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História Apenas um sonho - Uma gota concentrada de seu amor


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


EU JURO QUE NÃO ESTOU ENROLANDO PARA O BAILE (não muito...)

Capítulo 116 - Uma gota concentrada de seu amor


O tempo costumava passar rápido demais quando eu estava com ele. Mas daquela vez era diferente. Suas mãos ainda estavam coladas a minha cintura, eu estava séria, indignada, e talvez este era o motivo para que Tarrant me pedisse desculpas. Eu estava concentrada em seus lábios, na forma como se mexiam devagar, cauteloso com suas palavras. Eu apenas desejava que ele me trouxesse para mais perto, pois o arrepio que passava por dentro do meu corpo implorava por seus braços.  

Nos olhamos. - Eu falei sem querer. - Ele alisou o meu rosto, fingi não estar derretida por isso. - Eu não queria que fosse assim... - Admitiu, com o balançar da sua cabeça. Ele juntou as sobrancelhas crespas e ruivas.- E-eu disse para você que não queria dividi-la. - Gostava do seu tom sério. Gostava da forma como ele se dirigia a mim, coberto de sanidade. - Ainda não quero.  

Suas palavras me entorpeceram. Segurei a porta quando virei o meu braço para trás das minhas costas, girei a maçaneta, fechando-a sutilmente outra vez enquanto nossos olhos se perdiam. - Nós podemos ficar juntos. - Ele torceu os lábios quando respondi. - Você é o pai dos meus filhos. - Alisei a minha barriga, voltando a imaginar que, se não fosse por aquele acidente, eu estaria grávida.  

Ele me deu um sorriso curto. - E-e-eu... S-sou, não s-sou? 

Também sorri. - Sem dúvidas. - Me acomodei em seu peito, finalmente ele me abraçava. Estávamos em silêncio, eu sei que o mesmo pesar no meu peito invadia o seu. Suspirei, foi um suspiro bem longo, no qual Tarrant passou suas mãos pelos meus braços, sentindo o tafetá de minha manga, que cobria-me até os pulsos. - Vamos fugir. - Eu o olhei. - Eu levo a Valentina enquanto ela estiver dormindo, você arruma um cavalo, fugiremos antes do baile.  

-Você não entende. - Ele mirou os meus lábios. Tocando o meu queixo. - Eu mudei os meus desejos, querida. E-eu a quero de volta. - Beijou o dorso da minha mão, sorri. - Mas eu não quero passar a minha vida fugindo. - Pausou. - Eu quero me casar com você. E... S-sabe... - Mexeu os ombros. - Continuar sendo pai dos seus f-filhos. - Permitiu-se rir, bem levemente.  

Tarrant caminhou para sua mesa, onde retornou as costuras. - Se eu me casar legalmente com você... 

-Terá que deixar o Rei. - Seus olhos penetrantes se voltaram para mim. O seu sotaque era explícito. - E... N-não será mais a Rainha.  

-Eu não posso deixar o seu Mundo nas mãos do Rei.  

-V-você deixou. - Ele cerrou os seus pulsos, segurando o tecido. - Você deixou faz tempo, Morceguinho.  

-Não completamente. - Afirmei. - Eu não seria capaz, Tarren...  

-Hum! - Balançou os dedos, dando a volta pela mesa, procurando algo pelas gavetas. - Em todo caso... S-sabemos que isso não-- Ele se interrompeu quando um grito surgiu.  

Ambos se assustaram. Era um grito fino, extremamente agudo, era tão alto que eu poderia suspeitar que vinha do andar de cima, e mesmo de longe era potente. Antes que pudéssemos nos recuperar, um novo grito tomou toda Marmoreal. Tarrant e eu nos encaramos, seguido ao outro grito veio um choro soluçante.  

De criança. 

-Valentina. - Proferi o seu nome, levando minha mão ao peito. - Aconteceu alguma coisa. - Foi tudo o que disse antes de abrir a porta.  

Eu corria com desespero, quase tropeçando em meu próprio vestido.  

Olhei para trás por um instante em que os meus pés ganhavam vida própria, Tarrant vinha atrás de mim. - Oh, c-céus! - Arfei. - Acho que ela caiu da escada!  

-I-isso j-já aconteceu t-tantas vezes! - Seus cachos ruivos esvoaçavam. - E-ela nunca chorou dessa f-forma! 

O seu grito mobilizava as criadas, elas surgiam dos corredores. Todos estavam sem entender o que acontecia. - Rainha, t-tome cuidado! - O Chapeleiro deixava explícita sua preocupação enquanto eu subia os degraus altos da escada.  

Parei por um momento. Levantando as muitas camadas do meu vestido, deixando o babado da minha roupa debaixo aparecer. Éramos guiados por seu chorinho soluçante. O corredor do quarto real começou a receber a visita das criadas e curiosos. 

-Alice... O que aconteceu? - Meredith cruzava o corredor, parando-me quando tocou o meu ombro.  

Mas eu me afastei de forma bruta. - E-e-eu ainda n-não sei... - Deixei de correr, o coração agitado e toda aquela transpiração que grudava em meu vestido me dizia que era hora de parar. Apenas me apressei, sendo seguida por meus súditos, todos assustados.  

Minha bebê soluçava, segui o seu som agoniante. 

Empurrei a porta do seu quarto, tendo a certeza que foi onde tudo começou.  

Meus olhos presenciavam uma a cena, aquele tipo de cena que não precisava de qualquer explicação: A pequena estava no chão, seu rosto amassava no carpete de pelo, as bochechas vermelhas, ensopadas por suas lágrimas enquanto os olhos mantinham-se fechados, com força. A sua pequena mão alisava a coxa, seu corpinho se contorcia, com certeza de dor. Stayne terminava de colocar o seu cinto. - O QUE VOCÊ FEZ ?! - O meu grito terminou de assustar a todos.  

O Rei manteve sua postura, é claro. Ele nada me disse, apenas ajeitou a abotoadora do seu terno. As criadas e Tarrant estavam no corredor, McTwisp ficou entre eles, chegando naquele exato momento.  

-Meu amor... Meu anjo. - Me abaixei para pegá-la. ''M-mamãe'' Dizia. - Ela está tremendo!  

-O que todos vocês fazem aqui?! Pensam que é uma peça de teatro?! – Stayne os enxotava, o fluxo no corredor voltou a normalidade, enquanto apenas poucos súditos o desafiavam a ficar.  

Observei a grossura do couro de seu cinto, a fivela de ouro pesada. Fixei meus olhos ali por alguns segundos quando me dei conta.   

Minha filha ainda chorava quando, hesitante, decidi levantar a saia do seu vestido. Estava estarrecida quando vi a marca vermelha, era como um desenho fiel do cinto do Rei, roubando a palidez de suas coxas, o inchaço estava sutil, mas sua pele parecia latejar com a dor. A pequena levou sua mãozinha até a coxa machucada, fungando ao meu ouvido. – Você a feriu. – Levantei o meu rosto, o comentário gerou múrmuros entre os curiosos. – VOCÊ A FERIU COM CINTADAS, VOCÊ É UM MONSTRO! – Meu grito ajudou para que Valentina chorasse mais, trêmula, encolhida, tentava entender o motivo para merecer aquele castigo.  

-O que está acontecendo aqui?! – Sulian empurrou Tarrant, passando pela porta.  

Eu estava farta, farta de tudo! 

-Não ordenei que entrasse! – Esbravejei.  

-Isto me parece ser um problema de família. – Ela desceu seus olhos cansados para a garota. – Eu tenho o direito de estar a par da situação. 

-Se quer mesmo saber. – Levantei a sua saia novamente, a megera disfarçou certo espanto com a marca em sua coxa. – O seu filho ainda não me deu uma explicação.  

-De certo a garota fez algo errado! – Deduziu.  

-O que de errado ela pode fazer?! Ela só tem três anos!  - Retruquei nervosa. Respirando fundo, o que importava agora era... Estar com ela.  A abracei mais. Sem me esquecer da forma em que a vi, deitada no chão, rolando de dor. – Com licença. – Eu os deixei.  

Os súditos abriam espaço, minha bebê chorava contida em meus braços. A sua mãozinha tentava, em vão, amenizar a dor. – Meu anjinho. – Beijei o seu rosto magoado. – A mamãe vai te proteger.  

“Alice” – Eu sabia quem me chamava.  

 Parei no corredor. - ... – Me virei, Tarrant e Meredith vinham ao me encontro.  

-O que aconteceu? – Era essa resposta que eu desejava.  

-Eu não sei, Chapeleiro. - Um suspiro pesado saiu de mim. -  Ele bateu nela, é tudo o que sei.  

-Oh, pobrezinha. – Meredith tocou em seus cachos. Ela coçava um dos olhos, eles ardiam quando carregavam muitas lágrimas.  

-E-eu... – Tarrant hesitou, nos perdemos por alguns segundos. – Posso ver?  

A pequena negou. – Vamos, meu amor. – Sussurrei. – Ele não vai te machucar, deixa a mamãe mostrar.  

-E-está d-doendo. – Murmurou com dificuldade.  

-Schiu. – Levantei sua saia, exibindo sua coxa outra vez. A pele pálida ostentava uma vermelhidão intensa. 

-Está elevado. – Meredith se assustou.  

-Ele bateu com força! – Tarrant estava indignado, e ele não esconderia este sentimento. – D-desgraçado! – Talvez Valentina não compreendesse o seu sotaque. – E-ele terá que se ver comigo!  

-Não procure mais problemas, jovem Chapeleiro. – Interviu Meredith, segurando o seu braço.  

-É melhor se acalmar. – Revidei, ganhando a atenção dos seus olhos laranjas de raiva.  

-Alice... – Disse entre dentes. Sussurrando, ele prosseguiu. – E-eu não posso aceitar isso. Você sabe que não! 

- Eu vou resolver. Isso não vai acontecer de novo. Eu vou cuidar dela. - Tarrant não estava convencido quando me olhou, ele mordia o queixo com força, ao ponto de me fazer acreditar que quebraria o osso do maxilar. - Enquanto isso... Volte ao trabalho.  

Ele abaixou os ombros, Meredith e eu pensamos que ele se acalmaria.  

Mas Tarrant era um louco, e loucos eram imprevisíveis. Completamente imprevisíveis. - Então esta é a sua indignação?! - Ele passou a gritar, perdendo o seu senso. A pequena se escondeu entre meus cabelos, eu conseguia ouvir o seu choro baixo quando toquei o seu rosto, mostrando que estava aqui. - E-este... Este selvagem... - Ele gesticulou. - A a-agrediu desta sua f-forma e você decide a-apenas que não vai acontecer de novo?! 

-Por favor. - Virei o meu rosto. - Estou tentando não me ofender com o seu tom!  

A criada e eu vimos o seu arrependimento quando ele tirou o chapéu. Ele olhava para a cartola, e os seus pensamentos pareciam velejar nas águas profundas. Os seus olhos ganharam a tristeza quando os mirou em mim. - Ela é s-sua filha, Majestade. - Enrolava a língua ao dizer, pressionando a borda da cartola com os dedos.  

Engoli em seco o vazio que surtia em mim. - Com licença. - Ele se curvou.  

O corredor estava desabitado outra vez.  

-Vamos... - Sussurrei e Meredith me acompanhou. 

-Ela ainda está chorando? - Assenti.  

-Com certeza está doendo muito. - Alisei suas costas. A pequena tossiu em resposta e retornou ao choro frágil.  

-O que será que deve ter acontecido? 

-Não faço a menor ideia... - Respondi enquanto caminhávamos. - Só penso que... Meu marido está furioso com o resultado dos exames. - Sussurrei, baixo: - Ele a culpa.  

-Isso não tem cabimento. - Comentou Meredith. Descíamos as escadas. - Com todo o respeito, o Soberano está perdendo sua lucidez com essa ambição de ter um filho.  

-É melhor uma compressa. - Mudei o assunto, alisando a coxa dolorida. Valentina tocava sua mão na minha, gemendo com a dor que os meus dedos lhe causavam.  

Passamos pelo hall de entrada, a grande cozinha do castelo estava vazia, pude suspirar de alívio pela privacidade. - Eu vou preparar algumas ervas. - Assenti, Meredith ajeitava as lenhas do fogão.  

Me sentei na cadeira, deitando-a em meus braços como eu costumava fazer quando tinha um ano e meio. O seu rostinho tão triste me olhava em silêncio, ainda assustada, eu sei. Afastei os seus cabelos, às vezes, sua carapinha me lembrava um leão selvagem, o mais belo de todos. - Não... - Ela insistia em coçar seus olhos quando afastei sua mão, a pegando, tentando brincar com seus dedos para que sorrise, mas não o fez.  

Valentina ameaçava chorar o tempo todo.  

Talvez a dor física não fosse maior do que o que havia dentro de seu pequeno coração. 

-Está tudo bem agora. - Tocava o seu rosto corado, molhado por lágrimas. - Não... Não coce seus olhos... A seda da luva irrita a sua pele tão frágil, minha filha. Vem cá... - A trouxe para perto. - Quer que eu tire? Tire suas luvas? 

-A-a-a-aha-m. - Fungou.  

Libertei suas mãos. O chapéu quase tombando também a incomodava quando puxei a ponta do laço, em seu queixo. - Pronto... - Eu os deixei em cima da mesa.- Está doendo muito? - Hesitou, mas assentiu. - Eu vou conversar com o seu pai. - Puxei as mechas rebeldes de seus cabelos, as prendendo junto com o penteado quase desfeito. - O que aconteceu?  

Olhei bem no fundo dos seus olhos, eram grandes como os do Chapeleiro. Mas carregavam a minha cor. - E-e-eu e-estava brincando...  

Sorri fraco. Meredith também, ao olhar para trás. - Era de se imaginar, senhorita. - Respondeu a tia Dith, como costumava chamar.  

Voltou a coçar os olhos, tão irritados. - P-papai me d-deu leitinho...  

-Hum. E o que mais? 

-A-ai... - Ela me olhou. - A coroa-a caiu e a-amassou... - Esfregou a mãozinha na coxa, mais inchada agora. - P-papai me b-ba-ba-t-teu... Ao-h... E-ele bateu m-mamãe. 

-Oh... Stayne. - Proferi o seu nome com angústia.  

O cheiro das ervas queimando pareciam contaminar todo o ambiente. - Está pronto. - Meredith jogou-as dentro de um balde de madeira.  

Subi seu vestidinho, ela usava um pequeno shortinho de babados. - I-isso v-vai c-curar o d-dodói? 

Assentimos juntas.  

Meredith fazia as compressas, pressionando sobre o inchaço. Valentina ameaçava chorar o tempo todo. - Está muito feio. - Murmurei. - Eu nunca pensei que ele chegaria neste nível, ao ponto de bater em uma criança dessa forma. - Estava aflita.  

-Não acha estranho a história do leite? - Questionou a empregada, concentrada no que fazia.  

Os olhos de minha bebê pararam nos meus. - Eu não acho que ela esteja mentindo. 

-Não foi o que quis dizer, Rainha. T-talvez eu tenha me expressado mal. - Pausou a senhora. -Digo... Por que o Rei lhe daria leite? Ele nunca teve nenhum tipo de zelo com a menina. 

Suas palavras iluminavam a minha mente. - De certo que não... - Balancei a cabeça. - Espero que não seja o que estou pensando.  

Meredith e eu nos olhamos, ela partilhava da mesma desconfiança.  

-Fique com ela. - A deixei na cadeira. 

-M-ma-mãe. - Ela segurou a minha saia. Chorando.  

-Minha filha... - Alisei os seus cachos. - A mamãe vai voltar logo.  

Valentina esticou os braços. Chorando mais alto do que antes. - Não... - Me partia o coração. - Fique com a tia Dith, eu não vou demorar. - Puxei a minha saia.  

O seu choro quase explodia meus ouvidos. Meredith tentava convencê-la quando a pequena quase caiu da cadeira ao tentar descer. - S-schiu... - Eu me afastava sutilmente, balançando as mãos. - Eu vou voltar. 

-M-m-mamã... - Ela parecia se conformar enquanto me via indo, aos poucos.  

Virei as costas.  

''N-não, mam-ãe! N-não! '' - Gritava com força da cozinha, segurei as lágrimas enquanto apressava meus pés.  

Eu me sentia como se a abandonasse. 

Subi os degraus, ignorando McTwisp, que traçava o caminho oposto. Com certeza estava louco para entender o motivo de tanto mexerico no castelo, as criadas mais fofoqueiras, há essa hora, já haviam espalhado a quase discussão da família real, e a princesa machucada por seu suposto pai.  

Passei pelos corredores, evitando encarar quem passasse por mim.  

Eu tentava fingir que era mais um dia normal.  

De fato, era normal os desentendimentos que aconteciam em meu casamento.  

Girei a maçaneta do quarto de Valentina assim que cheguei ao seu corredor, precisei ser bem rápida, se a minha desconfiança se tornasse certeza, o Rei faria questão de esconder o seu plano. - Por favor. - Apressei-me, Lucie pegava a bandeja com a caneca vermelha. - Não jogue fora.  

-Perdão, Majestade. - Ela recolocou a bandeja no lugar. Uma breve reverência tomou seus pés. 

-Valentina bebeu este leite? 

A criada me olhou, aérea, sem saber oque responder. - Infelizmente eu não estava presente. O Rei mandou que eu saísse, embora tenha ordenado agora que eu me livrasse disto. - Apontou com a cabeça para a caneca vermelha. 

Aquela inocente caneca vermelha. - Pode ir. - Respondi sem encará-la. Me aproximava devagar da caneca de porcelana, enquanto ouvia os passos da criada deixando o quarto.  

Peguei com cuidado por sua asa, levando-a até meu nariz. O cheiro era de leite, apenas. 

Mas sua cor não estava normal. 

Mexi um pouco. Eu poderia pensar que haviam pingado algumas gotas de essência de baunilha para que Valentina não enrolasse para beber, no entanto, aquela gentileza jamais se aplicaria ao Stayne. 

Meredith tinha toda a razão. 

Em todos esses três anos, o Rei nunca demonstrou qualquer tipo de zelo para minha filha.  

Fui tola em imaginar que algum dia isso viria acontecer. 

Me peguei observando o leite por aqueles longos segundos.  

No fundo, temia e hesitava em descobrir que estava certa.  

Ergui rosto, carregando a caneca com firmeza enquanto abandonava apressadamente alguns corredores, chegando ao lance de escadas que ligava ao hall principal do castelo. O grande salão de entrada, onde havia algumas esculturas trabalhadas no gesso, imitando com perfeição o busto dos antigos Reis. Ignorei as estátuas, até mesmo as pinturas que enriqueciam as belas paredes de Marmoreal.  

Da cozinha, pude ouvir a risadinha escandalosa de Valentina. Antes mesmo de me aproximar, sorri. Fui cautelosa em chegar na entrada.  

''Oh, m-mas a senhorita não me disse o seu nome!'' - Exclamou a voz, um tanto divertida. Tarrant estava agachado de frente a nossa filha, ele segurava uma meia colorida, com um botão costurado, fingindo ser um fantoche de pano, movia os dedos para que a larga boca do boneco se mexesse.  

A pequena riu outra vez. - Valentina. - Disse entre risos, tampando seus lábios. Enid se aproximou, tendo a audácia de alisar o ombro de Tarrant. - C-como você se chama? 

-Aaaauhn... - Ele fez uma careta. - E-eu estou com vergonha!  

-Fala! - Pediu a criança, seus olhos brilhavam.  

-Veja, Valentina. - Enid apontou. - É a sua mamãe.  

Precisei deixar a entrada. 

Meredith cuidava das compressas, cozinhando novas ervas na lenha do fogão. Tarrant se levantou. - Mamãe. - Chamou a pequena.  

Fui em sua direção, afagando seus cachos. - Como você está?  

-A-ainda dói. - Avisou com inocência.  

-Vai passar. - Prometi.  

Me pegava sorrindo para Tarrant, era como se o tempo parasse, sua atitude de deixar o trabalho e consolar nossa filha, com certeza, era um dos motivos para que uma Rainha se visse apaixonada. 

Completamente apaixonada.  

O Chapeleiro também sorria para mim. 

Acho que os ponteiros nos deram uma trégua naquele dia.  

-M-m-mamãe. - Senti a minha saia sendo puxada, Hightopp se despertou, voltando-se para o balcão. - E-eu quero colo!  

Deixei a caneca sobre o balcão. - Parece que tem algo errado aqui. - Pausei. - Meredith, pode dar uma olhada depois? Mas peço que não beba.  

Ela não se virou, estava ocupada escaldando as ervas. - Sim, Majestade.  

Enid brincava com as mãos de Tarrant quando eu os olhei.  

Nossa filha ainda insistia para estar em meu colo.  

-Chapeleiro. - Ganhei sua atenção. Não apenas a sua. Os olhos sombreados da feiticeira também paravam em mim. Eu desejava ter a sua companhia. - Podemos conversar a sós por um instante? - Antes de me responder, ambos se encararam. Enid o soltou, não muito satisfeita.  

-É c-c-claro, R-Rainha. - Ele enrolou a língua, dando a volta pelo balcão de mármore.  

Ele me seguiu quando deixamos a cozinha.  

A sala de estar costumava ficar vazia quando não tínhamos nenhuma visita importante.  

Tarrant abriu a porta de madeira, gesticulando para que eu entrasse.  

Ele não a fechou, apenas deixou-a recostada.  

Infelizmente, não iriamos demorar. 

Esperei até que ele se virasse para mim. O Chapeleiro dava-se conta da meia colorida em sua mão, ele a tirou depressa, dando-me um sorriso divertido. - B-bom... Algum problema? 

Encarei os seus olhos verdes penetrantes. - Por sorte, não. - Dei um passo para frente, não conseguia resistir. - Eu só queria agradecer por você ter vindo na cozinha para alegrar a nossa filha. - Ele dava seus passos para trás enquanto via que eu me aproximava. 

-O-oh... Majestade, i-isso não foi nada.  

Peguei a sua mão, sentindo seus dedos trêmulos. - Obrigada.  

O Chapeleiro sorriu. Eu o abracei, acomodando-me em seu peito. Ele tocava sutilmente os meus cabelos soltos. - Eu acho melhor voltarmos para a cozinha. - Propôs. 

-Não. - Sussurrei. - Não agora, deixe-me abraçá-lo um pouco mais. Eu sei que sou a mulher mais poderosa de Wonderland, mas sinto-me segura em seus braços. 

Tarrant não respondeu.  

Apenas me abraçava. - Estou me sentindo terrivelmente triste. - Eu o olhei. - Penso que não deveria ter outro filho enquanto não souber cuidar de nossa filha. 

-V-Vossa Majestade é uma excelente mãe. - Ele alisou o meu rosto.  

Sorri. 

Sorrimos. ''Rainha?'' - A porta se abriu.  

Quase não tive tempo de me afastar de Tarrant. E Enid me lançou um olhar confuso. Ela segurava a mão de Valentina. - Ela quer ficar com a Soberana. - Libertou sua mão quando a pequena correu, ainda com uma expressão de dor.  

Eu a peguei no colo, desconfiando que aquilo era só um disfarce para que a Bruxa vigiasse o Ruivo que acreditava ser seu. - Eu só estava agradecendo ao Chapeleiro da Corte pela atenção que tem dado a nossa filha.  

A mulher o abraçou, ele não parecia preparado para aquele abraço. - Acredite, ele estava descontrolado quando o encontrei. Na verdade, eu que sugeri que ele descesse para vê-la quando me contou sobre o ocorrido.  

-Oh. - Sorri forçado. - Devo agradecer a você, então. Obrigada.  

Enid parecia vitoriosa. - É inevitável, eu adoro crianças. - Levantou o seu queixo. - Sonho em gerar filhos, um dia. - Olhou diretamente para Hightopp.  

Ele riu, sem saber o que dizer. Encontrou uma saída para aquele momento constrangedor quando mencionei que deveria retornar a cozinha. - B-bom... - O Chapeleiro balbuciou ao chegar na cozinha. - A-acho que devo ir agora. - Ele puxou o seu relógio de bolso. - Tenho muito trabalho a fazer. 

Assenti.  

- Enid. - Não esperei que ela entrelaçasse seus dedos com os de Tarrant. - Queria falar com você.  

A Bruxa suspirou. - Fique mais um pouco. - Pediu para o pai de Valentina.  

-Oh, p-perdão. Eu não posso. - Balançou a cabeça. - Tenho muito trabalho a fazer, nos veremos depois. - Ele levantou o queixo de Enid, o capuz de cetim da Bruxa escapou, caindo por seus ombros. Ele saiu após dar um beijo em sua testa.  

Tarrant jamais me trocaria por uma peça de vestido.  

-O que deseja, Majestade?  

Coloquei Valentina sentadinha na cadeira, Meredith usava novas compressas na marca de cinto que recebeu. - Pedi para a minha criada ver, no entanto, acabo de me lembrar que você tem conhecimento com poções. - Eu a trouxe para o balcão. - Veja. Estou desconfiada dessa bebida.  

A Bruxa pegou a caneca com duas mãos, seus olhos místicos examinavam a mistura. - Isso não é só leite.  

-Sabe o que pode ser? 

Ela me olhou. - Chamam de gota preta. É um veneno concentrado. 

Tentei não me surpreender com aquelas palavras. - Obrigada, pode ir.  

-Meredith. - Me virei, a criança não escondia sua expressão de sofrimento com o ardor das compressas. - Fique com a Valentina, daqui a pouco está na hora do seu mingau. - A criada assentia a cada palavra. - Eu quero ficar sozinha, para pensar. 

[...] 

Da janela do quarto eu observava o Horizonte. Naquele momento eu percebi que não fazia isso há muito...  

Estava em silêncio, recolocando meus pensamentos no lugar. 

Talvez a terceira taça de vinho não me ajudasse com aquela tarefa, no entanto, eu não me importava. Eu sei que mudaria de pensamentos, sei que posso imaginar que Stayne teve um bom motivo para aquela punição, mas então, eu retornava para a taça, onde concentrada conseguia ver o meu reflexo no vinho e me recordava de Valentina... Ela tinha a cor dos meus olhos.  

A filha de Tarrant era uma criança agitada, bagunceira...  

Mas eu sei que não merecia aquele golpe.  

A guerra que se espalhava em Wonderland me confirmava o que eu deveria ter constatado há muito tempo: Ilosovic Stayne não jogava para perder. Ele costumava ser um guerreiro prestigiado e valoroso. E de certo, ele não iria permitir que Tarrant atrapalhasse a sua vida, muito menos a pequena versão feminina do louco. Depois do Chapeleiro, era dela que ele parecia ter mais raiva.  

Terminei de beber a terceira taça. Estava cansada de goles lentos, não tinha vontade de apreciar o gosto do vinho naquele dia.   

A voz sensual de Enid falava ao meu ouvido... Repetia a mesma frase... 

''Chamam de gota preta. É um veneno concentrado...'' 

Ilosovic Stayne era capaz de matar uma criança indefesa, quem sabe culpar a criada mais tola do castelo por isso...  

A quarta taça conseguia ser mais saborosa.  

Mas precisei me apoiar na mobilha, estava sonolenta quando a porta se abriu.  

Olhei para trás de repente. Sulian esticava seus braços para que pudesse alcançar o ombro do seu filho, onde alisava vagarosamente. Stayne estava cabisbaixo, mas com certeza não existia arrependimento no que fez.  

O nosso encontro não foi como eu esperava.  

Era surpresa para ambos a minha presença no Quarto Real depois do que aconteceu. - M-mande sua c-criada arrumar as coisas. V-você não vai dormir aqui esta noite.  

Ele soltou uma risada amarga. - Você é patética. Eu sou o seu marido e não vou me rebaixar a ser submisso as suas ordens!  

Joguei a taça, molhando o chão. - Você queria envenenar minha filha!!! - O meu grito despertava toda Marmoreal.  

Stayne se recompôs depois de alguns segundos. - Nossa filha... - Murmurou. - É nossa filha e eu tenho o direito de puni-la como quiser!  

-N-não... - Cuspi. Cambaleando, Sulian estava apreensiva.  

Mas era um problema de família que ela iria presenciar. - E-eu não estou falando de punição, e-e-eu estou falando de m-morte! Dos seus atos! E-eu sei o que aconteceu... Agora... - Gesticulei, virando meus pulsos. Com lágrimas. - Tudo faz sentido, e-era você!! Você queria matá-la no bosque, e-eu sei!  

-Vamos Sulian. - Ele cortou seu frio olhar. - Não daremos trela a essa louca.  

Stayne deu as costas, e simplesmente saiu.  

Sua mãe, Sulian, parou no batente da porta para me lançar o seu olhar piedoso. No fundo, apesar de apoiar o seu filho, ela compreendia o meu sofrimento. Ela era mãe.  

Limpei minhas lágrimas grossas.  

Não deixaria aquilo passar.  

O vinho que entupia minha garganta me dava muiteza necessária.  

Voltei aos corredores, onde consegui alcançá-los.  - Eu me c-casei c-com um assassino! - Fiz questão de gritar, sentindo minhas cordas arranharem. Os dois se viraram juntos. - É i-isso, Sulian. T-talvez não saiba m-mas o seu filho é um assassino!  

-Não sabe o que diz, Alice! - Respondeu o Valete.  

Mas no fundo, havia um toque de temor em sua voz. 

-E-eu sei! Eu sei sim! Sei que você foi o responsável por destruir o clã Hightopp!  

-É dessa forma que me enxerga, minha esposa? Como um assassino?  

A raiva aqueceu o meu sangue. - C-cínico. - Fui até sua direção, sua velha mãe não me impediria de socar o seu tórax. Costumava ganhar mais força quando não estava em meu melhor estado de lucidez. - F-fingido! V-você é um assassino cruel, v-você queria... - O socava. - E-ENVENENAR A MINHA FILHA!  

-Soldados! - Ele aproveitou que uma pequena tropa fazia a segurança do corredor. - Segurem a Rainha! - Ordenou rindo. - Está claro que Kingsley não está em completa sanidade!  

Eles o obedeceram, prontamente. Embora aquela pequena confusão fosse alvo das criadas curiosas e de McTwisp, que desejava descobrir o que acontecia, de uma vez por todas. - V-você não vai me calar! Eu direi tudo o que sei! Vou contar a verdade para que todos descubram! TODOS! 

-Onde estão as provas?! - Stayne gritou.  

-Tarrant o viu!  

-Ele é um louco! Só mesmo você para acreditar em suas palavras!  

-E quanto ao que fez com Valentina?! Você não se arrepende?! 

Ele ergueu o seu rosto. - Ela merecia uma boa cintada, para aprender!  

Tentei me soltar das garras dos soldados. - Desgraçado!  

''Vamos, meu filho. '' - Pedia Sulian. ''Deixe que a Rainha se acalme.'' 

-Eu não vou me acalmar! - Berrei. - Quer saber m-mesmo, Sulian?! - Não hesitei, não hesitaria. - E-eu odeio o seu filho! Odeio! ODEIO MUITO! - Pausei, sentindo-me aliviada. Eles me olhavam surpreendidos quando Tarrant chegou por trás da tropa que me detinha. Sua presença fez o meu coração bombear. Eu precisava dizer tudo, tudo o que me fazia ter raiva.  

Olhei para a velha enrugada, que me julgava em pensamentos.  - Eu a o-odeio também, a odeio por ser o que é! P-por não enxergar a verdade! - Gritei, chorando. - P-por s-ser t-tão p-parecida com H-Helen Kingsley! M-mas a sua opressão não v-vai me impedir de dizer! Dizer que t-todas as noites desejo morrer a estar com e-este ser que v-você gerou! - Solucei. - T-todas as noites, S-Stayne... - Rangi os dentes. - Eu s-sinto uma vontade imensa de traí-lo! - Gargalhei. Os soldados me seguravam. - V-vocês todos imaginam com quem!  

''A Rainha enlouqueceu...'' - Os sussurros começavam, vinham junto com uma manifestação de múrmuros. ''Um Rei traído, com certeza isso será o assunto do baile. ''  

Stayne olhou em sua volta. E então, tudo aconteceu rápido demais. - MALDITA! - Foi o que gritou antes de correr em minha direção, aproveitando meus braços atados por seu próprio exército, ele socou o meu rosto e com o golpe senti meu pescoço estalar.  

No mesmo instante, Tarrant partiu para cima dele.  

Caí no chão quando tudo se tornou apenas uma multidão de pés. O Rei levava e retribuía os golpes do Chapeleiro, as testemunhas abriram uma roda como um grande espetáculo em que a Rainha e seus amantes eram a atração principal. As criadas mais frágeis decidiram correr antes que aquela briga descontrolada as acertassem. Os soldados contiveram o homem louco após alguns minutos de pancadaria. - LEVEM-O! - Stayne gritou apontando seu dedo carregado de fúria. Ele se reergueu sozinho, encontrando um lenço no seu bolso para limpar o sangue que amargava nos lábios.    

-N-não! - Intervi. E de repente, toda a loucura das taças de vinho se dissolveram. - Ele me defendeu por cavalheirismo diante deste ato covarde a que fui submetida! Soltem-o, agora mesmo! Soltem!  

Os Soldados de Copas se entreolharam.  

Mas não havia muito o que discutir. 

Eles me obedeceram.  

Todos saíam aos poucos, levando com eles os comentários que envaidavam o corredor.  

Tarrant passou pelo Rei, embora Stayne estivesse concentrado em meu olhar. Eu observava as pequenas marcas que seu rosto ganhou com aquela briga, mal pude perceber que Tarrant se tornava minúsculo pelo corredor. - Saia da minha frente. - Pediu o homem.  

O olhei dos pés a cabeça, sua mãe fazia o mesmo comigo. - Será um prazer.  

[...] 

-Ela estava pintando quando a deixei. - Meredith me avisou, assenti receosa. 

A criada abriu a porta do quarto de Tina, o ruído não tirou sua concentração naquela vez.  

A Ruivinha estava sentada em um pequeno banquinho de madeira, o pincel tinha a precisão de seus dedinhos, no entanto, ela soltou um gemido contido ao se acomodar no banco. - Ainda está doendo? - Valentina se virou com a minha voz.  

-M-mamãe. - Largou o pincel no chão, correndo para me abraçar.  

Eu a peguei no colo, jogando seus cabelos presos para trás. - Como você está?  

Ela não quis responder. Só desejava apoiar sua cabeça em meu ombro, coçando os seus olhos que ameaçavam chorar toda a vez que se lembrava da dor. - Ouvi dizer que seu vestidinho para o baile já está pronto. - Fora Enid que me deu a notícia, há alguns dias, admito... 

Mas queria animá-la. 

Sorri. - Vamos lá para que experimente? 

Valentina respondeu que não, balançando a cabeça preguiçosamente.  

-Oh, minha filha... - Sussurrei, alisando suas costas. - Te vejo tão contente por esse castelo, me dói vê-la contida assim.  

-E-estou t-tristinha.  

-Vamos lá. Você vai ficar linda. - Eu a levava, Meredith nos seguia.  

Eu não tinha tanta certeza que Tarrant estaria no atelier, mas pelo o que conhecia do Ruivo, ele gostava de trabalhar para manter sua mente mais lúcida.  

Girei a maçaneta.  

Ele se apoiava na mesa quando virou seu rosto por cima do ombro, estava meio tenso mas se aliviou quando nos viu. Sorri. Ele sorriu de volta. - Podemos entrar?  

-S-sim, é c-claro. - Seu sotaque me atingia.  

O atelier estava uma bagunça de tecidos e vestidos presos aos manequins de arames. - Hoje a Rainha trouxe uma cliente muito especial. - Meredith sorriu.  

Percebi que Tarrant mancava sutilmente quando se aproximou. - V-veja, minha filha. É o moço dos chapéus. Diga oi. - Avisei, ele tocava seus cabelos, sem receber a retribuição. - Desculpe. Ela está um pouco quieta. 

Ficamos em silêncio, nos encarávamos quando Valentina decidiu levantar o seu rosto, jogando os cachos para trás. - Oi.  

Os olhos de seu pai brilharam com aquela curta palavra. - Oi! - Ele tocou sua mãozinha, beijando o dorso. - O seu vestido está pronto! É o seu primeiro baile! - Sorriu, cerrando os olhos. - Uhn? Onde está a animação?!  

Se encolheu, recolhendo a mão. - Mamãe. - Me abraçou. 

Todos pareciam decepcionados.  

Tarrant tirou o seu chapéu, tocando os cachos entre os dedos. Ele suspirou. Pensei em fazer uma observação sobre o seu rosto machucado mas ele foi mais rápido em dizer: - É m-mesmo uma pena q-que não queira ver o seu v-vestido. - Ganhou a atenção dos grandes olhos de nossa filha. - Aproveitei alguns retalhos para fazer uma boneca de pano para você! Mas... - Ele revirou os olhos, remexendo os dedos. - Não vai ganhar! - Deu as costas. 

-B-boneca?  

O Chapeleiro virou seu rosto por cima do ombro, fingindo orgulho, cruzou os braços. - É sim.  

Seu sorriso travesso por fim voltou. - E-eu quero ver.  

-Eu não sei, sabe! - Perambulou. - Você nunca gostou de experimentar meus vestidos!  

Tarrant era bom em discutir com crianças. - E-eu gosto s-sim. - Murmurou a pequena.  

-Hum. E-eu quero ver. - Cerrou os olhos. - Espertinha.  

Ela me agarrou um pouco mais. - Cadê o v-vestido? 

Ele se prontificou a pegar. Valentina tocou no tecido quando a pus no chão. - O s-senhor fez mesmo uma boneca? - Perguntou com inocência.  

Tarrant assentiu. - E eu fiz um vestido igual ao seu, para combinar.  

Eles sorriram.  

Meredith e eu nos entreolhamos, eram sorrisos iguais.  

Me agachei diante de seu pequeno corpinho. - Vamos experimentar, então! - Busquei as pequenas pregas em suas costas.  

Levantei seu antigo vestido até que saísse, seus cabelos ganharam mais volume ao se bagunçarem mais. Ela usava apenas um shortinho de babados e uma pequena blusa branca que escondia sua barriga. Tarrant não deixou de observar a marca de agressão que recebeu na coxa, mas não queríamos que ela se lembrasse da cena que com certeza martelava seus pensamentos durante todo aquele dia.  

Prontamente, Hightopp encaixou o vestido em nossa filha, pedindo carinhosamente que ela passasse os braços pelo buraco da manga. Eu ajudei a ajeitá-la. Meredith nos assistia com um sorriso pregado no canto dos lábios. - Ela está linda, Tarren... - Avaliei. Valentina se entretinha com os enfeites pregados em sua saia, pequenas rosas vermelhas. Nos olhamos. - Obrigada. 

O Louco sorriu, mas não conteve o seu gemido ao se levantar. - Você está bem?  

-U-um pouco machucado... - Não deu importância. 

Segurei o seu braço. - Eu vou cuidar de você. 

A pequena nos assistia. - O-oh, Majestade... Isso n-não é neces--- 

-É sim, você me defendeu. - Insisti. - Meredith, pode fazer algumas compressas? - Ela se curvou, saindo um pouco desconfiada. - Seu rosto está machucado. - Eu o toquei.  

Valentina puxou sua saia escocesa. - Moço... Moço, a m-minha boneca.  

-Valentina! É feio cobrar dos mais velhos! Me desculpe... 

Ele riu com fraqueza, algo doía o seu abdômen. - E-e-eu e-estou muito f-feliz em vê-la c-contente outra vez.  

-Venha, sente-se. - O levei para o sofá.  

-A boneca está na gaveta do armário, b-bem ali. - Apontou.  

Ajeitei a minha saia, dobrando meus joelhos e me sentando ao seu lado. Buscando a sua mão, com certo desespero. - P-pegue a boneca, Valentina. - Pedi, ela nos assistia em silêncio quando correu para a gaveta do armário, por sorte conseguiu alcançar. - O seu rosto... - Murmurei. Levando a ponta dos meus dedos que desenhavam os pequenos cortes.  

-T-t-tudo bem... - Ele fechou os olhos. - E-está tudo bem... 

-Se bem me lembro... - Sussurrei. - Você me disse uma vez que o meu beijo sara suas feridas.  

Abriu os olhos. - Gostaria... - Levei os dedos para seu corte, um pouco abaixo do olho. - De beijar assim. - Sussurrei. 

-Oh, q-que boneca grandona! - A resgatou da gaveta, surpreendida com o seu tamanho.  

-E como se diz? - Instrui.   

-Obrigada! - Respondeu, abraçando o novo brinquedo favorito.  

Tarrant sorriu.  

Mas a pequena foi em sua direção, acreditando que só aquelas palavras não seriam o bastante. 

Ela o abraçou.  

Mesmo dolorido, Hightopp deu o seu jeito de retribuir.  

Esperamos que ela se afastasse, estava entretida com a nova companhia, com certeza pensando em um nome para batizá-la. Valentina escalou o banquinho de madeira, segurando a boneca de pano em mãos. - Onde dói? - Tive o cuidado de murmurar.  

-E-ele me acertou no queixo. - Reclamou. - M-minha barriga...  

''Majestade?'' - Meredith chegou com as compressas.  

Não disfarcei a forma como estava sentada, quase desejando estar sobre suas coxas. A criada escondeu o sorriso malicioso enquanto Tarrant apoiava a nuca na parte amadeirada do sofá. - Aqui estão. Eu vou deixá-los a sós. - Se retirou com prontidão.  

-A-auhn... Alice... Você não precisa cuidar de mim. - Ele tocou a sua testa enquanto eu molhava o seu rosto com as compressas.  

-Até quando ficará tão relutante? - Sussurrei. - Você escutou tudo o que eu disse hoje?  

Sua respiração ganhava mais velocidade. Seus olhos não cansavam de certificar que Valentina não prestava a atenção em nossa conversa. 

Eu não me importava. 

Ela tinha apenas três anos, jamais conseguiria interpretar as investidas de sua mãe. - A-acr-redito q-que sim. - Gaguejou. Nervoso. 

Sorri. Jogando os meus cabelos. - Isso é bom. - Busquei a sua mão outra vez. - Precisei me controlar para não jogar na cara do Rei sobre a minha... - Tomei mais cautela.- gravidez.  

-Majestade... - Repreendeu.  

Mas o impedi, colando meu dedo em seus lábios. - Schiu... - Seus belos lábios, milimetricamente desenhados. 


Notas Finais


Valentina parece bem magoada!
Stayne não está nem um pouco arrependido...
Será que isso vai intervir na relação de ''pai'' e ''filha''?
Enid e Tarrant ainda estão juntos... ai ai...
Alice parece que não vai desistir do que quer.
Será que a Valentina vai se recuperar?
Etaaaaa.... E será que ela vai perceber alguma coisa entre os papais ali?

Eu peço, encarecidamente, que deixem um comentário.
DEPENDO deles para me inspirar.
Se você gosta da fanfic e não quer que entre em Hiatus, deixe um ''Oi! '' diga o que achou!
Muito obrigada. Beijos!


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