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História Apenas um sonho - Recaídas


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Bem curtinho! <3

Capítulo 104 - Recaídas


Meredith se foi, nos deixando sós. Meus ombros caídos exibiam o meu cansaço, mas ele não hesitou em cobri-los com suas mãos, numa passada brusca. Descia sua palma por baixo dos meus braços, parando em meus seios, ele os apertou. Não evitei o meu gemido, não era prazer, era incomodo. - Eu não sei se estou tão irresistível para me tomar antes do jantar. 

Uma risada rouca escapou dos seus lábios. - Até o mais perfeito cavalheiro não poderia suportá-la vê-la com roupas debaixo, minha esposa. - Puxava a alça do meu sutiã.  

-Você não é um perfeito cavalheiro. - Retruquei com confiança, sentindo seu corpo se unir com o meu. Fechei os meus olhos, era fácil esconder minha expressão de nojo nesses momentos.  

-É claro que sou. - Sussurrou, levantando meus cabelos soltos e beijando a minha nuca. - Você está maravilhosa. - Seus elogios sempre tinham um tom vulgar, carregado de luxúria. Deixei que deslizasse sua mão pela lateral do meu corpo, chegando até o arame que prendia o meu sutiã, ele o soltou. Eu me preparava para mais uma passada de mão em meus seios, mas ele decidiu colocá-las dentro do meu short. Prendi meu suspiro, fechando os meus olhos. - Você gosta disso, não gosta?  

Eu detestava.  

E no momento só conseguia pensar em uma pessoa.  

Eu não me esquecia de Tarrant Hightopp.  

Ele não seria como o Stayne, ele seria carinhoso, educado... Seus elogios seriam leves e cheios de amor. Ele contemplaria o meu corpo e diria que me amava. Tiraria o meu vestido com facilidade pois compreenderia cada detalhe da minha roupa. Ele me beijaria, bem devagar. Até estar excitado o bastante para me fazer sentir o colchão macio da sua cama e subir sobre mim, terminando de tirar a fivela do seu cinto, aproveitaríamos para trocar novas carícias entre as cobertas. 

Tínhamos todo o tempo do Mundo. 

E saberíamos aproveitar.  

Fechei os meus olhos. Tentava imaginar que aquela mão que me tocava agilmente era de Tarrant. 

Mas eu não conseguia.  

Apoiei minha mão na parede do quarto. Ele abaixou o meu short, deitei minha cabeça entre meus braços dobrados.  

E era assim que meu marido demonstrava para mim aquilo que ele julgava como amor. 

Ele segurou minha cintura para ter mais sustentação.  

Aquele não era um momento de prazer para mim, ao contrário, era nesses momentos em que eu parava para refletir.  

Era isso que eu seria para sempre? 

Uma Rainha infeliz, vivendo uma mentira. Sendo submissa a um homem que eu não amava.  

Às vezes, tentava defendê-lo. Mas então eu percebia a sua personalidade repulsiva e via que todos a minha volta tinham razão, eu estava errada. Eu não poderia defendê-lo, nem argumentar sobre sua bondade, tal atributo não existia.  

Ele prometera que seria rápido.  

E de certo, cumpriu. Nem precisei pensar muito.  

Senti o seu jato acertar em mim. E então, Stayne deixou o meu corpo.  

Me sentia imunda. 

Passei a mão pela testa, não existia um pingo de transpiração. Nada, nem mesmo um restinho de prazer.  

O Rei se ajeitava no espelho, naturalmente.  

Puxei o meu sutiã, após levantar o meu short. Parei ali. Queria que ele percebesse. - O que está olhando?! - E consegui.  

Atraí sua atenção, Stayne deixou o espelho. - É assim que um perfeito cavaleiro trata a sua esposa?! 

-Mas do que está falando?! 

-Só pensa em si mesmo! - Bradei. -  Eu não gozei. - Sussurrei, cautelosamente.  

Ele riu. - E quem disse que deverias?! Você é uma mulher! Está aqui para me dar prazer. - Se aproximou. - O que gostaria que acontecesse, Alice?! Que eu a fizesse ter um orgasmo? - Assenti, séria. - Não pense absurdos!  

Ele pegou o relógio de bolso. – Está na hora do jantar.  

Eu o olhei, indiferente. – Vou tomar um banho. Desça primeiro. Talvez eu jante em meu quarto.  

Stayne sorriu, satisfeito. Assim não me veria na mesma sala que Tarrant.  

[...] 

-Estou estressada. – Murmurei, estava há quinze minutos na banheira. Meredith estava comigo. Ela ajustava a luz das velas aromáticas, apagando as mais próximas a janela. – Não me sinto assim há muito tempo.  

-Deve ser a guerra, a responsabilidade. – Veio em minha direção. – Tens vinte e dois anos. É a Rainha mais nova já nomeada em Wonderland. – Ajeitava o pano úmido que impedia minha nuca de tocar a quina da banheira, suspirei.  

-Não é só isso. É o meu casamento. Posso... Estar grávida. – Balancei a cabeça. – Não sei o que será da minha filha se eu estiver. Stayne com certeza vai desprezá-la ainda mais. – Pausei, debruçando o meu pescoço. A água morna começara a fazer efeito. Brinquei com ela, criando pequenas ondas entre os dedos. – Eu... – Suspirei. – Quero uma noite que renove minhas energias, entende? – Ela sorriu com fraqueza. – Me desculpe entrar neste assunto.  

-Eu já fui jovem como você, Majestade. Entendo bem o que quer.  

Arfei. – Quero sexo. Mas... Eu não quero só isso. – Torci meu nariz. – Quero paixão. Eu quero... Amor.  

-Converse com o seu marido.  

-Como se isso adiantasse, ele pode me amar mas eu não o amo. Eu acho que, mesmo se ele se esforçasse para arrancar prazer de mim, não conseguiria. Talvez nem mesmo me ame de verdade, de repente possa ser só o seu orgulho ferido. – Brinquei com a água. – O seu orgulho... – Torci os lábios. – Estou com fome.  

A criada buscou a toalha pendurada no azulejo. – O jantar começou há pouco.  

-Sim. – Me sequei. – Eu vou descer, só me ajude com o vestido.  

 [...] 

-Quando Alice tiver o meu filho vocês verão o que é governar! – Stayne vangloriava-se. A mesa estava farta, ele dizia enquanto partia um pão para mergulhar no molho. – Ele vai ser um ótimo herdeiro, será ensinado desde seu primeiro ano de vida. – Sorria, todo satisfeito.  

McTwisp e Enid eram um dos poucos súditos que lhe davam atenção, os demais estavam preocupados com seus próprios banquetes. Valentina estava sentada ao lado de uma cadeira vaga, na extremidade. Era tratada pelas criadas pois quando pegava a colher sozinha tinha o costume de lançar comida. Me sentei ao seu lado, afagando seus cabelos, ela mal me olhou, estava tristinha. – Stayne por favor, eu já lhe disse que não gosto de expor nossa vida pessoal para os súditos. 

Ele desfez seu sorriso. – Eu pensei que não viria jantar.  

-Mudei de ideia. – Murmurei, ajeitando o lenço sobre minhas coxas.  

-Com a licença dos Soberanos. – Tarrant falou, levantando o indicador. – E-e-eu gostaria de anunciar que amanhã de tarde eu vou sair para— 

-Vai naquela taberna? – Minha pergunta saia rápida e involuntária, enquanto eu buscava um talher.  

Todos me olharam, principalmente Stayne.  

Tarrant arregalou seus olhos. – Não, minha Rainha. Eu estava dizendo que precisarei sair por que tenho um compromisso.  

Eu não sabia o que responder. Estava nervosa, não deveria ter disparado daquela forma. – Claro. Mas avisamos que é arriscado.  

Ele me olhou. – Eu aprecio sua preocupação. – Sorriu com fraqueza. – Mas prometo que volto logo. Antes do anoitecer.  

-Vai até o seu clã, Tarrant? – Soou a voz da prostituta.  

Ele assentiu, tomando sua sopa.  

-Por que não leva a Enid com você? – Propôs o Coelho Branco.  

A meretriz sorriu. – Eu iria adorar.  

Tarrant também sorriu, gesticulando gentilmente com a cabeça. – Um clã queimado e devastado não é um bom lugar para mulheres.  

-Tenho certeza que sua companhia transformaria toda a destruição em um belo jardim para mim. – Insistiu.  

-Só não se esqueçam dos ataques a redondeza. – Avisei. – É arriscado, aliás, Tarrant não deveria colocá-la em perigo.  

-Deixe que ele faça essa escolha sozinho, Alice. – Revidou o Rei, apertando os punhos. – Afinal, o que isso te interessa?  

Meu sangue ferveu. Mas ele estava por baixo da minha pele, ninguém o veria. – Eles podem sair juntos para lugares menos afastados e mais próximos do castelo, é o que quero dizer. – Consegui me recuperar, era uma resposta sincera e convincente. Mordi um pedaço de salada.  

[...] 

-Onde ela está? – Descemos juntas as escadarias do castelo.  

-Ela dormiu na sala de visitas, Majestade. Estava brincando com algumas bonecas. – Respondeu a criada, Celine. – Eu pensei em acordá-la, mas decidi que deveria chamar a Soberana.  

Chegamos até a sala de visitas, a criada teve a gentileza de empurrar a porta e lá estava a minha filha, dormia encolhida no sofá esverdeado, junto com algumas almofadas que confortavam o seu corpo. Eram meia noite, os ponteiros cravados do relógio de parede me diziam.  

-Ela tem problema com sono. – Murmurei, eu poderia citar mais outros atributos que herdara do seu pai. – Fez bem em não acordá-la. – Puxei o seu bracinho, trazendo para o meu ombro. – Com certeza ela não voltaria a dormir tão cedo. Por favor, recolha esses brinquedos. – Averiguei se havia entre eles um pincel ou qualquer coisa que ela pudesse usar para pintar.  

Não encontrei.  

Ajeitei a criança entre meu peito, ela acomodava sua cabeça no meu ombro, a respiração calma batia em meu pescoço.  

Assim, fui andando. 

Diferente de mim, ela já não usava o seu vestido. Estava com um pijama comprido, que escondia seus braços e pernas.  

Seu corpo era curto, pequeno, ela tinha acabado de fazer três anos, dois meses atrás. Ainda precisava de muito sono e leite para se desenvolver.  

Fui subindo os degraus aos poucos, desejava colocá-la em seu colchão confortável e cobri-la com a melhor coberta guardada em seu guarda-roupa.  

O corredor escuro tinha a minha visita apressada, estava descalça, sentindo a frieza do piso que brilhava em cera. Passei por mais alguns corredores, até que uma luz de castiçal me fez parar no meio deles.  

Ali vinha alguém, andava normalmente, observando as portas fechadas dos quartos dos Soldados, que precisavam se preparar para um novo dia.  

Ainda parada, cerrei os meus olhos.  

Era Tarrant.  

Como não percebi antes?  

Só mesmo ele para estar acordado após um dia cheio.  

Ele se aproximava cada vez mais e assim, iluminou o meu rosto. Toquei o rosto de Valentina, para esconder a luz das velas.  

-Boa noite, Majestade. – Disse ele, com uma expressão intrigada. Assenti, eu sabia que ele ansiava para perguntar. – O que faz com a nossa filha?  

-Fale baixo. – Repreendi, num sussurro suave. – Ela estava dormindo na sala de visitas. Fui buscá-la para colocá-la na cama.  

Ele assentiu. – Eu terminei seu vestido. – Avisou levantando suas sobrancelhas, mas as trazendo para o lugar rapidamente. Eu o olhei. – Não insinuei que se trocasse agora, só quis alertá-la, para que... Me procure amanhã.  

-Certo. 

Nos olhamos.  

-Certo. – Sussurrou ele. Fazendo uma mensura. – Boa noite. – Ele se permitiu afagar os cabelos de Valentina, tão sutil e hesitante.  

Por um momento eu os imaginei juntos. Ela teria o carinho do seu verdadeiro pai, seria o amor mais puro que poderia encontrar.  

Ele recolheu o seu braço, e a luz do castiçal oscilou quando Tarrant passou por mim, apressado.  

Pensamentos iam e vinham.  

Relembrei o que havia desabafado com Meredith.  

Estava tão estressada. A responsabilidade de todo um Mundo estava em minhas mãos.  

Eu precisava apenas de uma noite de distrações que pudesse renovar minhas energias.  

Tarrant se afastava, quase cruzando os corredores.  

Eu não queria, não poderia trair o Stayne. Estávamos em tempo de Guerra. Os olhos de todos paravam nos Reis. Uma crise no casamento seria o estopim para que a sociedade caísse em cima.  

E eu nem poderia imaginar cogitarem a ideia de que, a filha que Stayne não dava atenção era uma mera bastarda.  

Mas ao mesmo tempo... Como eu desejava ao menos que as mãos de Tarrant tocassem meus ombros. Como eu queria sentir os seus dedos sentindo a minha pele.  

-Chapeleiro! – Eu o chamei, não era um grito, ele não estava tão longe. 

Ele parou, virando-se para mim com o seu castiçal. Ficou ali por alguns segundos até afundar seus passos e caminhar. Valentina dormia, e eu ousava em pensar que ela não acordaria até o Nascer do Sol.  

Outra vez ele estava bem diante dos meus olhos, sua vela ameaçava apagar com o vento frio que se instalava, com certeza graças a uma janela aberta, que se alimentava da chuva naquela noite. – Sim?  

Ergui o meu queixo. – Não estou com muito sono. Vamos até o seu atelier, me mostre o vestido que fez, assim posso experimentá-lo. – Equilibrei a pequena em meus braços.  

-Eu gostaria de... Segurá-la. – Seus dedos mexeram no ar, animado. – Por favor, Majestade. Ela está dormindo.  

Eu o encarei. – Chapeleiro, a pouco eu  estava pensando sobre isso... Eu quero muito vê-los juntos mas eu não sei se— 

-Por favor. – Implorava seus olhos. – Eu nunca mais a peguei no colo. Ela é nossa garota, Rainha. É tão especial para mim, até me lembro perfeitamente como a fizemos.  

Um arrepio chegou no meu corpo, vindo dos pés até a ponta da minha orelha. Não era por conta do vento frio, ao contrário, com ele vinha um calor.  

Era estranho vê-lo dizer o quanto nossa filha era especial para ele. Principalmente por que esse elogio em outras épocas viria acompanhado com um “Eu te amo, Alice” 

Eu sentia falta daquelas palavras em seu tom de voz, seu sotaque escocês que bambeavam minhas pernas.  

Mas eu não esperava que ele dissesse que se lembrava com perfeição daquele ato.  

Era mesmo muito inoportuno a crise em meu casamento, justo agora que, após oito meses estarei trocando vestidos com o homem que me prometeu seu amor.  

Eu não sei por quanto tempo estive em silêncio. Mas Hightopp aguardava, seu tórax subia e descia com a respiração forte.  

Assenti, hipnotizada com a joia verde dos seus olhos. Ele deixou o castiçal com cuidado no chão. Esticou os seus braços e eu passei Valentina para ele. Ele a acomodava com cuidado, sorria com emoção, sentindo seus bracinhos percorrerem os seus ombros, amassando seu tecido.  

Seus braços eram fortes e a seguravam com firmeza. Sua mão percorreu até as costas de nossa criança.  

Ela estava segura. 

Como eu queria estar em seus braços, talvez na fantasia de um sonho.  

Peguei o castiçal, e caminhamos para o outro lado. Os pensamentos pareciam me enlouquecer e parte de mim gritava para que eles saíssem de minha mente.  

Tarrant pegou as chaves em seu bolso e a encaixou na maçaneta. Tive o impulso de segurar sua mão sobre a maçaneta e assim, a abrimos juntos.  

Sorri fraco, até sussurrar: – Desculpe.  

Eu não agia como uma Rainha.  

Mais parecia uma moça de quinze anos, ainda virgem e esperando ansiosa para perder a inocência.  

Ele deu um breve sorriso. Estava intacto com sua sanidade quando colocou Valentina no sofá, acomodando-a com as almofadas. – Obrigado. – Diminuiu o espaço entre nossos corpos.  

Seus dedos esbarraram nos meus quando pegou o castiçal de mim, aproveitando seu fogo para acender as outras velas. – Eu já te disse que... – Fui até sua prateleira, tinha pequenos enfeites de porcelana. – Você parece mais equilibrado? 

Ele sorriu. Mordendo a língua. – Tenho feito chá mais forte.  

-Hum... – Deslizei os dedos pela madeira da estante. – E o meu vestido?  

-É este aqui. – Segurou o meu ombro ao se aproximar, me trouxe até o manequim de arame. – Ele tem detalhes em veludo, veludo sintético, acho muito melhor do que o natural. – Guiou minha mão. – Toque.  

-É macio. – Observei. – É só essa parte lateral?  

-Sim, sim. O restante é seda, para que fique mais delicado. A saia do vestido também tem babados, mas são poucos, só para ficar mais confortável quando se sentar.  

-Ficou bonito. Obrigada.  

Ele sorriu. – Só precisa experimentar, pode haver alguns detalhes para costurar... Isso acontece mui— 

-Você... – Eu o olhei, tinha disparado outra vez, interrompendo sua fala. – Perdão. – Balancei a cabeça. – Continue.  

-Diga, Rainha. – Era seu sotaque. – Alguma dúvida? 

-Não...  

-Você ia me dizer alguma coisa. – Ele cerrou seus olhos, fazendo uma careta. – Diga.  

Suspirei. – Você disse que se lembrava perfeitamente de como... – No meio da frase, eu já me sentia arrependida. Na verdade, desde o início de meu pensamento equivocado. – fizemos nossa filha.  

Ele mudou sua expressão. – Sim. – Mergulhado em devaneios.  

Estremeci. – Lembra mesmo? 

Ele soprou. – L-lembro... E-eu es-tava t-riste por que voc-ê ia se c-casar com... com o Stayne. – Abaixou a cabeça. Acalmando suas emoções e esquecendo seu gaguejo. – E você queria me consolar, dizendo que sonhou com a nossa filha. - Ele pausou, evitando me olhar - O restante, Majestade, eu sei que você não esqueceu. E não precisamos de uma descrição.  

Abracei o manequim que usava o meu vestido, apoiando meu corpo sobre ele. – E como se sente agora? – Outra vez questionei sem pensar, como uma jovem tola.  

Ele suspirou, sentando-se na cadeira próxima. – Estou acostumado. – Balançou os ombros. – É normal para mim, acho que só não gosto quando eu o vejo com a Valentina.  

Nos calamos por um instante. – Eu acho que vou me trocar. – Apontei para a portinha, desesperada para mudar o assunto.  

-Tudo bem. – Ele se levantou. – Vou aguardá-la. 

Passei por ele, com certeza exalando o aroma de rosas do meu perfume, fui até a portinha, onde existia um pequeno trocador com um cabide preso nas paredes enfeitas e um lustre simples pendurado no teto. Demorei até conseguir desfazer o nó da amarra em minhas costas.  

Tarrant teria que me esperar. 

Mas quando é que ele não esperava, afinal?  

Outra vez meus pensamentos insistiam em relembrar do seu amor passado. As rosas que ele me trazia, os beijos que preenchiam os meus lábios e os faziam sorrir. Fechei os olhos, deslizando o vestido para baixo e sendo vitima dos meus pensamentos ao imaginá-lo me despindo, pronto para fazer amor comigo profunda e desesperadamente. – Oh... – Suspirei com minha excitação involuntária, a roupa debaixo que eu ostentava não esconderia a dureza dos meus mamilos, prontos para receberem o carinho da sua boca.  

O lugar se tornava minúsculo e abafado. Tremulamente, toquei a maçaneta, hesitando em sair por um instante.  

“Não é nada demais, só uma troca de vestido.” – Precisava me convencer.  

Abri a porta, dando um passo após outro.  

-Estou pronta. – Anunciei, num baixo tom de voz. Ele olhava para algo sobre sua mesa, mas se virou assim que me viu.  

Ficou em silêncio, não deixaria de observar minhas roupas debaixo. A insistência em não usar um corpete talvez fosse o motivo para seus olhos passearem por meu corpo.  

Aproveitei então para me aproximar. Toquei o seu ombro, sua respiração oscilava quando percebi um papel extenso, sendo segurado nas pontas por alguns castiçais apagados. – O que é isso?  

Ele tornou a enrolar. – É uma planta. Rainha.  

-Planta?  

Me olhou. – Pretendo construir uma casa em meu clã.  

-Vai deixar o castelo?  

Abaixou seu olhar. – Vou.  

-E a Valentina?  

-Eu vou vê-la quando visitar Marmoreal. Mas ainda não comecei a construir, só estou com o dinheiro. Deve demorar alguns meses, quem sabe.  

Assenti. Ele se recompôs enquanto eu pensava no que acabara de ouvir.  

– Fique perto do espelho. – Sussurrou. Puxando o vestido do manequim.  

Ele o colocou no chão, ao meu lado, a anágua garantia firmeza a vestimenta.  

Fez um gesto com a mão para que eu lhe desse a minha. Assim o fiz, encaixando cada pé com cuidado pela abertura. Ele o levantou, só até o quadril. – Segure. – Segurei. Sentindo suas mãos na minha cintura e me levando para mais perto do espelho.  

Com certeza seria mais simples se ele o virasse para a minha direção.  

Olhamos o reflexo juntos, mas com olhares distintos.  

Seus olhos observavam qualquer defeito na saia de sua criação, enquanto os meus estudavam as feições endurecidas do seu rosto. 

Ele ajeitava a saia. Seus lábios estavam reprimidos, como as sobrancelhas. – Parece que está bom. – Deu um leve sorriso, ainda concentrado.  

Minha respiração se mantinha num estado lento. – Beije minhas costas.  

Seus olhos espiaram por cima do meu ombro.  

Sua respiração mudou de ritmo. – Beije, eu quero que beije minhas costas.  

O meu desespero, tanto quanto o meu pedido o deixara sem reação por alguns instantes.  

Cerrei o olhar, aguardando qualquer retorno seu. Os seus olhos pareciam desesperados, ele tentava encontrar algum motivo para o meu apelo, mas a verdade é que ele não deveria ter me agarrado quando tirou minhas medidas. 

-Alice, p-p-por que está me pedindo isso? - Perguntou desconfiado, enquanto gaguejava de nervoso.  

-...- Nos olhávamos pelo reflexo. 

Minha expressão permanecia imparcial, havia lhe pedido isso. E não voltaria atrás com minhas palavras. 

Ele engoliu. Até que se curvou. Sua respiração batia contra as minhas costas, ainda precisei aguardar até que ele o fizesse. 

Senti seus lábios em colapso com o meu corpo. Fechei meus olhos, era um beijo calmo, mas que não aquietava minha pele, ao contrário, trazia arrepios que eu não poderia controlar.  

Ouvi um leve estalo quando seus lábios deixaram a minha pele. Ainda de olhos fechados, eu tentava compreender como qualquer carinho de Tarrant conseguia me causar tantas sensações.  

Aquele calor que eu não sentia em anos, e que sei que jamais conseguirei sentir com o meu marido. – De novo. – Sorri, de olhos fechados. Suas mãos tocavam a minha barriga sutilmente. Ele continuava relutante, mas dessa vez não tardou para preencher minha pele com o toque dos seus lábios. Inclinei meu pescoço para trás. Tarrant continuava, agora mais confiante, desejava aquilo tanto quanto eu.  

Suas mãos alisavam a minha barriga, os beijos percorriam cada canto das minhas costas. Abri os olhos, um calor mais forte do que o normal se instalava em meu corpo. 

Seus estalos eram constantes, me trazendo reações involuntárias. Meus seios se endureceram quando ele abaixou o tecido do meu sutiã para depositar um beijo ali, entre o algodão e a minha coluna.  

Soltei a saia do vestido assim que ele aproximou os nossos corpos. Sua ereção era notável.  

Ele passou a beijar os meus ombros quando segurei a sua nuca, torcendo o meu pulso. Pegou um dos meus braços, alisando minha pele exposta e beijando-a, até chegar no dorso de minha mão, onde brincou com os meus dedos.  

Sorri. – V-volte. – Acarinhei o seu rosto com a mesma mão que foi beijada.  

Ele retornou de imediato.  

Beijando o meu ombro para chegar até o meu pescoço, quando uma nova onda de arrepios surgiu em mim.  

Suspirei, não tinha condições de regular minha respiração.  

Aqueles lábios que há muito estiveram longe de qualquer parte do meu corpo, agora estavam ali, na quentura da minha pele, e no secreto de um cômodo.  

 Seus beijos foram se apressando, mal tive tempo de pedir que beijasse meus lábios, ele vinha descendo, distribuindo beijos por minhas costas, num caminho reto até o quadril. Se ajoelhou sobre o vestido ao chão, e passou a beijar a fenda entre meu traseiro. Arfei, me perguntando por que usava meu shorts de babados.  

Aquilo passava dos limites.  

Mas não conseguíamos controlar. – Sabe o que quero fazer com você, Alice? – Perguntou assim que viramos nossos rostos, numa intacta pronuncia escocesa.  

O seu desejo era o mesmo que o meu.  

Trocamos um beijo fraco. Era como uma permissão, como um apelo para que ele me tomasse.  

-M-mamãe? – Valentina ameaçava acordar.  

Tarrant e eu nos olhamos. Gesticulei, colocando meus dedos no meio dos meus lábios para que ele não fizesse barulho. Em desespero, assentiu. – O vestido. – Avisou, com certeza arrependido daquela recaída. Voltei-me para o espelho, enquanto o Chapeleiro o puxava para cima.  

[...] 

O amanhecer chegava cedo demais para quem passou o resto da noite sem dormir. As cobertas me abraçavam. Stayne tinha acordado há um tempo, e com certeza tomava seu café da manhã, preparando-se para um novo dia de governo.  

Eu não queria deixar o quarto, e no momento, só Meredith sabia o por quê.  

A minha porta ruiu com fraqueza, e então, o rostinho de Valentina surgiu na pequena abertura que criou. Sorri ao vê-la. – Você quer ficar com a mamãe? – Ela assentiu, bagunçando seus cachos. Estiquei meu braço, o tirando da coberta.  

Ela veio correndo em minha direção. Saltando no colchão e com certeza desejando pular em suas molas.  

Eu a abracei. – Está dodói?  

-Não, meu anjo. Só estou pensativa. – Alisei seus cabelos. Ela deitou sua cabeça entre meus peitos.  

-É sobre meu irmãozinho?  

Suspirei. – Isso também. É sobre muitas coisas. – Pausei. – Mas o que está fazendo aqui? Você deveria estar correndo pelo castelo. – “Dando trabalho as criadas, principalmente” 

-Hum... – Ela fez uma careta, espremendo seus olhos grandes. – Eu vim pedir os meus pincéis!  

-Você pediu desculpas ao Chapeleiro?  

Ela negou em silêncio.  

-Ele não gosta do papai. – Olhou para as luvas de seda que escondiam seus dedos. – Não vou desculpar, mamãe. Ele é mau e louco.  

-C-céus... Não, filha. Não diga isso. Você só tem três anos. Como pode pensar esse tipo de coisa?  

Ela não me encarava. – Papai que diz. – Murmurou emburrada.  

-E você quer que ele goste mais de você por desprezar alguém?  

-Mas ele não gosta. – Coçou um olho. – Não é?  

Eu não sei por quanto tempo carregaria aquela mentira. – Ele gosta sim.  

Ela mantinha-se cabisbaixa. – Por que ele não brinca comigo? – Suas perguntas eram muito mais sentimentais do que de qualquer criança naquela idade.  

-Meu amor, por que você não vai brincar com os Tweedles?  

-Eles ainda estão dodóis. Eles disseram, e a criada não me deixou ficar no quarto deles... Brincando.  

Era um castelo muito grande para uma criança só.  

Eu me sentia terrível.  

-Mamãe... Sobre o irmãozinho.  

Sorri fraco. - Sim?  

-Ele vem mesmo?  

-Eu não sei, meu amor. – Ela permanecia cabisbaixa, mexendo em suas luvas.  

-Eu não quero mais não.  

Eu temia a pergunta: - Por quê?  

-Por que o papai vai brincar com ele e não vai brincar comigo.  

As minhas lágrimas juntavam com rapidez. – Quer suas tintas de volta? – Minha voz saia trêmula, quase junto ao choro.  

Ela assentiu. – Terá que passar meia hora do seu dia com o Chapeleiro. Por uma semana. – Me olhou, assustada. – Está bem? Ele é muito gentil. E quando terminar terá suas tintas.  

Valentina se calou por um bom tempo. – Está bem, mamãe.  

[...] 

-Rainha Alice. – Sulian me parou no Hall de entrada, curvando-se após deixar suas malas...  

Malas... Ela estava de partida. – Venha nos visitar quando quiser. – Forcei um sorriso, desejando que fosse em um futuro distante.  

No entanto, sua fisionomia estava séria, muito mais séria do que nas outras vezes. – Me acompanha em um último chá?  

Era um pedido estranho, nunca tomamos chá juntas.  

Mas eu estava desocupada naquela hora. Na verdade, se ela não me parasse eu estaria entediada, na sala do trono.  

Fomos até a sala de jantar, onde a bruxa nos serviu um chá quente. – Pode ir. – Ordenei de forma seca, ela se foi após se curvar.  

A velha tocou a porcelana com seus lábios enrugados. – Eu quero conversar sobre o herdeiro.  

Suspirei. – O médico não veio ao Castelo ainda, eu não tenho certeza se estou ou não aguardando o seu neto.  

-É bom que você esteja. – Levantou as sobrancelhas. – E que seja do meu filho dessa vez.  

Deixei a porcelana. – O que insinua?  

Ela fechou seus punhos sobre a mesa. – O que mais? Você tem uma bastarda, pode ter outra.  

-Estou sendo submissa ao Rei. Abdicando de minhas vontades para saciá-lo. Ele é como um animal, ele me usa quando bem quer! Sem se importar se estou a vontade ou não!  

-Eu a vi entrando no atelier do Chapeleiro, ontem a noite. – Levou o chá aos lábios. – De certo, escondido.  

-Eu fui. Mas se eu estivesse com a intenção de traí-lo mesmo, teria ido ao quarto dele. Vontade não me faltou naquela noite.  

-Ai de você se der a luz a um novo verme. – Rosnou.  

Me aproximei. – Está me ameaçando?!  

-Contarei ao meu filho o que vi. Afinal, você pode estar grávida daquele homem outra vez.  

-Eu não estou!  

Ela se levantou. – Como é que terei certeza?! Eu vou contar! Você não poderá fazer nada contra a mãe do Rei! Posso até dizer que vocês estavam no quarto.  

-Não faça isso, isso não é verdade! – Estava trêmula. – Ele pode punir o Chapeleiro.  

-É mais um bom motivo. Com licença. – Ela saiu apressada.  

Voltei a me sentar, perplexa com a ameaça.  

Quando percebi, estava em lágrimas, balançando os meus ombros em soluço.  

“Alice?” 

Abri os olhos, a visão turva me fez enxergar que Tarrant estava na cozinha, com certeza atraído pelo aroma do chá fresco. Me levantei, atordoada. – Solte-me... – Ele tocara meus ombros. – Solte-me, Tarrant... – Me guiava para a cadeira outra vez.  

-Está muito nervosa, não posso permitir que saia assim.  

-E-eu t-tenh-o qu-e impe-dir... E-ela.  

-Beba. – Me entregou o chá.  

Respirei fundo, levando a bebida quente aos lábios.  

Eu o olhei em silêncio.  

Ele acarinhava o dorso da minha mão. – Alice... Vamos embora desse lugar. – Propôs. Alisando meus braços.  

-Tarren...  

-Não, escute. – Pausou. – Sabemos o que aconteceria ontem à noite, fique comigo. Podemos construir nossa família. Morar no meu clã.  

-A-ainda me ama?  

Ele sorriu, melancolicamente.  

-Vamos... – Limpou minhas lágrimas. – Aceite, Alice. Podemos contar a verdade para a nossa filha. Ainda há tempo.  

-M-minh-a vida est-tá d-destruída. – Lamuriei.  

-Schiu...  

-Tarrant, eu posso mesmo estar grávida. – Funguei.  

Ele mudou sua expressão. Não era uma expressão de raiva, ou de tristeza.  

Era como um contentamento, talvez menos do que isso.  

-Você pode? – Suspirou, pensativo. 

Assenti, tornando a chorar em silêncio. 


Notas Finais


Se vocês não concordarem que a Alice está sofrendo muito é por que vocês são do mal </3 hahahaha

TARRANT PROMETEU IR EMBORA DO CASTELO E CONSTRUIR UMA CASA, PARECE FAMILIAR? hum...
Alice já mostrou que quer o Tarrant de volta, será que ela seria capaz de deixar o Castelo e fugir com ele de uma vez? SERÁ UMA RECONCILIAÇÃO?
Sulian... (Revirando os olhos irritada)
E quanto a Valentina?
Gostaram da forma como a Alice decidiu ''punir'' a filha?
Vamos ver se ela vai se aproximar do Chapeleiro agora!
Eu pensei que revelaria sobre a gravidez nesse capítulo... Mas vou deixar para o outro, a Enid também vai aparecer no outro! Bom, assim espero!

Comentários para mim virão com sabor de chocolates.
Por favor, contribuam para essa autora chocólatra ter uma páscoa feliz.
Comentem. <3


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