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História Antiga Paixão - Tarde demais


Escrita por: JonB

Notas do Autor


Eu escrevi a primeira parte desse capítulo baseado na música "Day is Gone" de Noah Gunderson.
Quem quiser/puder escuta-la depois, ou até mesmo durante a leitura, será muito bom para entenderem melhor o que se passa com Sasuke.
Eu deixei alguns breves trechos da letra em negrito no capítulo, nas partes que melhor se encaixam nos diálogos.

Espero que gostem e boa leitura!

Capítulo 9 - Tarde demais


Fanfic / Fanfiction Antiga Paixão - Tarde demais

Antiga Paixão

Capítulo IX

Tarde demais

 

Sasuke chegou na recepção do Hospital recebendo olhares curiosos, e sabia que eram por causa do buquê de flores que trazia na única mão.

Mentiu dizendo ainda ser noivo de Sakura e por isso conseguiu facilmente passar, se direcionando para o corredor principal com as portas e paredes brancas. Ignorou algumas enfermeiras que cochichavam lhe olhando de soslaio e seu foco foi para encontrar a sala dos funcionários. A porta já estava aberta, e quando apareceu na entrada seu perfil alto e com um sobretudo todo preto, atraiu a atenção automaticamente de todos ali.

Seu olhar foi direto para uma cabeleireira rosada ao fundo, sentada ao redor de mais algumas médicas, uma delas sendo a Ino Uzumaki. Ele sabia que naquele horário era a folga de Sakura e por isso tinha certeza que a encontraria ali. A mesma tinha um feição perplexa, e constrangedora com as bochechas vermelhas. Sasuke também ignorou os olhares e cochichos das outras pessoas, seu foco era totalmente Sakura.

Porém não foi a rosada que se levantou, mas sim a amiga, Ino. A loira veio em passos rígidos até ficar de frente ao Uchiha, o encarando.

- O que quer?

- Não é meio óbvio?

- O que? Que as rosas são para mim, e que vou joga-las no lixo - respondeu Ino irônica - Soube que foi no meu apartamento, saiba que tive que desinfeta-lo.

- Você me odeia mesmo né?

- Não é para tanto - responde sarcástica. - Eu só não suporto ver você - completou ela numa mistura de desprezo e muita sinceridade.

- Não a culpo, eu te entendo - falou Sasuke, o que fez Ino franzir o cenho minimamente supresa pela confissão.

- É bom... - Ino ia retrucar mas Sakura apareceu ao seu lado, alternou o olhar sugestivo para ambos e depois saiu da sala, passando por Sasuke sem nenhuma palavra.

O Uchiha apenas se virou e a seguiu.

Entraram na sala médica de Sakura, com a cama para exames numa extremidade, e a mesa pessoal dela para as consultas ao final do recinto. Haviam vários detalhes e adornos em verde claro, a cor favorita de Sakura como Sasuke se lembrava.

A rosada continuou em silêncio, se dirigindo até as duas cadeiras que ficavam a frente da mesa. Sentou-se numa e com um gesto de mão indicou que ele sentasse na outra. Ele sentou-se, um de frente para o outro, porém a rosada aparentando resignada olhava para qualquer parte do rosto de Sasuke, menos para seus olhos.

- Por que veio, Sasuke? - perguntou ela de braços cruzados, e ele não demostrou supresa ao fato de ela não ter usado o sufixo "Kun" no seu nome.

- Eu trouxe as rosas que gosta - entregou Sasuke num breve sorriso.

Sakura segurou as flores avermelhadas, cheirou-as numa feição agradável.

- São maravilhosas, obrigado - agradeceu ela, pondo-as sobre seu colo. - Mas não respondeu minha pergunta.

Sasuke engoliu em seco.

- Queria vê-la, saber como está.

- E precisava vim até meu lugar de trabalho? - ela perguntou invasiva.

- Já faz muito tempo desde nosso rompimento, e agora você não está mais respondendo minhas mensagens, Sakura - afirmou ele triste.

A rosada suspirou e lhe olhou como suplicando para não perguntar o motivo, mas ele sabia.

- Como está Itachi? - ela perguntou mudando o assunto.

- Por enquanto está bem.

- As crises têm diminuído? - a voz dela preocupada foi um alento ao tom neutro que ela tinha até então.

- Não, infelizmente não - respondeu triste.

- Sinto muito, Sasuke - disse ela com pesar. - Tenho certeza que ele melhorará.

Sasuke queria dizer que não ia, a rosada ainda não sabia do recente diagnóstico que revelava o prazo de vida do irmão, mas não era momento para revelar.

Os dois abaixaram o olhar por alguns segundos. O silêncio sufocante e constrangedor só o impulsionava a querer se abrir de uma vez, mas achou prudente ir com calma.

- A Orie mandou lembranças - comentou.

- Sinto falta dos fabulosos dangos dela.

- Me lembre de trazer para você uma próxima vez - retrucou e viu Sakura desviar o olhar desconfortável.

- Sasuke...

- Eu sei. Eu sei que quer espaço, mas vim para dizer que mudei e que sinto sua falta - sua sinceridade transbordando na voz.

Sakura pôs uma mecha do cabelo atrás da orelha, ainda sem ter contato visual.

- Não é o suficiente - ela afirmou firme.

- Como assim? - indagou sem entender.

- Sua mudança não é o suficiente - ela ergueu o olhar para Sasuke abruptamente, sua feição sentida. - Nada o que me diga ou prove será o suficiente.

O Uchiha suspirou, mas não desistiria. Tinha reunido todas as forças que restava para ir até ali, precisava mostrar para Sakura ela era importante para sua vida, mesmo não sendo o concelho do irmão.

- Sakura, eu passo horas e horas pensando em você, refletindo nos meus erros, nas minhas falhas e pecados. E cada vez que penso nas coisas que te fiz passar, na dor, tristeza e amargura que lhe gerei, só servem para me arrepender mais ainda...

"I would take it back

Eu retornaria

For just another minute

Por apenas mais um minuto

Just another chance with you

Apenas mais uma chance com você"

- Sasuke eu entrei em início de depressão! - afirmou a rosada de súbito, seu rosto amargurado.

- Eu sei...

- Não, não sabe.

- Sei sim, por que é o que está acontecendo comigo. Não tenho vontade de comer, não tenho vontade de trabalhar, não tenho dormido... - contou com certo sofrimento na voz.

- Sasuke, tudo o que você têm passado eu passei durante nosso relacionamento. Agora pare e pense, acha que eu iria querer passar por tudo isso de novo?

- Óbvio que não!

- Então por que está aqui?

- Por que estou sendo sincero, eu mudei. Eu quero fazer os coisas serem diferentes, eu prometo te fazer feliz e corrigir os erros que cometi no passado.

"I would give everything up

Eu desistiria de tudo

Every first taste for you

Cada primeiro toque por você

Just to make it all right

Só para fazer tudo certo"

- Mas não dá mais, Sasuke! - falou Sakura fazendo um gesto de basta com a mão. - Eu não consigo mais, toda vez que penso em nós as lembranças vêm. Me lembro de suas paranóias, desconfiança, ignorância e grosseria, de como gritava comigo me fazendo chorar, me vigiava a todo momento, me atormentou fazendo até ter medo de dormir por achar que você faria algo comigo, para mim nosso relacionamento foi um inferno! - contou sentida. - Acha que se alguém dissesse que o inferno congelou eu acreditaria?

- Sakura, eu reconheço tudo isso. E não quero por a culpa na vida, mas passei por perdas demais, toda vez que imaginava a possibilidade de te perder, eu enlouquecia, por que eu te amo! - confessou tentando segurar a mão de Sakura, mas ela afastou.

- Sasuke, no final você me perdeu de qualquer jeito - retrucou a rosada suspirando em seguida.

- E agora eu percebo o quanto estava errado.

- Deveria ter pensado antes, quando prometeu da última vez que mudaria, e no fim mudou?

Sasuke abaixou a cabeça, o desespero já lhe subindo.

- Sakura por favor entenda, isso tudo foi uma enorme queda para mim, e não quero cair jamais novamente.

- Esse é o problema Sasuke, você caiu por causa de suas âncoras emocionais e psicológicas, mas uma pessoa me falou que não sou obrigada a viver e sofrer junto com você - retrucou lhe apontando o dedo - Eu já me sacrifiquei demais, por mais de três anos eu fui puxada por essas âncoras, e finalmente me libertei - concluiu em tom sentido e arrastado de alívio.

- O que quer dizer? - indagou fechando os olhos com força, pois sabia a resposta.

- Que já não há esperança, nunca iremos voltar Sasuke - ela respondeu firme, mas a voz baixa.

"But it's too late

Mas é tarde demais

To go back

Para voltar"

- Sakura esqueça o passado, podemos seguir em frente juntos novamente... - Sasuke buscava o olhar dela, mas a mesma desviava.

Sakura respirou fundo arrastando as mãos pelo cabelo, sua feição de desconforto apenas aumentava a angústia em Sasuke.

- Eu até poderia fechar os olhos para as lembranças, mas jamais conseguiria fechar meu coração para as emoções e sensações que senti - declarou ela.

- Eu...

- Eu estou em paz finalmente! - Sakura disparou, os olhos já úmidos. - Estou feliz, alegre, estou me sentindo bem comigo mesma, me amando novamente, coisa que você me privou por todo esse tempo, e eu não aguento mais, eu quero a minha felicidade, quero viver a minha vida, quero ser a mulher amada e respeitada que você não permitiu que eu fosse.

- Sakura, por favor não faça isso, eu te imploro! - suplicou, seus olhos numa leve ardência antes das lágrimas começarem a surgir.

"And now I see

E agora eu vejo

My most constant mistake

Meu erro mais constante

Is I don't know

É que eu não sei

what I love till it's gone

O que eu amo até que tenha ido embora"

- Sasuke, não torne as coisas mais difíceis. Já tivemos essa conversa antes - uma lágrima em cada olho desceu pelas bochechas de Sakura.

- Mas eu não posso viver sem você! Eu preciso de você! - afirmou dessa vez conseguindo segurar a mão dela.

- Não, não precisa - Sakura novamente afastou a mão com certa exasperação.

- Eu te amo. Eu juro que mudarei, apenas não me abandone, não agora - suplicou, a voz desesperada enquanto sentia as lágrimas já ameaçando cair.

- Eu já te abandonei, você só é único a não perceber isso. Posso estar sendo egoísta, mas não ligo, não há mais nada em meu coração por você, há não ser consideração.

- Sakura, por favor... - tentou com a última gota de esperança se esvaziando.

- Eu não te amo mais, Sasuke. - retrucou a rosada com firmeza, finalmente lhe olhando nos olhos, o nariz já vermelho segurando ás lagrimas. E Sasuke pôde ver o quão verdadeira ela estava sendo, junto àquelas palavras, o Uchiha sentiu a dolorosa verdade que até então negava para si mesmo. - E mesmo que ainda houvesse amor não seria o suficiente para me fazer voltar, por que se você teve traumas no passado, hoje eu percebo que você se tornou o causador dos meus.

Aquelas palavras finais acertaram Sasuke em cheio.

Pôs a única mão frente aos olhos, apertando com os dedos o cenho. Escutava as vozes na mente o acusando e xingando, revelando tudo o que era, uma escuridão abraçando seu coração.

"It's too late To go back

É tarde demais para voltar atrás

I let the darkness

Eu deixo a escuridão

Seep through the cracks

Escoar através das rachaduras"

- Eu me odeio - confessou ele baixinho, como um pensamento que acaba saindo, mas Sakura tinha ouvido. Ele se erguendo abruptamente, o rosto abalado e olhar vago carregado de lágrimas.

- Sasuke, não diga isso...

O Uchiha andou alguns passos até ficar próximo a porta e socou a mesma com toda a força, a porta tremeu e ao fundo soou um arfar assustado de Sakura.

"I can see the darkness

Eu posso ver a escuridão

Through the cracks

Através das rachaduras

I curse my breathing

Eu amaldiçoo minha respiração"

Sasuke encostou a testa na porta, quanto mais pensava em tudo o que conversaram, mais sua mente ficava nublada e ilegível.

"Como pôde perde-la!" - gritava a voz alta de Itachi em sua mente. - "Você que deveria morrer no meu lugar, seu imprestável!"

"Nunca deveria ter posto você no mundo" - dizia uma voz amargurada parecida com a mãe. "Nós nunca lhe desejamos, você foi um erro!" - gritou na sua mente.

"Péssimo irmão, péssimo companheiro, péssimo amigo e péssimo homem" - falou outra voz, essa era rouca e severa como a de seu pai. - "Sua vida de nada têm valor a não ser para a morte. No final, uma tensa e escura solidão é o que lhe aguarda, rapaz! - gritou na sua mente, se afastando em ecos.

Deixava-se levar por aquelas vozes, uma raiva e odeio de si mesmo crescendo ao ponto de sentir as unhas, na mão em punho, grafando na pele. Não soube quanto tempo ficou ali, parado escutando as vozes, mas aos poucos foi escutando uma ao longe se aproximando, ele reconhecia ser de Sakura, foi quando virou o rosto e a encarou olhando por sobre o ombro.

Sakura estava com uma feição assustada, com as mãos em frente a boca, dando passos prudentes para trás. Ela de relance quase jurava ter visto que o olho de Sasuke parecia totalmente avermelhado.

"I'll just run away

Eu vou apenas fugir

Like a child

Como uma criança

From all of them... 

De todos eles... "

- Sasuke, voc… você es… está bem? - ela indagou receosa e Sasuke respirou firme controlando a respiração, abriu a porta e saiu deixando-a sozinha.

 

***

 

Naruto entrou na galeria com um olhar curioso a todas as inusitadas obras de arte, fossem as confusas pinturas e quatros de vários artistas, até as esculturas mais diversas. Todo o recinto era espaçoso e luxuoso, paredes brancas e colunas espalhadas que imitavam as orientais antigas.

O movimento era pouco, e ele teve facilidade de perambular sem ninguém para lhe atrasar no andar. Observou atento um quatro com rabiscos que ele não fazia a menor ideia do que significavam e uma escultura feita com peças de metais retorcidos que aparentava ser um anjo ou algo parecido.

Naruto nunca foi fã de arte, muito menos de estuda-la.

Seu alvo era outra obra de arte, essa feita de carne e osso. A encontrou em pé parada, encarando uma pintura artesanal aparentemente feita numa das primeiras dinastias japonesas. O loiro parou alguns passos atrás, tendo uma visão melhor da pintura, que mostrava uma mulher com kimono e espada banhada de sangue, enquanto um aparente demônio caía aos seus pés com a barriga aberta.

- Acredito que há um simbolismo forte nessa pintura - falou Naruto, porém a Hyuuga não se virou.

- Sim - concordou ela. - A mulher representa a delicadeza, a força, a dedicação e o amor encontrado em todas nós. Já a espada representa o poder, o desejo, a sedução, a loucura, o ímpeto cego de toda mulher em proteger e ter o que quer.

- E o demônio? - indagou.

- Eu diria que são vocês homens, mas seria agressivo demais da minha parte.

- E ignorante também, eu não sou tão feio assim - retrucou num leve tom de indignação.

A Hyuuga soltou um ruído de riso pelo nariz e se virou. Estava de óculos escuros, uma bolsa de couro preta pendendo no braço e trajava um aparente caro vestido longo amarelo, justo no busto e nas ancas.

- Como me encontrou, Naruto?

- Tenho meus contatos.

- Seus contatos ou seu associado?

- Prefiro deixar a dúvida.

Hinata passou a se mover lentamente, voltando a observar os quatros.

- Acredito que veio para me informar sobre o contrato - comentou ela.

Naruto se aproximou com as mãos no bolso e começou a segui-la.

- Foi uma reunião digna de sua participação.

- Porque? Foi servido caviar?

- Não. - negou. - Por que foi falado sobre poder empresarial.

A hyuuga soltou um ruído de apreciação.

- Realmente eu devia ter participado, ensinaria aquelas andorinhas o que uma águia pode fazer.

- Eles pediram tempo para pensar sobre o contrato, lhes dei 48 horas.

- Considero muito, eu teria dado doze.

- Mas aí eu não teria tempo de falar pessoalmente com vossa pessoa.

- Na verdade teria sim, coloquei você na minha lista privada.

- Não lembro de ter lhe dado meu número.

- Pensei que nossa conversa na festa tinha deixado claro que não preciso de permissão para fazer o que quero. Eu apenas faço.

Naruto ignorou e foi direto, porém sentiu seu celular vibrando, alguém ligava e seria rude atender enquanto com um cliente, então deixou vibrar.

- Vim aqui justamente para falar sobre o que você quer.

- Então você sabe o que quero, e ainda estamos aqui, usando roupas? - ela indagou em malícia, erguendo uma sombrancelha.

- Nudez em lugares públicos é crime - retrucou.

- Não se eu comprar essa galeria.

- E você compraria?

- Você não têm ideia do que sou capaz de fazer, Naruto.

Naruto fez uma nota mental, para não esquecer daquelas palavras.

Ele não perderia tempo flertando com ela, então novamente ignorou e continuou a falar de negócios.

- Você não precisa do lucro, e no fundo nem o quer - declarou.

- Por que acha isso?

- Porque você falou, no dia que apareceu em meu escritório - respondeu Naruto. - Há única coisa que você quer nesse contrato é continuar a te-los de joelhos implorando por atenção, você disse, "São como crianças".

Hinata se virou e retirou os óculos.

- Está virando algum tipo de norma você me impressionar com suas observações em nossas conversas?

- Não é norma, é consequência de minha inteligência.

- Pois bem, descobrir isso não muda o fato de que é seu dever faze-los assinar o contrato.

- Por isso estou falando com você.

- Eu sou eles agora? - ela perguntou sarcástica.

- Não, mas é maior que eles.

Os dois se encararam franzino o olhar e após alguns segundos citaram juntos:

- "Quer pegar mais insetos? É só usar uma lâmpada maior".

- Professor Onoki - falou Hinata. - Sempre gostei das aulas dele.

- Eu não, tive torcicolo de dando erguer o pescoço para enxerga -lo de tão pequeno.

A Hyuuga riu e sentou-se num longo e elegante banco de madeira. Naruto também sentou-se desabotoando o terno.

- Olhe para ali - apontou Hinata para o quatro a frente deles, mostrava um soldado japonês na Segunda Guerra Mundial. - Meu bisavô participou da guerra.

- O meu também.

- Mas dúvido que o seu tenha morrido da mesma forma que o meu.

- E que forma seria?

- Ele estava numa trincheira com vários outros soldados, e uma granada foi lançada dentro da trincheira, no meio deles. Meu bisavô se jogou em cima da granada e ela explodiu fazendo ele estar em vários lugares ao mesmo tempo.

- Uma morte heroica.

- Não ao ver da minha família - retrucou Hinata desdém. - Eu aprendi que o ser humano é egoísta, as pessoas agem por interesse próprio. Antes de qualquer coisa, sempre pensam em si mesmas no momento de tomar uma decisão.

- E onde isso se encaixa com seu bisavô? - perguntou curioso.

- Ele fez um cálculo - ela respondeu esticando a mão e num delicado toque com o polegar retirou uma minúscula mancha branca no maxilar de Naruto. O loiro apenas acompanhou com o olhar o gesto. - Matar-se sobre a granada foi um custo inferior comparado a utilidade que ele mesmo teria para todo o pelotão, no fundo foi para seu próprio interesse que ele se sacrifícou, não pelos outros soldados, mas sim pela glória e exemplo que viriam ao seu nome.

- É o que acredita?

Naruto sentiu seu celular vibrar de novo.

- Sim - ela respondeu firme.

Após alguns segundos de silêncio Naruto decifrou o que ela queria dizer, pois no fundo já sabia.

- Marketing - falou. - O que quer é apenas a visualização do nome Hyuuga no produto.

Ela lhe deu um breve sorriso.

- Exatamente, eu agora estou disposta a revogar e aceitar o valor percentual de lucro no contrato deles, por total direito na divulgação do produto.

- E eu lhe disse que era o melhor negociador - comentou Naruto arrancando um olhar questionador na Hyuuga.

- Pensei que seria com eles que negociaria e não comigo que sou sua cliente.

- E foi exatamente o que fiz - disse Naruto sorrindo presunçoso.

A Hyuuga ficou mais confusa.

- Como assim, você disse que eles tinham adiado.

Naruto se ergueu.

- Eu menti nessa parte. - afirmou ele surpreendendo Hinata. - Eu disse que sabia exatamente o que você queria e nessa parte não menti. Foi fácil descobrir, bastou eu analisar você e sua atração natural por poder, e fazer uma pesquisa sobre seus mais recentes contratos, todos tinham uma cláusula maior no marketing, isso por que quanto mais o nome Hyuuga aparece, mas poder ele representa, então tomei liberdade de ter feito a oferta de ceder 15% do lucro marginal e ter para você o total direito de divulgação. - Naruto puxou um documento do bolso interior do terno e entregou a Hinata. - Eles já concordaram e assinaram, basta você assinar.

A Hyuuga encarava Naruto descrente, e ele podia notar uma singela fascinação que ela tentava esconder.

- Seria 35% de lucro, se me lembro pedi 50.

- O total direito de marketing dá a vocês mais 15% extras de lucro não marginal, ou seja, consegui para vocês...

- 50% - ela completou sorrindo. A Hyuuga mordia suavemente o lábio rosado, lhe encarando de olhos semi cerrados. Naruto quase podia dizer que a deixou molhada - Não tenho caneta...

- Aqui - disse Naruto retirando do bolso uma. Hinata assinou e entregou o documento novamente. - Eu sou o melhor negociador, Hinata. - afirmou.

Pôs as mãos no bolso, deu as costas e começou a andar.

- Naruto! - chamou ela, fazendo-o se virar. - Pelo que soube é tradição da firma diz que nos grandes casos concluídos com êxito, deve-se haver um jantar entre o cliente e o advogado.

O loiro ergueu uma das sombrancelhas, mas lembrou-se de Itachi comentar sobre isso, porém quase nunca esses jantares eram solicitados. Sabia a intenção da Hyuuga, e a vontade que tinha era de deixar claro sua regra pessoal de não se envolver com clientes, mas seria rude de sua parte e de qualquer jeito teria que aceitar o jantar requerido.

- Ligarei marcando - avisou neutro e voltou a andar, dando as costas.

Assim que virou as costas novamente seu celular tocou mais uma vez, ele pegou é viu que era Sakura ligando.

- Saky... - disse Naruto com o aparelho na orelha, mas Sakura o interrompeu desesperada.

- Naruto de hoje que ligo, o Sasuke veio aqui! - disse do outro lado da linha.

- O que?! E como...

- Ele veio tentar reatar, insistiu e socou a porta, aí eu fiquei assustada... - contou ela apressada demais, Naruto quase não a entendeu.

- Calma Sakura, se acalme e me...

- O Sasuke não está bem Naruto! - exclamou ela, sua voz chorosa. - Desculpa por gritar, mas ele saiu transtornado e estou com uma sensação ruim - falou ela preocupada. - Encontre ele, por favor...

- Estou indo agora - avisou firme.

- Obrigada!

Naruto entrou no carro e apesar de não saber para onde Sasuke tinha ido, ele tinha uma ideia de para onde ia quando ficava no estado que supostamente Sakura citou. Ligou para Itachi, confirmando sem dar pistas, de que Sasuke não tinha chegado na firma ainda.

O loiro entrou na rodovia estadual e vários minutos depois já conseguia enxergar ao longe o enorme farol atrás do sopé das árvores, todo pintado de vermelho. Saiu á direita por uma simples estrada e do lado esquerdo, fora da estrada encontrou o carro de Sasuke estacionado embaixo de uma árvore. Estacionou o seu carro ao lado e desceu, seguindo uma trilha batida entre as diversas plantas, arbustos, árvores. Estar de terno e sapatos socias não ajudava, pois a trilha passava a subir, mas após um curto tempo e em certo ponto Naruto já enxergava novamente o farol.

Finalmente chegou ao topo, e o vento forte carregando folhas sobrava tremulando sua roupa. O céu estava fechado, as nuvens cinzas carregadas o tinham tomado, e isso indicava chuva em breve. Alguns metros a frente o farol apagado tinha seu refletor apontado para o oceano, e sentado no banco um poucos antes estava Sasuke, de camisa social preta com o corpo curvado e cabeça abaixada até os joelhos.

Última vez que Naruto esteve naquele lugar foi muitos anos atrás, e justamente em coincidência, atrás de Sasuke. O Uchiha tinha acabado de receber a notícia que o tempo de vida do pai estava se findando, e ele também tinha saído transtornado de casa, com Itachi ligando para Naruto perguntando se tinha visto o irmão. Naruto não sabia ainda sobre o pai dele, mas sabia que Sasuke tinha ido para ali e quando chegou, Sasuke não quis conversa, disse que era melhor o Uzumaki se preocupar com o seu futuro em Tóquio, e Naruto respeitou o momento do amigo, deixando-o em paz.

Naruto se aproximou e encarou com uma sensação sombria um ponto mais longe, numa beirada íngreme, o local onde uma mulher tinha se jogado para as pedras e água salgada lá embaixo, o suicídio dela ficou famoso e passou em todos os jornais de Konoha na época.

- Bela visão - anunciou-se Naruto, mas sem atrair atenção do Uchiha. - O noivo de Ino já fez uma pintura dessa paisagem, e ficou muito bonito. - dali conseguia ver o oceano agora num tom cinza ir até onde a vista alcançava, também via na extremidade ocidental uma praia, e vários barcos que pareciam de brinquedo vistos de longe, isso enquanto gaivotas e outros pássaros voavam á vista.

Sasuke finalmente ergueu a cabeça, recostando-se no banco branco, igual os de praças. O olhar sem vida do amigo, e seu rosto cansado preocuparam Naruto. Ele também estava trêmulo, como uma criança que fez algo errado e esperava o castigo.

- Antes que abra a boca para falar que não me quer aqui, vou logo dizendo que não será como dez anos atrás, só sairei daqui com você junto - advertiu Naruto sentando-se ao lado dele.

- Estou perdido - confessou Sasuke. Sua voz distante quase dava a entender que falava sozinho.

Naruto suspirou.

- Sasuke, eu sei que está sendo duro esse término - começou. - Mas entenda que você deve seguir em frente.

- Há muito mais do que o término.

- Me diga o que é?

- Não vale a pena - respondeu.

- E por que não?

- Por que a dor que sinto você não entende, você não têm ideia de como está a minha vida.

Naruto não tinha o que retrucar. Ficou em silêncio e vendo Sasuke encarar o mesmo lugar onde a mulher tinha pulado e por algum motivo imaginou Sasuke em pé lá próximo a beirada, mas afastou aquele pensamento assustador, Sasuke jamais faria algo assim.

- Porque não me dá uma ideia do que está acontecendo? - insistiu.

- Não.

- Eu posso te ajudar...

- Não quero sua ajuda, Naruto.

- Eu não me importo se quer ou não, é meu dever como seu amigo te ajudar - retrucou firme, fazendo o Uchiha lhe encarar.

- E por que iria me ajudar? Eu me afastei, nunca te liguei, nunca perguntei sobre você nesses anos. Nem me despedir de você eu fiz, fingi que nossa amizade nunca existiu.

Naruto contraiu a mandíbula voltando seu olhar para frente, observando o oceano, mas sentia os olhos de Sasuke sobre si.

- Você era o pirralho mais anti-social que já tinha pisado naquela escola - relembrou Naruto. - Ninguém se aproximava de você, por que nunca se aproximou de ninguém. Um dia te encontrei lanchando sozinho no pátio, e eu meio que me senti culpado. Eu tinha meus amigos, os que depois se tornaram seus também, e imaginei que era errado deixar você sozinho tendo o poder de mudar isso, e então me aproximei e puxei conversa com você.

- Sobre Dragon Ball - comentou Sasuke.

- Sim, e nem lanchamos pois conversamos o tempo todo. Naquele dia fizemos amizade, e logo andávamos para todo o lugar juntos, mesmo tendo diferenças, eu podia afirmar para qualquer um que você se tornou meu melhor amigo, alguém que eu podia confiar.

- E no fim, eu falhei com você, como falhei com todos.

- Aí que você erra, por que não falhou comigo - retrucou confundido Sasuke. - Nós falhamos um para com o outro, ou acha que te liguei ou procurei você em algum momento também? Mesmo sabendo da situação de seus pais - disse voltando a olha-lo. - Nos afastámos naturalmente, por que é assim a vida. Acontece de seguirmos caminhos e decisões diferentes, pois cada um de nós somos únicos. Eu tomei minha decisão e você tomou a sua, segui para o Tóquio viver minha vida e você ficou, não a nada de errado nisso, agora os anos que se seguiram tiverem sim, erros. Tive os meus, e você teve os seus, e as vezes não é uma questão de supera-los, mas de aprender a viver com a sombra deles.

O Uchiha suspirou.

- Você a teria feito muito mais feliz - falou Sasuke.

- Isso não importa, nunca aconteceu.

- Mas agora você quer fazer acontecer.

- Também não.

- Acha que acredito nisso.

- Pois deveria, por que na verdade estou saindo com uma pessoa já - afirmou o loiro, surpreendendo Sasuke.

Eles se encararam, e Naruto lhe deu um olhar sugestivo.

- A garçonete do Ichiraku - disse o moreno.

- Exatamente. Ela é legal e bem mais bonita quando não usando farda de garçonete.

Os dois ficaram em silêncio novamente, ambos observando a paisagem.

- Naruto - chamou Sasuke quebrando o silêncio. Gotículas de chuva já começavam a beliscar seus rostos. - Existe um vazio dentro de mim que infelizmente eu não consigo preencher, ele só cresce casa vez mais, e sinto que em breve ele me engolirá - confessou o Uchiha, a voz carregada de peso.

O loiro nada falou de imediato, parando para pensar naquelas palavras, e novamente sentiu uma sensação ruim, algo que lhe fez ter um arrepio.

Naruto passou o braço atrás de Sasuke e descansou a mão sobre o ombro dele.

- Eu prometo que sempre estarei aqui para você parceiro. Farei o que for preciso para lhe ajudar a superar tudo o que estiver passando, e não precisa me dizer agora, quando estiver mais confortável eu estarei aqui para se abrir - declarou Naruto dando uma leve chacoalhada nele. - Não se esqueça, éramos como irmãos no passado, e por isso sempre estarei contigo.

Sasuke lhe olhou sentido pelas palavras.

- Obrigado, Naruto.

O loiro assentiu lhe dando um sorriso reconfortante.

- Agora vamos, vai chover e ainda podemos comer algo no Ichiraku - Naruto piscou para ele. - Por algum motivo meu desconto voltou.

- Nem imagino o porquê - comentou irônico Sasuke, e Naruto deu uma curta risada.

- E eu e ela só saímos uma vez, imagine que posso ganhar ainda - ambos riram, se levantando e se dirigindo a trilhar para ir embora.

 

 

 

O que Naruto não conseguia ver era que à vários metros lá embaixo, exatamente a baixo do local que a mulher se jogou, onde as águas rugiam se chocando contra as pedras, o sobretudo negro de Sasuke esvoaçava entre as rochas, e uma foto dele apenas de perfil rasgada até a metade afundava nas águas turbulentas.


Notas Finais


Bom... Não teve momento NaruSaku, mas esse capítulo é muito importante para o desenrolar da estória e para acontecimentos futuros. O Sasuke têm um papel importante na história, assim como Naruto e Sakura.

Experimentei por esses trechos da música na fic, nunca tinha feito antes haha, se ficou bom me digam, pois desejo repetir no futuro.

Ps:(Ele não despertou o Sharingan hahaha)

Até breve!


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