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História Antes que você se case - Capítulo 1


Escrita por: IsabelaMellark

Notas do Autor


Olá, pessoal!

Essa é mais uma fanfic criada a partir das ideias de uma one-shot que escrevi.

"Antes que você se case" fez parte do desafio proposto a mim pela Bel (Belrapunzel) na coletânea "Encontros, acasos e amores", publicada no Nyah!

Por indicação da própria Bel, eu me inspirei bastante na comédia romântica "O casamento dos meus sonhos" (The Wedding Planner, de 2001), com Jennifer Lopez e Matthew McConaughey, que trata também da vida ocupada de uma organizadora de casamentos que se apaixona por um de seus clientes.

Eu adorei escrever essa comédia romântica e espero que vocês gostem de ler também!

OBS: A capa e o banner maravilhosos foram obra da querida RafaelaJ. Se quiserem capas e banners lindos assim, visitem a Yellow Umbrella Designs no twitter: @Y_U_designs.

Ao capítulo!

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Capítulo 1 - Capítulo 1


Fanfic / Fanfiction Antes que você se case - Capítulo 1

Por Katniss

Sabe aquele momento em que o mundo parece perder a estabilidade e você acha que está de pé, mas sabe que não está, porque a calçada está vindo em sua direção em alta velocidade?

Pois é. Estou vivendo isso nesse exato instante. E vou explicar os motivos de estar assim agora: desfalecida e com a cara no chão.

 

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Acordo mais tarde que o habitual, faminta e exausta.

A manhã de hoje é o típico dia seguinte a um evento de sucesso: uma mistura de cansaço e satisfação pelo dever cumprido, somada à vontade de não fazer nada.

Eu e minha sócia, Effie Trinket, comandamos uma agência especializada em organização de casamentos, chamada The Wedding Planners.

Estávamos particularmente empolgadas com a festa que aconteceu ontem, pois foi o segundo casamento que preparamos que teve ampla cobertura da imprensa internacional.

O primeiro deles foi o casório dos campeões olímpicos de natação Finnick Odair e Annie Cresta, o belo e carismático casal, que promoveu uma grandiosa festa, digna de suas conquistas desportivas, e nos deu grande visibilidade.

E visibilidade é sinônimo de fechamento de mais contratos. Desde então, nossa agência está sendo muito requisitada.

Como sempre, na noite de ontem, nós nos empenhamos para que tudo ficasse magnífico. E fomos recompensadas com a atuação irretocável das equipes parceiras e com a solução de todos os problemas que surgiram ao longo da noite.

Eu e Effie estávamos responsáveis por todos os setores de um local do tamanho de um campo de futebol, onde foi servido um jantar com pratos suficientes para agradar algumas centenas de convidados de um casamento franco-indiano: noiva francesa, respeitada chef de cuisine, e noivo indiano, ator consagrado em Bollywood.

A cerimônia se passou numa tenda gigante, com laterais de chifom carmim e teto de cetim preto com estrelas de lantejoulas, cortinas e almofadas de seda âmbar com detalhes dourados, toda iluminada por 25 abajures, 40 lanternas, 66 focos de luz e 288 velas. Isso é uma boa prova de que o planejamento de eventos exige organização, criatividade e sabedoria para transformar algumas opções de gosto duvidoso em algo impactante, num sentido bom.

É assim que trabalhamos juntas. Coordenamos as ações nos bastidores, enquanto o show acontece, tendo que manter a postura impecável, sinônimo de: entusiasmo comedido, fúria contida e pânico controlado.

Nossos gestos são milimetricamente calculados, assim como nossos orçamentos.

Nada pode nos surpreender e nada pode ser capaz de alterar o nosso comportamento, que mistura o distanciamento gélido de aeromoças da Polo Norte Linhas Aéreas ao comportamento caloroso de uma professora da escola elementar.

Devemos estar preparadas para imprevistos, parentes intrometidos e convidados que exageram na comida, na bebida e na vontade de arruinar nosso trabalho.

Não. Você nunca será apenas uma organizadora de casamentos, mas também uma contadora, diretora de marketing, estilista, esteticista, animadora de festas, segurança, mediadora de conflitos, psicóloga e meteorologista.

Tudo no salto e com um sorriso no rosto! E não para por aí.

Os convidados chatos, os acidentes meteorológicos e os eventos bizarros com que já lidamos são suficientes para testar a paciência e o profissionalismo de qualquer pessoa.

É preciso também bons contatos para cuidar de todos os detalhes, até mesmo do bronzeamento artificial da tia-avó do noivo – surpreendentemente pálida para uma autêntica indiana!

Quando estamos em ação, sempre me sinto como uma super-heroína pós-moderna. Apesar de eu ser inútil no combate ao crime, tenho um arsenal de utensílios e substâncias químicas em uma maleta de mil e uma utilidades, com algodão, remédios, pastilhas de menta, doces, spray de pimenta e cordas, dentre outras coisas. Acredite, já usei esses itens em mais de uma ocasião.

Ontem mesmo, precisei subornar o pajem com chocolate para ele entrar com os anéis, retocar o rímel borrado de uma dama de honra com um cotonete e, por fim, consolar o avô choroso da noiva com uma caixa de lenços e ursinhos de goma.

Para não dizer que a noite foi perfeita, houve apenas um incidente no fim da festa: Effie torceu o pé, do alto de seus saltos plataforma.

No entanto, não posso considerar um acidente tão ruim assim, pois a torção não foi grave e ela foi salva de se estatelar no chão por um magnata da indústria madeireira de Seattle, chamado Haymitch Abernathy.

Effie conquistou um admirador e nós ganhamos uma possível cliente, a sobrinha dele, Johanna Mason, que estava presente apenas no início da festa e, segundo seu tio, ficou impressionada com o projeto que executamos.

Depois de ter socorrido Effie, Haymitch nos contou que Johanna recentemente assumiu a presidência da madeireira de sua família e está sem tempo de planejar seu casamento. Pela terceira vez. Com o mesmo noivo.

Enfim, pés torcidos e noivas irresolutas à parte, o evento foi muito bem-sucedido e o trabalho duro valeu o desafio. Todo o esforço foi recompensado pela felicidade de ver concretizada mais uma noite de sonhos.

Tudo estava lindo! A decoração, a cerimônia, a noiva, o noivo... Se bem que, pensando melhor, o noivo não estava lá muito bonito. Pode-se dizer que ele é desprovido de beleza, mas sua personalidade cativante compensa isso.

De que adianta ser bonito, se for um canalha como meu ex-noivo?

Esse pensamento indesejado me faz me espreguiçar e sair debaixo das cobertas para pegar o porta-retratos em minha cabeceira, com a foto em que estou cercada de pessoas queridas, que foram meu sustento quando tive que cancelar tudo às vésperas do que seria o meu casamento.

Na fotografia, estamos todos preparados para celebrar minha malfadada despedida de solteira, durante a festividade conhecida como Mardi Gras, em Nova Orleans.

Primrose, Rory, Caesar, Effie, Gale, Madge e eu estamos sorridentes, erguendo nossas taças num brinde no saguão do hotel.

Foi um divertido passeio até o estado de Luisiana. Planejei cada detalhe com cuidado e, aparentemente, estava sendo um sucesso.

Meu noivo não se opôs à minha ida sem a companhia dele, o dinheiro que juntei dava pra cobrir as despesas com passagens e hospedagem sem comprometer os gastos com o casamento, a agenda dos amigos coincidiu com a data dos festejos de rua e o clima frio não atrapalhou a nossa empolgação.

Tudo estava se encaixando perfeitamente. Até mesmo meu noivo estava se encaixando perfeitamente com a ex-namorada dele, quando os flagrei juntos ao voltar da viagem.

Depois desse fatídico acontecimento, toda a alegria que sentia em meu trabalho se transformou em um fardo pesado demais para suportar. Afinal, tudo me remetia ao fiasco em minha vida pessoal.

Usei a comida para compensar minhas frustrações e meu peso se descontrolou de modo preocupante. Perdi as forças para cuidar de mim mesma e tentei me isolar.

No entanto, recebi ajuda e carinho de cada uma dessas pessoas que estão na foto.

Ultrapassei essa fase em que acreditava que a culpa recaía apenas em meus ombros, livrei-me desse peso e me reequilibrei, a começar pelo trabalho e pela alimentação, que passou a ser mais regrada que antes.

Eu me recuperei quase completamente, porém, segundo dizem meus amigos e familiares, ainda preciso resgatar esse sorriso da fotografia, retratado há tantos anos e escondido desde então, como o meu coração, que nunca mais foi tocado por ninguém. Prefiro que ele fique bem guardadinho e protegido, por isso eu me fechei para outros relacionamentos.

Devolvo a fotografia ao pedestal de momentos felizes que virou a minha cômoda, ao lado de outras fotos de ocasiões especiais, e vou até meu armário.

Todas as vezes em que esse fantasma do passado aparece, tenho que exorcizar sua imagem. E nada melhor do que fazer algo que amo.

Cada momento da minha rotina solitária é um evento em potencial. Hoje esse evento seria o meu café da manhã. Seria...

Ainda vestida no meu pijama vermelho de bolinhas pretas, com minhas pantufas de joaninhas nos pés, prendo meu cabelo em um coque perfeitamente penteado e posiciono no alto da cabeça o adereço com o qual Mags me enfeitou em uma das festas beneficentes que organizei no abrigo de idosos onde ela vive: uma tiara feita de flores sempre-vivas, que ela própria teceu.

— Vocês um dia serão lindas noivas! – Mags profetizou ao ajeitar o arco florido em meus cabelos e outro nas madeixas ruivas de Annie, a responsável por me apresentar aos moradores do asilo.

Naquele mesmo dia, com sua experiência e sabedoria, ela se dispôs a realizar os sonhos dos convidados da festa com pequenos gestos como esse.

Para Finnick, por exemplo, ela confeccionou anzóis, dizendo que ele fisgaria mais conquistas olímpicas. E não deu outra.

O bom presságio deu certo para Annie e Finnick. Por que não daria comigo?

Agir dessa forma parece deprimente. Mas não é.

Usar as flores no cabelo sempre me ajuda a renovar as esperanças de encontrar alguém com quem eu realmente possa planejar o meu casamento. E era isso o que Mags tinha em mente ao escolher aquele adorno para mim.

Repito mentalmente diante do espelho a frase de incentivo que a querida senhora me disse, ainda que brincando, e, assim paramentada, vou à cozinha preparar meticulosamente a mesa para um café da manhã impecável, que hoje escolhi que seria no estilo Shabby Chic.

— O rústico refinado que mistura o antigo e o moderno, com toques bem delicados e tonalidades pastéis – explico para um cliente imaginário, enquanto distribuo frutas e despejo leite desnatado e cereal integral na tigela de louça com estampa floral, que tirei do armário justamente para compor a ambientação.

Estou prestes a dar minha primeira colherada, quando meu telefone começa a apitar. Deslizo o dedo na tela do celular para atender ao telefonema de Effie.

Imaginando que fosse alguma emergência por conta do acidente de ontem, já espero o pior quando levo o aparelho ao ouvido.

— Oi, Effie!

— Acordei você?

— Não. Acabei de preparar meu café da manhã. Está tudo bem?

— Está tudo muito bem, Katniss, querida!  cantarola ela com sua voz esfuziante. — Sinto muito por atrapalhar seu café da manhã... Aliás, qual é a decoração de hoje? Espero que não seja no estilo indiano. Depois da festa de ontem, nem tão cedo vou aguentar ouvir sobre tecidos esvoaçantes!

— Estilo Shabby Chic – confesso, encabulada.

Não há como ocultar esse detalhe dela, porque Effie me conhece bem e sabe como minha cabeça funciona nos dias que se seguem às festas de casamento.

— Ai, ai. Você precisa parar de cultuar a solidão, Katniss. Precisa parar de fazer questão de não ter tempo para as pessoas e se fechar em seu mundinho.

— Que injustiça, Effie! Pra começo de conversa, tenho me empenhado nas campanhas do asilo.

— Mas não é lá que você vai arranjar um namorado, é?

— Nunca se sabe!

— Estamos falando de que faixa etária mesmo? Setenta anos pra cima?

— Acho que o mais novo tem setenta e cinco.

— Então, invista nele, assim paro de falar em seu ouvido! – declara ela, divertida, e caio na risada. — Agora, vamos ao que interessa. Preciso da sua ajuda.

— Estou a postos.

— Acabei de falar com Haymitch pelo telefone e ele é como aquela lição... Se você colocar pressão suficiente sobre o carvão, ele vai se transformar em pérolas! – delira ela, sem se dar conta de que seu ensinamento equivocado é a única pérola que poderá surgir do referido procedimento. — Recebi flores dele pela manhã, acredita? Recebi também uma verdadeira intimação. A sobrinha dele conseguiu uma brecha na agenda e pode receber uma de nós em sua casa.

— Johanna Mason?

— A própria! E nós não podemos perder essa grande, grande, grande oportunidade. Eu não me perdoaria se decepcionasse o Haymitch. Ele praticamente salvou a minha vida. – Effie respira fundo, exagerada como sempre, e prossegue: — Só há um detalhe. É hoje. Agora. Sem falta. Johanna não tem tempo para desperdiçar! Mas não posso ir. Ainda estou com uma compressa de gelo no pé, sem condições de dirigir. Então...

— Sobrou pra mim.

Oh, não. A sobrinha poderosa que pretende organizar um casamento pela terceira vez.

Já estou me preparando psicologicamente para enfrentar uma pessoa, no mínimo, muito indecisa. Isso me assusta um pouco.

Normalmente, Effie é quem assume a linha de frente nessas horas, com seu jeito enérgico, driblando os mais diversos egos e excentricidades e lidando com todos os tipos de personalidade. Ou de falta dela.

Nesse caso, é certo que vou enfrentar personalidade em excesso.

— Eu já ia me esquecendo! – Effie interrompe minhas divagações. — Marquei também uma reunião com o Caesar ao meio-dia, no restaurante do Castor, para ajustarmos nossos calendários.

Faço uma expressão de dúvida e questiono mentalmente: Reunião com o Caesar? Em pleno sábado?

— E não adianta fazer esse bico, pensando que enlouqueci por ser um sábado. Foi a pedido dele – reclama ela.

— Como você sabe que eu estava fazendo uma careta?

— Katniss, eu convivo com você quase 24 horas por dia! Agora, vá se aprontar. Você não tem um minuto a perder. A casa da Johanna fica na...

Effie, então, indica as coordenadas para a ida até a residência da nossa cliente em potencial e eu me arrumo às pressas. Não tenho tempo nem de me dar conta de que estou em jejum e, para arrematar, não me lembro de abastecer a bolsa com algo para comer antes de sair correndo de casa.

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Depois de me identificar no portão, o segurança chamado Brutus me acompanha até a porta da bela mansão, que é aberta por uma mulher de pele clara e olhar distraído, acompanhada de um homem moreno numa cadeira de rodas, que logo se apresenta.

— Bom dia. Você deve ser a organizadora de casamentos. Nós somos Beetee e Wiress, assistentes da Srta. Mason. Ela vai recebê-la em instantes.

— Tique-taque. Já é quase boa tarde, Beetee – frisa Wiress.

— Bom dia, quase boa tarde – cumprimento, arrancando um sorriso dela, e estendo a mão a ambos. — Sou Katniss Everdeen. Muito prazer.

— A senhorita aceita um chá ou um café? – indaga Beetee, depois que me sento na poltrona que me foi oferecida.

— Um chá, por favor. Não é preciso adoçar – digo.

Torço para que o chá venha acompanhado de torradas e biscoitos, pois estou prevendo momentos constrangedores com a barriga roncando de fome.

— Wiress, você poderia pedir a alguém para providenciar um chá para a Srta. Everdeen? – Beetee pede à mulher de pé ao lado dele. — Sem açúcar.

Não era só impressão. Wiress é mesmo muito desligada, pois trouxe pra mim, não o chá, mas um café bem forte. Infelizmente, ela só se lembrou da parte do "sem açúcar".

A bebida quente e amarga faz um passeio solitário em meu estômago vazio e, como era de se esperar, não me cai muito bem.

Os instantes em que tenho que aguardar Johanna se transformam numa eternidade e o mal estar só aumenta, sendo amenizado apenas pela curiosa interação com os assistentes dela.

Wiress é muito tímida e raramente completa suas frases. É Beetee quem termina as sentenças por ela, sem deixar de mexer em seus óculos constantemente. Ambos parecem ser muito inteligentes e, aos poucos, entendo o motivo de Johanna os querer como aliados.

Fico entretida com os dois, até que, finalmente, Johanna abre a porta do escritório, entrega alguns papéis a Wiress e troca algumas palavras com Beetee, que aponta discretamente em minha direção.

Johanna olha pra mim e sorri, não de modo acolhedor, mas de forma intimidante, mas não é nada com que eu não possa lidar. Eu acho.

Ela tem cabelos castanhos, um pouco mais escuros que seus olhos cor de avelã com matizes esverdeados, sempre muito atentos e sagazes, e um corpo perfeitamente modelado, com tudo em seu devido lugar.

Fico de pé e ela para diante de mim.

— Você deve ser a Katniss, não é? Então, já conheceu Pancada e Faísca. – Ela acena para seus assessores e me conduz à sala dela, fechando a porta atrás de nós. — Reclamo deles o tempo inteiro, mas não sobreviveria sem seus planos infalíveis – reconhece Johanna e gosto de ouvir essa frase vinda dela, pois eu esperava que fosse uma pessoa mais fria e calculista. — Sente-se, por favor. Ontem tive uma boa ideia sobre como é o seu trabalho, mas o que você tem para acrescentar?

Eu me acomodo na cadeira em frente à sua mesa e entrego a ela o portfólio com fotos do evento mais expressivo da agência.

— O casamento de Annie Cresta e Finnick Odair, hein? Impressionante mesmo – admira-se ela. — Quero tudo a que tenho direito, sem limites de orçamento. Anúncio em colunas sociais, fotos em revistas, muitos convidados...

— E o casamento em si? A cerimônia e a festa? Como você quer?

— Não quero me preocupar com nada.

É o momento de usar as técnicas de encantamento de noivas, típicas da Effie.

— Basta dizer o que quer realizar! Imagine a festa com a qual sempre sonhou. À noite, talvez... Num lugar especial para o casal. Pode ser num hotel, num bosque, num vinhedo. Ao ar livre ou numa locação luxuosa, moderna ou clássica. Podemos escolher a data ideal para um evento sob o céu estrelado, ou para decorar tudo com flores exóticas. No que depender da nossa agência, não será um casamento comum, não será apenas uma festa. Será um acontecimento, que marcará uma época! - exclamo animada e recebo um olhar de pouco caso em resposta.

A tentativa não surte o efeito esperado. Diversamente do modo como a maioria das noivas reage, Johanna não se abala, não suspira e não pisca pra mim com os olhos brilhantes.

— Tanto faz. – Ela dá de ombros e abandona o portfólio para folhear uma revista em busca de algo e, quando encontra, vira a página para mim. — A única coisa de que não abro mão é disso aqui. Eu quero borboletas.

— Hã... Bem, você quer uma decoração que remeta a borboletas? Isso é fácil...

— Não. Eu quero borboletas mesmo. Voando por todo o lado na hora do beijo.

— Sinto muito, Johanna, mas usar borboletas é ecologicamente condenável.

— Até no meu casamento tenho que me preocupar com o que é ecologicamente correto? Você não sabe o trabalho que dá e o tanto que tenho de investir para conseguir esses selos de proteção ambiental para minha empresa. Selo Verde disso, Selo Verde daquilo. Por que implicar com algumas borboletinhas?

— Johanna, eu só posso parabenizá-la pela dedicação às causas ambientais – acrescento, mantendo o tom tranquilo. — Mas podemos obter efeito idêntico com alguns tipos de flores, não se preocupe e...

— Katniss, fofa, qual parte de "eu quero borboletas" você não entendeu?

Antes da minha resposta, o telefone dela toca e Johanna faz cara de poucos amigos.

— Oi. Pode falar. Você vai deixar seu carro aqui? Ótimo! Estou com a organizadora de casamentos. – Depois de um tempo escutando o que a pessoa do outro lado da linha tem a dizer, Johanna pinça a ponte do nariz com o polegar e o indicador. — Esse assunto de novo? Pela última vez, não insista! Peeta... Chega! – rosna ela, revirando os olhos ao desligar. — Noivos!

Johanna fita a janela por alguns instantes, ainda bufando. Em seguida, caminha até mim e me segura pelo braço de modo nada delicado.

— Vem comigo. Preciso fazer algo com urgência.

Estou fazendo isso pela Effie. Estou fazendo isso pela Effie. Repito a frase como um mantra, para não perder a paciência.

As passadas de Johanna são aceleradas e seu olhar é de pura irritação. Ela me leva até um espaço da área externa, bem distante de sua casa. Eu me esforço para acompanhar seus passos rápidos. A falta do meu café da manhã está me deixando fraca.

Johanna para em frente a uma construção com paredes de madeira e grandes portas de vidro.

— Esse é o lugar onde costumo espairecer. – Ela abre a porta para uma sala climatizada.

O lugar é como um ateliê de artesanato. Está repleto de belas esculturas de madeira, algumas ainda inacabadas. No canto, há uma bancada e uma estante com ferramentas.

A única coisa destoante é um tronco de árvore no meio da sala, com um machado fincado bem no centro. Parece um monumento à indústria madeireira.

— Espere aqui – ordena ela e, quando sai, eu me aproximo de uma das janelas, esquecendo um pouco a fome e o descontentamento pelos rumos dessa entrevista com a Johanna.

Cerro os olhos e aproveito o silêncio, quebrado apenas pelo canto dos pássaros e pelos ruídos que Johanna está produzindo na bancada.

Respiro fundo e torno a apreciar a paisagem. Parece que estou num desenho animado de faroeste, com as partículas de poeira dançando ao meu redor, nos feixes da luz do sol que atravessam o vidro, enquanto observo um arbusto seco girando no solo ao ser levado pelo vento... Realmente, é relaxante estar aqui.

Abro um sorriso leve e, lentamente, vou me virando de volta para o interior do cômodo, mas salto para trás ao ver Johanna a dois palmos de mim com o machado numa mão e, na outra, uma tora de madeira onde ela acabou de talhar grosseiramente e em letras garrafais o nome do noivo. PEETA.

— Isso que está na sua mão seria uma lembrança para o casamento? – Disfarço o susto como posso. — Tem tudo a ver com seu trabalho na madeireira e...

— Não estou pensando em casamento. Aliás, vou fazer isso exatamente porque quero esquecer do casamento. E porque o Peeta não fala em outra coisa!

Johanna pega a tora de madeira e a posiciona sobre o grande tronco com o nome do noivo voltado para cima. Ela estraçalha tudo com um único golpe de machado e um grito gutural.

As farpas voam em minha direção, enquanto o espaço é tomado por uma tempestade de estilhaços de madeira.

— Ah! Estou me sentindo muito melhor agora. – Após reposicionar o machado, ela placidamente retira alguns fios de cabelo de seu rosto. — E, como disse, não vou pedir nada a você além de borboletas. Tudo bem? – Ela limpa uma mão na outra.

— B-borboletas você terá, Srta. Mason. Você sabe bem como ilustrar seu ponto de vista.

— Então, já terminamos por aqui.

Johanna abre a porta, suspirando relaxada, e passo ao seu lado, quase correndo, sem virar as costas pra ela em momento algum.

Quando já estou distante do ateliê, aperto minha barriga dolorida pela fome e ando mais devagar para retomar o fôlego.

Era só o que me faltava! Onde vou arrumar borboletas? Não sei como estou cogitando essa possibilidade, mas vai que descubro uma forma de fazer isso sem prejuízos pra ninguém, especialmente para os insetos indefesos?

Enquanto caminho em direção à saída, faço uma busca desesperada no meu celular por borboletários. Mando mensagens para todos eles, perguntando se é possível adquirir borboletas e como fazer para que elas voem naturalmente por todo o lado no clímax da cerimônia.

Entro em meu carro suando frio. No visor luminoso, constato que já está quase na hora da reunião agendada com Caesar e ele não tolera atrasos. Giro a chave na ignição mais que depressa e guio até o centro da cidade.

Estaciono a uma quadra do restaurante. Ao pisar na calçada, a primeira coisa que faço é procurar pelo meu telefone.

Paro no meio do passo, com os olhos fixos na tela iluminada, antes de processar a informação que acabo de ler uma vez. E outra. E mais uma.

Nenhum borboletário está autorizado a fornecer borboletas para serem usadas em festas.

O nervosismo misturado à falta de comida escurece minha vista momentaneamente. Fecho e abro os olhos em movimentos rápidos para recuperar a visão e seguir em frente, mesmo um pouco tonta.

Assim que consigo distinguir a figura espalhafatosa e colorida do mestre de cerimônias mais requisitado por dez entre dez noivas de Seattle, aceno para Caesar e meu cérebro comemora: consegui chegar a tempo!

No entanto, meu corpo me trai, perdendo as forças, e é agora que preciso voltar ao início da minha narrativa.

Sabe aquele momento em que você está prestes a perder os sentidos e sua visão começa a turvar, o corpo amolece e... tudo se apaga depois do baque surdo da queda com a cara no chão?

Pois é. Isso acaba de acontecer comigo.


Notas Finais


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Oi!

Quem será que vai cuidar da Katniss depois desse tombo, seguido de um desmaio?

Algum palpite? Só digo uma coisa: o Caesar é que não é!

Espero que tenham gostado do primeiro capítulo! Deixem suas opiniões!

Até o próximo, que tem um loiro lindo como médico... Que tal? 😍

Beijos!

Isabela.


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