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História Ápeiron - Úmido


Escrita por: Voltarie

Notas do Autor


Boa leitura <3

Capítulo 6 - Úmido


 

~***~


 

    Pensava consigo mesmo quando foi que o moreno de sorriso caloroso lhe chamou tanto a atenção, ou quando que se perdeu nos brilhos de seus olhos completamente belos e sinceros e se lembrou de quando se conheceram: era apenas um dia normal no Monte Olimpo onde pássaros se escondiam da sua presença assustadora e ninfas cochichavam no extenso jardim onde residia plantas únicas e bonitas, não que se importasse.

    Era acostumado com os dias serem sem cores e opacos, processava e realizava tudo no automático e tampouco se importava em esconder sua cara do quanto sentia desgosto de comparecer no Olimpo, ver Zeus e também ter que interagir com os demais deuses, quase nunca o fazendo.

    Houve outrora uma vez que, durante sua rotina de reuniões em que entregaria um relatório breve para os deuses, Demeter apresentou seu mais novo filho que se chamava Perséfone. Em sua visão não passava de mais uma criança que terá seu destino traçado pela mãe louca – em sua visão – e ser usado por Zeus das piores formas que poderia pensar, não se importando o suficiente para intervir em alguma coisa.

    Não gostava e nem tinha a vontade de se intrometer na vida alheia, tampouco observar mais vezes do que o necessário para gravar as pessoas na cabeça, ou até direcionar uma palavra para as mesmas. Porém, em mais um dia que consideraria normal se não fosse um incidente, teve sua atenção redobrada quando a mesma criança da qual Demeter falou aparecer diante de seus olhos.

    Estava mais estressado que o normal e não se importaria de tirar a vida de quem aparecesse em sua frente, ao menos era o que achava.

-Sai do caminho, criatura estranha. – Proferiu as palavras quando o filho de Demeter, conhecido por Perséfone, parou estático à sua frente e ficou o encarando com uma expressão da qual não poderia descrever e nem saber o que ele está pensando, coisa que o irritava mais ainda.

-Não. – Ele respondeu ainda parado, olhando-o de cima com uma feição que deduziu ser séria. 

-Não? – Riu com escárnio e liberou suas mais assustadoras sombras para se divertir da expressão de medo do mais novo, querendo provocar alguma reação que não fosse uma séria, falhando. Nem sequer se movia. – Some daqui.

-Não. – Continuou falando e isso fez subir uma veia em si. O que essa criança birrenta pensa que está falando para o deus do submundo? Pensou. – Moço, você é triste. – Nem teve tempo de processar o que a criança falou e logo a mesma tratou de continuar. – Eu não entendo. Você tem tudo, mas age como se não tivesse nada. Você vai ao Olimpo, mesmo não fazendo nada aqui. Você conversa, mesmo não querendo. Tudo que você faz é automático e você é triste. Eu não gostaria de ser você.

-O qu... – E quando ia responder, percebeu que não tinha o que falar contra as palavras do menor, primeiro por Demeter ter aparecido e puxado o menino para o mais longe possível de si; segundo por saber que no fundo ele estava certo. 

Mas o que mais o assustou, tirando o fato de o mesmo não ter medo de suas sombras ou ter acertado em cheio sobre o que falou, não foi a criança bater de frente consigo.


 

Foi perceber que o menino tinha cores diferentes de preto e branco.

 

~***~


 

    Após o acontecimento que aconteceu com Sanji e os demais envolvidos, Luffy desmaiou por estresse acumulado, revelando que sabia das situações do amigo loiro, estranhando ter desmaiado só por isso. Agradeceu a Law por não ter saído ao seu lado enquanto estava dormindo e por o manter informado do que aconteceu, recebendo a resposta de que os amigos planejavam conversar sobre o assunto mais tarde.

    Zoro estava acabado e todos perceberam isso, tristes por não conseguir ajudar e Chopper tratou o mesmo em sua casa onde agora estavam todos do grupo olhando apreensivos para o amigo de cabelos verdes que estava sentado na poltrona enquanto tomava uma vitamina cheia de nutrientes feita pelo médico do grupo.

    A situação não poderia ser pior, todos que estavam na sala ficaram em silêncio após o esverdeado os chamar para conversar e até agora ninguém conseguiu proferir uma palavra sequer para o grupo, o clima estava pacato e nenhum dos integrantes tinha coragem ou vontade de proferir algo depois do incidente terrível que aconteceu.

    Não que não tivessem noção do quanto a família de Sanji poderia ser cruel, só não estavam preparados para o baque que foi o mesmo ter que se casar com alguém para manter a influência da família e isso assustou a todos, incluindo Luffy, esse que surpreendentemente encarava o chão sério ao lado de um Trafalgar tentando confortar o menor.

-Então... – Robin pronunciou e teve o olhar de todos sobre si, voltando a falar quando viu a confirmação do amigo. – O que queria falar para nós, Zoro?

-Quando eu ia para o Baratie com o sobrancelhudo, de vez em quando aparecia uma garota estranha de cabelos castanhos. Ela se chamava Pudding e era um pouco bipolar, parecia gostar dele... Eles conversavam ora ou outra, mas o Cook sempre deixava claro que não queria nada com ela e depois de uma discussão, que foi semana passada, ela parou de visitar o restaurante e pensávamos que tinha acabado.

-E você acha que tem a ver com o fato do irmão dela aparecer para afirmar que eles iam se casar? – Nami perguntou.

-Sim. Ela sempre foi louca o suficiente para isso e por causa disso o Cook deixou de falar com ela. – Bebia mais um gole da sua vitamina a contragosto por um Chopper satisfeito. – Também tem a família dele... Ah cara, é tanta coisa...

-Por que a família dele é tão fascinada por ele? – Kid perguntava enquanto observava os amigos suspirarem, não entendendo que poderiam simplesmente deixar ele em paz.

-Acontece que essa garota é apaixonada por ele. E a família Vinsmoke recentemente tem caído no comércio da empresa de Judge, e isso fez eles voltarem atrás do cozinheiro para conseguir lucrar nele. 

-Então acontece que a família do Sanji está falindo, eles voltaram a procurar ele porque sabiam que aquela menina é apaixonada nele, usaram isso a favor de subir no comércio, casarem e ter parceria nas empresas? – Sabo falava enquanto listava os acontecimentos com os dedos, recebendo um aceno positivo de Zoro. – Caralho.

-A família Charlotte é popular? – Law pergunta e recebe um olhar incrédulo de todos, menos de Luffy que continuava encarando o chão sério.

-Não, imagina. Só a empresa de doces mais popular da Ásia, fora isso não. – Usopp falava perplexo pelo tatuado não ter conhecimento do quanto a empresa é influente, e todos compartilhavam da reação do moreno de cabelos cacheados que falava com ironia.

-Eu decidi. – Luffy finalmente levanta a cabeça e encara todos os amigos com uma expressão determinada, e Nami logo viu que teria coisa ali. – Eu vou meter porrada na família do Sanji e pegar ele de volta. – Ele disse e Kid começou a rir pela impulsividade do garoto. Nami o encarava decepcionada, Robin sorria da sua atitude, Usopp e Chopper choravam no canto e o resto portava a mesma feição assustada.

-Não, você não vai. – Sabo, Jinbe e Law falaram ao mesmo tempo, se olhando cúmplices.

-Eu suuuuuper apoio essa ideia. – Frankin falou de sua forma exagerada, juntando os braços e rindo da expressão que os mais responsáveis do grupo falaram.

-Lu-ya, a gente vai ser preso. – Trafalgar alerta tentando fazer o amigo raciocinar sobre o que estava planejando.

-Não ligo! – Respondeu e olhou para o amigo tatuado de forma sorridente, ação que fez o outro desistir e esconder o rosto vermelho.

-Já era, o Luffy enfeitiçou o Law. – Kid falava enquanto ria do mais novo corado por apenas um simples sorriso.

-Eu concordo. – Zoro disse e Nami avançou sobre si, o fazendo segurar os dois braços da mesma. – Calma, deixa eu continuar. Há grandes chances da empresa de Judge trabalhar com coisas ilegais.

-Como que você sabe disso tudo, Zoro? – Luffy pergunta e logo balança a cabeça, sorrindo ansioso pelo que resolveu fazer. – Shishishi, não importa, só quero bater na cara deles.

-Ele me contou tudo e acabou que isso foi útil.

-Yohohohoho! Toda essa tensão está me deixando velho! Vamos escutar uma música. – Brook fala e aparece com um violino que Law se perguntou de onde ele tirou tal objeto ou se só andava com ele por todo canto, aliviado por terem mudado de assunto no momento.

    Robin explicou para Luffy que ela e Frankin pediram desculpas pelo incidente e que o moreno de chapéu de palha iria continuar trabalhando de graça até pagar a dívida do estabelecimento, afirmando que não iriam causar mais confusões e que estava tudo resolvido. Luffy agradeceu sorrindo para o casal que retribuíram com um singelo curvar de lábios, partindo para sua casa em seguida.

    Exaustos mentalmente e fisicamente – o último sendo Luffy e Zoro – o grupo de amigos, com exceção de Ace e Sabo, decidiram que dormiriam na casa de Chopper, que foi quem sugeriu. Montaram vários travesseiros na sala, com cobertores por todo o extenso chão, colocaram filmes de terror e foram assistir para esfriar a cabeça e, quem sabe, ajudar Zoro a esquecer do assunto temporariamente. 

    Ficaram assistindo todas as sagas famosas de filmes assustadores até tarde, caindo no sono depois de assistir cinco filmes direto. Estavam cansados do que ocorreu e uma prova disso foi o amigo esverdeado que assim que começaram a assistir, acabou dormindo no sofá e apagou durante toda a madrugada. A noite se resumiu em Luffy rindo de Kid que encarava perplexo a falta de roteiro que fizera os protagonistas enfrentarem o mau cara a cara, Chopper, Nami e Usopp gritando a casa segundo agarrando as pernas de Zoro que se acomodaram no colo dos três, Law assistindo entediado o filme e vez ou outra olhando Luffy e Brook assustado pelo seu próprio reflexo após a televisão desligar.

    Eram por volta das quatro da madrugada quando Law acordou assustado de um pesadelo que tivera, coisa que era normal desde que se conhece por gente, tardando a aparecer agora que reencontrou Luffy. Olhou ao redor e se deparou com os amigos dormindo, estranhando o fato de que nem Nami, Kid e Luffy estavam presentes na sala, se levantou e caminhou em direção a cozinha para espairecer e beber água.

    Andando em direção ao local, não deixou de perceber a aparência da casa que era delicada, maioria das cores brancas e sorriu de canto após chegar na cozinha e ver uma prateleira coberta de vários doces e percebeu que o médico era apaixonado pelos mesmos. Perdido em pensamentos sobre diversas coisas que aconteceram atualmente, andou em direção a geladeira em busca de água e se assustou quando viu Luffy parado na frente do móvel.

-Caralho! – Disse e tampou a boca com medo de acordar alguém, com uma mão no peito se recuperando do susto. – Luffy-ya, o que você está fazendo essa hora acordado?

-Lanchinho da madrugada, shishishi. – Respondeu, oferecendo um brigadeiro que encontrou na geladeira que foi recusado educadamente pelo amigo. – E você? Não tá com uma cara boa, Tral. – Se aproxima do mais novo e senta na bancada da cozinha, balançando as pernas.

-Eu tive um pesadelo. – Após ver a expressão preocupada do mais velho, sorri e continua a falar. – Mas é normal. Nada que ir pra cozinha e beber leite não resolva. – Ah, você viu o Kid por aí?

-Nem, eu só fiquei aqui na cozinha mesmo. Mas vi a Nami na varanda, acho que eles estão lá. – Comia o pote de brigadeiro enquanto olhava para Law e sorriu após ter uma ideia. – Tral, abra a boca e feche os olhos.

-O quê? – Corou da cabeça aos pés pela frase que o amigo falou, logo recebendo um olhar de cachorro abandonado para o fazer realizar a ação, e como não conseguia dizer não a Luffy, fez o que o mesmo pediu, se surpreendendo por sentir um gosto doce nos lábios e saboroso, logo tratando de engolir o brigadeiro que Luffy colocou em sua boca. Abriu os olhos, ainda vermelho e surpreso pela ação do outro e tossiu como forma de esconder a vergonha. – Até que não é tão ruim.

-Shishishi.

    Ficaram se encarando por longos segundos, nenhum tendo coragem de tirar o contato visual que colocaram em si, Law atraído pelo olhar e sorriso do menor e Luffy perdido no sorriso nem tanto raro que o outro dava para si e saíram do transe quando viram risadas baixas, mas altas o suficiente para perceberem, olhando para frente e vendo pela cortina da varanda Nami que ria de algo que Kid contava. Law sorriu.

-É amigo do Kid desde quando, Tral? – Luffy perguntou.

-Desde os 11 anos.

-Vocês são bem próximos, né?

-Sim.

-Tral, pode falar alguma memória de nós dois? – Olhou para o mais novo que sorriu pequeno, se levantou e guardou o restante do brigadeiro na cozinha e se apoiou igual o maior na bancada.

-Quando a gente se conheceu, a primeira coisa que você me disse foi que eu era triste. – Falou e recebeu um olhar confuso de Luffy. – Que apesar de eu ter tudo, como um pai, dinheiro e outras coisas, eu era triste e ia para a escola mesmo não querendo.

-Wow, eu disse isso? – Riu e empurrou o tatuado de leve, voltando a olhar para a dupla na varanda. – Foi mal, shishishi.

-Sim. Também teve outra vez que você ganhou de mim em uma lutinha e ficou todo feliz correndo no corredor, foi fofo. – Disse enquanto ria das memórias, gesticulando animado por lembrar de bons momentos. – Eu lembro de uma vez quando a gente se reencontrou depois de dois meses e você veio correndo me abraçar, todo mundo do Olimpo ficou com uma cara de “Trafalgar Law abraçando alguém?” e foi hilário.

-Olimpo? – E apesar de ter amado o quanto o mais novo estava animado e alegre por lembrar dos momentos que tivera consigo, Luffy não deixou de perceber que o mesmo falou algo do qual achou estranho. O que ele quis dizer com Olimpo?

-O quê? Ah, não, falei errado. Esquece. – Se embaralhou e andou com o objetivo de voltar para a sala e dormir, sendo segurado por Luffy.

-Boa noite, Tral. – Segurando as mãos que considerava frias, se aproximou do mais velho e circulou seus braços ao redor do mesmo, dando um singelo abraço. Law se sentiu nas nuvens, tampouco se importando se alguém iria ver, também retribuiu o abraço com um sorriso nostálgico. Luffy olhou para si e sorriu mostrando os dentes, vermelho pelo que fizera, e correu em direção ao sofá da sala e se acomodou lá, deixando um Law repleto de pensamentos e com uma certeza em mente.

 

    Luffy cheirava a chocolate. 


 

    Os dias se passaram lentamente para todos os amigos que carregavam o mesmo tipo de sentimento ansioso e também animado para por o plano em prática e sem dúvidas o que mais esperava era o garoto de chapéu de palha, sendo mais hiperativo que o normal. Foram exatas duas semanas em que Sanji não compareceu à escola e duas semanas que Zoro não conseguia dormir direito e todos perceberam. Estava a cada dia mais abatido e preocupado com o loiro, esse que não deixou nenhuma pista do que acontecera consigo.

    A contragosto e sendo totalmente forçado pelos irmãos, Luffy continuou trabalhando para pagar a sua dívida e quase sendo expulso do restaurante por não parar quieto e comer sobras de pratos. O grupo de vez em quando ia para o Baratie em busca do amigo que também sumiu por lá, e eles trataram de explicar tudo para Zeff que prometeu ajudar no que puder.

    Chopper tinha sua preocupação em dobro pelos amigos que não se cuidavam direito – sendo esses Zoro e Luffy - e terminava por cuidar mais vezes que o normal a dupla encrenqueira que por estarem mais estressados que o comum, acabaram por entrar em mais brigas e consequentemente deixando um Law e uma Nami sem paciência.

    Trafalgar lia um de seus livros alugados através da biblioteca da escola, admirando o som calmo e a brisa quente do sol naquela tarde enquanto ouvia gritos de longe que deduziu ser do clube de esportes, sentia o cheiro de comida recém tirada do forno do clube de culinária e esses raros momentos o deixava ter os pensamentos em dia. Era acompanhado de um café que comprou no refeitório e cantarolava alegremente uma música da qual gostava muito, quando de repente seu momento de paz foi retirado quando um Kid eufórico aparece abrindo com força a porta da biblioteca, respirando em plenos pulmões e revelando uma frase que o surpreendeu mais do que deveria.

-O Sanji tá aqui! – E essas palavras foram suficientes para fazer Law fechar o livro que segurava e correr direto para onde Kid estava o guiando.

    Suspirou aliviado quando viu o Vinsmoke sendo “checado” por um Chopper tenso, um Zoro mais alterado que o normal, uma Nami chorosa acompanhada de Brook e Usopp e por último um Luffy que não parava de gritar se estava tudo bem com o amigo.

    Observava atentamente a situação que seria cômica se não fosse trágica e ouviu gemidos de dor do loiro de sobrancelhas estranhas, segurando a respiração em seguida. Chopper abriu os botões de sua camisa, a levantando cuidadosamente e revelando um abdômen totalmente maltratado pelo que deduziu ser marcas de chicote e todos o encararam surpresos.

-Sanji! – Luffy dizia enquanto avançava no amigo e olhava de perto as feridas do mesmo, encarando o outro perplexo e engoliu seco. – Como... Como isso...

-Calma! – Dizia ao mesmo tempo que afastava o amigo de madeixas negras e suspirou pesado. Odiava os olhares de pena direcionados a si e deixava claro o quanto desgostava dessa situação que achava desnecessária. – Está tudo bem, pessoal. Pensei que já tínhamos passado dessa fase. – Falou e riu fraco, tentando amenizar o clima pesado e coçou a nuca. Isso seria mais difícil do que achava que seria, pensou.

-Fase? – Zoro finalmente falou com o loiro e todos podiam sentir sua voz totalmente amarga e tudo piorava quando ele sorriu de canto. Nami prendeu a respiração. – Você só pode estar brincando com minha cara. – Se aproximava do outro que o olhava com uma feição nada divertida e sim tensa, abaixando a cabeça. – Esse sorrisinho falso, falando merda. Eu odeio isso. – Encarava Sanji com dor nos olhos que só o loiro sabia que ele tinha, ouvindo outra risada totalmente fria e odiava o quanto Zoro mexia com ele, uma prova disso sendo as lágrimas que se formaram em seus olhos. – Você não consegue nem olhar na minha cara. 

    Todos se assustaram quando ouviram um golpe certeiro na mesa da enfermaria que estavam e logo viram a mesma sendo quebrada por um soco de Zoro, esse que fez Sanji recuar mais ainda.

-Olhe para mim, Sanji! – Berrava para o garoto de sobrancelhas estranhas que já não mais escondia suas lágrimas, não conseguindo proferir nenhuma palavra.

-Zoro, por favor, pare! – Nami abraçava o amigo por trás, também chorando, sentindo todos os músculos tensos do esverdeado que olhava para a mesa que quebrou e para Sanji que chorava silenciosamente. Seu olhar era distante, seus olhos já começavam a lacrimejar e não tardou de sair pela mesma porta que entrou, sendo seguido por um Luffy que ordenou a Sanji para não desaparecer enquanto estiver fora. – Sanji-kun...

-Eu sei. Eu sou um babaca. – Dizia enquanto deitava na cama da enfermaria e usava seus braços como travesseiro, olhando para o teto e sorrindo amargo. – Mas sabe, Nami-san. Eu não me arrependo. Eu faria a mesma coisa incontáveis vezes se for para deixar vocês a salvo.

-O que você quis dizer com isso? – Law perguntou.

-Se eu me casar... – Bocejava enquanto sentia todos os músculos de seu corpo relaxarem quando respirava e recebia um carinho na cabeça de uma Nami que não parava de chorar. – Vocês vão ficar bem.

    O rapaz de cabelo loiro e olhos da cor do céu sorria para cada um dos amigos que estavam naquela sala, seu rosto com vestígios de lágrimas e seu corpo com marcas das quais teve certeza que o que estava vivendo era real. Conseguiu dar um último sorriso sincero antes de desmaiar de exaustão e olhou por segundos todos os amigos, tendo a certeza de que o que tinha feito valeu a pena.

    Ficaram o resto do dia na enfermaria, Chopper não tardando de explicar para o diretor a situação do grupo e afirmando que eles não trariam trabalho para a escola; de noite todos foram para a casa de Luffy, esse que minutos depois de chegar com Zoro em sua casa foi obrigado pelos irmãos de trabalhar no restaurante, chamando um Táxi pelo caminho ser longo e perigoso a noite. 

    Sabo e Ace se preocuparam com o amigo do irmão, ficando tristes por poderem ajudar e o irmão mais velho afirmou que se o que planejava der certo Sanji poderá ter paz. O seu plano consistia em trabalhar na empresa do pai do Vinsmoke e flagrar o mesmo vendendo coisas ilegais. Graças ao que o mais novo contou da vez que viu o pai vender sacos de drogas aos seus 10 anos de idade, a dupla de irmãos tentariam usar isso contra Judge e ver ele atrás das grades.

    Sanji cozinhava um jantar para todos como forma de agradecimento quando atendeu um telefonema que o fez empalidecer dos pés à cabeça. Falou para os amigos que teria que ir para casa e resolver assuntos do casamento, sorrindo pela tentativa de ajuda de todos e acreditando na pequena esperança de que conseguiria dar um jeito em sua vida, afirmando tentar de tudo para também por o pai nas grades.

    O tempo se passou e o clima ficou estável e alegre quando Brook cantava uma música e Usopp dançava para distrair uma Nami preocupada, conseguindo com sucesso e arrancando risadas de Kid que também dançou com eles. Frankin e Robin mandaram mensagens de apoio e pediram desculpas por não conseguirem visitar o amigo loiro, Jinbei visitou eles após a saída do Vinsmoke e falou com ele por um curto período de tempo, pois o mesmo estava apressado. Sanji e Zoro não trocavam uma palavra e todos os amigos perceberam isso.

    O horário passou e os irmãos mais velhos de Luffy verificaram a hora após terminar uma sessão de karaokê, Sabo chamando a atenção de Ace.

-Temos que buscar Luffy. – Sabo falou para o irmão que se jogou no sofá fazendo um bico preguiçoso.

-O carro tá na oficina e eu tô dormindo. – Respondeu e assim que falou pegou no sono, arrancando risadas do grupo.

-Eu posso chamar um táxi e pegar ele se quiser, Sabo-ya. – Law sugeriu.

-Ah, por favor, Law! – Sorriu para o de tatuagens e se despediu junto com os amigos e notou um olhar provocativo de Kid para Law que deu o dedo do meio para o mesmo.

    Andando pela rua antes de chegar o táxi, Trafalgar não deixou de reparar o quanto conseguiu se sentir à vontade com os amigos do Chapéu de Palha. A sensação era estranha, juntamente com o aperto no peito de estar se apegando demais e apesar de ter reencarnado como um, não confiava cem por cento dos humanos. Devido a ter a mesma mentalidade e memórias de sua antiga vida, juntamente com a atual, teve que treinar junto com Kid para não enlouquecer: tinham mais de 4.000 anos de idade e isso não seria humanamente possível se fosse alguém normal.

    Pesado fora os dias em que tinha ataque de pânico por ter mais memórias do que deveria, ou por ter uma mentalidade diferente e até por ser sozinho em um novo mundo totalmente inexplorado, sem contar a rotina totalmente diferente da qual era acostumado; ora, era Hades, tinha tudo em suas mãos e passou por várias guerras e sangues na sua pele. As crises de ansiedade por não conseguir encontrar Luffy, ou até por causa de conviver com os humanos que julgou e brincou com seus destinos como se fossem nada o deixou desesperado e não conseguia dormir grande parte da sua vida.

    Kid portava do mesmo sentimento de ter memórias acumuladas, porém menos intenso devido a não sofrer tudo que o amigo sofreu, mesmo assim entendendo do sentimento e ambos se ajudaram nos problemas que tinham. 

    Entrou no táxi que não demorou a chegar quando saiu da casa dos três irmãos, partindo para o restaurante e conseguiu ver o céu nublado cobrindo a lua que deveria ser bela em sua visão. Chegando no local, se deparou com um Luffy quieto sentado em um banco de fora do estabelecimento, segurando nas costas a sua mochila de tamanho médio e Law sentiu o cheiro de frutas doces quando se aproximou do moreno, se surpreendendo por ele ter tomado banho.

-Oi Tral– Luffy sorriu quando viu o amigo tatuado se aproximando de si.

-Como foi o trabalho hoje? – Se sentou ao lado do mais velho e cruzou os braços, atento aos movimentos do menor. 

-Foi bom, na verdade foi chato, mas eu gostei porque consegui comer o resto de comida que um cliente deixou, só que daí eu lembrei que o Sanji fazia comida bem melhor que essa e eu fiquei triste. – Dizia e gesticulava com as mãos, olhar fixo em Law que achou a cena adorável. – Aí não consegui me concentrar e fui péssimo, mas o gerente parece gostar de mim então deu tudo certo no final.

-Entendo. As comidas do Sanji-ya são ótimas e estou ansioso para comer mais delas. – Sorriu confortante para o menor e mudou totalmente seu humor quando gotas de chuva caiam em seu cabelo. – Droga. Toma, vista isso. – Tirou seu sobretudo e colocou na cabeça do menor, usando suas mãos para se proteger da chuva e procurou com os olhos algo para poderem se abrigar.

-Torao! Você vai se molhar. – Luffy se aproxima e usa o sobretudo para proteger ambos e Law o puxa para um ponto de ônibus que tinha teto. Se encontravam cansados devido a correria pelo local ser consideravelmente longe do restaurante e se sentaram no ponto, Luffy ouvindo o tatuado praguejar baixo.

-Não tem mais ônibus essa hora e eu esqueci meu celular na sua casa. – Falou e massageou os olhos.

-Ei Torao – Luffy se levanta e sorri para o mais novo que engole seco: Luffy sorrindo é perigo. – Vamos tomar banho de chuva! – Law arregalou os olhos.

-Você tá louco? Sabe quantos graus tá aqui? Eu tô me tremendo de frio! – Dizia enquanto se aquecia com as mãos e olhava perplexo o mais velho que não parava de rir da expressão do outro.

-Vem Tral! – Puxou o chapéu do mesmo que se levantou alarmado, tentando pegar o acessório e quando percebeu estava correndo na chuva e rindo dos tropeços do rapaz sorridente. – Você tá na chuva, shishishi.

-Me devolve! – Falava enquanto ria de Luffy que corria desajeitado pelo local e desistiu de tentar pegar o chapéu. O moreno se aproximou de Law, pegou seu chapéu de palha e colocou nas madeixas negras que tocou semanas atrás, colocando o chapéu de cogumelo em si. – Você é inacreditável, sabia?

-Vamos dançar. – Puxava para o meio da pista, colocando uma mão no ombro do mais novo e a outra em sua cintura. Ria dos passos robóticos que o outro dava e não tardou de guiar o ritmo da dança, pisando de vez em quando pisando no pé do tatuado e pedindo desculpas rindo da expressão de desgosto do outro. Cantarolava um som do qual Law não conhecia, porém não achava ruim, logo liderando o ritmo da dança e rindo por absolutamente nada e o momento parou quando o garoto de chapéu de cogumelo espirrou.

-Vamos para minha casa. É a uns 5 minutos daqui. – Law puxa a mão do outro colocando novamente seu sobretudo na cabeça do mesmo e andando pela estrada vazia por causa do horário – lê-se correndo atrás de um Luffy agitado – e Trafalgar balançou a cabeça negativamente.

    O tempo se passou, Luffy parecia ter se acalmado e o sobretudo o ajudou a não espirrar mais, deixando o tatuado contente. Entraram na casa do mesmo, tirando os sapatos e correndo para o banheiro e Law deu uma muda de roupas para o mais velho que tirava sem pudor as vestimentas encharcadas. 

    Colocando as roupas no varal para secar, Law entra no banheiro depois do Mugiwara ter saído já vestido e com cabelos úmidos e toma seu banho, voltando para seu quarto depois de 10 minutos e se deparando com um Luffy curioso que ao olhar para si fica vermelho e desvia o olhar.

    Ambos bem vestidos estavam na sala enquanto assistiam um programa aleatório da televisão e tomavam chocolate quente feito por Law, esse que mandou mensagem pelo computador para Kid falando que Luffy dormiria na sua casa.

    Estavam em um silêncio reconfortante - por incrível que pareça – e não se preocupavam em quebrar, Law lia um livro enquanto o outro moreno prestava atenção no documentário de animais. O tempo se passou e Trafalgar se surpreendeu por estar relativamente calmo na companhia do mais velho e ficou feliz por isso, sentiu que se fosse ele mesmo daria certo para ficarem juntos.

- “Tão misterioso quanto à fora, as incontáveis criaturas que obedecem cegamente aquele que comanda abaixo do solo se agitaram ao perceber que viram o céu vermelho pela primeira vez” – Luffy virou seu olhar para Law, apontado para o livro de capa azul que o mesmo lia, sorrindo pela expressão transparente do tatuado. – Essa é a minha frase favorita desse livro. Apesar de não falar muito sobre esse personagem, é legal terem confiança em você.

-Não sabia que lia. – Fechou o livro e olhou curioso para o menor.

-Não leio, mas gostei desse livro. – Admitiu e por fim deu o último gole no chocolate quente, lembrando de uma dúvida que tinha guardada. – Cadê seus pais?

-O Cora-san viajou por causa do trabalho e eu não tenho mãe. – Respondeu.

-Entendo. – Se levantou e estalou os ossos da coluna, sorrindo para o outro e bocejando em seguida. – Tô com sono. Onde eu vou dormir? – Perguntou.

-Tem um colchão extra no meu quarto, você pode dormir lá. – Luffy afirma e vão em direção ao quarto, se acomodando em cada móvel e deitando em seguida. Ambos não sabiam o que falar, o clima estava agradável e os dois se sentiam confortáveis um com o outro.

    Olhando de soslaio para o garoto ao seu lado, Law pensou o quão perto o outro estava de si, mas ao mesmo tempo longe demais. Deu um sorriso triste e logo tentou dormir se não fosse por causa de um peso suspeito em sua cama.

-Luffy? – Virou seu corpo e se deparou com um Luffy extremamente perto de si, o encarando com os olhos negros e misteriosos que ao ver a face do mais novo riu curto.

-Eu tenho pesadelos quando não durmo perto do Ace e do Sabo. Por isso nos encontramos de madrugada naquele dia. – Disse e deitou de peito para cima. – Posso dormir do seu lado?

-Pode. Também tenho pesadelos.

-Entendi. – Suspirou e observou o teto da casa do outro, seu coração batia rápido e não sabia o motivo de tais sensações. – Tral, seu coração também bate rápido quanto está perto de mim? – Olhou para o amigo tatuado que o encarou surpreso e ficou vermelho brevemente.

-Sim. Todas as vezes. Você fica assim? – Mesmo soando mais como uma confirmação, o garoto de cabelos negros sorriu em resposta e virou seu rosto de frente ao amigo, ambos olhando um para o outro e sorrindo cúmplices. Law não sentia mais incertezas, muito menos nervosismo tanto quanto antes, se acostumou rapidamente com a presença do mais velho e não estava pensando como fazia antes.

    Não sabiam quanto tempo havia se passado que se encaravam, só conseguiam sentir a respiração de cada um e os sorrisos e risadas – o último por parte de Luffy – que davam um para o outro, e o Monkey se perguntou o motivo de agir assim somente com Law. Talvez fosse pelo calor do momento, ou poderia colocar culpa nos olhos hipnotizantes do Mugiwara, até mesmo poderia usar o fato de que está frio; apenas sentiu que deveria fazer isso e Trafalgar não pensou duas vezes antes de se aproximar do menor, aconchegando o mesmo em seu peito e abraçando-o, carinho bem recebido pelo garoto de sorriso brilhante.




 

~***~

 

-Eu já te agradeci por me abordar naquele dia? – Perguntou para o marido que fazia uma coroa de flores para si e sorriu agradecido após colocar a mesma em seus fios negros.

-Já. Mas pode falar de novo. – Riu e recebeu um empurrão do mais velho que balança a cabeça em negação pelo comentário do mais novo.

-Foi um choque de palavras, ninguém nunca...- Parou de falar quando recebeu um olhar entediante do parceiro que sentou em seu colo e entrelaçou os braços em seu pescoço. 

- “Ninguém nunca disse isso para Hades, deus do submundo, o rei todo poderoso que dá medo em todos e uma criança o confrontou.” Você já disse isso, Tral. – Bufa e dá um selinho no parceiro que adotou uma cara emburrada. – No final de tudo eu fico feliz por ter feito isso. Você está bem melhor agora. 

-Isso foi tudo graças a você. – Pega delicadamente a mão do moreno e a beija, logo o abraçando por trás.

-Você é muito meloso. – Brincou e ouviu uma risada em seu ouvido, olhando a paisagem do jardim que criara para dar uma vida no local em que estavam. 

-E você gosta. – Luffy riu.


 

~***~









 



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