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História Antiga Paixão - Promessas


Escrita por: JonB

Notas do Autor


Hello Everyone!!

Boa Leitura!!

Capítulo 27 - Promessas


Antiga Paixão

Capitulo XXVII

“Promessas”

 

"Se não existissem pessoas más, não haveriam bons advogados" - Charles Dickens

 

Mordeu os lábios rindo enquanto o namorado ao lado insistia dizendo que não estava nervoso.

— Sakura, eu já jantei com desembargadores. Acha mesmo que jantar com seus pais iria me deixar nervoso — disse Naruto erguendo uma das sobrancelhas em descrença afetada. — Me poupe!

— Nem um pouquinho? — insistiu vendo-o negar com a cabeça. Só estava provocando-o, sabia que o loiro não estava nervoso ou parecido. — Que triste, seria tão fofo!

— Eu não sou fofo — contestou ele. — Eu sou um galã gostoso de Hollywood, lembra? — indagou sorrindo largo. — Sua mãe que falou.

Sakura revirou os olhos descendo do carro, assim como Naruto que tinha uma garrafa de vinho numa das mãos. Um vento frio passou congelando seu rosto corado automaticamente. Pelo asfalto e toda a rua uma fina camada de neve se fazia presente.

— Passarão décadas e você não esquecerá disso — comentou passando pela frente do carro e indo entrelaçar a mão enluvada ao do loiro.

— Obvio que não! Se eu tivesse twitter, teria twittado e colocado como tweet fixo — os dois caminhavam entre o largo jardim, que era uma mistura de branco e verde, em direção a linda casa de seus pais. — Na verdade, talvez eu faça — brincou e Sakura riu balançando a cabeça.

Sakura tocou a campainha e esperaram. Não demorou e sua mãe abriu a porta num sorriso que foi espelhado pelo casal. Ela, que assim como Sakura por baixo do casaco, usava uma blusa de frio gola alta branco, puxou a filha para um abraço apertado, em seguida parou encarando a reverencia do loiro.

— Não precisa mais ser tão formal, Naruto — censurou em tom amigável a matriarca Haruno. Puxando Naruto também para um abraço.

Nesse meio tempo Sakura foi abraçar o pai que se aproximou. Kizashi, ainda no processo de recuperação da cirurgia que duraria pelo menos mais algumas semanas, ou seja, ele estava restrito a diversos tipos de atividades. Ele expressou alegria acanhada ao ver a filha. Depois cumprimentou com um aperto de mão Naruto.

— Que bom está se recuperando bem, Senhor Haruno — falou o namorado sorrindo educado. Sakura retirou o casaco e as luvas já sentindo calor do aquecedor preencher seu corpo. O loiro fez o mesmo pondo o casaco de lã sobre o braço e uma mão no bolso, simples ato o deixava ainda mais elegante.

— Sim, quase morri — disse. — Mas parece que Kami ainda têm planos para mim aqui — acrescentou Kizashi com um suéter xadrez escuro que Sakura sabia ser o preferido do pai. — Já teve uma experiencia de quase morte, Uzumaki?

— Não senhor.

— E nem queira, principalmente se for pra ficar internado — comentou o pai em tom entediado, porém seu olhar se cravou no vinho na mão do advogado. — Poderia me privar de tamanha tentação rapaz — resmungou.

Naruto abriu a boca pra responder, mas sua mãe foi mais rápida.

— Privar? — falou Mebuki irônica pegando a garrafa — Farei questão de tomar na sua frente querido, assim você reflete cada vez mais sobre cuidar da saúde quando melhorar cem porcento — finalizou puxando Sakura para acompanha-la até sumirem no corredor que levava a cozinha.

— Mulheres... — murmurou Kizashi balançando a cabeça arrancando um singelo riso de Naruto. — Vou adiantando para você que a Sakura é só uma versão mais jovem da mãe.

— Acho que dou conta.

Sentaram-se a mesa decorada, iluminada por um suporte a cima que continha velas dando um toque mais requintado ao ambiente, e farda com os pratos preferidos de todos ali - um detalhe que foi acertado pela própria mãe. Sakura sentou-se ao lado de Naruto enquanto a mãe sentou-se a frente deles com o pai na cabeceira da mesa. Iniciaram o jantar com Mebuki perguntando sobre eles dois.

— Então, como aconteceu? — indagou ela gesticulando para os dois que se olharam.

— Foi natural, mãe — respondeu sincera, porque era a verdade apesar das complicações que tiveram naturalmente acabaram tendo sentimentos um pelo outro, não houve forçação. — Já tínhamos construído uma amizade forte, e aí ele me levou um dia no Murakami e...

— No Murakami?! — indagou a mãe impressionada. — Têm gostos finos, Naruto.

— Aprendi com minha mãe, ela ama ir a restaurantes — respondeu o loiro.

— Foi de lá em diante que começou a acontecer — finalizou Sakura.

— Fico muito feliz. Mesmo já sabendo que ficariam juntos — afirmou a mãe revirando brevemente os olhos em tom obvio. — Estava na cara!

— Na verdade o Naruto já tinha uma queda por mim desde o colegial — revelou Sakura sorrindo para o namorado que retribuiu balançando a cabeça descontraído.

— Sério?!! — perguntou Mebuki descrente, encarando o loiro.

— Um pouquinho — respondeu Naruto olhando de soslaio para a rosada que ergueu as sobrancelhas.

— Um pouquinho? Tem certeza, Naruto? — indagou.

— Isso, só um pouquinho — os dois riram sendo observados com atenção pela mais velha que trocou um olhar cúmplice com o marido. — Certo, eu gostava bastante dela na época do colégio — confessou o advogado.

— Passaram-se os anos e agora estão juntos — comentou a mãe num tom quase encantado. — Parece história de filme — disse e sua feição se iluminou numa reflexão. — Está vendo Naruto, eu não disse que você já parecia um ator de hollywood! — relembrou ela e o loiro soltou um riso encarando em provocação a namorada que revirou profundamente os olhos risonha.

— Eu estou sempre lembrando a Sakura isso.

Os três riram.

Continuaram a conversar, agora acompanhados de Kizashi que logo puxou assuntos sobre negócios e economia com o loiro que prontamente correspondeu. Sakura observava o namorado fascinada, vendo-o falar com tanta inteligência e eloquência com o pai num assunto tão complexo que ela mesmo não entendia quase nada, era com certeza a característica nele que mais a atraia, sua inteligência. O assunto era predileto do Naruto para discutir, mas não era o da Haruno mais velha que interrompeu censurando o marido para outros assuntos mais descontraídos.

Foi então que passaram a contar sobre o passado.

— ... disse que não tinha culpa dela ter chegado cedo e que eu estava atendendo um paciente — contava o pai sendo interrompido.

— E eu disse a ele que se não estivesse comigo no momento que Sakura nascesse, o próximo paciente que atenderia seria a si mesmo pouco antes de mata-lo.

Sakura e Naruto riram pondo udon* na boca com os hashis.

— Mas aí eu entrei no quarto e ela percebeu que eu já tinha chegado na maternidade —  revelou Kizashi numa voz descontraída ao seu próprio modo.

— Eu não achei engraçado — resmungou a esposa tomando um gole do vinho em seguida.

— Não achou? Ela não entrou em trabalho de parto por uma semana apenas para me punir pela “mentira”... — comentou ele de volta alternando o olhar para Sakura e Naruto, que soltaram ruídos de riso.

— Kizashi, você já comeu as beterrabas?

O pai bufou soltando os hashis.

— Ela está me importunando dez vezes mais para comer melhor depois da cirurgia — reclamou para Naruto.

— Faz parte do pacote — comentou o loiro.

— Ontem ela me fez uma vitamina e fiquei bastante empolgado — o homem suspirou — Mas era uma vitamina verde! Eu literalmente murchei na hora.

Naruto segurou uma risada junto com o Haruno.

— É a cor da saúde, pai! — censurou Sakura encarando o genitor.

— Ele é médico e sabe disso! Mas é rabugento até para se cuidar — reclamou a mãe.

— Não está sozinho, senhor Haruno — falou Naruto atraindo a atenção automática das mulheres.

— Como assim? — indagaram as duas franzindo o cenho e o advogado entreabriu os lábios sem palavras saírem.

— Eu te disse... — murmurou Kizashi para Naruto aproximando o rosto.

— É, realmente as duas são iguais — murmurou o loiro de volta imitando o mais velho.

A mãe alternou o olhar desconfiado para os dois homens e declarou:

— Certo, sem sobremesas para vocês dois!

— Concordo, mãe!

Os quatro riram e o resto do jantar vou preenchido pela mesma vibração descontraída e alegre. Ao terminarem Kizashi chamou Naruto para conversarem a sós no quintal enquanto as mulheres foram para a cozinha com a desculpa de separar a sobremesa, mas na verdade ficaram espiando a conversa dos dois pela janela.

— O que será que estão conversando? — se perguntou curiosa.

— Não se preocupe, sabemos que o Naruto dá conta de seu pai — desdenhou a mãe com uma taça de vinho em mãos. — Estou realmente feliz por você, filha. Ele é nitidamente um bom homem, tenho certeza que vai te fazer feliz.

Sakura sorriu pondo uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Eu sei... e eu realmente o amo. Ele foi tão importante para mim após o...

— Não precisa falar o nome do Uchiha — cortou a mais velha em tom indiferente erguendo uma mão.

— E nem a senhora precisa ficar assim, já perdoei o Sasuke e até estamos num processo de amizade.

— O que?! Eu não aprovo isso, filha! E nem recomendo. Sabe o sofrimento que foi pra você com...

— Mãe, vamos esquecer tudo isso. Já acabou, não tenho nada contra ele, e Naruto o tem como um amigo.

Mebuki suspirou girando a taça criando um redemoinho no liquido.

— Certo. Mas sugiro que não se aproxime demais, uma coisa é perdoa-lo, outra é tê-lo próximo como amigo. Vai saber se ele não pode tramar algo para fazer você se separar do Naruto.

— Isso... — ia refutar, mas a mãe a interrompeu novamente.

— É possível e por vários motivos. Você não está no coração de ninguém Sakura — advertiu. — Bom... não irei falar mais nada, só tome cuidado. Não confio nele e nem você deveria.

***

Um dialogo parecido acontecia do lado de fora entre Naruto e Kizashi.

— ... não há nada pior rapaz, do que confiar em alguém e ser traído — comentava o Haruno.

— Perdão pela curiosidade, mas Sakura comentou comigo uma vez há muito tempo que não terminou bem a relação do senhor com os Uchihas, no caso com o Fugaku — disse enquanto encostados no parapeito que dividia a varanda. O céu escuro e nublado tomava a paisagem ao lado.

— Sim — respondeu. — Eu, ele e Hiashi Hyuuga estudamos juntos durante o ensino fundamental num colégio interno — aquilo surpreendeu Naruto, não imaginava, principalmente pela citação ao Hyuuga. —  Éramos amigos e odiávamos aquele colégio, mas a amizade durou até o ensino médio. Tempo passou e voltei a ter contado com Fugaku, até tentamos o mesmo com Hiashi, porém o Hyuuga alegou não ter tempo para amizades. Idiota. Com Fugaku e sua firma eu me associei sendo cliente dele e investindo em ações mútuas. Eu confiava nele, não só como advogado, mas como amigo. E aí, quando mais precisei dele para juntarmos fundos, o maldito não quis. Em seguida rompeu nosso contrato e fiquei praticamente sem defesa contra os urubus que vieram famintos para cima de mim ao verem que minhas ações decaiam querendo a clínica que foi idealizada por meu bisavô e finalizada com bastante persistência pelo meu pai.

— O que aconteceu?

— Eu lutei, Naruto. Com todas as minhas garras para defender o que era da minha família. O que me foi confiado e não precisei vender nem um porcento da clinica.

— É por isso que pediu que Sakura fosse trabalhar lá.

— Sim. Mas já vejo há alguns anos que ela não é voltada para a vida dos negócios da família, seu foco é apenas medicina.

— E algo me diz que não contou para ela sobre tudo o que acabou de me disser.

— Vocês advogados me estressam porque sabem ler bem até demais as coisas — resmungou Kizashi provocando um riso abafado do loiro. — Sim, não contei e nem contarei. É um fardo que agora levarei sozinho, deixe minha filha construir o próprio castelo.

Um silencio se instalou. Tinha gostado de conversar com ele, o Haruno era direto, sincero e uma pintada de erudição que de certa forma inspirava.

— O senhor criou uma linda e ótima mulher — declarou olhando para o nada.

— Eu sei. Estou confiando a você minha filha, Naruto. Espero que não me decepcione.

— Prometo que não irei, senhor Haruno — jurou.

— Me chame de Kizashi, rapaz — exigiu o mais velho.

***

Saíram da casa Haruno se despedindo dos mesmos na porta. Voltaram para o carro e Sakura respirou fundo recostando a cabeça no banco com o sono já a chamando.

— Viu que foi tranquilo — comentou o loiro sorridente pondo o cinto.

— Claro que foi, você puxando o saco do meu pai.

Naruto bufou em desdenho dando partida no carro e dirigindo em seguida.

— É uma tática conhecida há milênios por nós homens para fazer amizade com o patriarca da família da namorada... — explicou ele. — Sempre funciona.

— Isso significa que talvez um dia no futuro alguém faça o mesmo com você se tiver uma filha — falou e a feição reflexiva e atônica de Naruto fez ela cair na gargalhada.

— Nunca mais fale isso pra mim.

— Por que? Sua filha não namoraria um dia?

— Sim, claro que sim. Só espero que o maldito seja um cara incrível como eu.

— Por kami, Naruto! — exclamou risonha. — Você é orgulhoso até nisso!

— O que?! Estou errado?!

Não falou de imediato numa pausa reflexiva, mas respondeu segundos depois.

— Não está, você é maravilhoso — elogiou sorrindo apenas com os lábios, fazendo suas covinhas aparecerem, e o encarando. O loiro sorriu beijando o dorso da mão dela.

— É reflexo da maravilhosa namorada que tenho — emendou ele lhe piscando.

Chegaram no apartamento e quando a rosada ia abrir a porta de seu apê o loiro a parou, puxando para si pela cintura e depositando beijos no pescoço dela. Aquilo fez um vestígio do sonho erótico que teve com Naruto meses atrás lhe assaltar a mente repentinamente.

— Dorme comigo hoje — sussurrou ele e Sakura murmurou manhosa.

— Tenho que acordar amanhã cedo...

— Eu também, prometo que acordaremos no horário.

— Nós dois sabemos que isso nunca acontece — contestou.

Ela mordeu os lábios pensativa, mas acabou cedendo ao se virar beijada pelo loiro com carinho. Sakura ainda tinha que se acostumar com os beijos dele, porque simplesmente a derretiam completamente e logo estava totalmente entregue, era algo incrível como ele podia desarma-la tão facilmente.

As mãos masculinas que pressionavam sua cintura desceram até sua bunda e ali apertaram. E Sakura engasgou um riso nos lábios dele, fazendo-o parar o beijo confuso.

— O que foi?

— Não é nada... vou pegar algo de dormir para vestir — respondeu pondo os dedos nos lábios para acabar não rindo novamente, suas bochechas coradas. Mas a feição confusa do loiro não ajudou.

— Sakura?

— Não é...

— Estávamos se beijando e você ri? — cortou ele em tom quase ofendido. Sakura se virou às pressas entrando no apê para ter mais privacidade, com o namorado no encalço. Fechou a porta e voltou a encara-lo — O que é tão engraçado? — perguntou Naruto.

— Desculpa, é que... — começou a disser risonha formando as próximas palavras com as mãos no rosto. — Eu já percebi que você tem uma preferência na minha bunda, aí quando você apertou ela eu pensei nisso e comecei a rir — revelou gesticulando e apertando os lábios para não rir.

Naruto lhe olhava numa mistura de descrença descontraída com as mãos na cintura. Sakura respirou fundo e aspirou para se acalmar. Se aproximou e o abraçou sem tirar os olhos dele. O beijou puxando-o pelo rosto contra seus lábios mais uma vez. E fez questão de aprofundar a caricia explorando um ao outro com as línguas.

Porém mais uma vez do nada Sakura soltou risos contra a boca dele e o loiro separou o beijo numa frustração cômica.

— Certo, eu não coloquei as mãos na sua bunda!

— Eu sei! Desculpa, eu bebi vinho demais e fico boba rindo com facilidade! — explicou escondendo o rosto em brasas no ombro dele. Em seguida o encarou, fixa nos azuis lindos que eram os olhos do Uzumaki, os mesmos expressavam agora diversão — Vamos continuar de onde paramos...

— Não. Acabou o clima — afirmou ele resignado, batendo as mãos na coxa.

— Vamos lá, prometo que não vou rir! — o loiro negou com a cabeça. — Vamos agarre minha bunda, Baka! — ordenou aborrecida.

— Não! Você acabou com o clima! — apontou pra ela.

— Deixe de ser frouxo! — praguejou e percebeu ter sido um erro vendo os olhos do namorado nublarem junto com a feição fechada. Não precisava ser muito experiente com homens para notar que atiçou os nervos do orgulho masculino dele.

— Do que você me chamou? — sussurrou ele.

— De frouxo — respondeu pausadamente dando ênfase. A provocação teve mais efeito ainda, porque o que se seguiu foi Sakura arfar risonha quando Naruto a ergueu, pondo-a sobre o ombro e carregando-a até o sofá da sala.

A depositou lá, ficando por cima.

— Eu gosto de sua bunda, ela é redonda, lisa e perfeita — declarou e mordeu o lábio de forma sexy em sinal de desejo. — Só perde em tamanho pra sua testa — gracejou em seguida e Sakura abriu a boca descrente do comentário lhe dando um tapa forte no ombro.

— Dê um fora do meu apê, agora! — ordenou ela risonha enquanto o loiro caía na gargalhada abraçando-a e enterrando o rosto em seu pescoço. — Agora, baka!

— Não vou! — falou ele com a voz abafada contra seu pescoço, e com a proximidade o perfume natural masculino inundava as narinas da rosada. — Hoje eu que vou dormir aqui, tenho assuntos pendentes com você na sua cama — voltou a encara-la sorrindo.

— Que tipos de assuntos? — indagou maliciosa enquanto acariciava o rosto masculino, observando cada linha de expressão.

— Dos tipos prazerosos — respondeu antes de beija-la com avidez.

 

***

 

No dia seguinte Naruto percebeu que contemplar a neve cair é algo hipnotizante.

Os flocos tênues desciam flutuando no ar, decaindo com certa graciosidade que hipnotiza em devaneios se ficar observando por muito tempo. Acompanhados pelo vento frio, os flocos decoravam o sobretudo preto na altura dos ombros de Naruto. O mesmo acabara de comprar chá quente e caminhava em meio as pessoas agasalhadas na calçada enquanto bebericava do liquido.

Toda a Konoha finalmente entrou no inverno de vez, e obviamente junto da estação vinha o frio mais forte que o comum. Aqueles que passavam por Naruto usando o celular deixavam sinuosas nuvens semelhantes a vapor saírem da boca ao falarem. O próprio loiro tinha enfiado uma das mãos enluvadas no bolso aproveitando o máximo de calor que podia ter. Os barulhos do trânsito e da rua em geral se elevavam conforme avançava para a área comercial, porém não obstruíram uma voz chamando pelo loiro, que parou girando os calcanhares.

— Naruto Uzumaki... – um homem se aproximou enquanto as pessoas que transitavam desfiavam dele. Até que ficou a poucos centímetros de Naruto, numa clara linguagem corporal para o loiro de proximidade que indicava ser um sujeito que gostava de intimidar. – Um prazer conhece-lo. – o desconhecido mostrou a mão para cumprimentar e Naruto imitou o ato. – Me chamo Yamato, sou...

— Da promotoria – completou analisando o homem dos pés a cabeça. Possuía cabelos curtos castanhos, pequenas rugas sob os olhos e nos cantos da boca. Barba curta com tênues falhas que dava certo destaque ao seu rosto indiferente como uma pedra. Trajava um sobretudo fechado de camurça com o colarinho erguido envolta do pescoço.

— Fico feliz que já saiba quem sou, adianta as coisas. Presumo seu conhecimento sobre o crime cometido pelo jovem advogado associado a você.

— Sei que acusar as pessoas é seu trabalho, mas recomendo ter cuidado quando faz isso para um advogado como eu — avisou franzindo o olhar, porém o promotor continuou inexpressivo.

— Invadir o banco de dados da promotoria não é como se fosse hackear a polícia. Conosco a situação é mais grave. Qualquer juiz nesse fim de mundo chamado Konoha colocaria o seu associado no mínimo atrás da cadeia por três meses a um ano. Uma pena pequena, mas na vida de um advogado tão jovem com ele serviria como ponte para o fim na advocacia.

Naruto umedeceu os lábios sustentando o olhar rígido para o homem.

— Tenho certeza que em crimes cibernéticos, como o tal que está supondo, deva haver um ip relacionado ao computador do meu associado, essa seria a prova concreta. Porém conhecendo um pouco de informática nos meus vários anos no colegial como amante de tal assunto, sei que geralmente hackers usam programas para esconder e trocar ip’s.

— Está achando que vim até essa cidade nojenta sem provas para condenar o rapaz?

— Não — negou e bebericou do chá. — Acho que veio até aqui - mais necessariamente até mim - porque quer algo em troca, ou não estaríamos tendo essa conversa. E tomando suas palavras, eu duvido que viria até minha “Cidade nojenta” por um simples caso de hacker tão insignificante para você quanto um inseto seria. Você quer algo maior...

Yamato desviou o rosto para os carros passando ao lado, sua mandíbula tensionada demonstrando que refletia.

— Sou um pescador paciente, que espera a melhor época do ano para pescar grandes salmões.

— E quem seriam esses salmões?

Ele voltou a encarar Naruto.

— Os Uchihas — respondeu e Naruto não conseguiu segurar a surpresa sendo refletida nas linhas do rosto. — Eu deixo seu garoto em paz e em troca você me entrega os Uchihas.

— Entregar? Só se entrega o que se está em posse. Caso não saiba eu sou apenas um funcionário.

— Um com bastante privilégios e importância. Meus passarinhos escondidos aqui já me disseram o quanto tem influenciado no ramo empresarial de Konoha, e por isso você é o ganso de ouro dos Uchihas. — nada falou e o promotor continuou. — Tem acesso a eles e suas informações sem restrições. Me ajude a destruí-los buscando e me revelando uma miséria brecha no castelo deles e o advogado mirim estará livre das minhas garras.

— Quem é você? Um Lannister? — questionou em ironia.

— Não, mas sempre pago minhas dividas — respondeu Yamato em mutua referência. Pelo visto o promotor gostava de Game of Thrones também, a única coisa que o loiro viu até agora para simpatizar com ele. — Dou minha palavra que quando tudo estiver acabado você jamais me verá.

Balançou a cabeça descrente de tudo o que ouviu. Beirava a loucura o que o promotor pedia.

— Porque quer destruir eles?

— Isso não é problema seu. Seu problema está agora sentado numa mesa acreditando que continuará sendo um advogado.

— Meu problema é você — replicou.

— Pense bem, tem até amanhã para me dá uma resposta. Estarei às 13h no Yukihira — avisou o promotor girando o calcanhar e se misturando as pessoas.

“Maldito”

Chegou na firma, ao invés de ir para seu escritório ele se dirigiu para a pequena área onde os associados tinham suas mesas. Ao entrar todos o olhavam de soslaio notoriamente surpresos pela presença do loiro que nunca foi até ali. Parou em frente à mesa de Konohamaru que estava concentrado no computador com fones de ouvido que vazavam uma música de rock.

 Retirou os fones dele abruptamente, atraindo a atenção assustada do Sarutobi.

— Naruto? — ele olhou para os lados confuso. — Vai ter um apocalipse hoje? Você por aqui.

— Pra minha sala agora! — ordenou dando as costas.

Na sala jogou a lata de chá na lixeira e foi sentar-se no sofá já pondo sua mente para funcionar enquanto massageava o queixo. Konohamaru entrou de vez procurando Naruto e quando o viu fechou a porta.

— Nunca vi você assim. Aconteceu uma merda muito grande?

Encarou o associado vendo que trazia uma pasta em mãos.

— O que é isso? — perguntou apontando.

— O que me pediu para pesquisar — respondeu depositando a pasta na mesinha do centro e sentou-se na poltrona ao lado. — Sobre o...

— Ao e Kimimaro — completou analisando os documentos.

— Sim. O Otsutsuki na verdade é um filho adotado de Kaguya Otsutsuki, que é dona de algumas ações gordas da Refinaria da Ilha Okinawa pela Otsutsuki Corp...

— Otsutsuki Corp. — repetiu deixando o nome no ar. — É uma corporação com boa parte de seus investimentos focados na área de saúde. Já tive o prazer de conhecer o dono dela, Jigen Otsutsuki.

— Esse é irmão da Kaguya. Interessante, por que olha essa foto... — apontou o associado movendo para a próxima página. — Encontrei ela na capa de um artigo online na Japan News de anos atrás. — na fotografia mostrava Jigen com seu cabelo preto longo preso num rabo de cavalo entre dois homens, sendo um deles com um tapa olho.

— Esse homem de tapa olho advinha quem é... — o loiro balançou a cabeça sem saber. — Ao. O delegado Ao! — revelou Konohamaru. — Ele era dono de uma prestadora de seguranças pessoais que eram solicitados pelo Jigen. Pelo jeito eram bem próximos.

Todas as peças se encaixaram naquele momento.

— Jigen é tio de Kimimaro e agora está bem nítido que Ao ainda tem contado próximo com os Otsutsuki e estava encobrindo o assédio do desgraçado do Kimimaro — deduziu.

— Já do kimimaro eu descobri que mora aqui em Konoha sem a família, apenas ele — revelou Konohamaru.

— Provavelmente se envolveu com besteiras e correu pra cá estando fora do radar com a proteção do Ao.

— Possivelmente.

— Bom, vou entregar isso para meu pai e deixar que resolvam isso. Agora é com a policia, não há nada mais que possamos fazer.

Konohamaru assentiu.

— Mas porque me chamar aqui com tanta urgência?

Naruto juntou todos os papeis em silencio, numa pausa que só atiçava a curiosidade do associado.

— Me encontrei com o promotor, ele propôs uma troca. Eu ajudo ele a derrubar Sasuke e Itachi, e em troca te deixa em paz — falou direto encarando-o.

— O que?! Você não aceitou né?

— Ele quer a resposta amanhã. Mas obvio que não aceitarei esse acordo, te chamei para que fique atento. Não vá para casa usando transporte público, se não tem carro pague um taxi ou uber. Após eu disser não ele vai atrás de você e precisamos ganhar tempo.

— Por kami — o associado estava visivelmente tenso. — Eu vou ser preso — ele se levantou andando pela sala de um lado para o outro.

— Fique calmo, não disse que te tiraria dessa? Eu prometo que tirarei, apenas confie.

— Como ficarei calmo, esse cara vai acabar comigo!

Naruto suspirou se levantando e parando em frente o Sarutobi.

— Não deixe que suas emoções falem mais alto agora! Você é um advogado, não se permita ficar cego diante das situações! — censurou rígido, o que fez Konohamaru lhe olhar estático. — Não vê o obvio!? Não vê que ele ter vindo até mim com esse papo de acordo é ótimo!

— Como assim?

— Há quanto tempo que houve a invasão ao banco de dados deles?

— Dois meses, por aí.

— E ele só veio agora. Por que? — indagou instigando o associado a pensar por si próprio. E o mesmo olhou para baixo pensativo, até que a compreensão iluminou seu rosto.

— Por que está usando isso apenas para derrubar os Uchihas, se você descobrir o motivo pode usar contra ele, alegando ao juiz através do Art. 25...

— Ou seja?

— Sasuke-san pode fazer com que a acusação se torne nula por deferir a honra do nome Uchiha como um bem jurídico a ser prejudicado pelo promotor de forma antiética! — respondeu o associado quase como se tivesse lendo a lei em mãos. 

— Exato!! Está vendo, só usar a cabeça com calma que se chega a uma solução. Agora eu mesmo vou descobrir o porquê dele querer a cabeça dos Uchihas, e vou ter que registrar de alguma forma para conseguir provar.

O tempo passou na firma com mais tranquilidade do que esperava, foi um dia em que quase não precisou sair da sala e muito menos recebeu clientes. Apenas focou na papelada para assinar e nos novos contratos que recebeu para revisar. Até que ao chegar no período do meio da tarde, Naruto recebeu uma ligação e viu ser um número desconhecido.

Atendeu e a voz atrás da linha era familiar.

— “Naruto?!” — indagou Rukia num tom tremulo e choroso fazendo o loiro ficar alarmado.

— “Sou eu Rukia, está tu...”

— “Você pre-precisa vi-vir aqui” — falou ela gaguejando tensa e então soluçou num choro.

— “Rukia...”

— “Por favor, só você... você é ad-advogado... só você pode. E-ele... entrou e... “

— “Calma, fale devagar. Tem a ver com o Kimimaro?” — indagou e ela apenas fez um ruído assentindo. — “Então ligue para a policia, eles...”

— “Não! A polícia não!” — objetivou ela num quase desespero que não soou nada bom para Naruto. — “Por favor, eles estão com o Ao, eles va-vão...”

— “É melhor...”

— Por favor, venha — suplicou Rukia chorosa e agora o loiro realmente ficou preocupado. — Você é advogado, precisa me ajudar. Eu sei que... que só tivemos... que não somos tão próximos, mas por favor...

— Certo, você mora onde?

Rukia deu o endereço e Naruto partiu para lá.

Chegando na rua que era ligeiramente inclinada, ele estacionou na casa do endereço e já estranhou pelo fato de terem algumas pessoas em frente à casa. Desceu e caminhou com as mãos no bolso observando a casa pequena, porém bastante bonita.

— O que houve? — indagou para as pessoas.

— Ouvimos gritos lá dentro e agora está tudo em silencio — respondeu um senhor. — Chamamos a dona, mas ela não responde. Você a conhece?

— Sim — respondeu encarando o portão baixo. Algo lhe dizia que algo ruim tinha acontecido.

Pulou o portão com facilidade. Verificou as janelas frontais e em seguida as laterais e todas estavam fechadas com cortinas tapando a visão. Se aproximou da porta apertando a maçaneta, ao gira-la percebeu a mesma aperta.

Respirou fundo e entrou.

No vestíbulo tinha uma visão limitada da casa por conta do hall. O lugar era iluminado pela luz vinda por entre as cortinas transparentes.

— Rukia! — chamou e ninguém respondeu. Deu um passo e ouviu um gemido choroso. Deu outro e o fedor de carne queimada se fez presente. — Rukia!

Quando chegou na entrada da sala a cena que viu o fez gelar estático arregalando os olhos. Um homem de cabelos brancos, jeans e camisa vermelha jazia estirado no tapete no centro do cômodo, desfalecido sobre uma poça de sangue. Naruto nunca tinha visto alguém morto tão de perto e sentiu sua pressão baixar, o estomago revirar e seus músculos tensionarem.

Não precisou raciocinar muito para saber que era Kimimaro, o mesmo que dias atrás lhe deu aquela surra.

Ficou encarando o falecido até que soluços de choro desviassem sua atenção para a parede adjacente. Atrás do sofá sentada, encostada na parede, uma Rukia acuada abraçando os joelhos e de cabeça baixa residia tremula. A garota estava nua, com sangue banhando as mãos.

— Rukia? — chamou e ela ergueu a cabeça revelando o rosto banhado de lagrimas misturadas com respingos de sangue. A loira tinha marcas roxas de agressão na bochecha e no olho, e envolta do pescoço, corte nos lábios e vermelhidão acima do colo.

— E-Eu fui tomar banho e... e... quando saí do banheiro ele... estava aqui de alguma forma. Juro... que tranquei a porta, mas ele estava aqui! Me agarrou tapando min-minha b-boca e me bateu... — ela soluçou, a voz embargada. — E-Ele não pa-parava de me-me bater... de me chutar e arremessar nas coisas. Ele me machucou muito... — relatou afinando a voz num pranto de choro — Tentei me defender... mas ele e-era mais f-forte. Tentei g-gritar, mas não tinha forças. Aí... começou a me enforcar em cima da mesinha... depois ele... ele... começou a... — Rukia abraçou a si mesma cravando as unhas na pele contorcendo o rosto em choro — Me estuprar. Doía muito e já não conseguia mais respirar enquanto ele gritava irado no meu rosto... e eu... eu... estava tão assustada... pensei que ia morrer. Aí peguei isso na mesinha... — ela olhou para um objeto mais afastado. Era uma réplica pequena da torre Eiffel para decoração feita aparentemente de aço coberta de sangue com uma ponta afiada.

Naruto ainda estático observou atentamente todo o recinto.

Haviam vários indícios de luta corporal nos moveis fora do lugar, vidros e pedaços de um vaso espalhados pelo chão. Kimimaro com os olhos vidrados e sem vida encarando o nada, tinha as calças baixas até o joelho revelando as genitálias o que comprovava o estupro, além das marcas no corpo de Rukia. Foi impossivel não vir a mente de Naruto a imagem da irmã pela semelhança na aparência entre Rukia e ela, e imaginar a irmã passando por algo parecido fez uma fúria desumana se apossar de Naruto, fazendo-o apertar os punhos até a pele ali ficar branca.

Ao mesmo tempo uma onda forte de empatia por Rukia também o apossou.

— Eu liguei pra você — a voz dela o atraiu de novo. — É advogado... pre-precisa me a-ajudar. Me defender porque eles vão disser que assassinei ele, sei que vão pra me acusar! Vão en-encobrir ele co-como sempre! Vão... vão disser que a culpa é minha, eu já vi outras me-meninas que... — ela não completou a frase aparentando ficar mais assustada com o que iria falar. — Vão me prender. — declarou a loira aos prantos desesperados. Estava tão em choque que não percebia que tudo ali em volta provava ter sido um ato de legitima defesa.

O loiro se aproximou numa feição complacente vendo-a lhe olhar com os olhos vermelhos de choro, quase parecendo uma criança. A ergueu com cuidado e a abraçou forte depositando a mão atrás de sua cabeleira loira, a mesma desmoronou relaxando o corpo contra ele ao prantos.

— Você está viva, é o que importa! — abrandou. — Ninguém vai te prender, eu prometo — assegurou sussurrando no ouvido dela. — Acabou.


Notas Finais


Tenso...

A fic passou dos 300 favoritos, caramba! Vlw a todos que favoritaram xD. Será que chega aos 400? Sonhar não custa nada.
Abraço e até em breve!


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