História Apenas me ouça - Capítulo Único

Pela terceira vez naquele sábado o menino de cabelos castanhos retirou seu headphone e o jogou sobre sua escrivaninha olhando fixamente para tela de seu computador, visualizando muito bem o horário, o qual marcava 10h57min da manhã. Encarando os números que corriam após um certo tempo, seus pensamentos dispersaram deixando em sua cabeça ecoar tais frases: “Ele esqueceu, ele está dormindo, ele não se importa, ele não liga; ele é um idiota”

Baekhyun já estava com sua paciência esgotada, não era a primeira e nem a segunda vez que Chanyeol o deixava esperando igual um idiota para poderem jogar. Isso já aconteceu tantas vezes que o menor apenas parou de contar e foi ignorando, pensando em um dia que marcasse com seu amigo de acordarem cedo para jogarem e o mesmo fizesse. Isso sim seria um sonho.

Mesmo que ele ignorasse as atitudes, no entanto, idiotas de seu melhor amigo, ele não podia evitar de magoar-se cada vez mais. Parecia tanto que o maior não se importava com o momento deles, o momento em que dois amigos que se gostam muito vão jogar, aquilo doía em Byun, ainda mais pelo fato dele reprimir tudo.

Baekhyun nunca foi do tipo que desabafava, ele sempre encobriu seus sentimentos criando uma bola de neve onde acumulava-se só sentimentos ruins. Aquilo sempre o afetou, cada vez que se decepcionava com seu amigo, ele tornava-se mais tristonho e distante. Quem o conhecia percebia isso, bem, não todos já que Chanyeol nunca reparou nisso, e isso também o feria.

Desde o começo o garoto achou que apenas deixar de lado esse incômodo e esses pensamentos seria a melhor escolha, já que não adiantaria de nada falar para Park sobre seus sentimentos, nada iria mudar, era mais possível de que brigassem e sua amizade de anos escorresse por ralo abaixo.

“Guardar tudo para si mesmo não seria tão difícil, é só fingir que está tudo bem”, errado, Baekhyun estava terrivelmente errado e só agora ele via quão difícil é isso. Ele não era forte o bastante para tal coisa, os sentimentos de mágoa, tristeza, medo e raiva o corroem cada vez mais deixando-o quase morto por dentro. Ele está quase a ponto de explodir.

A verdade de que ele estava pior que uma bomba relógio, nem mesmo ele podia controlar tais sensações que sentia a cada atitude errada que seu amigo fazia.

Com um suspiro pesado o menor afastou-se daquela escrivaninha logo depois de desligar seu computador. Jogou seu corpo sobre o colchão da cama de solteiro. Foi aí que o menor não evitou de gritar logo que teve o travesseiro contra seu rosto.

Raiva; era tudo isso que ele estava sentindo agora, sentia-se como um tolo, um bobo. Por que era tão difícil falar para Park que na verdade nada está e nunca esteve bem, que na realidade ele está quebradiço por dentro.

Retirou o objeto fofo de seu rosto e suspirou pela milésima vez no dia. Ele tinha que engolir suas sensações ruins, elas são passageiras, tinham que ser pelo menos; nada nessa vida é para sempre, então essas coisas também não seriam?

Nem mesmo Byun sabia.

Em meio de uma luta interna dentro de si, o menor ouve seu celular notificar diversas vezes de forma rápida e seguida. Engolindo a seco ele se levantou e pegou o aparelho eletrônico para só então desbloquear e deparar-se com diversas mensagens de Chanyeol.

Com o seu coração disparado ele entrou no chat.

Chan

Baek

Enviada às 11:01

 

Baek

Enviada às 11:01

 

Baek

Enviada às 11:01

 

Baek

Enviada às 11:01

 

Baek

Enviada às 11:01

 

Baek

Enviada às 11:01

 

Baekkie, cadê você? Sehun e eu estávamos

te esperando, só que você está Off.

Enviada às 11:03

“SeHun e eu”.

Seu sangue ferveu ao ler o nome do amigo de seu Chanyeol. Desde quando havia convidado Oh Sehun para jogarem com eles?

Baekhyun estava desacreditado em como Park havia acabado de estragar um momento que sempre era deles, mesmo com atrasos, com tristeza, com desgosto, sempre, em qualquer circunstância era algo apenas e unicamente deles.

Se antes o coração do castanho já estava dolorido, agora já estava como pó. Parecia que não era o bastante as diversas vezes que Chanyeol o deixou sozinho no intervalo para fazer seiláoque com Oh, agora teria que atrapalhá-los nos jogos também? Isso já é demais.

Ignorando as mensagens, Byun retornou a deitar-se em sua cama, mas novamente seu celular retornou a notificar.

Chan

Vai visualizar e não responder?

Que bonito, hein Byun?

Enviada às 11:07

 

Me diz o que aconteceu, eu fiz algo?

Enviada às 11:08

 

Você não está fazendo drama novamente

não é? Você já está bem grandinho para isso.

Enviada às 11:08

Deseja bloquear esse contato?

Sim   Não

“Sim”

Com seus olhos ardendo ele largou o celular, pondo sua mão em seu peito. Aquilo não era drama, o menor estava apenas cansado de apenas ele demonstrar interesse em sua amizade de anos; parecia que só ele se importava com o outro.

Ele não aguentava mais a angústia que sentia em seu peito cada vez que encarava o rosto sorridente de seu amigo e não conseguir sorrir verdadeiramente para ele, já que não sentia vontade. Aos poucos tudo nele foi morrendo e tornando-se falso.

Diversas vezes ele pensou em falar sobre seus sentimentos para alguém, mas ele tinha medo, tinha temor em acharem que ele estava fazendo drama, que aquilo não passava de algo para “chamar a atenção”, fazendo-se de vítima. E isso é a última coisa que ele queria.

Afundou seu rosto no travesseiro macio não segurando mais seu choro que carregava a um grande tempo não deixando-o sair – ele tinha que ser forte, afinal, em sua mente pessoas fortes nunca choram – mas a verdade que até mesmo a pessoa que é forte tem seu momento de fraqueza onde precisa por sua dor e pressão para fora, nem que seja através do choro.

E é isso que ele estava fazendo agora: chorando.

Aquilo era o estopim para os sentimentos reprimidos de tempos explodissem deixando-o confuso, dolorido, triste. Naquele momento, sentia-se fraco, como se qualquer coisa pudesse fazê-lo chorar mais do que já estava.

Ele agradecia aos céus por seus pais estarem trabalhando naquela manhã, pois ele não precisaria poupar os choros e os soluços altos que ocupam o seu quarto por inteiro. O menor está sozinho naquela casa silenciosa e fria.

Pelo menos era isso que ele pensava.

O som do ranger de sua porta foi ouvido por Byun, dando-lhe um susto fazendo com que ele sentasse no colchão e encarasse a entrada de seu quarto. Foi aí que seu coração parou, ou sua visão estava embaçada demais ou em sua frente se encontrava Park Chanyeol.

Maldita hora para seu amigo ter uma cópia da chave de minha casa, pensou Byun.

— Baek…

— Sai daqui agora, Chanyeol! – o menor gritou deslizando o punho por seus olhos limpando os vestígios de lágrimas dali.

— Não, não vou em lugar algum até você falar o que está acontecendo. – num tom calmo o moreno foi se aproximando da cama vendo que a cada dado passo dado por si, o menor escorregava seu corpo pelo colchão se afastando dele. — Por que me bloqueou? Por que não me respondeu? Por que está chorando?

Engolindo seco Baekhyun continuou se afastando não querendo falar nada; nessa altura o que iria adiantar, já que nele não havia mais nada além de amargura e tristeza?

— Baekhyun, me responda!

— Eu não vou te responder nada! VAI LÁ COM O SEHUN E ME ESQUECE! – num tom chateado e alterado ele retornou a chorar, assustando seu amigo que já se encontrava sentado na cama.

— Não me diga que isso tudo é ciúmes do Sehun… Baek você nã–

— Você por acaso acha que tudo se resume em ciúmes Chanyeol? VOCÊ É UM IDIOTA! Se tudo que estou sentindo fosse ciúmes, nesse momento eu estaria bem. – suas lágrimas caiam sem vergonha alguma por suas bochechas, que já haviam adquirido um tom rosado.

— PORRA, BAEK! Assim fica impossível para mim te ajudar! Me fala pelo amor, o que está acontecendo… Por favor. – suplicou abaixando seu olhar para não ver o choro de seu melhor amigo, vê-lo daquela forma o machucava e muito.

Novamente Baekhyun entrava em um conflito interno, onde grande parte de si queria despejar tudo que ele estava guardando há tempos em Chanyeol, já a outra parte queria apenas ficar quieto enquanto chorava igual a um bebê.

Com os nervos e as emoções à flor da pele, o menor não conseguiu tomar uma decisão já que o seu instinto e impulso agiram por ele. No fim a bomba chamada Byun Baekhyun estourou.

— É tudo sua culpa! – em meio aos soluços ele soltou novamente a frase fazendo Park revirar os olhos.

— Tá, agora me diz o que eu fiz, hun?

— Tudo, Chanyeol! Você parece não estar ligando para nossa amizade de anos, está sempre arranjando uma desculpa para não falar comigo, para não passar um tempo comigo! Diversas vezes eu fiquei sozinho no intervalo por que o idiota aí foi se encontrar com o idiota número dois, deixando o trouxa aqui sentado no jardim pensando que em algum momento você ia perceber que eu queria você ali comigo, mas você e eu sabemos que isso nunca aconteceu. – suspirando novamente, retomou a falar — Eu estou farto de fingir que está tudo bem, estou cansado de dizer um “tudo bem” quando você acorda tarde no dia que marcamos cedo para jogarmos juntos. Sua falta de vontade para fazer coisas comigo me irrita, me magoa, me destrói… Me diz Chanyeol, você não quer ser mais meu amigo? Por que realmente parece não se importar.

Ele havia solto tudo, todas as coisas que estavam guardadas dentro de si a certo período foram ditas. Pela primeira vez em muito tempo, Byun sentiu-se aliviado, como se aquele peso em seu peito tivesse saído; não todo, mas já tinha uma grande diferença.

— Baek… Por que nunca me disse isso antes? Eu poderia ter evitado, mudado. Eu gosto muito de você, não é minha amizade com Sehun que mudaria isso – Sussurrou se aproximando do menor que retornou a se afastar e encolher-se — Você tirou as conclusões erradas, eu não estava me afastando de você!

— Nossa, sério? Por que suas atitudes mostram totalmente o contrário, Chanyeol, me diz qual foi a última vez que tivemos uma conversa onde nós dois estávamos se divertindo? Me diz!

— M-me desculpa…

— Viu? Até você percebe se prestar atenção. – disse vendo o maior encolher os ombros enquanto encarava suas mãos que estavam sob seu colo. — E-eu só queria que nós dois voltássemos a ser como antes, felizes, quando jogávamos até anoitecer, quando nós dois passamos a aula inteira de história trocando papéis, quando você e eu dividimos os fones no intervalo. Por que tudo mudou Chan? Por que tudo isso está me… Machucando tanto?

— Porque… – suspirou se aproximando do corpo do menor posicionando-se em sua frente. — Eu percebi que gosto de você.

Com o coração disparado e o choro descendo por seus olhos, o corpo menor foi agarrado por Chanyeol que o abraçou trazendo-o para eu colo. Baekhyun estava espantado, ele esperava qualquer coisa vinda de seu amigo, menos isso.

— Sehun estava me ajudando a lidar com isso… Mas parece que eu quase estraguei tudo não é mesmo? Me desculpe, não queria te magoar – Falou enquanto acariciava seus fios castanhos ouvindo os soluços de Byun tornarem-se maior.

— V-você é um i-idiota…

— Eu sei, mas para mim mudar isso, você tem que começar a falar tudo que passa em seu coraçãozinho e nessa sua cabecinha que muito pensa. Prometa que não vai guardar mais tudo para você, querendo ou não, isso só vai te deixar triste além de que, não vai te ajudar a resolver as coisas – Com um pequeno sorriso dançando em seus lábios ele apertou o outro no abraço acolhendo-o cada vez mais em si.

— Aish… Tá – Sussurrou apertando o tecido da blusa de Park, que só o fez rir.

— O que você acha de jogarmos agora? Eu serei seu suporte.

Então ambos se afastaram e Chanyeol olhou o rosto todo vermelhinho de Byun, que possuía um grande sorriso dentre seus lábios finos, em seus olhos ainda havia um brilho por conta do choro de segundos atrás.

— Claro!

Com euforia que fazia tempo que não sentia, o castanho levantou-se da cama indo diretamente para sua escrivaninha ligando o aparelho eletrônico.

Naquele sábado que tinha de tudo para dar errado, no fim acabou no acertamento e no descobrimento dos dois amigos que deram-se a chance de desabafar, não deixando que os nada ficasse reprimidos.