vezes não o pegou na cozinha com a sua mãe conversando e cozinhando... Quantas vezes não correram pelo quintal e tomaram banho de piscina juntos... Quantas vezes não tinham transado na sua cama.

No colégio pelo menos estava cercado de pessoas, seus amigos não souberam lidar com ele no início e optaram por agir o mais normal possível. Funcionava. Exceto que Sasuke não estava mais por perto. Não conseguia, ou melhor, não queria interagir com ninguém. De repente se deu conta de como os assuntos ali eram vazios. Quem se importava quem estava namorando quem na escola? Quem ligava que o ator tal tinha ficado com a atriz tal que era casada? Que diferença fazia na vida deles se repetissem a roupa?

Suas conversas com Sasuke tinham assuntos bobos e despreocupados, claro que tinham. Mas eles também passavam um bom tempo falando sobre coisas do universo, teorias, o moreno explicava algumas coisas sobre política que nunca se preocupou em saber. Eles falavam do futuro e de como o planeta se esgotava mais depressa a cada ano que passava. Havia um equilíbrio que nunca tinha se dado conta de como gostava.

Agora existia apenas um vazio com gosto amargo e nada, nada mesmo conseguia preencher aquele vácuo. Não sabia o que o levou a ir falar com Sakura, mas ao vê-la ali no meio do pátio, cercada de pessoas e ao mesmo tempo sozinha, sentiu um impulso que não conseguiu controlar. Tinha a sensação de que ela poderia preencher algumas lacunas. Embora parecesse absurdo que a Haruno soubesse mais sobre Sasuke do que ele. Ela o conhecia há poucos meses, ele namorado com o Uchiha há anos e se conheciam desde que eram bebês.

Era um filho bem amado, um neto bem amado, um amigo bem amado e uma pessoa bem amada. Nunca ninguém havia o desprezado ou maltratado, mas a maneira como Sakura o olhou evidenciou um ódio que deixou suas pernas meio dormentes.

- O que você quer?!

- E-Eu...  – Aquela agressividade o desarmou completamente. – Me desculpe, não é nada.

Deu meia volta sentindo a cabeça doer.

- Isso mesmo. Corra de volta para os amigos agora você tem tempo o bastante para eles, não é?

O tom da garota saiu vários decibéis mais alto e algumas pessoas ouviram e passaram a prestar a atenção neles. Naruto se virou lentamente para ela com os olhos desfocados.

- O que? – Sussurrou mal controlando o queixo.

- Bem... – Sakura parecia descontrolada, os olhos muito verdes estavam arregalados, ela mal piscava. – Todas aquelas festas super importantes, e as resenhas, os encontros onde a coisa mais interessante era beber e falar de coisas vazias e sem importância... Agora você tem tempo de sobra para tuuudo isso sem precisar se preocupar com o que seu namorado vai achar ou deixar de achar, ele está morto.

- Para. – Pediu engolindo a seco.

 - Você está triste? Sério? – Um riso cheio de escárnio cruel saiu dos lábios finos que estavam sem cor. – De verdade Naruto? Isso me surpreendeu... Achei que estaria aliviado.

- Para com isso – pediu sentindo o corpo todo tremer.

Pelo canto dos olhos, Naruto viu que Gaara tinha vindo para o seu lado. Hinata e Ino estavam do outro e provavelmente todo o seu grupo. Isso costumava inibir Sakura que mal os olhava, mas dessa vez pareceu apenas enraivecê-la ainda mais.

- Acho que você precisa se acalmar... – Hinata foi a primeira deles a falar, porém as esmeraldas não saiam do rosto do Uzumaki.

- Faça agora – a rosada deu um passo para frente ficando cara a cara com ele. – Vá às suas festas, poste as suas fotos, marque os amigos nos stories, faça as lives cantando as músicas e dançando cercado de todos esses amigos maravilhosos que você tem. Esfregue na cara do resto do mundo o quanto você está se divertindo sem se preocupar com quem possa estar machucando fazendo isso. – Naquele ponto Naruto não conseguiu mais segurar as lágrimas que corriam pelo seu rosto. – Ele não pode mais ver. – Sakura também cedeu ao choro e soluçou. – Ele não está mais aqui.

- Já chega garota! – Ino brigou, mas Naruto ergueu o braço.

- Me fala... – Sakura continuou como nem tivesse ouvido o Yamanaka. – Qual foi a última coisa que disse a ele?

Um som estrangulado saiu da garganta de Naruto e Gaara o firmou quando ele oscilou. Kakashi apareceu de repente como se tivesse sido invocado por alguém e olhou para o Uzumaki e em seguida para a Haruno levando meio segundo para compreender a situação. O Hatake envolveu a rosada e a puxou para trás, mas com um puxão a garota se soltou e saiu dali com passos apressados.

- Professor, eu acho melhor ligar para alguém... – Shikamaru sugeriu ao ver a palidez de Naruto e o jeito que ele estava suando frio.

Kakashi assentiu e pegou o celular. Não era atoa que os contatos de Kushina e Minato estavam salvos nos favoritos.

Se algum dia alguém perguntasse como tinha chegado aquele banheiro, Sakura não saberia responder. Só reconheceu o lugar onde estava quando ergueu a cabeça e viu seu reflexo no espelho. Suspirou ruidosamente e agradeceu por ser a única ali.

Abriu a torneira e jogou água gelada no rosto várias e várias vezes. Fechou a torneira e voltou a encarar a própria imagem refletida. Sabia que o que tinha feito era errado. Sabia que tinha sido injusta com Naruto e que não deveria ter falado aquelas coisas. Mas estava tão furiosa, não que o Uzumaki e sim com a vida e como ela conseguia ser injusta e cruel!

Foi um golpe muito baixo ter usado seu conhecimento sobre o fato dele e Sasuke terem brigado, eles não tiveram a chance de fazer as pazes antes... Naruto não sabia. Ele não sabia o quão frágil o Uchiha realmente estava. Devia ter seguido sua intuição e contato ao loiro, mesmo que seu amigo não quisesse. No fundo do seu coração sabia que Naruto teria ficado ao lado de Sasuke, que teria sido mais cuidadoso e um aliado na luta dele.

Mas não tinha feito isso e ainda foi cruel e mesquinha exatamente como a sua mãe. Encostou as costas na parede e deslizou até o chão chorando copiosamente.

Na porta Ino observava a cena consternada, havia seguido a Haruno até ali e tinha a intenção de falar umas poucas e boas para ela. Como aquela menina ousava zombar da dor do seu amigo daquele jeito?! Mas ao ver o estado deplorável que a garota estava, sua raiva desapareceu na hora e fechou a porta sem dizer nada.

Viu sombras se aproximando e sem entender o porquê se escondeu em uma brecha. Era Kakashi com o diretor Hiruzen.

- Kushina já levou Naruto para casa?

- Sim diretor. – O professor de história parecia cansado. – O senhor vai punir a Sakura?

- Pelo o que? Ela não ofendeu ninguém e a verdade costuma ser difícil de ouvir. A Haruno também está passando por um momento difícil. Perder um único amigo que conseguiu fazer na escola... Como se não bastasse aquela mãe narcisista.

As sobrancelhas de Ino franziram com o termo “mãe narcisista”, era algo que nunca tinha ouvido falar. O sinal tocou indicando que a aula começaria, mas decidiu que iria para casa. Não estava nem um pouco disposta a encarar um dia inteiro de aulas.

Não teria problemas em casa. Se voltasse e dissesse que não estava se sentindo bem, sua mãe amorosa e terna acreditaria e provavelmente levaria para ela uma xícara de chá de melissa ou uma tigela de sopa mesmo que não pedisse.

Sentia um nó enorme na garganta com tudo aquilo. A verdade era que não estava furiosa com Sakura, estava furiosa consigo mesmo. A festa que ocasionou a briga entre Sasuke e Naruto antes do moreno morrer era sua. Não era um aniversário ou nenhuma data especial, eram só eles gastando o tempo extra que tinham com suas vidas perfeitas e sem preocupação e nenhum pingo de empatia.

Conseguiu sair da escola sem muitos problemas, todos pareciam distraídos aqueles dias. Chegou em casa e entrou pela porta da frente sendo o mais silenciosa possível, seu pai estava no trabalho e sua mãe devia estar no jardim cuidando das flores dela. Subiu até seu quarto e foi direto para o computador pesquisar: “Mãe Narcisista”.

Quanto mais lia sobre aquele tema, quando mais via vídeos sobre relatos de pessoas que tinham a infelicidade de ter uma mãe narcisista mais boquiaberta, Ino ficava. Nem sabia que aquele nível de maldade podia ser real. Como uma mãe podia maltratar, desdenhar e atormentar um filho daquele jeito? Algumas eram tão cruéis que levavam seus filhos ao limite...

Subitamente se sentiu gelada. Uma vez, quando saíram da aula de educação física, tinha esquecido sua maquiagem na pia do vestiário e voltou depois de que todos já tinham ido. Sakura era sempre a última e a garota sempre usava uma pulseira grossa muito fora de moda, mas conseguiu ver rapidamente a cicatriz que cortava a pele do pulso.

Deus, como tinha sido idiota! Só agora havia se dado conta do significado daquilo e sentiu vontade de vomitar ao lembrar-se de como havia tratado a Haruno. Não que tivesse destratado a novata, mas também não havia dado nenhuma chance para ela.

Perdeu a noção de quanto tempo ficou parada ali no mesmo lugar e só conseguiu reagir ao ouvir o som da porta de frente e a voz abafada dos pais e saiu do quarto. Seus pais eram o casal mais lindo que já tinha visto. O jeito que Inoshi olhava para Hana era a declaração de amor mais linda que existia para ela. Deixou o corpo escorregar até sentar em um dos degraus e foi quando sua mãe notou sua presença. Ela estava com um enorme buquê de nas mãos e apenas ao olhá-la soube que alguma coisa estava errada.

- Ino? Filha, o que aconteceu?

- Eu... – Os genitores se aproximaram preocupados. – Eu fiz uma coisa ruim.

Hana e Inoshi se entreolharam confusos com o que a filha estava dizendo e esperaram que ela respirasse fundo e contasse o que tinha causado aquela reação. Ao ouvirem tudo que tinha acontecido, Hana abraçou a filha em solidariedade, mas Inoshi apenas cruzou os braços e encarou a filha com seriedade.

- Achei que tinha te ensinado alguma coisa direito.

- Inoshi...

- Não Hana – cortou a esposa firme. – Acho ótimo que ela tenha se arrependido, mas quero saber por que se achou no direito de desdenhar de outra pessoa desse jeito? – Ino se encolheu e desviou o olhar para chão não tendo coragem de encarar o genitor. – Achei que tivesse te criado melhor.

A adolescente se abraçou, as palavras do pai eram ruins, mas em nada se comparavam ao rosto devastado de Naruto e choro desesperado de Sakura. Eles estavam certos, se tivesse uma pessoa melhor, se não tivesse insistido em dar aquela festa...

Sakura sabia muito bem que todos estavam olhando para ela naquele corredor que parecia ser uma alusão ao inferno. Não podia culpá-los. Tinha gritado com o aluno mais popular da escola no meio do pátio, claro que todo mundo ia ficar encarando ela. Havia perdido todas as aulas do dia e não podia estar se importando menos.

Tinha se refugiado no canto do terraço que Sasuke e ela usavam para passar o tempo. Geralmente o moreno ia para lá quando o namorado estava treinando já que ele mesmo não podia praticar nenhum esporte e depois de algum tempo cansava apenas assistir e ver os outros babando em Naruto bem na sua cara. O Uzumaki era o queridinho dos professores, então não sabia se iria ser castigada ou não por tê-lo atacado. Não ligava, o pior que podiam fazer era expulsá-la e isso seria ótimo.

Abriu o próprio armário com raiva e arregalou os olhos ao reconhecer o envelope negro. Todos os seus músculos paralisaram por alguns segundos e assim que recuperou as forças olhou ao redor sem saber exatamente o que procurava.

De: Sasuke Uchiha

Para: Sakura Haruno

Como era possível que aquilo estivesse ali?

Reconhecia mais do que a letra, reconhecia o envelope que tinha visto Sasuke comprar alguns meses atrás. Ele tinha escrito uma carta para ela. Aquele idiota nunca contou que também tinha escrito uma carta para ela. Abraçou o papel sentindo a dor da perda do amigo retornar com força.

Deus devia ter ido até a casa dele, mesmo ele dizendo que estava tudo bem... Devia ter ido. Claro que ele não estava bem! Tinha brigado com o namorado, ninguém ficava bem depois de brigar com o namorado!

Abriu o envelope da sua carta com determinação. Nunca mais seria medrosa, nunca mais deixaria que a acuassem de novo. E leria com o peito aberto o que seu único amigo de vida havia escrito para ela.

Sakura,

Você não tem ideia da sua própria força, tem ? Você é tão nova, tão boa, tão gentil. Aquele tipo de pessoa que a gente quer colocar em um potinho e proteger do mundo. Depois de tudo que aquela mulher te causou você conseguir manter seu espírito sonhador é só mais uma prova da garota especial que você é. Eu sei que não acredita muito na própria determinação, mas eu te garanto rosinha, você vai conseguir conquistar o mundo. Vai ser a melhor médica de todos os tempos e quando olhar para trás vai respirar aliviada ao ver que o passado foi vencido.

Nós compartilhamos o azar em ter nascido com família que não cumpriram bem o papel de cuidar de nós. Claro que as suas provações foram muito mais árduas do que as minhas, mas dor é dor, certo? Nossas almas feridas se reconheceram e se juntaram e sou grato por isso. Se eu conseguir consolar você, se em algum momento nesses poucos meses eu pude aliviar a carga que você carrega então estou cumprindo com a minha obrigação de amigo.

É incrível. Nunca consegui me aproximar de alguém facilmente, mas você foi minha única exceção. Como eu já disse, almas similares se deram bem desde que eu vi que você estava lendo “O Apanhador de Sonhos”, além de tudo tem bom gosto. Você é uma grande, maravilhosa e insubstituível amiga. Você sabe todos os meus segredos e sonhos. Pensamentos que nunca compartilhei com ninguém. Nem mesmo com o Naruto. Te conhecer foi um presente que eu nunca esperei receber.

O que eu estou tentando dizer e enrolando para escrever é que eu te amo cereja, do fundo do meu coração.

Obrigado por tudo.

Sasuke Uchiha

Assim que terminou de ler, o rosto de Sakura estava encharcado de lágrimas, mas ao mesmo tempo tinha um sorriso de pura ternura nos lábios. Ah, Sasuke... Rosinha, cereja, era assim que ele a chamava quando queria provocá-la. Inacreditável. Ele tinha escrito na sua frente e não tinha tido coragem de ler.

O que será que ele acharia dela se soubesse o que tinha feito com a pessoa que mais amava? Não foi correto e nem justas as acusações que fez a Naruto. Como Sasuke mesmo tinha escrito, ela sabia de coisas que o Uzumaki não.

Fungou limpando o rosto com as mangas e guardou a carta de volta no envelope negro. Precisava acertar as coisas e logo.

- Sakura?

- Sim? – Fechou o armário e virou para o professor Kakashi que a olhava com amparo.

- Você está bem? Sei que faltou a todas as aulas hoje.

- Eu precisei de um tempo, mas garanto que não vai acontecer de novo.

- Não estou te repreendendo. Só quero que saiba que não está sozinha.

Os olhos verdes lacrimejaram de novo, mas segurou a vontade de chorar com força. Em tese era fácil falar isso. Já na prática, nem tanto.

- Na verdade eu preciso de um favor. – Respirou fundo buscando coragem. – Pode me dizer onde fica a casa do Naruto?

 

...

Na segunda-feira estranhou ao não ver Sasuke na sala de aula. O Uchiha era um aluno assíduo demais para se dar o luxo de faltar. A fofoca do dia era a super festa que tinha acontecido no sábado anterior na casa da Ino Yamanaka, à qual obviamente não foi convidada. Não importava. O problema era que aquela festa desnecessária tinha causado uma briga feia entre Naruto e Sasuke. E sabia como seu amigo ficava mal quando discutia com o loiro.

O Uzumaki, por outro lado, não parecia tão abalado assim e conversava com os amigos parecendo animado. Eles tinham postado tantas coisas nas redes sociais durante a festa que mais pareceu que ficaram no celular o tempo inteiro ao invés de curtir realmente a festa. Idiotas, idiotas privilegiados sem um pingo de noção de como o mundo podia ser cruel.

Tudo bem que não podia ser muito dura no julgamento de Naruto, afinal ele não sabia do transtorno que Sasuke enfrentava e o que o salvou naquele dia foi o jeito que os olhos azuis encaravam a carteira vazia que geralmente era usada pelo moreno. Todo o brilho dele se foi por alguns segundos antes dele conseguir disfarçar. ]

Ótimo, pelo menos ele estava sentindo também.

Mandou uma mensagem para Sasuke que não chegou para ele e precisou se segurar para não gritar de agonia. Detestava quando ele fazia aquilo, desligava o celular ou a internet para não ser incomodado por ninguém. Já tinha acontecido antes e por isso tentou não se preocupar muito.

Só que no dia seguinte ele faltou de novo. Ah, não! Matou a primeira aula apenas para ligar para ele e sentiu um alívio enorme ao ser atendida no terceiro toque.

- Sakura?

- Como você tá?

- Bem.

- Não mente para mim Uchiha – grunhiu ouvindo como a voz dele estava rouca. – Conseguiu dormir? – O silêncio foi a resposta que precisava. Sasuke tinha uma insônia terrível que conseguia driblar até mesmo alguns remédios. – Que caralho! A briga foi feia?

- Foi minha culpa, eu prometi que ia com ele e... Na hora de se arrumar eu não tinha força nem para levantar da cama. – O moreno parecia desolado. – Ele tá chegando no limite comigo.

Sasuke vivia apavorado com a possibilidade de Naruto terminar com ele. Como se o Uzumaki fosse a última boia de salvação dele e caso o perdesse iria se afogar por completo.

- Você precisa contar a ele a verdade! – Não era a primeira vez que insistia naquilo, mas aquele idiota era muito teimoso.

- Não posso... Eu não consigo. 

- Sasuke como você pode amá-lo se não confia nele? – O Uchiha não respondeu e Sakura sabia que ele não responderia.  – Só pensa nisso. Hoje é terça, dia de terapia. Discute isso com o Orochimaru, ok?

- Ok...

...

E pensar que aquela foi a última vez que falou com o moreno fazia seu coração doer. Ficou agoniada ao ver que ele tinha faltado à sagrada terapia. Queria ter ido até a casa dele, mas nunca tinha pisado na ostentosa mansão dos Uchihas e... Tinha sido uma completa covarde! Prometeu a si mesma que se Sasuke não aparecesse na escola no dia seguinte iria até a casa dele. Como se o amanhã fosse uma garantia...

E como a vida mostrou, ele não era.

Encarou a porta de madeira com certo receio. Estava parada ali já fazia mais de cinco minutos e ainda não tinha tido coragem de tocar a campainha. Depois de ler as palavras que Sasuke tinha dedicado a ela, sentiu-se muito mal pelo que tinha feito a Naruto. E por isso foi até a casa dele se desculpar e quem sabe contar algumas coisas que só ela sabia.

No entanto... Depois de como tinha tratado o Uzumaki estava morrendo de vergonha e medo de ser destratada por ele e pelos pais dele, cuja fama de serem extremamente zeladores era lendária. Principalmente da senhora Kushina Uzumaki, Sasuke mesmo já tinha falado que a ruiva era capaz de fazer loucuras pelo filho, filho que ela tinha magoado com força.

Revirou os olhos recusando-se a ser covarde e tocou a campainha.

Não demorou para a porta ser aberta por Minato, ah que ótimo, ambos os pais estavam em casa. O delegado a encarou com curiosidade, óbvio que não a conhecia, ela não fazia parte do grupo sociável do filho dele.

- Olá – forçou-se a dizer e notou os olhos azuis atentos aos seus olhos que com certeza estavam inchados e marcados pelo choro que só conseguiu controlar poucos minutos atrás. – Meu nome é Sakura Haruno, eu gostaria de falar com o Naruto.

O rosto do Namikaze iluminou com reconhecimento. Claro que os professores, talvez o próprio Kakashi tinha contado a ele quem foi quem “atacou” Naruto na escola a ponto de fazê-lo precisar ir para casa daquele jeito. Engoliu a seco esperando ser escorraçada da porta deles, mas se surpreendeu quando o loiro deu passagem para que entrasse e respirou fundo antes de entrar na casa.

Sasuke havia dito inúmeras vezes que a casa Uzumaki-Namikaze era diferente de tudo que se podia imaginar. Aquela lenda de que os imóveis absorviam a energia dos moradores deveria ser verdadeira, pelo menos no caso deles. Tudo era tão claro, tão límpido, quente e aconchegante.

- Vem comigo – Minato pediu.

Os dois caminharam por um corredor curto chegando à sagrada cozinha da senhora Uzumaki. Nela havia uma porta de vidro que dava para uma curta escada de quatro degraus que se você descesse chegava ao jardim dos fundos da casa. Reconhecia o local mesmo sendo a primeira vez que estava ali, graças aos relatos de Sasuke. O moreno passou boas horas da sua vida sentado naquela escada.

Naruto estava em uma chaise com a mãe que cantarolava uma música ao mesmo tempo em que fazia carinho nos fios claros do filho. O rosto dele estava tão miserável que Sakura se sentiu a pior das criaturas.

- Naruto... – Minato chamou. – Tem alguém aqui que quer falar com você.

O loiro mais jovem ergueu a cabeça ao ouvir a voz do pai e arregalou os olhos ao vê-la. Kushina apenas arqueou uma das sobrancelhas vermelhas desconfiada.

- Sakura o que você-

- Eu vim me desculpar pelo o que eu falei mais cedo na escola. – Despejou de uma vez antes que perdesse a coragem. – Foi cruel e mesquinho e você não mereceu.

A família teve reações diferentes, Minato parecia curioso, Naruto confuso e Kushina um pouco irritada, mas contida.

- Acho que mereci um pouco sim... – Murmurou se levantando.

- Não, não mereceu... – Sakura suspirou e apertou o envelope preto. – Acho que você precisa saber de algumas coisas... Coisas que só eu posso te contar. – Pela primeira vez as íris de Naruto demonstraram alguma emoção. – Posso sentar?

- Na escada? – Kushina soou confusa.

- Sim. – Sorriu sentindo os olhos encherem de lágrima de novo e olhou para cima tentando segurá-las. – Sasuke me disse que aqui é o melhor lugar do mundo para se pensar, ele adorava sentar aqui e olhar as suas flores, as nuvens e as estrelas. Era onde ele se sentia mais seguro. – A Uzumaki compartilhou o mesmo brilho aquoso nos orbes e assentiu. – Por exceção dos seus braços. – Terminou encarando Naruto que engoliu a seco.

O loiro olhou para os pais perdido e Minato assentiu, ele suspirou e sentou ao lado da Haruno. Não estava com raiva pelo o que ela tinha feito mais cedo no colégio. Tinha ficado devastado porque era verdade. Mas jamais esperou que ela viesse até sua casa se desculpar.

- Nós vamos deixar vocês a sós...

- Não, podem ficar. – Sakura interrompeu o Namikaze. – Sasuke amava vocês dois como pais, também têm direito de saber o que eu vou contar.

Em outro momento Minato insistiria para deixar os dois adolescentes a sós, mas se tratando de uma situação tão difícil, achou melhor permanecer ali, caso Naruto ou aquela menina precisassem de apoio. Além disso, não fugiu a sua visão o envelope que ela segura, um envelope idêntico ao que ele e sua esposa tinham recebido.

- Você alguma vez perguntou a ele como nós nos tornamos amigos tão rápido?

- Ele me disse que vocês se esbarraram e começaram a conversar sobre um livro – Naruto respondeu sem entender. – E que tinham muitas coisas em comum.

- O livro era O Apanhador de Sonhos do Stephen King. – A menina sorriu de leve com a recordação. – Era a primeira vez que eu lia algo desse autor, mas o Sasuke era completamente louco por ele. Tinha todos os livros, assistiu todos os filmes... Nós estávamos na sala de espera, nossas terapias eram no mesmo dia. – A rosada falou devagar e olhou de canto para o loiro que franziu a testa.

- Terapia? Por causa do coração dele?

- Também... – Respirou fundo. – Naruto, Sasuke tinha depressão e estava tratando dela há dez meses mais ou menos.

O rosto do Uzumaki foi tomado por uma onda de choque. A palavra “depressão” tinha se tornado bastante popular nos últimos tempos de um jeito bom e ruim. Muitos a romantizavam e diziam que sofriam dessa terrível doença sendo que nunca tinham sequer pisado em um consultório médico para um verdadeiro diagnóstico o que era muito perigoso, pois a depressão ou qualquer outro tipo de transtorno jamais deveria ser banalizado.

O lado bom é que muitos estavam aprendendo o quão devastadora ela podia ser e passaram a abrir-se a maiores discussões. Existiam livros, músicas, filmes e séries falando sobre isso. Alguns extremamente desnecessários, mas outros que conseguiam mandar uma mensagem para quem realmente sofria daquilo.

E a mensagem era: você não está sozinho.

O garoto a sua frente era irrevogavelmente e incondicionalmente amado pelos seus pais, pais esses que se amavam e se respeitavam o que por si só já era uma grande prevenção a doenças como depressão, embora não fosse uma certeza. Uma vez que doença nenhuma fazia distinções. Elas apenas aconteciam e isso não era um sinal de fraqueza. Ele devia ter ouvido falar nos sintomas, vistos algumas encenações de atores, porém só quem sofria com a depressão ou convivia com alguém que tinha depressão chegava realmente perto de entender como ela sugava a vida. No caso de Naruto, ele conviveu com Sasuke, mas sem saber o que estava de fato acontecendo.

- O que? – Naruto indagou depois de um tempo. – Do que você está falando?

- Além da depressão ele também tinha um leve complexo de inferioridade provavelmente causado pela aquela família de merda dele. – O tom de Sakura tremeu de raiva e ela pigarreou tentando se controlar. - Você sabe o que é complexo de inferioridade? – O loiro negou. – É quando uma pessoa sente uma dúvida constante sobre si mesmo, incertezas de que pode fazer algo e coloca a auto estima no chão.

A expressão do loiro era puramente incrédula. Sasuke se sentindo inferior? Com depressão? Como assim? A maior parte das lembranças que tinha dele era de alguém forte e orgulhoso!

- Ele disfarçava bem. – Sakura continuou observando como o colega de classe parecia confuso. – Principalmente perto de você. – Sorriu desolada. – Eu pedi tantas vezes para ele te contar, mas o medo sempre falou mais alto.

- Medo de que?! – A voz de Naruto soou alta com indignação.

- De você deixá-lo. – Respondeu simples vendo o outro piscar devagar. – Os pais dele não levaram o diagnóstico a sério quando o psiquiatra falou com eles. E quando as duas únicas pessoas que têm ou deviam ter obrigação biológica de te amarem incondicionalmente falham, a gente passa a se achar indigno do amor de qualquer um.

Atrás dos adolescentes, Kushina apertou os dentes irada. Deus, amava Mikoto como a uma irmã, mas se ela tinha realmente negligenciado o próprio filho daquela maneira diante de uma confirmação daquela doença grave... Jamais iria perdoá-la.

Minato suspirou resignado, o que o corroía por dentro era a culpa de não ter prestado um pouco mais de atenção em Sasuke. Todos os sinais estavam ali e ele não conseguiu ver! Que tipo de homem, que tipo de delegado e pai ele era? O menino Uchiha sempre demonstrou ser mais retraído e fechado dentro de si mesmo, mas não justificava sua cegueira.

- Eu nunca teria abandonado ele. – Naruto afirmou com a garganta e o peito pegando fogo e deixando duas discretas lágrimas escorrerem pelo rosto. – Nunca.

- O fato de você ser o garoto mais popular da escola não ajudava muito, era difícil para ele lidar com você cercado de pessoas o tempo todo, sendo tão brilhante enquanto ele se afundava cada vez mais em escuridão. Acho que na cabeça dele vocês estavam se afastando cada vez mais, Sasuke era muito sensível, muito emotivo e estava muito machucado. – A voz da Haruno embargou com a lembrança do amigo. – E você era a melhor coisa da vida dele. Você tinha tanto poder sobre ele que conseguia fazer com que comesse, dormisse... Conseguia fazer com que ele sentisse que valia a pena para alguém. Sempre achei que seria um grande aliado na luta que estava enfrentando.

Naruto abaixou a cabeça sendo invadido por múltiplos sentimentos que fizeram com que surgisse uma vontade enorme de gritar. Agora tudo fazia sentido. As oscilações de humor, a insônia que não acabava nunca, a falta de apetite. Deus do céu, quantas vezes tinha pegado o namorado olhando para o nada como se estivesse perdido em algum lugar distante e não soubesse como voltar.

- A depressão é muito complicada e pode surgir de qualquer lugar e com sintomas variados. – Os olhos esmeraldinos se concentraram no céu que começava a avermelhar com o pôr do sol. – É como se um piche surgisse de dentro para fora e formasse grades grossas que te prendem dentro de si mesmo e vão te sufocando devagar. Às vezes as grades se afastam permitindo um pequeno tempo de liberdade, mas de repente você é tragado de volta para aquela prisão.

- Você fala de um jeito – Naruto prestou atenção no perfil da rosada. – Você também tem depressão?

- Eu tenho TEPT-C, Transtorno de estresse pós-traumático completo somado com ansiedade. – Aquela era a primeira vez que falava seu diagnóstico em voz alta, por exceção do dia que conheceu Sasuke, e não sentiu a vergonha que achou que sentiria. – Eu tenho uma mãe narcisista que é basicamente uma figura materna que tem como único objetivo transformar a vida do filho em um inferno e o meu pai se mandou quando eu tinha doze anos. Cresci sofrendo constantes abusos físicos e mentais até que cheguei no limite. – A garota ergueu o pulso e puxou as pulseiras que sempre usava, deixando que o loiro visse a cicatriz que havia ali. Naruto emudeceu. – A vida é um saco e nem um pouco justa. – Sakura levantou sendo seguida pelo Uzumaki, já tinha falado demais. – Sei que vocês brigaram antes dele morrer, sei também que não tiveram tempo de se reconciliar, mas independente de qualquer coisa você precisa saber que o Sasuke te amava com todos os fragmentos do coração dele e sabia que você também o amava.

O lábio inferior de Naruto tremeu e ele assentiu sem conseguir falar nada. A garota acenou com a cabeça e deu meia volta para ir embora.

- Sakura... – O loiro chamou sem se virar para ela. – Se ele sabia que eu o amava... Por que ele não confiou em mim?

- Por que é difícil amar outra pessoa quando a gente não consegue nem amar a nós mesmos.

A garota pareceu tão certa falando aquilo, tão madura que Naruto sentiu-se conversando com alguém muito mais velho. Os olhos dela não eram de uma adolescente, eram de alguém que já tinha passado por muita coisa e subitamente se sentiu envergonhado pelo próprio comportamento cotidiano.

- Ele me enviou um áudio antes de morrer. Não tenho coragem de ouvir. – Admitiu covardemente e Sakura apenas sorriu triste.

- Tome o seu tempo, mas tenho certeza de que o que quer que ele tenha enviado para você só vai confirmar o que eu contei. – Olhou para o envelope que já estava meio amassado pela forma como o apertou todo aquele tempo. – Sasuke te amava.

Kushina e Minato trocaram um olhar e a ruiva abraçou o filho enquanto o Namikaze seguiu a garota, não era nessa vida que a deixaria sozinha depois daquele monte de revelações e também precisava perguntar algumas coisas para ela.

- Sakura, deixa eu pegar as minhas chaves que eu te levo para casa.

- Não precisa, senhor Namikaze.

- Eu insisto. – Usou seu tom mais sério e a menina assentiu, ela parecia tão cansada.

Os dois entraram no carro e ela só precisou dizer onde era o endereço uma vez, conhecia aquela cidade como a palma da sua mão. Volta e meia usava a visão periférica para dar uma olhada nela e se assegurar de que estava tudo bem. Naquela manhã quando recebeu a ligação de Kakashi dizendo que Naruto precisa ir para casa ficou realmente assustado. Perder Sasuke fez com que ele ficasse um pouco paranoico. Ele e Kushina encontraram o filho em um choro sofrido. O Hatake tentou ser evasivo sobre o que tinha causado aquilo, mas os amigos do filho ficaram mais do que felizes em contar o que tinha acontecido.

Sua esposa ficou muito irritada, já ele nem tanto. Compreendia que aquela era a melhor amiga de Sasuke, e ela também devia estar sofrendo um bocado e agora que sabia a história dela nem entendia como ela conseguia segurar as  pontas daquele jeito. Algumas pessoas não deviam ter filhos, achava ótima essa expansão do grupo de pessoas que não queriam ser responsáveis por outro ser humano. Não havia nada de errado nisso. Crianças merecem pais que os amem e nada além disso.

- Chegamos. – Anunciou estacionando em frente aos apartamentos que ela vivia. – Sua tutora está em casa? – Não queria deixá-la sozinha.

- Não, ela vai chegar tarde essa semana. – A garota tirou o cinto. – Obrigada pela carona Sr. Namikaze.

- Sakura – chamou fazendo com que ela olhasse. – Posso conversar com você por um minuto?

- Sim...? – As íris verdes brilharam com desconfiança.

- Esse envelope na sua mão é uma carta do Sasuke, não é?

- Como sabe...?

- Eu recebi uma, a minha esposa também. – Sentiu-se emotivo ao ver conhecimento no rosto dela. Talvez conseguisse algumas respostas. – O primo dele, o irmão e o pai, embora Fugaku só tenha admitido porque o Shisui viu a carta no escritório dele. O que são essas cartas? São cartas de despe...

- Não! – Sakura interrompeu com firmeza. – Sasuke queria viver! Ele tinha sonhos, tinha objetivos e estava aprendendo a lidar com as próprias dificuldades, além disso, as cartas foram ideia minha. Eu também escrevi algumas... Isso aqui é só um exorcismo de sentimentos. – Esfregou os olhos sentindo pura exaustão. – Há alguns meses a Shizune conseguiu localizar um endereço que podia ser o do meu pai e me perguntou se eu queria encontrar com ele e eu não soube o que dizer...

... Sasuke estreitou os olhos para a Haruno que andava de um lado para o outro agitada e não conseguia se concentrar nos livros o que era muito preocupante. Estudar era a única coisa que Sakura não permitia que ninguém interferisse porque sabia ser o único caminho para deixar aquela vida para trás e iniciar uma nova.

- É a história do seu pai?

- Eu não entendo! – A rosada grunhiu. – Sempre tive certeza de que nunca ia querer olhar para cara desse cuzão que não hesitou em me largar naquela casa com aquela mulher, mas tem uma parte de mim que quer perguntar a ele o porquê. Eu sei o porquê! Porque ele é um imbecil!

A única coisa boa que o genitor fez por ela foi criar um fundo com o valor significativo de dinheiro. Caso ela estivesse na faculdade poderia sacar aos dezoito anos, mas se interrompesse os estudos só poderia pegar o montante aos vinte e um. Foi por causa daquele dinheiro que sua mãe relutou tanto em abrir mão da sua guarda e era graças a ele também que poderia fazer uma faculdade integral sem se preocupar com as despesas. Não entendia como alguém que se preocupava com seu futuro podia ser a mesma pessoa que a tinha abandonado à própria sorte.

- Fala logo com ele e acaba com isso ou segue em frente e deixa para lá. Remoer isso só vai fazer sua ansiedade disparar.

- Quer saber! Você está certo. – A garota pegou um caderno e arrancou uma folha de papel com fúria. – Eu vou escrever uma carta para ele.

- Sakura...

- Eu estou falando sério! “Caro pai idiota, irresponsável, covarde que me abandonou com aquela mulher cruel que escolheu para ser esposa saiba que eu odeio você do fundo do meu coração e agradeço pelo fundo que fez em meu nome, mas sinto informar que você não fez nada além da sua obrigação!!!” – Sasuke olhava para amiga com algum receio, mas percebeu que depois de algum tempo a energia agressiva ao redor dela diminuiu bastante e passou a escrever mais devagar. Em determinado momento os olhos claros encheram-se de lágrimas. – Ele penteava meu cabelo quando eu era pequena, eu lembro.

No final, Sakura escreveu uma carta enorme que exaltava sua mágoa e não somente a fúria. Assim que terminou ela se sentiu melhor, como se desentalasse tudo que sempre quis falar para o genitor mais nunca pode.

- Você está bem? 

- Na verdade eu estou... – Franziu a testa, não sabia que colocar os sentimentos em palavras podia ser tão libertador.

Aquelas eram as suas palavras, suas emoções que não precisaria discutir com ninguém. Ficariam a salvo na sua privacidade a menos que decidisse compartilhar. Abriu o caderno e pegou outra folha?

- Ainda não terminou? – Sasuke a encarou confuso, eles estavam no terraço da escola e faltava pouco para o intervalo terminar.

- A do meu pai sim. Agora vou escrever uma para a minha mãe e não precisa se preocupar. – Pediu antes que o moreno pudesse protestar. – Não pretendo enviar para ela até porque não faria a menor diferença. Mas quero escrever as coisas que nunca tive coragem de falar na cara dela. Por que não tenta? A gente compra uns envelopes maneiros e deixa guardado para sempre que fraquejar lembrar-se de tudo. Bom e ruim e que nós definimos quem somos e não eles.

A proposta pareceu interessar Sasuke. Um dos maiores problemas que tinha era verbalizar seus sentimentos. Quem sabe não seria mais fácil escrevê-los...

- Depois nós fomos à papelaria e compramos os envelopes para guardar as cartas. Eu não sei bem quantas eles escreveu e para quem.

- Tem alguma ideia de quem pode estar distribuindo elas?

- Não... Eu ainda nem tinha me tocado disso. Tem alguém com as cartas do Sasuke e está entregando elas. – Ficou tão bitolada com os acontecimentos do dia que nem prestou atenção naquele detalhe. – Elas estavam no armário dele lá na escola. É tudo o que eu sei.

Minato assentiu e agradeceu a jovem a deixando ir. Pelo menos agora tinha uma pista. Provavelmente Kakashi era o único que poderia ajudá-lo daqui em diante. Ficou olhando da janela até a menina entrar no prédio. Ela estava certa, a maior parte do tempo a vida era um saco e tendia a ser injusta. Como policial teve inúmeras provas disso. Contudo, uma vez que se estava naquele mundo tinha-se que fazer o melhor possível.

~✻~

O zelador do cemitério o cumprimentou respeitosamente e Itachi apenas acenou com a cabeça sem vontade nenhuma, mas sua boa educação não permitia menos. Estava tarde, era quase hora de fechar e preferia assim. Naquele horário o lugar estaria mais deserto e queria mesmo privacidade.

Um mês. Já fazia um mês que tinha perdido seu irmão e lentamente começava a se acostumar com a dor de não ter mais Sasuke ali. As palavras do irmão ajudaram a amenizar o sofrimento, mas ainda não era o suficiente.

Franziu a testa ao ver alguém de pé diante do jazido da família Uchiha e se aproximou desconfiado, arregalando os olhos ao reconhecer a pessoa.

- Obito?!


Notas Finais


✦Não vou mentir para vocês, estou mais ansiosa para desenvolver o final alternativo do que terminar esse. ✦

✦Essa tristeza toda acaba comigo, mas eu amo drama então fazer o que... ✦

✦Até o próximo✦

❤Beijos❤


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