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História Apenas um sonho - Onde está você?


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Momentos finais

Capítulo 122 - Onde está você?


O Sol teimava com as nuvens. Ele queria aparecer naquele dia. Caminhávamos juntos, Enid entrelaçava nossos dedos enquanto eu evitava olhar para o céu quase limpo de Wonderland. Um bom chapéu masculino fazia falta para completar a minha roupa.  

Quem sabe... Uma cartola.  

-Este lugar é maravilhoso. - Ela me acordou dos devaneios quando olhei em volta. 

Sorrindo, observei o canto gentil dos pássaros, a calçada feita por pequenas pedras brancas e é claro, todas as árvores que rodeavam o Bosque. Árvores e cogumelos. Não era um bosque qualquer. Na verdade, estava surpreso por não ter percebido antes. - Querida, sabe onde estamos?! - Minha euforia a assustou, mas minha noiva se virou para mim, negando com a cabeça. - Uh, q-quanto tempo... - Olhei em volta outra vez. - O meu pai costumava me trazer aqui quando eu era pequeno. Uns cinco anos!  

-É mesmo? Isso é ótimo. - Afirmou.  

-Mais para frente tem uma fonte... - Cerrei os olhos, tentando enxergá-la. Mas as árvores que antes eram só pequenas mudas, agora estavam grandes e seus troncos me impediam de ver. - Vamos lá! Você vai gostar muito!  

-Não viemos aqui ver a fonte. - Ela parou, soltando o meu braço. - Você sabe. Temos muito a fazer. Pegamos a amostra do nosso convite de casamento... - Ela caminhava apressada quando a segui. - Agora precisamos pegar os cem convites que encomendei.  

-C-cem? - Engoli. - Mas são muitos convidados, não acha querida? 

-Sabe o que eu acho? - Enid agarrou o meu braço. - Que você está muito distante. - Recostou sua cabeça em meu ombro. - Te amo tanto... 

-Cem convites? 

Arfou. - É amor. E duzentos ramos de flores.  

Deixávamos o bosque. - Vai ser um grande casamento. - Afirmei, sorrimos.  

Chegávamos em uma rua de um dos Clãs, havia barracas e lojas comerciais. - O que vamos fazer agora?  

-Muitas coisas. Primeiro de tudo... - Ela listava. - Os convites, depois as flores e o meu vestido.  

-Eu posso fazer seu vestido! - A ideia parecia perfeita para mim. 

Mas minha noiva parou de novo. - É claro que não. - Ela deu tapinhas fracos em meu rosto, fechei os olhos, sorrindo sutilmente. - Você não entende nada sobre superstições. Sorte sua que sou uma feiticeira. - Me abraçou. - Você não pode fazer o meu vestido. Está bem? Dá má sorte. Na verdade... - Me olhou. - Não pode nem mesmo ver o vestido que vou comprar. Ah! E também precisamos encontrar uma roupa para você! Uma gravata borboleta menor... com certeza.  

-Hum.  

-E as alianças.  

-Alianças de... C-casamento? 

-Claro.  

Ela pegou minha mão, me arrastando pela calçada. - Eu tenho. - Avisei. Ela me olhou. - Duas. Estão guardadas comigo. 

-Era sua aliança e... - Hesitou. - A dela? 

Sorri. - S-sim, m-mas... Não significa nada.  

-Você as guardou? 

Pigarreei. - Para me casar outra vez!  

Enid abaixou seu capuz, mesmo caiu pelos ombros. - Olha... Não me leve a mal, Tarrant. Mas eu não vou usar essas alianças, está bem? Na verdade, não deveria ter guardado elas. - Me encarou, os olhos sombrios carregavam marejamento. - Parece que... Você ainda ama ela. 

-N-não. - Peguei suas mãos, estavam trêmulas como os lábios que perdiam seu formato fino e delicado. - Eu não amo.  

-Dê um fim a essas alianças ainda hoje ou eu farei isso por nós dois. - Avisou, se soltando. - E sabe o que mais? Não deveríamos chamar a Rainha para nosso casamento. Eu não a quero lá.  

-Por quê?  

Enid riu, limpando suas lágrimas. - Ainda me pergunta?! Você foi o amante dela por anos!  

-Você foi amante de muitos, e eu não estou te proibindo de convidá-los! 

Ela balançou a cabeça, concordando, me empurrou e tornou a caminhar. Fiquei parado na calçada enquanto a via se afastando. - '' Não se importa por que não me ama de verdade! '' - Gritou, se esquivando de um casal que caminhava de mãos dadas. 

Puxei meus cabelos, despenteando os mesmos. Eu a via cada vez mais longe. - Espere! - Gritei e decidi correr. Ela parou na calçada para que eu pudesse ter a chance de alcançá-la. Eu a abracei. - Sinto muito... Eu não queria magoá-la. 

Nos beijamos, ela tocou o meu rosto. Sorriu. - Precisa fazer a costeleta.  

Cerrei os olhos. - Eu gostaria que ela se fizesse sozinha. 

Enid riu de minha brincadeira, voltando seus dedos para a minha gravata colorida. - Às vezes sinto que... Você ainda a ama como antes. - Balancei a cabeça. - Muitas vezes já me peguei pensando em descobrir. Lhe dando alguma poção ou indo até a minha bola de cristal mas... Admito que tenho medo.  

Toquei seus braços. - Vou me casar com você. - Levantei seu queixo enquanto erguia as sobrancelhas.  

-Então... Por que insiste em convidá-la? 

-Ela é a Rainha. - Expliquei. - Ela deveria ir.  

-Não... - Se aconchegou em meu peito. - Louquinho, eu não quero que ela vá.  

Beijei seus cabelos, amargurado e pensativo.  

Pensava em qualquer palavra que começasse com a letra M.  

''Morte...'' Como eu queria morrer.  

[...] 

-Tic tac... - O som do relógio ecoava em meus pensamentos. Eu comparava os ponteiros do relógio de parede da loja de vestidos com meu relógio de bolso.  

Estava esperando fazia uma hora. E o forro da cadeira não era tão confortável quanto nos primeiros minutos em que me sentei. Ao longe, conseguia ouvir a voz de Enid. Ela conversava com o vendedor sobre os vestidos, sempre encontrava algum pequeno defeito irreparável. O vendedor tinha uns sessenta anos. As vezes eu o via espiar do toucador, acho que ela não tinha percebido.  

Fechei os olhos, recostando-me na cadeira.  

~*~ 

As janelas de Marmoreal costumavam ser grandes. Do tipo que parecia uma grande porta de vidro com grades quadradas, de ouro. A porta do quarto Real estava aberta. Alice espiava da janela o tempo meio fechado. - Majestade? - Ela se virou de imediato. 

-Entre.  

Assenti, colocando a caixa no lugar de sempre: A escrivaninha era espaçosa, normalmente só havia um castiçal grande no canto, sendo usado apenas a noite. - Aqui está o seu vestido. 

Alice continuava perto da janela. Suas costas estavam retas, o ombro firme e a coroa com certeza escondia a beleza de seu penteado. - Eu o fiz como me pediu. As mangas caem abertamente até o meio do ante braço... A anág-- 

-Isso é um sonho? - Os olhos parados no vidro que mostrava o seu reflexo, apenas o seu. Eu não estava tão perto. - Você é o Tarrant dos sonhos ou é apenas meu súdito? 

Sorri, mordendo a ponta da língua. - S-sou seu súdito dos sonhos, o Tarrant.  

Consegui fazê-la rir. - Não estamos discutindo ou irritados. - Observou. - Nem parecemos tristes.  - Assenti e a Rainha concluiu. - Estamos sonhando.  

Ela me olhou, por fim. - Me lembro de ter dormido após a leitura de um livro, no meu quarto. A cama estava tão confortável. E agora... Estou aqui. - Sorriu.  

-O seu vestido... - Abri a caixa. - Fiz conforme me pediu. Não quer experimentá-lo? 

Alice virou para a janela de novo. - Está vendo aquilo? - Apontou. 

Me aproximei. - Mais. - Ela pediu. - Está bem longe. 

-E-e-eu? 

-Aquilo. - Esbarrou o dedo no vidro da janela. - E você também.  

Parei atrás do seu corpo. Eu precisava me concentrar no que desejava que eu visse, embora o cheiro do perfume de rosas exalava diretamente do seu pescoço, entorpecendo os meus sentidos. Dei um passo para trás, apenas para a segurança dos meus sentimentos. - É ali. É uma ponte. 

Cerrei o olho. - Está longe. - Me aproximei. - Bem longe. 

-Tem alguém lá.  

-Parece um homem.  

-Isso mesmo. O terno é branco... Parece... - Hesitou, virando seu rosto por cima do ombro. - O meu pai.  

-Aquela é a ponte dos amantes. É como chamavam aqui. - Alice me ouvia. A forma como seus olhos paravam atentamente em meus lábios fazia com que minha língua engrossasse, eu conseguia sentir que gaguejaria a qualquer instante. - A-a-as... M-moças c-comprometidas... E-e-elas se encontravam com seus a-amantes. - A encarei. - M-muitas vezes elas estavam inconformadas com as e-escolhas dos pais quanto a... à quem... C-com quem, perdão. Com quem se casariam.  

-Só as moças esperam lá? Ou os homens também? 

-Oh... Os homens. - Balancei a cabeça. - Eles também.  

-Eu acho que é o meu pai. - Afirmou. - Quando eu o via em meus sonhos... - Sorriu. - Ele costumava me dizer que estava a espera da minha mãe. - Seus dedos desceram pelo vidro da janela. - Eu gostaria de sentir isso, sabe? - Fechou sua mão. - Um sentimento forte e ardente... Que me fizesse desejar alguém com todas as forças.  

~*~ 

-Meu amor, acorde. – Senti meu ombro sendo balançado, a visão turva me trazia o rosto de Enid, bem a frente do meu. Cocei um dos olhos. – Já acabamos por aqui. Escolhi o meu vestido e o seu terno. – Foi até o balcão, onde o velho lojista aguardava sua assinatura. – Agora. – Ela se virou para mim. – Só precisamos ver as alianças.  

Me levantei. Estava feliz por saber que tudo aquilo chegava ao fim.  

## 

McTwisp me garantiu que Alice resolvia alguns assuntos. Decidi sair da sala do Trono, nosso quarto estava vazio quando eu entrei, tomando cuidado para não fazer qualquer barulho. Não gostaria de chamar a atenção, embora fosse o Rei. Me ajoelhei debaixo da cama, estiquei meu braço, apalpando o chão até encontrar o que procurava. Sorri para o embrulho. Era um papel dourado, envolto de uma fita de cetim azul escura.  

Eu não era o tipo de homem que costumava agradar as mulheres, mas aquela era uma situação diferente.  

Me sentei na beirada da cama, sentindo o colchão macio enquanto olhava para o presente sem ter certeza se era o ideal. Pedi para que McTwisp o comprasse, as lojas de presente sempre eram lotadas de ursos de pelúcia. - Eu espero que isso venha me render uma boa recompensa. - Era tudo o que eu precisava, era para isso que servia o maldito presente.  

Sei que ela estava farta de flores...  

Enquanto me concentrava em meu plano ouvi uma leve risadinha. Ignorei. Imaginando ser apenas meus pensamentos.  

Mas ela surgiu de novo. 

Abaixei o embrulho que tampava minha visão. - O que faz aqui? 

-Isso é pra mim? - Os olhos de Valentina brilhavam.  

-Não. Vá embora. - Me levantei. - Estou ocupado. 

-Espere, papai. - Ela puxava minha túnica, parei. - Pra quem é? O que é isso? É um coelhinho? 

Suspirei. - Não. É um ursinho. 

-Adoro ursinhos! - Deu um sorriso aberto e esticou seus pequenos braços. - Deixa eu ver!  

-Não. E saia do meu quarto. - Gesticulei, abrindo mais a porta. - Vamos, saia.  

Ela saltitou para o corredor. - Papai, pra quem é?! 

-Não interessa, suma da minha frente.  

-É pra mamãe?! 

Revirei os olhos. - Exatamente. - A olhei. - É para sua mãe.  

Valentina me abraçou. - A mamãe ia me deixar ver! - Riu.  

Pressionei minhas têmporas. - Maldição, tome! - Ela o pegou depressa, eu faria qualquer coisa para me livrar do seu abraço.  

Ela sentia a maciez da pelúcida em volta do embrulho. O abraçava com força, tinha quase o seu tamanho. - Hum! - Fechou os olhos, apreciando o presente. Eu o tomei depressa. - Agora vá brincar, anda! Xô!  

-Mamãe disse que estou de castigo. - Valentina me fez parar de novo. Me virei. - Eu não posso brincar com tinta, nem com minhas bonecas, nem com ursinho... Por causa do meu cabelinho.  

Sorri, Alice sabia ser uma mãe rígida quando necessário. - Muito bem. Então vá fazer outra coisa.  

Olhei para trás depois de me distanciar. A catarrenta estava parada no corredor. Virei para o outro lado, a biblioteca do Castelo me aguardava.  

-Desculpe pela demora. - Pedi assim que cheguei no lugar combinado.  

Lucie me esperava na mesa. Sempre tímida, fez uma mensura breve e trêmula. - Tudo bem. - Sorriu.  

-Isso é para você.  

Ela pegou o presente. - Soberano? - Sorriu.  

-Por favor. - Toquei seu rosto. - Me chame de Stayne.  

Eu a beijei. Ela recuou por um instante. - Stayne, este não é o melhor lugar...  

-Você tem razão. - Peguei o presente, o deixando na mesa. Alisei seus braços, sentindo sua pele macia que sempre carregava um aroma adocicado e viciante. - Mas eu a desejo. 

Lucie me empurrou sutilmente. - Sua esposa sempre vem aqui. 

-Garanto que não virá agora. - Cochichei. - Acredito que esteja ocupada. 

Eu a beijei, alisando o seu corpo e buscando suas partes, seus seios eram grandes e infelizmente estavam quase sempre escondidos por baixo do avental. Eu o desfiz enquanto experimentava seus lábios, eles tocavam com lentidão os meus. Peguei sua cintura, a erguendo para a mesa. Puxei o elástico dos seus cabelos e os fios escuros caíram pelos ombros. Adentrei minhas mãos por dentro de sua saia, ela ajudava levantando as camadas de seu uniforme.  

-Papai?  

Nossas bocas se separaram com a mesma rapidez em que se uniram. Lucie estava extasiada quando espiou por cima do meu ombro.  

Me virei, Valentina se encontrava parada atrás de mim. - O que está fazendo? - Questionou confusa, juntando as sobrancelhas acobreadas.  

-Stayne, ela é só uma criança...  

-Venha... - Peguei sua mão. - Venha comigo. - Valentina caminhava ao meu lado. 

-Dê um doce à ela e ficará tudo bem! - Lucie gritou ao longe enquanto passávamos pelos corredores. 

Eu estava em silêncio. - Papai você deu o ursinho para aquela moça? 

-Vamos andando... - Apressei meus passos. Saímos da biblioteca. - Você me seguiu, foi?  

Ela sorriu. - Eu queria brincar de me esconder para ver se me achavam!  

-Então foi tudo um grande engano. - Eu a olhei, ainda sorria quando assentiu. - Meu plano foi interrompido por um engano... 

-Que plano, papai?  

-Vamos para a cozinha, quer um docinho? 

-Uhum. - Lambeu os lábios. - Adoro docinhos.  

-Ótimo, muito bom. - Descemos as escadas. - Neste horário acredito que a cozinha está vazia... - Passamos pelo hall de entrada. 

-Aqui é muito grande.  

 Chegamos até a cozinha, me apressei a deixá-la em pé, entre o balcão. Eu procurava algo entre os talheres, Valentina aguardava em silêncio.  

Entre facas e garfos, encontrei uma colher de madeira. Eu a peguei, era firme.  

Me virei para a criança, ela guardou seu sorriso. Me agachei. - Me dê sua mão. - Estiquei meu braço.  

A pequena escondeu as mãos atrás das costas. - Vamos. Me dê sua mão.  

Ela coçou um dos olhos que ardiam com as primeiras lágrimas, aproveitei para pegar o seu braço, apertando o seu pulso. - Abra a maldita mão!  

Aos poucos, seus dedinhos se esticaram. Pensei em acertar o seu dorso, mas era macio demais. Virei sua mãozinha. - Se você chorar ou gritar vai ser pior!  

Levantei a colher, acertando a madeira no osso de sua mão. Seu rosto ficou vermelho e ela soluçou. As lágrimas sujavam suas bochechas, junto com uma coriza nojenta que descia até os lábios. Pressionei suas bochechas. - Isso é para aprender a não espiar os adultos. - Soluçava. Apertei mais. - Aproveitando que estamos sozinhos. Quero que saiba que eu não gosto de você. Jamais gostei. Eu não amo você e não tenho nenhum sentimento de empatia por você. Sabe o que é verme? - Ela assentiu chorando em silêncio. - Para mim você é  um verme nojento. É asquerosa e repulsiva. Acordo todos os dias desejando que suma.  

Valentina fez o seu beiço, pronta para chorar. Revirei meu único olho, não tolerava seus mimos. Ela recolheu sua mão, os olhos marejados.  

Eu a vi correr.  

## 

-Tarrant quer contar toda a verdade para nossa filha. – Eu não sei se era frustração, mas havia algo muito parecido em minha voz. E sei que minha amiga, Meredith, pode perceber. Torci discretamente meus lábios. O jardim estava em silêncio, o que permitia as rosas a ouvirem nossa conversa. – Eu não sei se estou preparada, nem Valentina.  

-Espero que o jovem Hightopp mude de ideia então... – Era sempre otimista. 

Suspirei, a olhando e sorrindo. – Ele é teimoso. Já não o conhece? Insistirá para que eu aprove a ideia. – Balancei a cabeça. – Não sei como vou fazer. 

-Pensando bem... – Recomeçou a senhora. – Ele está no seu direito. A filha é dele.  

-Disso eu sei. – Sorri. – Me lembro bem de como foi.  

-Acredito que sim.  

-Mudando de assunto... – Balancei a cabeça, não poderia dar chance aos meus pensamentos para relembrar aquela noite. – Eu... E meu marido não estamos em uma boa fase. 

- Se me permite... – Meredith hesitou. – Quando não estão? 

-Oh... Eu sei. Mas ao menos nos últimos meses estávamos indo bem. Agora tudo voltou a estaca zero. Ele me exige um filho. E eu não consigo ter, embora me esforce para isso... Ele não percebe meus esforços, nem o trabalho que tenho para deixá-lo feliz, às vezes... 

-Vossa Majestade é a Rainha. – Caminhávamos. A criada era boa em me incentivar. Mas daquela vez eu estava pensativa demais para ouvi-la, de fato. – É temida por todos... Conseguiu se impor depois daquela noite desastrosa, do baile...   

-Eu não tenho autoridade em meu casamento. – Respondi. – Não tanto quanto tenho no Castelo. Ainda preciso ser a esposa submissa... Em um ponto ele está certo, somos mulheres. - A olhei. - Nosso dever é produzir filhos e mais filhos... - Suspirei. - Até que se cansem.  

-Veja quem está vindo. - Meredith apontou com discrição, segui seu dedo enrugado. 

Ela apontava unicamente para uma pessoa... Com certeza quem eu menos gostaria de ver naquela tarde.  

A Bruxa parecia feliz, eu sei que se ela pudesse estaria saltitando como um coelho agitado no gramado do Jardim. O seu sorriso resplandecia a felicidade, quase roubando o brilho do Sol. Ela caminhava toda satisfeita, o capuz estava caído por seu ombro, no entanto, ela não deixava de usar aquela capa que escondia o vestido (quase sempre vulgar). Paramos juntas.  

Enid vinha em nossa direção. - Majestade. - Ela se curvou num gesto exagerado, mas admito que gracioso. Precisei sorrir. - Meredith, como está? 

Elas nunca foram tão íntimas, mas a Criada tentava ser amigas de todos por aqui. - Muito bem, e você? 

-Melhor impossível. - Insistiu em seu sorriso. - Aqui. - Ela puxou um papel de seu decote. - Este aqui é para você.  

Meredith esticou sua mão para pegar, observando o papel enfeitado com uma fita dourada, era simples mas muito bonito e delicado. - Espero que venha! - Disse Enid, acenando enquanto se afastava.  

-O que deve ser isso? - Minha curiosidade insistiu. 

-Eu não sei. Mas já vamos descobrir. - Meredith desfez o laço. - Olha... É muito bonito. - Comentou sorridente quando puxou um pequeno papel dentro do bilhete. Aquiesci, aproximando-me.  

-O que está escrito? - Perguntei um pouco hesitante... 

Vi os olhos cansados da criada, ela lia o bilhete em silêncio, sem perceber que o seu sorriso diminuía a cada frase. Ela abaixou o bilhete. - É o convite do casamento. 

Eu o puxei. - É daqui há quatro meses. - Devolvi, não conseguiria ler. - Parece que... - Engoli. - Ele a ama de verdade.  

Meredith tocou o meu ombro. - Sinto muito, Rainha.  

Sorri, meu coração doía ao imaginar a cena. - Ele está certo. - A olhei. - É. Ele deveria me esquecer... - Balancei a cabeça, mantendo meu sorriso que enrugava a bochecha. - Daqui há quatro meses... - Murmurei. - Por que tão rápido?  

-Ela deve ter escolhido a data. - Explicou. - Homens não se importam muito com esses detalhes. 

-De qualquer forma, com certeza ele concordou. Ela deve ter mostrado a ele... Ele parece que faz o que for preciso para vê-la feliz. 

-Ela perecia mesmo muito contente. 

-É claro. - Rosnei. - Claro que sim. Garanto que... Eles terão muitos filhos e ficarão juntos até envelhecerem.  

''Mamãe, mamãe! '' - Meredith e eu paramos juntas. Valentina descia os degraus largos da entrada do castelo, sendo seguida por Clarice, que segurava um elástico e uma escova de madeira. Seus cabelos (agora curtos) estavam ainda mais volumosos.  

-Oi leãozinho. - Me abaixei, ela me abraçou e então pude perceber que havia algo errado. Estava amuada, talvez quieta demais. - O que houve?  

Meredith e Clarice pararam juntas. - O papai não gosta de mim. - Disse levantando a cabeça e jogando alguns cabelos que caiam por suas bochechas. 

Estremeci. Ela sempre costumava dizer isso em forma de pergunta. - Por que está afirmando? 

-Ele não gosta. - Abaixou a cabeça. - Ele fala mal de mim, ele não gosta... N-não gosta. - Agarrou meu pescoço. - Por que ele não gosta? - Eu a ouvi questionar rente a minha pele, causando cócegas. 

Por quê?  

Eu sabia a resposta, e desejava gritar para que ela se libertasse por fim, as palavras estavam aprisionadas em minha garganta. Seus olhos carinhosos e puros aguardavam a verdade, somente a verdade.  

Toda a verdade.  

Mas precisava se contentar com a meia verdade...  

Afinal, eu estava tão chateada por ela ter mentido, não era justo fazer o mesmo. 

Olhei para as duas mulheres ali. - Podem ir. 

Se curvaram. Meus olhos a seguiram, esperei que estivessem longe.  

Aquela era uma conversa muito importante.  

Me sentei em uma das mesas, a deixando em minha coxa, ela estava pesada o bastante para não aguentá-la por muito tempo em meus braços. A encarei, os olhos eram tão bondosos... Mas não parecia haver alegria. - Você estava na minha barriga. - Alisei, sentindo o corpete apertar. - E eu descobri que era uma menina. - Sorri, esperando que retribuísse. Suspirei. - Eu já imaginava uma bela menininha. Mas o seu pai... Ele acreditava que era um menino. Eu o fiz acreditar nisso.  

-Você mentiu, mamãe? 

-Precisei mentir. Por que você já era especial para mim. - Toquei o seu rostinho. - O seu pai é um homem muito... - Olhei para o céu, pensando em encontrar a palavra certa no meio de tantos xingamentos. - Centrado e rígido, ele não aceitaria você. 

-Por quê?  

Alisei seus cabelos. - Por que você não saiu como ele planejava.  

-Ele não gosta de mim. - Tremeu os lábios quando chorou. 

Eu não poderia aguentar. - M-mas... Eu sim. Eu gosto de você, você é minha bebê. - Eu a abracei. - Sempre será.  

Valentina recostou em meus seios. Permiti, acarinhando seus cabelos fartos. - Olha! M-mas... - Queria animá-la. - Não fique triste assim. - Ela me olhou em silêncio. - Eu tenho certeza que ele se preocupa com você, e ele te ama. - Ela cortou o olhar. - Vamos sair juntas. - Sorri. - Está um lindo dia. Vamos... - Me levantei, segurando sua mão. - Sem carruagem dessa vez. Só eu e você. - Arranquei um sorriso curto de seus lábios.  

Ela coçou o olho. - Para onde vamos, mamãe?   

Pensei, suspirando, já estava cruzando o jardim e não sabia bem para onde iriamos. - É surpresa. - Sorri.    

## 

Deitado na cama, observava o teto. O lustre tinha pequenas pedras de brilhantes. Elas costumavam balançar quando o vento resolvia refrescar meu cômodo.  

Encontrei o meu relógio de bolso, o terno estava pendurado na cabeceira da cama. Eu o abri, vigiando os ponteiros.  

Ouvi batidas fortes e incansáveis. Estranhei. - E-estou indo! - Vesti meu terno depressa e então abri a porta.  

-Estou aqui. - Disse a voz, vindo de baixo.  

-Orelhudinho! - Brinquei. 

McTwisp saltitou, entrando. - Eu... - Ele esfregava suas patinhas. - Quero um chapéu.  

-Hum. - Cerrei meus olhos.  

-Eu sei que nunca contei muito de minha vida pessoal... - Saltitava. - Mas convidei uma recém viúva para jantarmos, eu preciso estar bem elegante.  

-Danadinho! Você precisa cortejá-la!  

-Eu já fiz isso. - Respondeu um tanto constrangido. 

-Uhnnnnn.... D-danadinho, danadinho! Eu pensei que ficaria para titio!   

-Ora, pare com isso! - Voltou a sua rigidez. - Eu só estou pedindo um chapéu. 

-Não é qualquer chapéu... - Eu o olhei, dando voltas em seu corpo. - Precisa de uma cartola. Para quando quer que fique pronta? 

Pensou. - Em três dias.  

-Ótimo, ótimo! N-não tem problema, preciso começar desde já! - Puxei a fita métrica. - Só vou tirar as medidas da sua cabecinha, uhn! Fique paradinho! - Nivens ergueu seu queixo, mantendo a cabeça reta e parada. Passei a fita métrica, meus dedos indicavam suas medidas. Mas meus olhos cruzaram com os seus e não pude aguentar. 

-Do que diabos está rindo?! - Irritou-se.  

-O-oh, p-por f-favor... - Balancei a mão, contraindo minha barriga.  

-Louco! - Gritou. 

-N-não... Não, m-me perdoe! - Gargalhei. - Eu s-só e-estou tentand-o i-imaginá-lo no j-jantar!  

Ele puxou o colete do seu terno. - Minhas medidas. - Revidou.  

Assenti, me aproximando. Pressionei os lábios, segurando meu riso. - O q-que ela viu em você?! 

-Já chega! - Se afastou, indo para a porta, voltei a rir. - Espero que tenha tirado minhas medidas pois eu não volto mais!  

-Nossa, m-mas que n-nervosinho! A-assim vai espantar a madame! - Gritei do corredor. - Hum. - Olhei para a fita. - Ao menos eu tirei suas medidas... 

Fechei a porta do quarto, precisava retornar ao atelier e começar o trabalho o quanto antes. Cruzei os corredores e subi as escadas. Estranhei minha porta entre aberta. De dentro, se podia ouvir alguns barulhos. Abri mais a porta, com cuidado.  

Enid revirava minhas coisas. Ela parou ao ouvir o ruído da madeira. - O que está fazendo? 

Tentou esconder sua expressão surpresa. - Onde estão as alianças?!  

Fiquei em silêncio, a olhando. Ela se aproximou. - Diga! Eu procurei por todos os cantos como pode ver!  

-Por que quer saber?! 

-Nós já conversamos sobre isso. Precisa se livrar delas! 

-Eu passei o dia todo fazendo o que queria para agradá-la! - Gritei. - Mas isso eu não vou fazer! - Balancei o indicador. - Veja o dedinho.  

-Se é tão difícil jogá-las fora é por que tem significado para você! - Berrou. - Não acredito que ainda gosta dessa mulher! Não posso acreditar!  

Olhei em volta.  

Meus tecidos, acessórios e até os móveis estavam completamente revirados. Enid reclamava em meu ouvido quando por fim, entrei. Dando-me conta do que fez. A cola com mercúrio se espalhava numa bola de tecidos e fitas. - Você espalhou tudo! Veja só o que fez!  

-Isso é culpa sua! - Gritou. - Me dê as malditas alianças! Eu sei que até gravou seus nomes! Jogue fora ou farei eu mesma!  

-Pare, pare com isso! - Roí meus dentes. - Você está me deixando nervoso!  

-Você não me leva a sério! Nem parece que somos noivos! Pensa que não o vejo correndo atrás da Rainha?! 

-Eu sou um empregado da corte!  

-Não é por isso! Nós dois sabemos! Eu não posso mais suportar isso. - Fechei os olhos. Respirando fundo, tentei separar alguns tecidos que poderia salvar. Mas não havia nenhum. - Quando nos casarmos não vou permitir que volte para o Castelo! Nem quero imaginar vendo-o trabalhar aqui enquanto estarei sozinha em casa!  

-Você estragou meus tecidos... - Murmurei.  

-Ah, agora são os tecidos! - Arfou. - Pobrezinho de você, não vai ter como fazer os vestidos da Rainha.  

Me levantei, puxando a tesoura.  

Ela se encolheu e no meio de minha loucura, voltei a sanidade. - Você ia me furar?!  

-P-perdão... 

-Você não gosta mesmo de mim. - Acusou.  

-Então... Cancele o casamento. - Me virei de costas.- Se é o que quer... 

Eu a ouvi suspirar. - Não... Só estamos brigando.  

-Você está brigando comigo. - Olhei para a janela. - Eu estou cansado. - Suspirei. 

-Eu só queria suas alianças... Eu sei que posso estar exagerando, mas eu não quero mais que você volte a sentir o que sentia por ela.  

-Estão no meu quarto. - Abaixei a cabeça. - Na gaveta debaixo.  

Ela beijou o meu rosto. Sorridente. - Ah, meu amor... Te amo tanto.  

Me afastei.  

## 

[...] 

Valentina insistia no silêncio e dentro de mim, eu desejava unicamente descobrir o que se passava em seus pensamentos. Estávamos sozinhas. Por sorte, a ponte dos sonhos também existia na realidade.  

Chamavam de ponte dos amantes... - Aqui é bonito, não acha? - Perguntei. Valentina estava sentada na beira da ponte, os pés pendurados. Embora estivesse protegida pela madeira que cercava a ponte, a água não era muito profunda. Era uma lagoa, onde as vezes, se podia ver os peixes coloridos saltando entre si. - Veja aquele! - Apontei. - Ai... Acho que vou me sentar também.  

Ela apenas balançava os pés. - Venha. - Eu a puxei. - Está tão quieta. Do que quer brincar?  

Apoiou sua cabeça em meu ombro. Em silêncio...  

Voltei meus olhos para o horizonte. A sentia levantar a cabeça. Olhei para o lado, seguindo seu olhar.  

Tarrant vinha distraído e cabisbaixo. Ele só nos viu quando chegou na ponte. Primeiro parou, estarrecido. Mas depois sorriu. - Majestade. - Por fim um pouco de empolgação. -Princesa. 

Ela acenou em silêncio. - O que fazem aqui?  

Dei um passo para frente. - Ela está um pouco amuada, eu pensei que se passeássemos juntas ficaria bem mas... - Sussurrei. - Eu não sei o que está havendo.  

Ele também estranhou. -B-bom... - Enrolou a língua. - E-eu posso acompanhá-las, s-se... se me permitir, Majestade. 

Sorri. - Claro, seria ótimo.  

Caminhamos juntos, deixando a ponte. - O que está fazendo aqui?  

-Na verdade, v-vim comprar uns tecidos no clã próximo mas... - Me olhou. - Isso pode esperar. 

Assenti. - Tecidos? É para o vestido da sua noiva?  

-Não... - Abaixou a cabeça. - Eu não vou fazer o vestido dela, ela não quer.  

-Hum. Soube que vão casar daqui há quatro meses.  

Ele riu. - S-sim! Ela está m-muito empolgada!  

Parei. Ele me imitou. - Ela... Está bem pesada.  

-Eu posso segurá-la. - Apressou em esticar seus braços.  

Eu a entreguei, Valentina se aconchegou em seu pescoço. Sorrimos. - Ao menos ela... Me deixa segurá-la. - Disse Tarrant, alisando suas costas. 

-M-mas... - Balancei a cabeça. - E você? Está empolgado em se casar?  

Ele suspirou longamente. - Eu não sei. 

-Ela não me deu o convite. – Afirmei. Tarrant me olhou.  

-Me perdoe... Ela insiste em não chamá-la.  

Paramos. Talvez Valentina estivesse dormindo, embora aquilo não fosse algo muito revelador. – Eu não iria.  

Ele torceu os lábios, seus lindos olhos fixavam em meu olhar, guardando tristeza e passado. – Você entende. – Ficou em silêncio. – Você foi ao meu casamento mas eu não conseguiria ir no seu. – Sorri fraco. – Além do que, eu sou a Rainha, eu não quero roubar a atenção da noiva.  

Tarrant olhou em volta. – Aqui perto tem uma fonte. – Esticou sua mão. – Gostaria que fosse comigo até lá.  

Aceitei.  

[...] 

-Estamos andando bastante. – Reparei. – Logo estará anoitecendo.  

-Não se preocupe. – Despistamos as árvores. – Estou aqui para protegê-las.  

Sorri. – Eu sei. Ela está dormindo?  

-Sim.  

-Então... se não se importa. – Passei o meu braço pelo seu. – Faz muito tempo que não saímos. D-digo... Nós três.  

-Sinto falta disso, Majestade.  

Nos olhamos. – Eu também. – Precisei admitir.  

Andamos um pouco mais. Chegamos a uma parte do bosque onde não havia muitas árvores, não em volta. Uma fonte feita com pequenos tijolos enfeitava aquele meio, era um gramado fino e macio, meus pés agradeciam por senti-los quando tirei minhas botas. Tarrant as pegou. – É lindo. – Meus olhos brilharam. Alguns pássaros se banhavam no chafariz, a água espirrava... Limpinha e brilhante, parecia como uma chuva de diamantes quando o brilho do entardecer batiam nas mesmas.  

-Veja. – Tarrant colocou nossa filha em pé. Ela ameaçava chorar quando ele apontou bem em frente. – São passarinhos. 

Ela sorriu. – Posso correr atrás deles?  

-Pode. – Respondemos juntos.  

Ela correu, permitindo-se brincar. – Obrigada. – O abracei. – Tarren, obrigada... Eu estava tão preocupada com ela. – Ele passou os braços por volta do meu corpo. O seu aroma me fazia aconchegar-me mais. Assistíamos a nossa filha brincando com os pássaros e borboletas, mas como pais, sabíamos que ainda havia algo de muito errado que ela não queria nos contar.  

Levantei o meu rosto e quase encostamos nossas testas. – Venha. – Ele se afastou, guiando minha mão.  

Chegamos mais perto da fonte. A água era tão limpa e translucida que refletia perfeitamente nossos rostos. – Tem algumas moedas. – Afirmei.  

-Meu pai me trazia aqui. – Nos sentamos. – Ele me dava uma moeda e me mandava fechar os olhos e fazer um pedido antes de jogar.  

Sorri. – E o que pedia?  

-Eu pedia para ser um Chapeleiro quase sempre.  

-Então... Seu desejo se realizou. Isso é ótimo.  

Nos olhávamos. – Talvez nem todos, Alice. – Ele buscou muita mão por cima do concreto.  

-Mamãe. – Valentina retornou. Antes que eu pudesse perguntar se gostaria de caçar algumas borboletas, ela disse: - Eu quero ir embora. – Disse sem muito entusiasmo.  

[...] 

Era noite, eu terminava de cobri-la. – Conta para a mamãe como foi o seu dia. – Alisei seus cachos. – Por que minha bebê parece tão triste?  

Ela virou para o lado. Avistando a janela, os olhos castanhos paravam no céu da noite, tão escuro... com poucas estrelas.  

Me levantei. – Amanhã vou chamar um médico. – Cobri o pequeno dedinho de seu pé, não queria que pegasse resfriado. – Deixarei o castiçal acesso. – Beijei sua testa. – Qualquer coisa chame uma criada ou a mamãe, está bem?  

Ela assentiu.  

Retornei para o meu quarto. Tomei um banho de ervas e passei o resto da noite me remexendo no colchão. Era duas da madrugada. – Stayne. – O balancei. – Desde as dez estou acordada.  

Ele passou a mão pelo rosto. – Então vá dormir!  

-Eu quis dizer que tem algo me perturbando.  

O Rei me olhou. – Digo o mesmo. Boa noite.  

Cruzei meus braços dentro do lençol. Aquele mal pressentimento permanecia com força, meu coração apertava.  

Deixei as cobertas, meus pés tocaram o carpete do chão quando decidi não fazer barulho.  

Talvez dar uma olhada em Valentina e tomar um copo de leite morno me ajudaria a pegar no sono sem o uso de qualquer poção.  

Saí, estranhando a porta do seu quarto aberta. – Bebê? – Fui entrando devagar. O castiçal estava no mesmo lugar em que deixei. Sua cama desarrumada.  

E ela?  

Não estava ali.  

Sua insônia costumava ser forte, o leite a ajudava assim como o chá costumava melhorar a loucura de seu pai. 

-Castiçal... – Mas ela não iria a lugar nenhum na escuridão desse castelo.  

Tinha medo do escuro desde os dois anos e meio.  

Abri os armários, onde costumava se esconder. Não estava entre as roupas. Peguei o castiçal e me apressei em sair.  

O balcão da cozinha estava sujo com leite. Sua caneca vermelha borrada na borda com a bebida esbranquiçada.  

Havia leite no chão.  

E um ruído na porta de entrada me atraiu até lá. – Valentina? – A porta recostada, entre aberta, ruía com o vento da noite.  

Os guardas dormiam vigiando o portão da frente...  

E o portão?  

Estava aberto.  

Toda aquela realidade desmoronava para mim, como um pesadelo. Tudo parecia tão mais longe. Wonderland... Ela poderia estar em qualquer lugar de Wonderland. Sozinha, com medo.  

-VALENTINA! – Esguelhei. Os soldados do jardim acordaram no susto.  

E todos os súditos do Castelo.  

Não demorou até que a maioria deles descessem para o hall de entrada.  

Eles veriam uma Rainha desesperada.  

-E-e-ela fu-fugi-u. – Anunciei para quem quer que aparecesse. A maioria eram soldados, eles não mostravam tanta emoção quanto algumas criadas que tentavam me acalmar. – N-não! – Gritei. – M-minha bebê não... M-minha bebê...  

Novas criadas e outros súditos bloqueavam a escada. Corri em direção de um, apenas um. Tarrant não entendia o que se passava quando o abracei, afogada em lágrimas que enchiam o céu de nuvens. – N-nossa f-filha. – Enid me ouvia. Ele me abraçou, deixando seu castiçal. – E-ela foi embora.  

Ele engoliu, passando a chorar no mesmo instante. – Não. – Tocou o meu rosto. Enid o apertou. – Não q-querida. – Me abraçou. – Ela está por aqui...  

Tarrant era otimista como Meredith.  

-Soldados. – Stayne me puxou, sonolento. – Busquem a garota pelo castelo. – Apertou o meu braço, me levando para o canto.  

Eu chorava quando o Rei ameaçou:  – Eu não quero vê-la abraçada com ele. 


Notas Finais


O que vai acontecer com a Tina? Será que ela fugiu?
O castelo vai se tornar um caos?
E o Rei?
Essas brigas entre a Enid e o Tarrant só torna chalice mais perto de acontecer...

(prometo uma cena no próximo capítulo que vocês vão gostar)
Mas para isso preciso de comentários que me inspirem, continuem comentando, e leitores fantasmas, deem um alô aqui!

<3


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