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História Apenas um sonho - Pequenas pratas da noite.


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Fiz um capítulo um pouco maior para compensar a demora! Espero que gostem!

Últimos capítulos.

Capítulo 117 - Pequenas pratas da noite.


Valentina balançava seus pés.  

Peguei a mão de Tarrant, ele estava tão perto e nossa filha parecia tão distraída com a boneca nova. Eu não poderia deixar de pensar em uma recompensa por ter me defendido. 

Talvez ele quisesse o mesmo que eu, quem sabe ele desejasse com todas as forças que nossos lábios se tocassem com carinho e ternura, como há muito não acontecia...  

Estávamos ali, no sofá verde musgo, colocado por mim unicamente para que ficássemos juntos, expressando o que ele chamava de amor. Alisei o dorso de sua mão, minhas unhas brincavam com a mancha de seus dedos, traçando lentamente uma rota, imitando o desenho com perfeição, a obra prima que o mercúrio deixou em seu corpo. Pude ver o pomo de sua garganta descer com esforço, sua respiração pesou como o meu coração quando acelerava, cheio de amor, era amor...  

Mergulhei o algodão úmido em seu ferimento, os pequenos cortes em seu rosto que não tiravam a beleza exótica, beleza esta que Valentina teve sorte de herdar.  

Aqueles olhos penetrantes vigiavam a minha alma quando um sorriso brincou em seus lábios.  

Tarrant era lindo, tanto por dentro como por fora.  

E a única coisa que eu pensava naquele momento era tê-lo em meus braços... 

Estar em seus braços, ser sua. Só sua.  

Fugir, ir para longe...  

Por um impulso, toquei a ponta do meu nariz com o seu.  

Mas ele reagiu com espanto, levantando-se em seguida, os olhos arregalados, a perna dolorida não aguentou o esforço repentino e ele derrubou o balde com as ervas antes que pudesse se segurar. Ele caiu no chão, sentando-se sobre o balde (agora vazio) ele segurou o seu chapéu para que o mesmo não caísse também, os pés escorregavam no chão molhado. 

Talvez em outros tempos eu acharia aquela cena tão cômica, digna de uma boa gargalhada... 

Talvez fosse engraçado... 

Se eu não estivesse tão ofendida.  

-Ih! Caiu! - Valentina quebrou o silêncio constrangedor, mas a situação terrível ainda permanecia.  

-M-me perdoe, M-Majes... O-oh... - Ele se levantou, retirando o balde de seu traseiro.  

-Valentina, vamos. - Eu a chamei. - Cuidado com o chão, está molhado. - A menina brincava de saltar nas poças. - Com licença.  

~Algumas horas mais tarde~ 

Os pequenos pontos cresciam discretamente ao céu.  

Eu me encontrava no colchão, o corpo encolhido entre as cobertas, as vigiava sem sorrir, observando que elas pareciam pequenos pingos de prata, pintados com perfeição no céu do País das Maravilhas, enquanto as cortinas balançavam com o vento que entrava pela janela. Me remexi no colchão, virando-me para o outro lado. Ainda não era hora de acender os castiçais, nem mesmo estava na hora da janta. Mas ali permaneci durante quase uma hora e meia, deitada, encolhida... Pensativa, eu diria.  

Seu travesseiro de penas já não estava no mesmo lugar que antes: Ao meu lado. 

Ordenei que o Rei dormisse em outro quarto, talvez eu lhe fizesse um favor, afinal, assim poderia encontrar qualquer criada para que lhe fizesse companhia.  

Não importava quem fosse para mim, contanto que não seja a infeliz Rainha de Wonderland.  

Apertei a coroa de ouro, as pedras reluzentes não eram tão belas quanto as estrelas. Na verdade, elas eram a minha prisão, minha infelicidade, a promessa de uma vida de luxo e poder não me crescia os olhos.  

Em meu Mundo, talvez, minha irmã e minha mãe estariam satisfeitas com o meu progresso, saber que eu liderava toda uma nação, comandava um reino inteiro, como meu pai costumava fazer com o seu navio e tripulantes.  

Mas... 

Eu estava perdida.  

A antiga Alice não existia mais.  

Eu não era mais aquela menina imponente, curiosa... Aquela moça cética que precisava fazer muitas perguntas e ter todas as respostas para que pudesse acreditar.  

''Mamãe?'' - Valentina aproveitou o pequeno espaço entre o batente e a porta, colocando o seu rostinho entre ele, pude ver seu olho marcante e os cachos soltos, escondendo sua sobrancelha.  

Ela entrou depois que sorri. Meu sorriso era sua permissão.  

Agarrava a boneca, apesar do brinquedo novo, seu rostinho não parecia feliz. - Mamãe, está doendo. - Ela alisou o local da coxa.  

-Venha. - Estiquei o braço, a pegando para o colchão, a cama era alta, ela era pequena e ainda não conseguia alcançar. - Mais tarde vou mandar a Tia Dith cuidar disso para você, tudo bem? - Ela assentiu bondosamente. - Você é meu amor. - Beijei seus cabelos, eram sempre cheirosos e bem cuidados.  

-Você é meu amor. - Repetiu sorrindo.  

-Oh... - Eu a abracei. - Fique comigo. - A cobri. - Assim. - Sorri. - Bem protegida.  

-P-protegida dos malvados.  

-Isso mesmo. - Soltei um suspiro, observando o teto. - Como eu gostaria de protegê-la para sempre. Deveria existir uma maneira de trazê-la de volta para o meu útero... - Minha fértil imaginação voava junto ao vento.  

-Mamãe. - Ela puxou minha manga. - O que é útero? 

Sorri com a sua pergunta, embora a resposta não fosse tão fácil. Nas várias vezes que Valentina questionava, eu acabava me lembrando de quando tinha a sua idade.  

De todas as perguntas que eu costumava fazer ao meu pai.  

Meu amado pai. - Mamãe... - Valentina não me deixou imergir em devaneios, ela sacudia minha manga a todo tempo, esperando as palavras que supririam sua curiosidade. - O que é útero?  

Acordei, observando seus belos olhos, prontos para uma explicação. Eu a trouxe para mais perto. - Útero é o lugar onde as mamães guardam os bebês.  

Ela arregalou os olhos. - Tem um lugar?! - Assenti. - E onde fica?  

Sorri. - Bem aqui. - Alisei a minha barriga.  

A filha de Tarrant parecia tão confusa. - Mamãe? E-eu estava na sua barriguinha?  

-Estava. - Toquei o seu rosto. - E sinto falta desses momentos em que esteve dentro de mim.  

Ela olhava para os lados, os grandes olhos arregalados. - Mamãe... - Se colocou sentadinha. - Eu não caibo.  

-Não... - A abracei. - Você era um bebê.  

-Como eu parei ai dentro?  

-A-ah... - Corei. - Entenderá mais tarde.  

-Me conta! - Sorriu.  

Eu sei que ela havia herdado minha curiosidade. Valentina Hightopp não desistiria tão fácil. Era pequena, e costumava guardar suas perguntas... Principalmente as perguntas sem respostas, elas as repetia até que conseguisse uma explicação. -B-bom... - Pensei. O vento frio me fez encarar a janela por um instante, então, percebi as árvores balançando seus galhos grossos... As folhas se soltavam, partindo para uma aventura no inicio da noite. - Acontece que... - Toquei os seus cabelos. - O seu pai foi até uma árvore... - Ela me ouvia atentamente. - E... Colheu uma semente. Ele me deu e então... A minha barriga cresceu.  

-Eu estava dentro da semente?  

Parecia acreditar. 

Prossegui. - Claro.  

-Ah, mamãe! Eu não caibo em uma barriga, nem em uma semente! Elas são pequenas assim! - Demonstrou, medindo nos dedos.  

-Tudo bem. - Segurei seus pequenos braços, recolhidos ao lado do corpo. - Eu sei que parece confuso, meu amor. - Busquei seus cachos acobreados. - Você vai entender isso mais tarde.  

-Mais tarde que horas?  

Suspirei. -Apenas... Mais tarde. 

- Mamãe... - Voltou a se deitar, encaixando sua cabeça entre meus peitos, eu a trouxe para mais perto, puxando a coberta para nos aquecermos. - Meu dodói está ardendo.  

-Oh... Eu não gosto nem de me lembrar quanto ao que houve hoje. Foi um dia terrível. - Fechei os meus olhos. - Queria sonhar...  

-Mamãe... - A voz mais falha dessa vez, ela se sentou, não conseguia ficar quieta por muito tempo. - P-posso contar uma coisa?  

Percebia seus ombros caídos, as mãozinhas cobertas pelas luvas juntas sobre seus joelhos.  

Sorri. - Claro. - Belisquei o seu queixo. - Ei, o que houve?   

Ela não parecia tão bem quanto antes...  

Os lábios não expressavam seu sorriso arteiro daquela vez. - Mamãe... - Ela suspirou e levantou o seu rosto, o chapéu que escondia sua expressão, revelava os olhos marejados. - E-eu acho que o papai não gosta de mim. E-e-eu não fui uma boa sementinha.  

-Schiu... Filha... Não diga isso... - Alisei o seu rosto.  

-Mamãe... Ele me bateu, e-ele me machucou. - Coçou um dos olhos, aceitando as lágrimas que escorriam.  

-Ele deveria estar nervoso. Tenho certeza que ele está arrependido.   

-Quero ficar com você. – Me abraçou com força, retribui da mesma forma.  

A noite de ontem e o dia estressante me fez dormir. 

~*~ 

Por mais que tentasse lutar, sonhava com as lembranças. Quem sabe imaginar Valentina como um bebê outra vez era o motivo para aquele sonho.  

A melhor época da minha vida.  

Gostava do tempo frio, eu o apreciava no aconchego da cabana naquela tarde, quase inicio da noite, eu diria. A neve caia lindamente do céu, chegando ao chão e branqueando a grama. Era certo que eu estava exausta, meus braços passavam a estremecer, estavam na mesma posição há muito...  

Olhei para a minha bebê. Valentina tinha cinco meses, estava coberta com um manto e a roupinha que seu pai fez, os cabelos ainda eram tão curtos, chegando ao máximo no seu pescoço. Seus olhos estavam fechados, sua pequena boca sugava o leite que havia em mim.  

Do jardim pude ver Tarrant chegando. Ele sorriu de longe para mim. Abandonei a janela para recebê-lo.  

Ele abriu a porta. – Oi meu amor. – Sempre carinhoso.  

Sorri. – Oi. – Selamos nossos lábios, ele tirava a neve acumulada em seus ombros, usava seu terno e por baixo um casaco quente de tricô. – Como foi o trabalho?  

-O-oh, consegui dinheiro o bastante para passar uma semana em casa! – Comemorava, retirando o cachecol e as luvas.  

-Que ótima notícia! – Sorri, alisando seu ombro. – Vai poder me ajudar com a nossa filha.  

-E ficar com você. – Completou levantando as sobrancelhas crespas.  

Trocamos mais um beijo, e então, ele fez o que costumava fazer: Tocou o pequeno nariz de Valentina, que parecia viciada em meu seio. Em resposta, ela abriu os grandes olhos que ganhavam a atenção do seu pai. – Oi meu anjinho. O papai chegou.  

Sorrimos. No entanto, soltei um suspiro cansado. – Acredita que ela está há quase três horas bebendo o meu leite? – Me desloquei para a cozinha.  

-Uh, você deve ter muito leite mesmo, meu bem!  

-Estou cansada. – Arfei. – Não que eu esteja reclamando. – Sorri ao notar o seu rostinho, os pequenos lábios sugando meu mamilo. – Só... Queria que ela largasse um pouco.  

Tarrant se aproximou por trás, tocando minha cintura. – Alice, ela é só um neném. Ela vai dormir logo.  

-Dormir? – Escapou uma risada. – Estamos falando da sua filha. – Me virei. – É capaz de beber todo o meu leite e ainda passar a noite em claro.   

-Hum... – Ele apoiou o braço na pia de madeira. – E você, senhorita Kingsley. Quer passar a noite em claro? – buscou minha cintura assim que esticou os braços.  

-O que está propondo?  

-E-eu não sei! P-posso acender a lareira e te esquentar!  

-Eu estou mesmo muito cansada.  

Minha resposta o decepcionou. Fui até o fogão, me agachando para enfileirar as lenhas.  

-Deixe, querida. – Me afastou. – Eu te ajudo. 

Eu o olhei, estava de costas para mim, acendendo a lenha de nosso fogão, um assado de carneiro nos esperava, Tarrant supria nossas necessidades, seu trabalho nos proporcionava uma vida simples e maravilhosa. – Desculpe. Eu não queria chateá-lo. – Ninei Valentina, ela terminava com o meu estoque de leite. Tarrant se virou para mim. – Eu sei que você é homem, que estamos juntos... Eu só não sei se estou preparada para um contato físico... Desde a vez em que o Stayne me molestou naquele castelo. – Fechei os olhos.  

E quando os abri, Tarrant estava perto. – Meu amor. – Ele me trazia para os seus braços. – Serei carinhoso com você.  

-Acho que não estou pronta. – Revelei.  

-Tudo bem. – Deu um sorriso curto. – E-eu... Entendo, Alice.  

Sorri. – Eu vou me sentar um pouco. – Me afastei da cozinha, retornando para o sofá.  

Essa era uma das lembranças mais inesquecíveis. Valentina passava as últimas três horas no meu colo, e eu me perguntava se o meu leite era tão apetitoso assim...  

Naquela noite, jantei com Tarrant, ele arrastou a mesinha de centro para que eu não precisasse levantar, afinal, depois de todo esse tempo, Valentina dava sinal que o seu sono surgia bem aos poucos. Meu marido se sentou no chão, jantávamos a luz de velas, às vezes, o único problema do inverno era sentir a falta de uma rosa vermelha, colhida fresca, se banhando num pequeno e delicado jarro de vidro, sendo admirado por meus olhos  enquanto jantávamos.  

No fim da janta, me recostei no sofá. Eu não sei por quantos minutos fiquei assim.  

-“Alice” – Mas a sua voz me despertou. A visão turva me trazia uma imagem curiosa, Tarrant estava parado na sala.  

Cocei meus olhos devagar, temendo que Valentina chorasse com qualquer movimento. – O que é isso? – Apenas sussurrei com um sorriso.  

Tarrant apoiou uma das pernas na mesa de centro, posta para o jantar, mas agora estava vazia. – Gostou?  

Eu o olhei bem.  

Usava uma armadura, uma espada estava presa na lateral direita do seu corpo, os braços ostentavam uma ferradura de bronze, era másculo... A armadura cobria todo o seu corpo. – Veja! – Ele mostrou o seu escudo. Socando contra o mesmo.  

Me ajeitei. – Nunca te imaginei vestido assim.  

Ele levantou a parte do capacete que escondia seus verdes e penetrantes olhos. – Encontrei no sótão. O que achou? Uhn?  

Sorri. – Tarren... O que está pensando? Sabe... – Me levantei antes de receber a resposta. – Eu vou para o meu quarto, é melhor... trocar de roupa. – Subi as escadas.  

-Alice! – Sua voz surgia abafada por trás da roupa. Me virei antes de chegar aos degraus. Ele tirou o capacete. Cerrando seus olhos e me encarando de lado. – Você está fugindo de mim?  

Dei um sorriso suspeito. – Na verdade, acho que sua filha finalmente adormeceu. Com licença.  – Segurei no corrimão de madeira, me apressando a subir as escadas.  

Nosso quarto era o lugar mais aconchegante de toda a cabana.  

Seu bercinho a aguardava com ansiedade. Tive muito cuidado em afastá-la do meu seio, que já não suportava ser sugado, talvez depois de todo esse tempo deveria ter uma folga de três dias. – Schiu... – Ela mexeu os lábios quando a coloquei no colchão macio do berço. Costumava dormir de barriga para cima, mas quando estava cheia, eu a deixava na posição contrária.  

Cuidei para cobri-la com delicadeza, ela usava roupas quentes, e aquela noite fria não me preocuparia quanto à isso. Sorri ao observar seu rostinho, finalmente leves traços meus surgiam em sua expressão.  

Desci o véu que cobria o seu berço, os pequenos mosquitos e insetos da noite não lhe seriam um problema.  

Minha barriga roncou. Valentina havia sugado junto com o meu leite, todas as minhas energias.  

Abandonei o quarto, descendo apressada as escadas, sem esperar quem encontraria nos últimos degraus. Meu corpo se chocou ao seu, a dureza de sua armadura de soldado quase me lançou para trás se não fossem seus braços, reagindo no mesmo instante. – Oh! – Ri, Tarrant me olhava com o seu capacete medieval. – Nossa... – Suspirei.  

-Você se machucou? 

Ainda o olhava. – Não. – Sorri. – Não mesmo... E-eu... – Busquei seus olhos por dentro da ferradura. – Você está tão... Uau.. Tão másculo... Misterioso...  

Eu sei que ele sorria por baixo da armadura. Ele me trouxe para mais perto, senti a frieza do bronze. – Está ficando animadinha?  

-O-oh?... – Arfei. – Temo que sim. - Envolvi meus braços por seus ombros.  

-Terei que carregá-la. - Seu sotaque tremia minhas pernas. - Como um soldado de verdade.  

-Você é um soldado de verdade. - Respondi enquanto me erguia. - Pela primeira vez em meses estou excitada. - Sussurrei, ele virou o seu rosto para mim, levantei sutilmente seu capacete, deixando que os seus lábios se revelassem para mim. O beijei, chupando-os sem muita delicadeza, ele retribuiu.  

Ele me trouxe para o quarto, o meu coração disparava, quase me abandonando pela garganta. Me colocou no colchão, subindo seus joelhos na maciez do mesmo. Com todas suas formas excêntricas de se vestir e mesmo mostrando a moda da Era Vitoriana, era raro vê-lo vestido com algo realmente másculo.  

De qualquer forma, a armadura que escondia o seu corpo era o motivo para tirá-la. Ele me beijou depressa, suas mãos estavam afobadas daquela vez, fazia alguns meses desde que quebrei o meu resguardo, que não aprofundávamos a forma de carinho. Ele me agarrava, alisando minhas costas, encontrando meus fechos com tamanho a facilidade enquanto nossos estalos se tornavam mais altos e frequentes. - I-isso... - Fechei os olhos, esticando o meu pescoço, onde ele depositava seus beijos, apertando minha cintura, passando para a minha coxa por baixo do tecido grosso... Agora suas mãos tinham o trabalho de me esquentar. Os dedos chegavam no elástico do meu short de babados quando o impedi por um instante. - Mais devagar. - Embora minha voz saísse abafada, este era o meu desejo e apenas o meu. - Tudo bem? - Tirei o seu capacete, os olhos vermelhos como sangue, toquei os seus cabelos que naquela época não chegavam na altura do ombro, possuindo os últimos centímetros de fios ruivos até a orelha, apenas.  

Ele abriu minhas pernas, me pegou com vontade e me colocou em seu colo. Apoiei minhas mãos nos ombros protegidos por sua armadura. Apoiou os cotovelos no colchão. - Tire para mim. - Pediu sorrindo, tocando o meu rosto.  

Procurei a melhor forma de retirar a sua armadura. Não era muito fácil, mas aquele joguinho animava a ambos. - P-pode levar o tempo que for! - Disse brincando. - Eu espero.  

-Schiu... - O beijei, sorrindo. - Eu consigo... - Busquei qualquer abertura que se rompia nas laterais. Pude suspender levemente a lateral. - Vamos, levante os braços.  

-Oh... - Ele alisava a minha cintura. - Tocá-la assim está tão bom. - Alisou o meu seio, subindo e descendo por minha barriga.  

Estiquei os seus braços, subindo a armadura e me livrando da parte de cima. Nos beijamos mais, procurei seus botões. Ele mordeu o meu lábio inferior, onde gemi entre o beijo, sua armadura apertava suas coxas. Tarrant alisou o meu traseiro, vendo-me excitada. - Eu acho que o que quer está mais embaixo.  

-E-eu tenho certeza. - Arfei, o deitando. - C-céus, por mim Tarren... Tire logo esta armadura.  

Ele riu. - Acredite, meu amor! No estado em que estou isso está me apertando muito embaixo! No entanto! - Semicerrou os olhos. - Terá que ser mais carinhosa com o seu marido!  

Joguei meus cabelos, admito que impaciente para consumarmos. - O que quer? 

O Ruivo sorriu. - Tire a minha blusa. - Fui rápida em obedecê-lo, já havia garantido alguns botões abertos.  

O seu peitoral foi se revelando, junto consigo as manchas de intoxicação. - Beije. - Ordenou. - Beije tudo. - Disse deitando-se, esticando seus braços e os dobrando por baixo da cabeça, a cabeleira ruiva amassava-se no colchão, Tarrant apreciava o momento com os beijos que eu distribuía por seu tórax, descendo pela barriga, subindo para os braços e apreciando o perfume amadeirado que exalava de sua pele.  

Não conseguia resistir, retirei o meu vestido, ganhando a sua ajuda por fim. Tarrant me via completamente nua, mas não teve tempo de se sentir extasiado. Logo eu o beijei, roçando meu seio contra o seu, ele alisava minhas costas, gemendo palavras inaudíveis, foi se livrando aos poucos da parte de baixo de sua armadura, segundo ele, no calor do momento, a única parte que realmente importava para mim.  

No entanto, naquela noite de inverno, fomos tolos em pensar que nossa filha dormiria até o amanhecer. O seu choro quebrou nossos beijos e carícias. Nos olhamos em silêncio, e então, suspiramos juntos. - Me perdoe. - Sussurrei, enquanto o choro de Valentina ganhava mais impaciência. Saí de seu colo, ele permitiu assentindo.  

Me via caminhando para o berço.  

Aquele meu tom... Tom de despedida.  

~*~ 

Me remexi no colchão. A primeira coisa que notei no quarto real fora o relógio cuco, que soava ao mostrar as horas. Dezoito em ponto, em outros tempos, seria o momento mais divertido do dia, a hora em que todos se reuniam para apreciar um bom chá.  

Mas depois que a Lebre se foi, Tarrant nunca mais se prontificou a fazer uma festa da bebida que mais apreciava em seu Mundo.  

Todos sabiam que sem Thackery, a festa do chá perdia sua essência. Me apoiei no colchão, estranhei ao sentir algo molhado. Olhei para o lado, Valentina dormia profundamente.  

No entanto, a saia do seu vestido estava ensopada. Levando para o colchão, que absorvia. - Valentina?! - Eu a sacudi. Ela acordou com prontidão, confusa e desnorteada. - Schiu... Calma. - Eu a abracei. - Valentina, você molhou o colchão.  

Seus olhos desceram por seu corpo. Ameaçou chorar. - D-desculpe.  

-Tudo bem. - Juntei as sobrancelhas. - Só não faça de novo. Vem... - A peguei, me levantando. - Vamos trocar esse vestido.  

-Soberana?- Olhei para a porta, Celine chegou de repente. Enquanto fazia sua reverência para a Rainha, pude notar o espanador de pelos em sua mão. - Eu não pensei que a encontraria aqui. - Guardou o utensílio no bolso do avental.  

Dei a volta pela cama. - Por favor, minha filha sujou o vestido, gostaria que a trocasse, já que está aqui.  

-É claro, Majestade. - Passei a pequena para a criada, que segurou sua mão. - Vamos lá para o seu quartinho, princesa?  

Valentina me olhou com dúvida, sorri para ela, esperando que concordasse. 

Balançou a cabeça para cima e para baixo, Celine era carinhosa e uma boa tutora quando solicitada. Elas saíram. Olhei brevemente o meu colchão, sua urina era absorvida pelo material, com certeza seria o principal motivo para que as molas enferrujassem. No entanto, aquele detalhe não me preocupava nem um pouco. - ''Finalmente a encontrei.  '' - Me virei com a sua voz, levantei o meu ombro, Stayne mantinha sua postura imponente. 

-O que faz aqui? - Me aproximei, levantando o rosto ao encará-lo. - Já disse que não vai dormir comigo essa noite.  

Ele cruzou os seus braços, parecia muito mais autoritário sem o uso de sua coroa. - Até quando ficará aborrecida comigo, minha esposa? - Deu uma sutil risada. - Eu admito que posso ter exagerado em ter socado o seu rosto. Se quiser, posso me desculpar por este feito. 

Balancei a cabeça. - Oh, isso realmente não foi nada diante do que fez com a minha filha. Machucá-la é o mesmo que ferir a mim. - Stayne parecia irredutível, nada respondeu, apenas me olhou. - Você não entenderia... Eu sei que não. - Me sentei no colchão, sentindo-o molhado. - Aliás, ela molhou o nosso colchão.  

O Rei fez uma expressão de desgosto. - A filha de Hightopp não sabe controlar a bexiga!   

-Isso é culpa sua! Lembro-me que perguntei ao médico na primeira vez que ela o fez, ele disse que isso não passa de carência emocional! A falta de ter um pai!   

-Eu não sou o pai dela! - Gritou.  

E eu saberia que ali, nasceria uma nova discussão.  

Apertei as têmporas. - Se não quer assumir este papel, então por que a tirou do verdadeiro pai?! Por quê, Stayne?! - Marchei até o seu corpo, meu sangue fervia a revolta. - Hein?! Por quê?! - O pior de tudo era não ouvir uma boa explicação. Naquele momento, pensei em como Tarrant e eu estaríamos felizes, criando juntos a nossa filha com carinho... E sobretudo, o amor. - Você tem ideia do que fez?! Ela só tem três anos! Ela é só uma criança, uma garotinha inocente e você não lhe dá a mínima atenção! Que tipo de monstro é você?! 

-Ela possuí o sangue do homem que desgraçou toda a minha vida!  

-Isso não é motivo! Ela não tem culpa! - Gritei mais alto. - Ela apenas nasceu, Stayne... Apenas isso... - Me afastei, quase em prantos. - O que há de tão difícil para você? Será que... Não consegue ser ao menos um pai presente? Você é o pai dela, é... é o que ela acha, afinal, foi o que você quis também quando retornei para este maldito castelo! - Eu o olhei, me virando outra vez. - Ela era um bebezinho... - Sorri. - Todas as criadas desejavam ter a sua vez para cuidar da minha filha. E-eu... me lembro de como ela era paparicada. - Pausei. - Foi terrível para o Tarrant ter que se afastar do nosso bebê só para cumprir suas ordens doentias... Foi terrível até mesmo para ela, eu sei que ela já estava apegada a ele. Você a trata tão mal...  

-Se isso vai deixá-la feliz, eu tentarei ser um bom pai.  

Era estranho ouvir aquelas palavras sem precisar desconfiar de sua veracidade. O Rei dizia com segurança e firmeza. - É mesmo? - Sorri, me aproximando.  

-Sim... - Sacudiu os ombros. - Ser um pai presente, t-talvez não seja tão difícil. - Ele me olhava. - Aliás... o baile está próximo, teremos que apresentá-la para o Reino. Eu não quero que ela continue magoada comigo para que gere comentários entre a sociedade... Certamente eu não quero... 

-Ótimo. - Suspirei de alívio. - Que bom... 

[...] 

Era oito da noite. Eu olhava para a entrada da cozinha, onde poucos súditos passavam para sentarem a mesa. As criadas ajeitavam as bandejas para o jantar. Eu estava vestida para a ocasião, sentada na extremidade da mesa. O Rei mantinha-se na outra ponta, de costas para a janela. A noite continuava lindamente estrelada. Na mesa, só havia Mally e McTwisp. - Vocês tem visto o Chesheri? - Perguntei, enquanto uma criada colocava o jogo de porcelana na minha frente. 

-Não, Rainha. - Respondeu Mallynkum, com o mínimo de respeito que precisava possuir. 

-Não há de se preocupar, Soberana. - Foi a vez de Nivens. - O Chessur sempre aparece para os bailes. Ele costuma brincar de sumir com os aperitivos junto com a Mallykum. - Cortou seu olhar para a Ratinha, que riu disfarçando com as pequenas patas na boca. - Ah, e claro... Tarrant também adora se empanturrar de salgados.  

Sorri com sutileza. - Eu acredito que Thackery também adoraria. 

-Sim... - Mally mudou o seu tom para algo mais entristecido. - Seria muito mais divertido com ele.  

-Boa noite... - Sulian chegava com o seu vestido escuro, guardando o leque entre as mãos, ela encontrou um assento no meio de duas cadeiras vazias. - Meu querido filho, como está? - Percebeu os sutis machucados no rosto de Stayne. 

O mesmo observava seu reflexo na prata reluzente do talher. - Estou ótimo, Sulian. Melhor impossível. - Ele respondeu, sem encará-la. 

Aos poucos, algumas criadas mais íntimas vinham chegando. Elas buscaram seus lugares na mesa, e logo após, Enid e Tarrant se apresentaram na cozinha. Ele esboçava um sorriso curto, enquanto a Bruxa parecia satisfeita em ter seus dedos entrelaçados nos dele. Não pude deixar de segui-los com os olhos, Tarrant tirou a sua cartola para se sentar na cadeira ao lado de Mally, eles se cumprimentaram e Enid disfarçou seu constrangimento. Ele não havia lhe puxado a cadeira. - Uh... Perdão. - Ameaçou se levantar para fazê-lo.  

Mas ela forçou um sorriso. - Pode deixar. - Dispensou seu cavalheirismo. Ela deveria saber que não era digna de tal atitude. - Majestades. - Nos cumprimentou.  

Assentimos.  

-Então não é mesmo um boato. - Sulian comentou, com certeza admirada. - Parece que temos um novo casal no Castelo.  

Enid não evitou a empolgação, mas Tarrant virou o rosto. - De fato, agora posso crer que também existe uma união sem amor entre plebeus. - Levantei minha taça de vinho, levando aos lábios.  

O Chapeleiro me lançou um olhar de raiva e tristeza com a indireta. 

-Majestade... - Pausou a Bruxa. - Não se esqueça do que viu em sua visão.  

Aquiesci.  

- Stayne? - Sulian o chamou. - Não vai fazer alguma coisa? Claramente a sua esposa está com ciúmes deste homem.  

Tarrant abaixou a cabeça. 

Os comentários ressurgiram. - Minha sogra, por que não vai cuidar do seu marido? 

Os comentários aumentaram. A velha se ajeitou, um tanto sem graça. - Eu ainda acho um absurdo continuar casada com o meu filho.  

-Toda a relação tem seus altos e baixos, hoje Stayne e eu não tivemos um bom dia. - Respondi. - Mas nós já chegamos a um acordo. Não precisamos da sua opinião.  

-Sulian. - Stayne a chamou. - Alice está um pouco afiada hoje. É melhor deixá-la quieta, não quero me aborrecer com minha esposa outra vez.  

Sorri com triunfo.   

E antes de começar o jantar, Meredith desceu os largos degraus da cozinha, segurando na mão de Valentina que correu em minha direção. Todos a olhavam. Precisei arrastar a minha cadeira para que ela subisse em meu colo. - Valentina. - Chamou o Rei.   

Os súditos se viraram para ele, numa perfeita sincronia. A pequena apenas o olhou, eu conseguia ver a sua expressão de medo e insegurança. - Venha aqui. - Pediu Ilosovic, gesticulando. - Coma junto ao seu pai.   

Ela levantou seu rostinho para mim, como se desejasse saber se era confiável ou não. - Pode ir. - Sussurrei.  

A menina desistiu de sentar em minhas coxas. 

Ia caminhando devagar, quase parando com tamanha a hesitação. Tarrant a olhava, com certeza louco para agarrá-la e levá-la para longe do perigo. - Por favor, tragam uma cadeirinha. - O Rei ordenou, e seu desejo foi prontamente atendido com uma das criadas lhe trazendo uma cadeira de bebê. A pequena parou diante do seu pai, ele a pegou no colo após levantar a tábua de madeira.  

Ele a pôs sentada ao seu lado. Sulian não parecia muito satisfeita em ver que seu filho ninava uma bastarda. Embora houvesse mais fingimento do que qualquer outra coisa. - Vamos tomar o seu mingau. Deixe que o papai cuida de você. - Lhe entregaram o prato com mingau. Valentina estava em silêncio, encolhida. Ele teve o cuidado de assoprar a colher de sopa. 

Admito: Estava impressionada. Não havia zelo e amor como os verdadeiros pais, mas ao menos, existiam doses de paciência. Stayne levava a colher a boca de Valentina, ela aceitava e aos poucos, ia se acostumando em receber o carinho do seu pai. Seus grandes olhos brilhavam, um pequeno sorriso derramava o mingau na borda de sua boca, Stayne passou a colher ali, pegando o restante da papa para que comesse.  

Sorri, hipnotizada. 

Mas Tarrant fechou os seus punhos, ele me lançava um olhar questionador.  

Balancei a cabeça discretamente.  

Ele soltou-se de Enid e foi se abaixando, até conseguir se esconder por debaixo da mesa. Tentei disfarçar, comendo o assado quente. - Alice? - Ele não tinha tempo para formalidade. Deixou que sua cabeça aparecesse entre o pouco espaço que havia do meu vestido e a mesa.  

Disfarcei, tentando não encará-lo. - Saia daí. 

O Chapeleiro era louco de ignorar. - O que ele está fazendo com ela? O que há naquele mingau? 

Todos se importavam com seu próprio jantar. Ninguém havia notado a ausência do Chapeleiro. Decidi ignorá-lo. Espetando a salada. 

É claro, ele não aceitaria o meu desprezo.  

Esfregou minha costela com os dedos, com o contato, quase derrubei a taça de minhas mãos. Eu o olhei com severidade. Ele escondia o seu rosto com o pano de mesa. - Volte para o seu lugar. - Resmunguei.  

-O que está acontecendo?! Uhn?! Não saio até me responder! 

-Schiu! - Disfarcei. - Ele está tentando ser um bom pai. - Respondi entre dentes, mordendo o assado. 

-O quê?  

Tentei não me exaltar. - E-eu não vou repetir! S-saia... 

-Não saio. - Era teimoso. - Eu não quero que ele magoe minha filha. 

-Volte para o seu lugar. - Insisti. - Está procurando problemas. 

Arrastei a cadeira para frente. Erguendo meu rosto. Enid sabia de sua ausência e me olhava torto, Stayne tratava de Valentina, e Sulian apreciava o jantar.  

Olhei para os lados, recomeçando a refeição. 

Sua mão tocou a minha coxa. Corei por um instante até abaixar a cabeça. -Hum hum hum... Desse jeito consigo sua atenção.  

Corei mais. - Está bêbado?! Vá embora.  

-T-tome. - Ele enrolou a língua, me entregando um pedaço de papel. - E-escreva ai.  

Se escondeu no pano de mesa, mas eu o revelei de novo. - Escrever o que? - Sussurrei.  

-O que está acontecendo! - Repetiu. - Uh, aqui está a caneta. É tinteiro.  

-Arrggg... - Peguei, apoiando o pequeno papel em minha coxa enquanto Hightopp voltava a se esconder debaixo da mesa. - Não está pegando. - Risquei a caneta no papel, impaciente. Ele retornou, mostrando parte do seu rosto. - Volte para o seu lugar. - Murmurei intercalando minha atenção para a mesa e para o louco. 

''Me diga o que está acontecendo! '' - Insistiu. 

Eu o chutei, disfarçando com um sorriso para todos. Pude ouvir o seu gemido de dor. Mostrou o seu rosto outra vez. Os olhos lagrimando. - V-você nem imagina onde me acertou.  

-Você mereceu.  

-Hightopp?! - O grito do Soberano fez com que ele batesse a cabeça com força. A mesa se elevou.  

Ele se desfez do pano de mesa, engatinhando para fora. - Majestade. - Curvou-se. Alisando o topo de sua cabeça, a cabeleira ruiva não impediu o impacto da pancada. 

O Rei o olhou. - Posso saber o que fazia embaixo das pernas da minha esposa? 

Tarrant sorriu, recebendo o olhar de Sulian. Ela sempre desconfiava. – Na verdade... – Fez uma pausa, pensando. – Eu achei melhor adiantar o meu trabalho e tirar as medidas da Rainha aqui mesmo! – Sacudiu os dedos.  

Escondi o meu rosto, vermelho de vergonha. – É claro. – Precipitou o Rei ao concordar. – Que belo profissional você é.  

-Oh, Rei... – Balançou as mãos. – Com tantos elogios me deixa sem graça. 

Talvez as brincadeiras de Tarrant deixassem o Soberano ainda mais irritado. – Já chega! – Ele arrastou a cadeira para se levantar. – Eu gostaria que deixasse de dar atenção ao corpo da Rainha durante o jantar.  

O Chapeleiro se curvou, apressado.  

Retornou ao seu lugar, sem perceber que Enid o olhava esperando uma explicação sincera. Ele comia o seu assado. Mas o Rei não tirava os olhos do louco. – Se está tão preocupado com a vestimenta de minha esposa. Eu preferiria que terminasse o seu trabalho ainda esta noite.  

-Não. – Enid interviu. – Perdão, Majestade... – Ela e Tarrant se olharam. – Acontece que... Nós dois vamos... – Hesitou. Disparando rapidamente. – Ter uma noite romântica. 

-Estou de acordo que Tarrant termine o meu vestido hoje. – Provoquei. – É uma ordem do Rei, afinal, ele deve cumprir.  

-Isso não é justo. – Ela balançou a manga do seu terno. – Tarrant, diga alguma coisa. 

Ele levantou o dedo, em protesto. – Soberanos... C-compreendam que...—  

-Vocês dois podem aproveitar a companhia um do outro na próxima noite. – Propus. – Creio que o baile é mais importante do que a vida particular de vocês.  

A Bruxa indignou-se, jogando o guardanapo de pano e se levantando em seguida. Tarrant a imitou, mas se manteve parado, vendo-a se afastar.  

[...] 

-Não gostei do seu comportamento no jantar. – Stayne e eu ainda estávamos a mesa, Valentina dormia no meu colo.  

-Ora... – Me levantei, sendo seguida. – Quem propôs quanto ao vestido foi você.  

-Era para ser uma punição... Já que ele tem suas medidas... Passaria a noite sozinho construindo o seu vestido. – Coçou sua nuca. – No entanto... Parece que você se animou bastante com a ideia.  

-O baile está próximo, apenas isso.  

-Minha mãe está certa. – Murmurou, evitando socar o balcão de mármore. – Você está louca para transar com Hightopp.  

Um arrepio passou pelo meu corpo ao pensar que, se Tarrant não for tão irredutível, uma noite de amor poderia acontecer. – Mandarei os soldados vigiarem a porta do atelier.  

Suspirei. – Não confia em mim?  

-Absolutamente não. – Deu a volta, buscando uma maçã. – Ao menos terei a segurança de que, se ele chamá-la ou se você ir ao encontro dele, estarão cercados. – Sorriu. – Mandarei os soldados vigiarem os quartos vazios também, embora eu acredite que não seriam capazes de ir tão longe.  

-Com licença. 

Eu o deixei, passando pelo hall de entrada, Valentina estava pesada. Eu precisava aproveitar que havia dormido para colocá-la em meu colchão.  

Dormiríamos juntas essa noite. É claro, depois que eu retornasse do atelier de Tarrant.  

Encontrei o mesmo no corredor, eram quase nove da noite quando o vi carregando algumas caixas. – Tarren. – Sorri, o fazendo parar.  

Ele colocou as caixas empilhadas no chão, retirando o seu chapéu como comprimento. – Uh, a lindinha do papai está dormindo. – Se aproximou de Valentina, tomando o cuidado de tocar o seu nariz com carinho e sutileza.  

Eu o olhei. – Sabe... Isso me lembra de quando morávamos juntos. Você, eu e ela.  

-Oh, sim. – Hightopp sorriu. – Foram boas lembranças.  

Aquiesci. Tocando seu terno. – Vamos nos encontrar essa noite?  

Ele olhou para a minha mão, que alisava vagarosamente o seu braço. Recuou com um passo para trás, sorrindo com força, sorrindo forçado...  

-Certo.  

Sorri, animada. – Meu... Marido não vai dormir comigo essa noite. Nós estamos brigados. – Fiz questão de revelar.  

Tarrant fez uma careta. – Eu pensei que estavam bem... No jant—Toquei seus lábios, friccionando-os com os dedos enquanto equilibrava o peso de Valentina para um único braço.  

-Vou esperá-lo no meu quarto.  

Seus olhos insanos saltaram, ele puxou minha mão, cuidadoso em sussurrar. – V-vamos para o atelier, nada de quartos, Majestade... Terminarei o seu vestido.  

-Eu só prefiro que me busque. – Pedi sorrindo. Tocando o seu rosto. – Posso perdoá-lo por ter recusado o meu beijo essa manhã.  

Sua sanidade se perdia quando riu. – A-Alice...? P-por favor... – Puxava a gola do seu terno. – E-então... Nos e-encontraremos mais tarde, e-eu vou chamá-la! 

-Que horas pretende?  

Pensou. – E-eu não s-sei... E-em... em todo o caso, me aguarde! – Carregou suas caixas.  

[...] 

Aqueles pequenos pontos prateados no céu... Eu os olhava novamente. Abraçada com Valentina, ela dormia desde a hora em que pegou no sono, um pouco depois do jantar.  

E eu observava o relógio cuco a todo o tempo. Aguardando uma batida na porta, talvez um bilhete se arrastando no chão, entre a fresta de madeira.  

No entanto, nada disso aconteceu.  

Era um pouco mais de uma hora da madrugada. Os meus olhos carregavam sono, mas eu não conseguiria dormir, não queria cair no sono profundo e acabar perdendo a chance de estar com o único homem que me amou de verdade. Eu o esperava, percebendo então, o quanto isso parecia entediante.  

Suspirei... Me aconchegando. Alisei os cabelos encaracolados de minha pequena ruivinha, ela abraçava o travesseiro, enquanto babava na maciez do mesmo. Eu a cobri com delicadeza. Abraçando-a mais.  

Sinto algo molhando outra vez.  

-Valentina. - Sussurrei. - Filha?  

Decidi sacudi-la sutilmente.  

Ela sempre costumava acordar no susto, e dessa vez não foi diferente. Ela me abraçou apavorada, o escuro não era o melhor lugar para sua sanidade ressurgir. - Estou aqui. - Garanti. Esquecendo que deveria deixar ao menos um castiçal ligado. - Meu amor, você molhou o colchão outra vez.  

Ela piscou. Seus olhos concentrados no marrom dos meus, iguais aos dela. - D-desculpe.  

A peguei no colo. - Ainda bem que a mamãe tem algumas roupinhas reservas no quarto. - Procurei o acendedor, a vela faiscou e logo depois, iluminou o quarto. Acendi novos castiçais enquanto a pequena se aconchegava em meu colo, deitando a cabeça no meu ombro. - Já passamos por isso quando você tinha dois anos. Mas você está uma mocinha. - A coloquei de pé, estava descalça, me olhando com vergonha. - Eu sei... - Toquei o seu rosto antes de tirar seu pijama de seda. - Você é uma criança tão sensível. - Hesitei em revelar que era como o seu pai, talvez eu devesse deixar em pensamentos.  

Eu a troquei, colocando um pijama de algodão. - Mamãe. - Ela puxou minha manga. - Eu queria chocolate quente.  

-Você queria? - Apontei meus dedos para suas costelas, lhe fazendo cócegas. Finalmente escutei sua gargalhada, a mais gostosa de todas. Os dentinhos de leite, tão brancos se exibiam para mim. - Vamos para a cozinha. - A peguei no colo. 

Ela estava ativa naquela noite, talvez eu não devesse acordá-la por conta de seu vazamento. A pus no chão, segurando sua mão, passávamos pelos corredores enquanto eu segurava um castiçal de três velas. - Mamãe, onde está papai?  

-O seu pai está num outro quarto.  

Assentiu, olhou para o corredor mas logo depois levantou a cabeça para mim. - Por quê?  

Eu não poderia lhe dizer que estávamos passando por uma crise. - Por que eu queria dormir com a minha bebê.  

A pequena sorriu, mostrando as covinhas não muito profundas que existiam em seu rosto. Elas combinavam perfeitamente com as pequenas manchas de intoxicação amarronzadas, como sardas.  

Descemos as escadas, seus pés descalços pisavam sem cuidado nos degraus, quase tropeçando. O Castelo de Marmoreal era enorme, como um Mundo só para ela. Eu suspeitava que, às vezes, Valentina fugia de seu quarto, abraçada com o ursinho favorito e explorava os segredos de sua casa no meio da madrugada fria, talvez procurando os corredores mais iluminados do Castelo. 

A olhei, ela descia as escadas com rapidez. 

Se soubesse que a sua mãe tinha tantos segredos a partilhar... 

Segredos que não deveriam existir... 

Segredos que, um dia, ela haveria de descobrir.  

Quem sabe, da pior maneira possível. 

Mas eu não poderia deixar que esses pensamentos me dominassem... Balancei a cabeça, retornando a realidade. O hall de entrada do Castelo estava escuro, ao canto de cada parede havia um ou outro castiçal ainda acesso, com certeza para os soldados noturnos que faziam a segurança de Marmoreal. Apertei bem a sua mãozinha, os pés não parariam quietos até que encontrasse uma boa xícara de chocolate quente, xícara feita de porcelana para que não queimasse os dedos.  

Seguíamos o trajeto da cozinha, de onde vinha uma melodia suave.  

Valentina correu para a entrada assim que se soltou, de certo curiosa para entender o que acontecia. 

No entanto, eu pude segurá-la com força antes que os atrapalhassem.  

Ficamos paradas na entrada.  

Tarrant estava de costas, eu sei que ele não me veria, e talvez aquilo fosse reconfortante para que eu pudesse chorar sem que ele notasse. Enid o abraçava, eles dançavam juntos e a forma como eles pareciam felizes e carinhosos me atingia como uma flechada certeira. Nossa filha também estava em silêncio. 

Enid amassava os seus cachos, e Tarrant a trazia para mais perto, ele sorria como pude ver quando virou o rosto lentamente para o lado, tocando sua testa na dela. - Quero chocolate. - A criança levantou sua cabeça, olhando diretamente para mim.  

Ela não compreendia o que acabara de interromper.  

O casalzinho se virou. É claro que a Bruxa estava feliz por me ver ali, principalmente por sentir em minha aura a tristeza que existia. Os dois se curvaram enquanto eu equilibrava Valentina com um braço e carregava o castiçal com outro. - ''D-deixe-me ajudá-la, R-Rainha. '' - Hightopp ofereceu.  

-Não preciso da sua ajuda. - Passei pelos dois, dando a volta pelo balcão de mármore e colocando nossa filha sobre o mesmo, ele nos olhava. Apenas procurei o pote com chocolate quente o mais depressa possível, enquanto colocava o bule para esquentar.  

-Três colherzinhas de chocolate! - Sorriu a Ruivinha, balançando os pés. 

A olhei, sorrindo também, pude reparar uma pequena mesa com pratos e talheres usados. Com certeza eles haviam jantado juntos. Elevei o meu olhar, por um descuido do orgulho. Seus olhos verdes me encaravam quando a Bruxa o puxou, pedindo para que ele se sentasse. 

Ela lhe servia uma nova taça de vinho.


Notas Finais


Alice está sofrendo o que deveria sofrer? haushuashu
Stayne vai mesmo conseguir ser um bom pai?
Hum... Licinha atirada.
E Chalice? Até quando ficarão nessa montanha russa?
O PRÓXIMO CAPÍTULO É O BAILE! Já estou planejando algumas tretas! Mas eu gostaria de uma sugestão de vocês, alguma ideia que eu possa colocar no capítulo quanto ao baile!


Amo vcs! <3


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