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História Anything Could Happen - CAPÍTULO 4: Não Tem Muitas Pessoas Normais em Marchendon


Escrita por: NewbornsAutors

Capítulo 14 - CAPÍTULO 4: Não Tem Muitas Pessoas Normais em Marchendon


Maxwell passou grande parte da manhã dormindo por conta da viagem cansativa. O moreno nem ao menos tinha arrumado sua bagagem, deixando-a no canto de sua cama, ou até mesmo tomado um banho para trocar de roupas e retirar a famigerada farda de marinheiro.

Estava num sono tão pesado que nem acordou quando o sinal de final de horário letivo havia soado, onde a maioria dos alunos seriam dispensados, com exceção dos que utilizavam o alojamento ou então os que ficavam para as atividades extraclasse.

Porém o que o estridente sinal não conseguiu fazer, um jovem loiro conseguiu ao entrar no quarto correndo e batendo a porta com força atrás de si enquanto falava de maneira pesarosa no telefone com alguma pessoa em particular.

― Por favor, não faz isso com a gente. Eu te amo! ― O garoto exclamou com a voz embargada, segurando para não chorar e tornar a situação ainda mais patética. 

Maxwell encarava a situação sentindo-se incomodado por estar assistindo a cena à sua frente, já que aparentemente o loiro não havia notado sua presença, ou se notou, não se importou com a mesma.

— Eu não acredito nisso… Como você pode fazer uma coisa dessas e ainda dizer que é a minha culpa? — Questionou indignado, já não conseguindo mais prender o choro. — Quer saber… Espero que você e esse modelinho de merda se explodam! — Vociferou encerrando a chamada e secando suas lágrimas, finalmente se dando conta que não estava mais sozinho no quarto que até poucas horas atrás dormia sozinho.

― Olá. ― Maxwell saudou com uma típica cara de quem estava com sono, mas o loiro conseguiu notar o desconforto alheio.

― Oi. ― Devolveu tentando se recompor, analisando bem o rapaz de pele negra em sua frente e constatando que o mesmo lhe era familiar, porém não estava com cabeça para puxar algo em sua memória naquele momento. 

― Eu sou Maxwell. Pelo jeito iremos dividir o dormitório. ― Se apresentou estendendo sua mão direita para cumprimentar o garoto.

Com um pouco de desconfiança, o loiro apertou a mão alheia, ainda encarando Maxwell com a mesma expressão em seu rosto.

― Sou Trevor. ― O jovem se apresentou. — Sinto muito pelo que acabou de ver e ouvir… — Continuou em seguida. 

— Não se preocupe. Não me importo. — Garantiu com um sorriso sem graça. ― Algum problema Trevor? ― O Maxwell pediu confuso ao ver a maneira que o outro lhe encarava.

― Eu não tenho certeza, mas eu acho que seu rosto não me é estranho. ― Trevor explicou soltando a mão de Maxwell e indo em direção à sua cama, onde apenas pegou as roupas que nela estavam espalhadas e as jogou num canto qualquer do quarto, enquanto era observado pelo moreno.

― Se estudava aqui em 2018, provavelmente vai se lembrar. Eu era do segundo ano. ― Maxwell deu com os ombros se levantando e indo em direção ao banheiro. ― Eu só era mais magro e tinha os cabelos cacheados relativamente grandes. ― Falou um pouco mais alto para que o colega de quarto conseguisse escutar.

― Entendi. Acho que eu me lembrei de você. Tu é aquele cara que me deu um murro na cara porque eu colei chiclete no cabelo daquela garota, certo? ― Trevor falou com acidez, finalmente se recordando de Maxwell.

― Você é aquele garoto? ― Maxwell saiu do banheiro surpreso. ― Nossa... Como você está diferente. ― Confessou sorrindo.

― Idem. Bem vindo de volta. Eu só vim trocar de roupa e estou de saída. Pode voltar a dormir se quiser. ― O loiro deu de ombros, trocando sua camisa por outra que estava em sua cômoda e em seguida colocando uma touca em sua cabeça.

― Você já vai sair? Acabou de chegar… Não precisa ficar fora só por que eu estou no quarto. ― Maxwell falou confuso.

― Sinceramente eu não estou afim de ficar nesse lugar… Talvez eu vá encher a cara em algum local que não peça identidade. ― O loiro respondeu melancólico enquanto Maxwell assistia seus movimentos. — Mas pode ficar à vontade. Nos vemos mais tarde de qualquer forma. — Informou saindo do quarto.

― Boa sorte então. ― Maxwell desejou se trancando no banheiro para finalmente tomar seu banho.

O moreno, já dentro do box, escutou a porta do quarto ser batida com força, onde deduziu que o colega já havia saído do local. Não demorou muito para que ele tomasse seu banho e trocasse de roupas, descendo até a cozinha do alojamento onde só agora havia reparado em quão grande era a mesma.

Não demorou muito para que sua amiga Jesse entrasse no local e lhe fizesse companhia. Os dois colocaram o papo em dia, contando vários acontecimentos que aconteceu durante aquele ano, até que surgiu o assunto do namoro da garota.

― Falando nisso, onde está o ciumento do seu namorado. ― Maxwell brincou fazendo a garota rir.

― Ele está praticando boxe. ― Ela respondeu indiferente.

― E você não faz nenhuma atividade depois das aulas? ― Ele perguntou curioso.

― Eu ainda não descobri o que eu vou fazer. De qualquer modo, eu tenho até quinta feira para me inscrever, então sem muita pressa. ― Jesse deu com os ombros, tranquila em relação ao assunto. ― Me diz aí, porque desistiu de ser marinheiro? ― Indagou cutucando a barriga do amigo, fazendo-o sorrir.

― Digamos que não é o que eu pensei. ― Maxwell deu de ombros.

― Aposto que sentiu saudades de pegar a mulherada e não aguentou fazer sexo apenas uma vez por mês. ― A morena alfinetou, fazendo Maxwell gargalhar.

― Digamos que isso não era um problema pra mim. ― O mais velho deu de ombros.

― Aposto que não. Principalmente agora com esse corpinho delicioso. ― Ela confessou com um sorriso sapeca nos lábios.

― Eu digo o mesmo. ― Maxwell apontou para o corpo da amiga. ― Se eu fosse seu namorado eu também morreria de ciúmes de você. Qualquer um que se aproximasse eu partiria para a briga. ― Elogiou em seguida.

― Você não é qualquer um, você é meu melhor amigo. ― Jesse explicou revirando os olhos.

― Mas seu namorado não sabia disso. ― O garoto apontou. ― Enfim, o que vocês fazem para se divertir neste lugar? ― Maxwell perguntou curioso, ao mesmo tempo que empolgado.

― Qual é Max... A megera faz a vida de todo mundo aqui um inferno. Não existe diversão aqui quando ela está por perto e se existe ela logo acaba. ― Jesse riu ao se lembrar.

― E não tem nenhum lugar que vocês possam sair para se divertir? ― Ele perguntou surpreso.

― Hello! Eu ainda sou menor de idade querido. Tem um toque de recolher às dez da noite para quem utiliza o dormitório. ― A morena explicou revirando os olhos.

― Isso é uma pena para você, já que eu sou maior de idade. ― Maxwell debochou levando um tapa no peito da amiga.

Eles ficaram mais um tempo conversando até que resolveram dar uma volta pelo colégio enquanto colocavam o assunto em dia. Os dois foram até o mural central onde todos os formulários de inscrição estavam disponíveis para os alunos. Eles ficaram encarando com curiosidade as várias opções, até que Jesse iniciou.

― Por que não nos inscrevemos no coral? ― Ela apontou para o folheto do mesmo no mural.

― Não sou um bom cantor. Eu toco piano apenas, lembra? ― Maxwell ressaltou. ― Embora eu ainda cante melhor do que você. ― Brincou recebendo outro tapa da amiga.

― Cala a boca, seu idiota. ― Jesse sorriu se recompondo. ― Saiba que eu melhorei muito, sua mula. ― Ela deu de ombros.

― Qualquer coisa já seria um progresso no seu caso. ― O moreno alfinetou. ― Mas de qualquer maneira eu acho que cantar não seja muito a minha especialidade. ― Confessou.

― E que tal o clube esportivo? Tem várias atividades diferentes. Você com esse corpinho provavelmente se destacaria na maioria. ― A morena apontou para o mural, chamando a atenção do amigo.

― Você sabe que eu faço o estilo nerd, não é mesmo? ― Maxwell lembrou.

― Qual é? Eles têm Box, Rúgbi, Lacrosse, Basquete, Natação, Futebol, Soccer, Vôlei e até líderes de torcida. ― Jesse brincou com a última parte.

― Também tem o conselho de classe. Acho que pra mim serviria mais. ― O mais velho apontou.

― Deixa de ser chato Max. Vamos fazer um acordo? ― A menor propôs.

― Que seria? ― Maxwell arqueou a sobrancelha desconfiado.

― Se inscreve em qualquer um dos times esportivos e eu me inscrevo no Coral. Se quiser eu posso até ser líder de torcida para animar você. ― Jesse brincou.

― Tenho certeza que seu namorado iria adorar isso. ― O moreno provocou com um sorriso sínico.

― Eu já animo ele de outras formas, se é que você entende. ― Ela ressaltou com um sorriso pervertido.

― Por favor, abstenha-me dos detalhes. ― Maxwell pediu, fazendo uma careta.

― É o quê? ― Jesse indagou confusa.

― Me poupe dos detalhes. ― Ele explicou óbvio.

― Então porque não fala logo de uma vez? Pra que ficar falando palavras difíceis? ― A garota revirou os olhos. ― Não sou obrigada a andar com a merda de um dicionário só pra poder conversar com você sabia? ― Reclamou.

― Pelo visto seu humor não melhorou nada. ― Maxwell brincou, levando um terceiro tapa da amiga.

― Vai se foder, Max. ― Jesse deu de ombros, e assim os dois continuaram sua caminhada.

― Vai fazer o que mais tarde? ― Maxwell perguntou curioso.

― Eu vou sair com o Tyh. Vamos ficar um tempo juntos até dar a hora dele trabalhar. ― A morena respondeu sorrindo.

― Ele trabalha? ― O mais velho indagou surpreso.

― Sim. Ele entra às sete da noite e fica até uma da manhã. ― Jesse explicou.

― E deixam ele ficar até tão tarde fora do alojamento? ― Maxwell indagou confuso.

― Ele mora com o irmão, que por sinal é dono do bar onde ele trabalha. A casa dele fica no primeiro andar do estabelecimento e o bar em si fica no térreo.

― Entendi.

― Quer sair com a gente? Dar uma volta na cidade, sei lá. ― Jesse convidou empolgada.

― Tenho certeza que o seu boy iria adorar isso. ― O moreno respondeu com ironia.

― Qual é. É um bom motivo para vocês se conhecerem e ficarem amigos. ― A morena deu com os ombros indiferente.

― Se você diz... ― Maxwell concordou tranquilo.

~#~

Stanley estava se acomodando em sua mesa no meio da arquibancada do auditório da escola, para começar suas primeiras audições. Sentia-se estranho por estar naquela posição, sendo que meses atrás estava aonde os alunos estarão dentro de alguns minutos. Mas era seu trabalho e não poderia falhar, precisava trazer o troféu do campeonato nacional para a instituição no final do ano letivo, ou provavelmente não teria um emprego no próximo ano.

Organizando as fichas dos alunos que haviam se inscrito, verificou uma quantidade considerada alta comparada com sua antiga escola, onde as pessoas evitavam o Coral. Pelo menos sabia que teria com o que trabalhar no decorrer do ano. Ou menos era o que ele esperava.

Dando início as audições, começou com os alunos do primeiro ano, e um após o outro, fez com que as esperanças de Stanley decaíssem muito. Nenhum deles estava apto para uma competição, talvez ganhar algumas gorjetas em praças e metrôs, mas definitivamente não para uma competição.

A seguir vieram os alunos do segundo ano, o que trouxe certo alívio para o professor, já que sua irmã estaria no meio, e ele já conhecia os dons da jovem, porém esperava que mais alguém se destacasse, ou ele teria sérios problemas para preencher a equipe que se enquadrassem nas regras da competição.

Wendy foi a penúltima a se apresentar do seu ano, escolhera uma música da Adele, “Million Years Ago”, do último álbum da cantora. Sua irmã cantava bem, sabia controlar bem sua respiração e quase não perdia o tom. Mas ela ainda estava se segurando demais, e deixou a desejar nos agudos e na finalização.

— Wendy, acredito que talvez mais algumas sessões vão ser o suficiente para suprirmos os detalhes. Obrigado pela apresentação, o resultado sairá na próxima semana. ― Ele tentou soar o mais técnico possível, porém o sorriso atrevido da garota apenas mostrou que ele falhou miseravelmente.

Quando ela estava saindo do palco e um outro garoto estava entrando, ambos trocaram uma saudação bastante íntima, que fez Stanley se ajeitar em sua poltrona e arquear uma sobrancelha para o jovem que se posicionou no meio do palco e o encarou com um semblante astuto.

— E você seria...? ― Stanley começou a perguntar, sem conseguir desviar o olhar para a ficha em suas mãos, que continha o nome do garoto.

— Nathan Abel, ou apenas Nathan. Como preferir.

— E qual música você escolheu para apresentar? ― O professor perguntou absorto analisando a ficha do rapaz para ver se havia algo ali que lhe dissesse de onde sua irmã poderia conhecê-lo.

— Não sei, pensei que talvez você pudesse escolher alguma música. Não sendo de musicais, talvez esteja presente no meu repertório. ㅡ Nathan pediu ainda com um olhar astuto para o mais velho, que lhe encarou com os olhos semicerrados.

— Muito bem. Grenade, do...

— Bruno Mars, isso! ㅡ Completou o jovem animado. — Manda o som banda.

Stanley cruzou os braços e jogou-se contra a poltrona, algo naquele garoto lhe intrigava. E sua irmãzinha teria muito o que lhe explicar mais tarde quando fosse lhe interrogar. Mas tentando não ficar absorto em outros pensamentos, focou na apresentação. Que estava mediana, pois o garoto não estava muito dentro do ritmo, querendo acelerá-lo, sendo que era uma batida lenta.

Quando terminou, Nathan respirou fundo e fez uma reverência para as poltronas vazias, e Stanley captou o som de alguém batendo palmas na lateral do palco.

— Nathan eu não acho que você tenha interpretado muito bem o significado dessa música.

— Não faz muito o meu tipo músicas lentas ou melosas, então decidi incrementa-la. Talvez até mesmo torná-la melhor. — Disse com um encolher de ombros, porém nada em sua resposta transpassou humildade alguma, ele realmente acreditava que havia feito um bom trabalho.

— Espero que entenda o significado de estar em um coral, em uma equipe, e que talvez nem todos pensem como você. — Explicou o professor, fazendo algumas anotações na ficha do rapaz. — Os resultados saem na próxima semana, obrigado pelo seu tempo.

— Sempre que quiser. ㅡ Nathan respondeu com um sorrisinho insolente no rosto antes de se retirar do palco.

O professor suspirou e balançou a cabeça. Deveria imaginar que encontraria todo o tipo de alunos na América, mas não esperava encontrar um espectro de si mesmo perambulando por Marchendon. Mas tirou logo isso de sua cabeça e deu continuidade às audições, agora com os alunos do terceiro ano, os quais infelizmente também ninguém se destacou, para a sua decepção.

Após uma pequena pausa, retornou com os formandos daquele ano. E ele esperava que ao menos eles fossem salvar o grupo, ou não saberia o que iria fazer para completar todas as doze vagas obrigatórias do programa.

A primeira a se apresentar, era Kassie Blake. A garota desfilou graciosamente até o meio do palco e posicionou-se, aguardando as orientações.

— Você tem algo pronto para hoje, Sra. Blake?

— Eu nasci pronta, senhor. — Aquilo machucou o ego de Stanley, ele não era tão velho assim para ser chamado de ‘senhor’, porém conteve sua indignação e manteve-se impassível. — Posso começar? Ótimo. IDGAF, da Dua Lipa rapazes. — Disse ela aos músicos, que prontamente atenderam ao pedido.

A princípio, Stanley achou que ela iria ser consumida pela arrogância, porém quando começou a cantar, Kassie se mostrou estar acima das outras garotas que se apresentaram antes dela. Muito acima. Seu controle era quase impecável, Stanley esforçou-se para achar alguma oscilação na voz da garota, porém não encontrou, e ficou genuinamente interessado na performance.

— Meus parabéns, Sra. Blake. Devo admitir que fiquei muito impressionado, uma das melhores audições do dia.

— Novamente, nenhuma surpresa. Algo mais que preciso saber?

Stanley encarou-a por alguns instantes em silêncio. Essa atitude da garota poderia ser um problema se ele não interviesse logo, mas talvez aquele não fosse o momento ideal. Então, sorriu e apenas dispensou-a, como fez com todos. Recebendo uma virada de rosto e jogada de cabelo como resposta. 

Mas que vadia, murmurou consigo mesmo, incrédulo.

O próximo intrigou Stanley também, parecia um pouco nervoso, e inseguro de estar no palco. Irick Agron, parecia um pouco familiar para o professor. Remeteu-o ao seu primeiro ano da escola que frequentou em Londres. Talvez por isso tenha simpatizado com o garoto, o que tirou de sua mente a atitude ácida de Kassie.

— Certo, Irick, o que tem para mim hoje? — O mais velho perguntou analisando a expressão tentando entender o que se passava em sua mente.

Irick não o encarava nos olhos, sempre olhando para o chão. O garoto estava com os braços cruzados em frente ao corpo e seu nervosismo parecia aumentar à medida que os segundos passavam, o que deixou Stanley intrigado.

― Eu vou cantar Jealous do Labyrinth. ― O mais novo respondeu sem graça.

Stanley estranhou a escolha da música, tanto por seu tom melancólico quanto por não ser um artista ou um repertório muito conhecido pelos jovens da idade do mais novo. Na verdade Stanley só o conhecia por estar no ramo da música e trabalhar com variados estilos musicais, caso contrário nem ele conheceria a mesma.

― E há algum motivo especial para essa escolha? ― O professor indagou confuso, sendo respondido por Irick que ainda não desviava os olhos do piso do local.

― Ela tem um significado diferente para mim. Uma pessoa muito especial para mim está morta, por assim dizer, e essa música me remete ao tempo em que a gente era como um só. A cumplicidade, a amizade, a felicidade entre outras coisas... ― Irick explicou nervoso.

― Tudo bem então, pode começar. ― Stanley se acomodou melhor em sua cadeira, esperando o garoto iniciar sua performance.

A banda começou a tocar a música e o mais novo esperou sua deixa para iniciar. Irick tinha uma voz bonita. Realmente cantava com o coração e Stanley conseguia sentir a dor do mais novo em cada palavra cantada. Irick estava com os olhos fechados, e vez ou outra sua voz vacilava e desafinava levemente, mas logo ele conseguia retomar o controle para normalizar a mesma e Stanley conseguiu identificar o motivo disso. O garoto estava segurando o choro enquanto cantava. O sofrimento era palpável, mas ainda assim Irick conseguia entregar e expressar todo o seu pesar na sua apresentação, deixando Stanley levemente comovido e principalmente preocupado.

Os versos finais foram cantados e Irick finalmente havia aberto seus olhos olhando nos olhos do mais velho. Os mesmos eram muito bonitos, embora estivessem vermelhos e marejados.

O garoto nem esperou Stanley lhe dar um feedback de sua apresentação, pois ele havia saído do local em passos rápidos deixando a banda confusa com sua ação e Stanley estagnado em sua cadeira sem saber o que fazer.

Porém antes que pudesse sequer ir atrás do garoto, ou pedir para alguém fazer o mesmo, mais um aluno entrou no palco o que forçou o professor a manter-se no lugar e dar continuidade as audições. E para seu espanto, este também lhe chamou a atenção, mas pelo completo oposto do anterior, este estava extremamente radiante. Chegava até ser um pouco contagiante.

— Eu me chamo Roberth Austin, ou apenas Rob, se preferir senhor. — Novamente aquela formalidade que flagelava o ego do rapaz. — Se me permite, irei cantar I can’t fight this feeling anymore, do Lionel Richie.

— É uma escolha curiosa, Rob. Algum motivo em particular para isso? — O professor questionou curioso.

— Digamos que meu pai escuta essa música todo santo dia, então está meio que na ponta da língua. — Brincou o garoto com um encolher de ombros.

— Quando quiser, comece.

E conforme a música preenchia o auditório, Roberth desenvolveu sua apresentação. Era preciso e fazia bom uso do timing da canção, mas algo em sua voz deixou Stanley inquieto, havia algo mais, algo implícito e aquilo prendeu a atenção do professor, que dado um certo momento, interrompeu a apresentação, pegando o garoto de surpresa.

— Eu fiz alguma coisa errada? — Rob perguntou um pouco preocupado.

— Não, não. Você estava muito bem, porém... Será que posso pedir que recite alguns versos específicos? Tem algo que eu gostaria de avaliar. — Sugeriu o professor, e Rob assentiu um pouco hesitante. — Ótimo, você já deve ter ouvido Defying Gravity, do musical da Broadway...

— Wicked, sim. É um clássico. Todos já ouviram. — Completou o garoto, para agrado de Stanley, porém ele ainda parecia um pouco incerto. — Qual parte gostaria que eu recitasse?

— O ápice da música, por gentileza.

Concordando com a cabeça, Rob aguardou a banda se alinhar e reproduzir a música de fundo. Segurando firme o microfone em frente a sua boca, umedeceu os lábios e então, como Stanley já esperava, o garoto reproduziu o agudo da canção com perfeição e um timbrado digno da própria Idina Menzel.

Ao final da performance, Stanley aplaudiu de pé a desenvoltura do jovem, que o olhava um pouco sem fôlego e com as bochechas avermelhadas.

— Muito obrigado, Roberth. Os resultados saem na próxima semana. — Dito isso, o jovem assentiu e se retirou do palco.

As coisas finalmente estavam começando a ficar interessantes, para a satisfação de Stanley.

~#~

Irick havia saído desnorteado do auditório onde as audições estavam sendo feitas. O garoto estava embargado pelas lágrimas que escorriam sem ele conseguir controlar. Assim que ele terminou de fazer sua apresentação, ele havia percebido a péssima ideia que tinha sido a de se inscrever para o coral do colégio.

Antes que o professor Cole pudesse dizer qualquer coisa sobre sua apresentação, ele, movido pelo medo e insegurança, saiu correndo do local sem ao menos escutar o que o mais velho tinha a dizer. Provavelmente estaria lhe achando um louco por ter chorado durante sua performance e depois corrido.

Irick estava tão absorto, perdido em suas inseguranças que nem viu quando esbarrou num outro garoto. O mesmo corria com pressa para chegar no ginásio onde se iniciariam as provas para o teste de natação.

― Me desculpa. ― Ele falou com pressa, ajudando Irick se levantar e seguindo seu caminho até o ginásio, antes mesmo que Irick respondesse.

O loiro apenas deu de ombros e seguiu seu caminho em direção à biblioteca, um dos poucos lugares que ele tinha paz naquele colégio, porém se arrependeu ao chegar na porta do local, dando de cara com o irmão, Erick, que o empurrou bruscamente antes de seguir seu caminho.

― Sai da frente. ― O gêmeo mais velho ordenou quando seus braços moveram o corpo do irmão com força para tirá-lo de sua frente.

Irick se sentiu humilhado com a situação, principalmente por conta de meia dúzia de pessoas que assistiram a cena, fazendo-o perder completamente a vontade de ficar naquele local.

O loiro seguiu sem rumo, pensando seriamente em ir pra casa, afinal ficar trancado em seu santuário sem ninguém para lhe incomodar parecia ser a melhor coisa a se fazer.

Pensou em ir de ônibus ou até mesmo andando, já que não queria dividir o mesmo carro com seu irmão para ir pra casa.

Estava caminhando em direção à saída do colégio, quando foi parado por um belo moreno, cabelos castanho claro, olhos azuis e um sorriso simpático.

― Com licença... Poderia me dizer onde fica a diretoria do colégio? ― O garoto com um forte sotaque catalão perguntou.

― Siga o pátio principal para a esquerda. É a ultima sala. Tem uma placa na porta indicando. ― Irick respondeu sem graça, afinal raramente as pessoas falavam com ele.

― Muito obrigado. Eu sou Simon, sou novo aqui. ― O moreno estendeu suas mãos para cumprimentar Irick, que surpreso retribuiu o aperto.

― Irick. Seja bem-vindo. ― O loiro disse se despedindo e seguindo seu rumo.

~#~

Nolan estava sentado sobre seu skate em seu jardim enquanto mexia em seu celular. O garoto estava entediado e tinha que ficar do lado de fora de sua casa, já que Charlie estava fazendo faxina. Ele até poderia estar dentro de casa, mas no caso seria obrigado a ajudar o pai e isso era algo que ele não queria.

Charlie nesse momento estava ouvindo sua playlist específica para tal serviço. Ele estava lavando o banheiro enquanto cantava animadamente a música que tocava.

Caine estava sentado em frente sua mesa tentando preparar as aulas da semana seguinte, porém a música vinda da casa do loiro estava tirando sua concentração. Depois de bufar frustrado, o mesmo gritou seu filho, que estava no quarto fazendo uma tarefa escolar, não demorando muito para ir até o pai.

― O que foi? ― Ele perguntou curioso ao ver a expressão irritada no rosto do mais velho.

― Você pode ir até a casa daquele maluco e pedir para ele abaixar o volume do rádio? Está parecendo um hospício isso aqui e eu não estou conseguindo me concentrar no trabalho. ― Caine pediu impaciente.

― Que exagero pai. ― Roberth riu. ― Eu estou ocupado fazendo o trabalho do professor de história. ― Ele disse com ironia.

― Eu sou o seu professor de história Rob. ― Caine inquiriu confuso.

― Exatamente. Não sei para que passar tudo aquilo de tarefa, até parece que estava com raiva e descontando tudo nos alunos. Eu vou subir e terminar, porque eu não cheguei nem na metade. ― O garoto voltou para seu quarto deixando seu pai sozinho.

Caine suspirou, sabendo que aquilo sobraria para ele, mas infelizmente ele teria que se dar ao trabalho de se comunicar com Charlie para que ele pudesse trabalhar em paz.

Ele saiu de sua casa e pediu permissão para entrar no quintal para Nolan que deu de ombros.

― Será que você poderia pedir para o seu pai abaixar um pouquinho o volume da música? Eu não estou conseguindo trabalhar. ― Caine pediu para o mais novo sentado em seu Skate, porém este apenas revirou os olhos antes de dizer.

― A porta fica ali atrás e tem uma campainha ao lado. É só apertar que ele aparece na porta. ― Nolan respondeu entediado, colocando-se em pé e subindo em seu skate para em seguida sair pela rua.

Caine ficou surpreso com a resposta de Nolan, e balançou a cabeça negativamente, pensando, tão doce quanto o pai.

Ele ficou pensativo se tocava a campainha ou não, porém decidiu fazer pois tinha que preparar suas aulas e com aquela música tocando estava difícil.

Depois de apertar o botão, Caine não precisou esperar muito para que Charlie aparecesse na porta. O loiro estava com as mangas arriadas, uma bandana na cabeça, um avental escrito beije o cozinheiro preso ao peito e ele tinha um sorriso ao abrir a porta, porém esse desapareceu instantaneamente ao ver quem era.

― O que você quer? Estou ocupado. ― Charlie disse ríspido.

― Eu também estava, mas tive que interromper meu trabalho por conta dessa música. Será que você poderia fazer o favor de abaixar o volume? ― Caine devolveu sem humor.

― Até onde eu me lembro, não existe nenhuma lei que me proíba de ouvir música à essa hora da tarde. Se me der licença. ― Charlie falou com sarcasmo, batendo a porta na cara do mais alto, o que o deixou irritado e indignado.

Quando este estava saindo do quintal dos Hudson, ele se surpreendeu ao ver que Charlie havia aumentado ainda mais o volume da música e também aberto as portas e janelas para que ela não fosse estagnada pelas mesmas.

Caine sentiu seu rosto ferver com a raiva por conta da audácia do loiro, e se rumou para sua casa.

Não demorou muito e ele havia entrado em sua casa, batendo a porta de sua sala com força e assustando seu filho que havia ido na cozinha buscar um pouco de água.

― O que aconteceu? Achei que ia pedir pra ele abaixar o volume. ― O garoto perguntou confuso.

― Ele está querendo guerra? Então ele vai ter guerra! ― Caine falou com um sorriso sem humor.

O moreno foi em direção ao seu aparelho Blu-ray e conectou o seu som estéreo no mesmo. Em seguida ele abriu todas as janelas de sua casa e colocou as caixas de som voltadas para a casa de Charlie, colocando o volume no ultimo e deixando um dos CDs de seu filho tocar.

Uma música da Beyoncé começou a ser reproduzida e o barulho era tão ensurdecedor que os móveis e o chão da casa chegavam a tremer. Rob arregalou os olhos e se apressou em tapar os ouvidos por conta do alto barulho.

― Desliga isso pai. ― Ele tentou gritar, mas sua voz foi completamente abafada pela música.

Caine tinha um sorriso maligno nos lábios, olhando com satisfação pela janela ao ver a cara de ódio de Charlie na janela vizinha. O outro rapaz, para não ficar atrás, colocou seu som no ultimo e também aproximou as caixas de som da janela apontando para a casa dos Austin onde naquele momento ninguém conseguia distinguir qual era a música que tocava já que as duas se misturavam no ambiente.

― Eu desisto. Estou indo dar uma volta. ― Rob suspirou saindo de casa.

Já havia algum tempo que ele não dava um passeio com o seu cachorro e por isso ele pegou uma coleira e foi com o mesmo em direção à uma praça que havia ali perto.

A praça estava lotada com várias crianças brincando e muitos grupos de adolescentes de diversas tribos conversando entre si.

Roberth soltou seu cachorro da coleira e deixou que o mesmo corresse pelo lugar enquanto ele se distraia com a movimentação, ou pelo menos tentava, já que sua cabeça não conseguia deixar de pensar nas ações de seu pai que haviam mudado desde a chegada dos Hudson na casa ao lado.

Lembrou-se do fiasco que foi o jantar de boas-vindas em sua casa no domingo passado e em como o pai começou a agir depois disso.

Ele chegou a perguntar ao pai qual o motivo de tudo aquilo, mas o mais velho sempre desconversava ou mudava de assunto e agora os dois estavam naquela guerra de músicas mais do que infantil. “Só espero que ninguém chame a polícia”, o mais novo suspirou pensativo.

Roberth foi desperto de seus devaneios quando viu Nolan passar de Skate um pouco mais à frente. O moreno se levantou do banco em que estava e chamou a atenção do outro que o olhou desconfiado, mas mesmo assim seguiu em sua direção.

― Oi. ― Rob cumprimentou sorrindo.

― E aí. ― Nolan respondeu indiferente.

― Como você está? ― Perguntou interessado.

― Tranquilo. Você quer alguma coisa? ― Nolan indagou com pressa.

― Só queria conversar. Você se inscreveu no coral do senhor Cole? ― Roberth perguntou sem graça, puxando assunto em seguida.

― Dispenso. ― Nolan deu de ombros. ― Não estou afim de bancar o... Deixa pra lá. ― O garoto suspirou pensativo, decidindo não terminar a frase.

― O que foi? ― Rob perguntou curioso e surpreso.

― Eu estou indo para casa. Até. ― Nolan não respondeu, seguindo seu rumo.



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