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História Antes do nascer do sol - Teresa - Uma mulher incomum


Escrita por: CaliVillas

Capítulo 6 - Teresa - Uma mulher incomum


 

Fevereiro de 2018. Está quente, mesmo o ar condicionado do carro não dá conta, sinto o meu rosto afogueado, o sol forte faz a longa estrada tremular na minha frente, uma miragem. Não há nada a minha volta, só mato baixo e seco, então eu o vejo andando no acostamento, percebo que jovem, longilíneo, calça Jeans muito desbotada, camiseta suada, grudado no corpo, cabelo castanho um tanto comprido, uma bolsa de viagem gasta jogada nas costas, está longe de qualquer lugar. Sorrio para mim mesma, reduzo a velocidade até me emparelhar com ele, abro o vidro do lado do carona, debruço sobre o banco.

— Está muito quente! — Ele me olha como se não acreditasse. — Quer uma carona? — pergunto, de um modo amigável.

 Ele me retribui o sorriso, tem um rosto bonito, um ar despreocupado, estava certa, ele é jovem.

— Você não devia oferecer carona por aí, moça. Pode ser perigoso — ele fala em tom de brincadeira.

— Sou bem crescidinha para me cuidar. Quer ou não uma carona?

 — Claro – ele abre a porta e entra, sentando no banco de carona. Jogando a bolsa de viagem no banco de trás. O carro é invadido pelo cheiro acre de homem e suor, aperto minhas coxas, excitada, volto para a estrada.

— Eu me chamo Teresa.

— Samuel. Melhor, só Sam.

 — Para onde está indo, Sam?

— Por aí. E você?

— Para qualquer lugar, estou subindo o litoral. Estou de férias, indo de uma praia a outra, sem compromisso.

— Eu também, de carona, mas está difícil.

— Quem bom que eu vi você.

 — Não é muito comum para uma mulher viajar sozinha, assim.

— Por que você acha isso?

— Porque as mulheres gostam de tudo muito certinho, tudo muito bem organizado, companhia.

 — Quem disse que não gosto disso tudo? Só que estou de férias, quero relaxar um pouco, me aventurar, quem sabe, o que se pode encontrar por aí? Não sou uma mulher comum – Eu lhe dou um sorriso malicioso, ele entendeu a mensagem e me devolve um sorriso torto. — Quer um pouco d’água? Não está muito gelada. — Ofereço a garrafa que está no console.

— Obrigado. Assim vou saber todos os seus segredos — ele me respondeu, pegando a garrafa da minha mão, nossos dedos se roçam.

— Quem sabe, você vai gostar. Biscoito? — Eu pego um pacote já aberto e ofereço a ele.

 — Obrigado — Ele pegou apenas um.

— Não seja tímido! Pode ficar à vontade, pegue o que quiser, você deve estar com fome — insisto, ainda com o pacote à sua frente,

— Obrigado. Na verdade, estou com um pouco sim — Sam disse, tirando um, dois, três, come com voracidade.

— Caiu farelo aqui — E passo a mão sobre a coxa dele, para limpar o resíduo invisível, o rapaz se contraiu, assustado, eu recolho a mão.

 — Aqui também — Enfim, ele entende o que eu quero, levando a mão ao meu vestido e o levanta, lentamente, até encontrar a minha pele nua, estremeço ao toque dos seus dedos ásperos.

Não falou nada, não quero assustá-lo, apenas continuo dirigindo agarrando o volante com força, querendo me concentrar, enquanto a mão dele subia cada vez mais, alcançando o meio das minhas pernas, me tocando, com uma expressão maliciosa no rosto. E quando passei pela entrada de uma pequena estradinha de terra, girei o volante ligeiro, estaciono a certa distância da estrada principal. Tirei ligeiro minha calcinha e pulei sobre o meu carona, abrindo sua calça, como imaginava o rapaz estava pronto, no porta-luvas, pego uma camisinha, depois, deixei que ele deslizar para dentro de mim, grudando a boca na dele, com beijos ardentes e movimentos intensos, transamos ali mesmo, no meio do nada, no calor da tarde.

— Puxa, moça! Isso foi demais! — Sam exclamou com cara de bobo, quando eu saía de cima dele e colocava minha calcinha.

— Você está com fome, Sam? Por que eu estou. Vamos para a próxima cidade, arranjar um lugar para almoçar — digo, satisfeita.

Na pequena cidade litorânea, parei diante de um pequeno restaurante de aspecto simples, bem na beira do mar, mesmo assim, Sam parecia um tanto desconfortável.

— Não se preocupe, eu pago, Sam — Entendi qual era o problema dele.

— Mas, não está certo isso — rebate, contrariado.

— Por que não? Se fosse ao contrário não teria problema — Sorrio, complacente.

— Não, não teria, porque eu sou um homem e você é uma mulher.

— É obvio que somos, comprovamos isso, há poucos minutos, lá na estrada. Mas, eu tenho dinheiro e gosto da sua companhia, por isso, não vou comer um sanduíche para não magoar sua masculinidade. Não seja bobo, Sam! Aproveite o que a vida lhe der, pois ela pode terminar a qualquer momento, em um piscar de olhos, debaixo de um sinal de tráfego.

Ele me encarou por alguns segundos, sem compreender o que aquelas palavras queriam dizer, então abri a porta e fiz menção de sair.

— Você não vem? — Deixo o carro e ele me acompanha.

O lugar está quase vazio nessa época, sentamos ao ar livre para podermos ver a praia, logo ali, adiante.

— Você não é daqui, não é, Teresa?

— Dá para perceber? — Era só uma pergunta retórica.

— Seu sotaque, seu jeito. São diferentes. Anda por aí, sozinha.

Eu afasto os fios de cabelos que o vento jogava no meu rosto, aquelas observações não me incomodam.

— Pegando e fodendo com um desconhecido, na beira da estrada —completo, com sarcasmo.

— Não foi isso que eu quis dizer — Sam ficou sem jeito, o atendente trouxe os cardápios, uma folha de papel plastificada.

— Gosta de peixe, Sam?

— Gosto.

— Cerveja?

— Não.

— Suco de laranja para nós dois — digo para o atendente, devido à limitação de ofertas. — Para onde você vai mesmo, Sam? — Colocou os cotovelos sobre a mesa e apoiando o rosto nas mãos, olhando direito para o rosto do rapaz. Ele era bonito, mesmo com a pele um tanto castigada pelo sol e cabelos dourados, corpo esguio. Quantos anos teria? Uns vinte e um, no máximo.

— Para nenhum lugar específico, só estou indo.

— Quer continuar comigo, podemos viajar juntos?

— Eu não tenho dinheiro para hotel, durmo por aí, em qualquer canto que arrumar — revelou, olhando para a toalha de plástico com a estampa de flores um tanto gastas.

— Mas, eu tenho. Só queria uma companhia, para não viajar sozinha.

Ele me fitou por alguns segundos, pensando.

— Não se sinta mal com isso, não vou achar que é menos homem porque eu pago as contas, já que você já provou para mim que é homem à beça — Dou lhe um sorriso maldoso. — Vamos comer, você decide depois.

Em uma bandeja, chegaram a comida e os sucos, os nós dois nos refastelamos com a comida simples, peixe fresco frito, arroz e salada, pois há muito Samuel não tinha uma refeição da boa e fresca. Mas, logo bateu aquela modorra, uma vontade de se encostar e dormir.

— Vamos para um hotel, descansar um pouco, depois, você decide — Pago a conta, o atendente me informa sobre uma pousada decente e não muito cara, com certeza, deveria ter vaga nessa época.

— Por quanto tempo vocês vão ficar? — pergunta a moça da recepção, meio abismada com a nossa aparição.

— Sei lá — Dou de ombros. — Uns dois dias.

Sam me olha desconfiado, mas não fala nada, quando com a chave na mão, subimos as escadas.

Naquela tarde, naquela noite, nós nos amamos na cama que rangia, dolorosamente, sob os nossos corpos irrequietos. Riamos inconsequentes, bebíamos o que encontrávamos nas biroscas do lugar, embriagados transávamos na praia ao nascer do sol. Em dois dias, esgotamos aquele lugar, passamos para outro.

— Vamos dormir um pouco e amanhã, você decide — dizia a ele, ao chegar a uma nova pousada. Passamos a noite acordados, enquanto ele desenhava o meu corpo com as pontas de seus dedos atrevidos, bebendo vinho barato, me lambuzando, grudando o corpo um no outro.

— O que isso? — ele perguntou, passando o dedo sobre a cicatriz no meu quadril esquerdo. Será que ele não percebeu que eu manco?

— Acidente de carro — respondo, sem querer me estender, não quero que essas lembranças estraguem a minha noite.

 

Até a quinta cidade e dez dias depois, ele não havia se decidido, se continuava a viagem comigo ou não, porém, já não se importava tanto quando eu pagava as contas.

 Então, uma noite, depois de fazermos amor de maneira intensa, nas areias da praia, antes do nascer do sol, ele ficou sério, subiu em mim e me olhando nos olhos.

— Teresa, eu te amo.

Atrás dele, o sol nascia, como uma aréola emoldurando a sua cabeça, uma visão angelical. Sei que esperava uma resposta, mas eu me calei, sabendo que era verdade. Voltamos para a pousada em silêncio, de mãos dadas, ele caiu na cama e dormiu pesado, o sono dos justos, eu fiquei de olhos bem abertos. Sam acordou no meio da tarde, me encontrando sentada na cadeira junto a janela, uma garrafa de vinho e um copo vazio na mesa à minha frente.

— Oi — ele me cumprimentou de um jeito brando, sonolento.

— Sam, eu vou embora amanhã, tenho que voltar para casa — aviso. — A pousada está paga mais dois dias, pode ficar se quiser.

Sam me olhou espantado, seu espanto se transformou em dor.

— Mas, por quê? Foi algo que eu disse, que eu fiz?

— Não, só preciso ir.

Naquela noite, nós transamos com a sanha dos desesperados, sugando até a última gota, até o sol nascer.

Na manhã seguinte, ele me ajudou a levar minha mala até o carro, com o olhar triste, quase sem palavras, antes de partir, lhe dou um longo e doloroso beijo de adeus. Ele me entrega um pedaço de papel.

— Meu telefone, me liga — explica, assinto com a cabeça e o coloco no meu sutiã do lado esquerdo, perto do coração, passo a mão carinhosamente no seu rosto, aproximo a minha boca da dele e lhe dou um beijo terno, entro no carro e me vou, sem olhar para trás, o observando diminuir pelo espelho retrovisor até sumir em uma curva. Quando estou a uma certa distância, retiro o pedaço de papel de onde o coloquei e o jogo pela janela, deixando voar ao vento.

Já foi assim antes com Tom, Lucas, Pietro ...



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