McTwisp finalmente fez seu trabalho completo quando encontrou o Oráculo nas mãos da criada preferida de Alice, Meredith Swan, ele tinha autoridade o bastante para pedir o Calendário mágico de volta e a velha jamais poderia cogitar suas vontades, ela não passava de uma simples criada, uma empregada qualquer dentro do maior Castelo de Wonderland.
Eu me deleitava com o sabor do vinho envelhecido, fora fabricado em Snull, no ano de 1709.
McTwisp parecia se enaltecer com o seu grande feito de conseguir o Oráculo, eu fingia escutá-lo enquanto observava o céu limpo daquela tarde. - Tudo bem, tudo bem... - Estava impaciente, completamente impaciente!
O Coelho Branco se encolheu conforme meus passos se tornavam mais próximos de seu pequeno corpo rechonchudo. Busquei o Oráculo com certa violência de suas mãos.
Eu encarei aquele papel mágico envelhecido, que se desenrolava mostrando o destino da mulher mais especial de Wonderland. Os desenhos se formavam diante do meu único olho, carregado de vingança.
''Majestade?'' - Quando a voz de Enid despertou-me daquela fantasia. Escondi o Oráculo atrás das costas. Ela entrava, sem permissão, é claro, mas parecia não se importar. Apenas fez uma mensura qualquer, eu não esperava um movimento gracioso vindo de uma dama da noite. - Preciso falar com Vossa Majestade.
Engoli.
O sabor do vinho se dissipava em minha garganta, mas seu efeito continuava forte em meu corpo. - McTwisp. Saia. - Ele se curvou de imediato e nos deixou a sós.
Tive o cuidado de guardar o Oráculo entre a estante do nosso quarto, onde Kingsley costumava guardar seus livros antigos. - O que deseja?
A Bruxa parecia um tanto perturbada quando tamborilou os dedos na mesa. Buscando uma taça de vinho. - Hum. - Sorri, gostava de sua audácia.
Ela o bebeu sem hesitar, o liquido cor de uva sumiu rapidamente da taça de vinho quando a mesma a pôs de volta na mesa, arrastando-a para o centro. Limpou os lábios com o dorso da mão e seus olhos cor da noite pararam em mim quando ela finalmente abaixou o capuz e mostrou a vergonha do seu rosto. - Eu não me casei com o Tarrant. - Parecia infeliz ao afirmar.
Um sorriso nasceu em mim. - Eu sei disso, Enid. Imagino que uma mulher como você não consiga se prender a um matrimônio.
Ela aquiesceu diante do meu insulto, eu sei que, se eu não fosse um Rei e se fôssemos mais jovens, ela estaria partindo pra cima de mim e estapeando o meu rosto. Depois eu daria um jeito de domá-la e levá-la para minha cama.
Mas a situação era bem diferente. Eu era o Rei e ela uma meretriz suja que não poderia fazer nada além de engolir em silêncio os meus insultos. - Eu não me casei por que estou grávida.
Aquilo foi mesmo uma reviravolta, e antes que eu pudesse me recuperar, ela completou: - E só pode ser seu.
Balancei a cabeça, aquele maldito vinho tinha fortes efeitos, afinal!
-Isso é impossível! - Bradei ao lançar a garrafa contra a parede cor de creme, a mancha estragou a pintura. Mas aquilo não era o bastante. - É impossível, impossível! - Lancei a mesa, ela se afastou. - S-sua imunda! - Desnorteado, caminhei pelo quarto até me sentar no colchão.
-Talvez você ainda sinta algo por mim. - Ela explicava. - E eu sinta algo por você, quem sabe. - Balançou os ombros. - Eu sei que nossa relação foi conturbada. Mas...
-M-mas nada! - Terminei, rasgando ríspidamente. - Você está tentando me enganar, é uma bruxa! Pode muito bem fazer algum tipo de feitiço e forjar uma gravidez!
-Eu gostaria que fosse um engano! Gostaria de estar com o Tarrant! M-mas eu não poderia usá-lo assim, eu não consegui! - Escondeu o rosto, aos prantos. - Alice me prometeu que não contaria o que viu, m-mas, por ironia do destino, eu não conseguiria esconder de mim mesma o resultado daquele erro. - Engoliu, fungando. - Stayne... V-você foi o meu primeiro amante, devo admitir que já fui muito apaixonada por você. - Suspirou. - Eu não acredito que os bebês nasçam do amor. Uma paixão momentânea é o bastante para acontecer... Eu li muitos livros, e... só queria que soubesse.
-Você é uma mulherzinha confusa. - Murmurei entre dentes. Fechei meus punhos, arrastando-o pela parede. - De todos os homens com quem se deitou... De todos os homens que seduziu... Você acaba... - Uma repulsa cresceu em mim. - Engravidando... - Eu não conseguia nem pensar que o filho que dizia carregar era meu!. - Argg... saia daqui, sua prostituta! - Me aproximei, a cicatriz profunda em seu rosto era mais do que uma prova concreta de que eu era um homem rancoroso e violento. - Saia! Suma da minha frente!
Ela saiu mais infeliz do que entrou.
Tomei mais um cálice de vinho. Aquele bebê não seria um problema... - Ao menos, não para mim. - Pude sorrir ao pensar.
Busquei o Oráculo na estante. - Agora finalmente vou descobrir se Alice foi mesmo para o seu Mundo. - Desenrolei.
Os desenhos se criavam lentamente, pequenas linhas feitas de tinteiro formavam uma cena.
Um lugar aconchegante, como as cabanas no sul de Wonderland... Havia um jardim com um toque rústico e nos fundos um lago. Os três pareciam felizes juntos, enquanto eu, o Rei, o homem mais prestigiado de Wonderland se consumia na tristeza e amargura.
-Hightopp. - Proferi o seu nome, eu não poderia dizer que a raiva contaminava minha voz.
Era muito mais do que isso.
Vê-los juntos me consumia de fúria, rancor, raiva, ira, hostilidade, desafeto, nojo, aversão...
Ódio.
Hightopp tomou tudo de mim!
Apertei o Oráculo entre os punhos e bati a porta do quarto com força quando saí.
Passei pelos corredores, subi as escadas, quase atropelando uma ou outra criada que ocupava o meu caminho.
Enid estava deitada em sua cama, de costas para mim, parecia chorar quando abri sua porta de surpresa. - Quero que destrua o amor deles!
Limpou suas lágrimas depois do susto. - O quê? - Não precisei repetir, ela viu a expressão em meu rosto e juntou as peças quando percebeu o Oráculo em minhas mãos. Saiu da cama. - Não... eu não posso fazer isso.
-Faça ou farei com que se arrependa!
A meretriz estremeceu. - Stayne. Acalme-se.
-Não! - Pressionei o seu braço e balancei o seu corpo com agressividade. - Faça o que ordenei! - Eu a lancei em sua mesa de feitiços, algumas poções amaçaram tombar mas Enid as segurou depois que equilibrou o seu corpo.
-E-eu nunca tentei fazer esse tipo de coisa, e-eu... não acho isso justo, Stayne. - Ainda relutante, balançou a cabeça.
-Pois eu não estou pedindo sua aprovação! Vamos, me obedeça imediatamente antes que eu a lance para o exílio! - Me aproximei. - Prefere ser mandada para a Marginalia?!
A Marginalia era o pior lugar de Wonderland, e todos sabiam disso. Era uma espécie de prisão, habitada pelos seres mais hostis e repugnantes. E quem um dia for mandado para lá, jamais poderia retornar. - Não... - Seus olhos cresceram diante do desespero. - Eu faço! E-eu faço! - Deu a volta por sua mesa, onde ajeitou sua bola de cristal reluzente com um brilho místico e arroxeado.
Sorri vitorioso, era de extremo prazer para mim saber que eu tinha o poder de destrui-los sem manchar minhas mãos com magia negra e feitiçaria.
Enid buscou um livro em sua prateleira. Alisou a capa, afastando a poeira que vinha com o tempo. - De acordo com o livro preferido da Rainha Alice... - ela me olhou enquanto explicava. - Só há uma maneira, uma forma... um ser... capaz de afastar dois corações apaixonados. E este ser... - Folheou as páginas até fechá-las, causando uma pequena nuvem de poeira que se dissipou com o ar. - É a Morte.
##
Valentina certamente pesava nos braços de Tarrant.
Ela dormia profundamente após uma longa noite, seu pequeno queixo encostava no ombro de seu pai, enquanto ela esmagava seu ursinho na lateral do corpo. Tarrant segurava minha mão, alisando carinhosamente o meu dorso. A estrada estava deserta naquela noite, meus pés cansavam na caminhada mas a vista era bonita. O céu estrelado, as nuvens espessas que voavam livremente e as altas montanhas do Sul.
Logo estaríamos em casa.
Eu o olhei, um meio sorriso crescia em seus lábios quando resolvi dizer: - Obrigada por essa noite. - Sorrimos mais quando ele me olhou. Agarrei o seu braço, sentindo o tecido quente de seu terno roçar em meu rosto. - Eu me diverti muito na ópera e com certeza aquele jantar depois da peça estava delicioso.
-Que bom que gostou. - Seus olhos gentis brilhavam de encantamento mas Tarrant parecia ter algo a mais a me dizer quando me fez parar na beira da estrada deserta. - Pena que... - Meio desajeitado, ele tocou o meu capuz. - M-mal pude ver o seu rosto essa noite. - Minhas bochechas esquentaram quando ele abaixou o meu capuz, seus dedos da mão esquerda tocavam em minhas feições. - T-tão delicada beleza merecia estar exposta. - Cerrou os olhos ao dizer, com seu sotaque, sorri sem graça. Os dedos percorreram meus cachos dourados quando ele também os libertou, as madeixas caiam em caracóis, o volume indomável finalmente surgiu e o Insano parecia gostar. Contemplava cada pequeno detalhe do meu rosto enquanto eu admirava o seu. - Lembra-se das encomendas de chapéus?
Como não lembrar? Ele ainda nem havia acabado.
Assenti. Vendo-o tocar em algo no bolso de seu paletó. É claro que, equilibrar Valentina enquanto o fazia era algo complicado de se executar.
Mas quando pegou a caixinha vermelha de camurça, ele sorriu com satisfação para mim.
Os meus olhos cresciam, mas não demonstravam surpresa. Não havia com o que se surpreender, eu tinha conhecimento do seu pedido desde quando encontrei a caixinha de alianças escondida em sua gaveta. Ele me olhava intensamente antes de abri-la, aguardava uma reação de espanto pela maravilhosa surpresa, mas não consegui fingir.
Teve dificuldades em se ajoelhar com Valentina mas assim o fez. - Alice. - Sorrimos. - Quer ser minha esposa?
Certa emoção me invadiu diante do seu pedido simples e apaixonado. - Sim. Sim, eu quero muito ser sua esposa! - Meu coração pulava, o sorriso cresceu e eu lhe entreguei minha mão. Demorou um pouco para encaixar o anel de noivado em meu dedo.
Eu o imitei assim que se levantou.
Nos beijamos com vontade, ele acariciava o meu pescoço, descendo sua mão para minha cintura e a apertando com firmeza, como se me dissesse que daquela vez não me deixaria escapar. - Eu te amo, Alice. - Sua voz era trêmula e carregada com o profundo sentimento que escapava de seus olhos. - E sempre vou amá-la.
Seus olhos verdes incandescentes...
Olhos estes que esperavam minha resposta.
-Está frio. - Murmurei, ajeitando o casaco de lã que cobria nossa filha. Ele se cansou de sorrir. - Vamos andando...
Abaixei a cabeça, a palavra entupia a minha garganta.
''Por que era tão difícil dizer?'' - Pensei quando o olhei, meio cabisbaixa, ele vinha logo atrás de mim, seus pés arrastavam na terra úmida da estrada.
Ainda havia muito para andar. Nossa cabana era longe de tudo e todos, quase próxima as montanhas...
Parei esperando que ele se aproximasse e assim que o fez, segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. Um sorriso meio decepcionado surgiu em seus lábios. Engoli a frase outra vez.
[...]
Estava em frente ao espelho do nosso quarto. Castiçais de vela mantinham-se acessos, o fogo dançava com o vento daquela noite. Eu aguardava sua chegada, um tanto ansiosa, pensava em sua frustração essa noite e sei que precisava me redimir. - Tarrant. - Eu me olhei no espelho e respirei fundo, buscava as palavras no fundo da minha alma, pensei que praticar no espelho fosse mais simples... - Tarrant, eu... - Engoli, respirando, meu rosto começava a criar um tom rosado a partir das bochechas. ''Talvez eu não consiga...'' pensei. - Tarrant, e-eu preciso conversar com você. - Recomecei, as palavras pareciam fluir, respirei fundo outra vez e de repente vinha os motivos para eu não prosseguir.
Motivos para eu não acreditar no amor.
Como aos dezenove anos, quando encontrei o marido de Margareth aos beijos com sua prima distante, ele tentou me persuadir para não contar e na verdade, não precisei. O casamento deles foi se acabando pouco a pouco, como o fogo de uma vela.
Pensei nos motivos para seguir em frente e novamente encarei o meu semblante sério na frente do espelho. - T-Tarrant, m-me desculpe por não ter retribuído quando você disse que me amava... - Respirei, suspirei. - Oh, a-acontece que eu acredito em você, eu não sou m-mais tão cética e sei que foi por sua causa, e-eu... - Meu rosto queimava. - E-eu queria que soubesse, q-que apesar de t-ter me c-casado antes, e-eu... N-nunca... S-senti p-por ninguém o q-que acho que s-sinto por você. - Balancei a cabeça. - Isso não vai dar certo, não vai dar certo... - Suspirei, fechando os olhos, Tarrant entraria por aquela porta a qualquer momento e eu deveria estar pronta. - Eu não posso usar a palavra ''acho'', eu tenho que ter certeza! - Fechei meus punhos, decepcionada comigo mesma.
Respirei profundo. ''Algo terrível vai acontecer'' - Disse aquela voz, que mais parecia ecoar em meus pensamentos e abri os olhos. Não evitei o meu susto ao ver que a personificação da Vida ocupava o meu reflexo no espelho. Pus meus dedos no vidro resplandecente, manchando-os no mesmo instante. - O quê?! - O desespero tomou conta da minha voz.
A Vida me encarava com lamento quando respondeu. - É algo que não posso evitar... - Também surgia certo desespero em sua voz suave, parecida com a minha, poderia ousar dizer. - Encontre a resposta, Alice. - Pausou. - Não desista. Mesmo se você estiver sozinha.
-S-sozinha? - Gaguejei, confusa. - E-eu não entendo, o que quer dizer?!
-Você é a Alice da lenda, sabe o que significa ou então logo saberá.
-Espere! - Gritei enquanto aquela ilusão sumia diante dos meus olhos.
Eu estava desnorteada e um pouco tonta quando me esforcei para tentar entender o que aquelas poucas palavras significavam. Não era a primeira vez que a Vida surgia para mim diante de um espelho.
Na verdade, muitas vezes pude ver sua personificação bem diante dos meus olhos.
Tarrant chegou no quarto com o seu paletó pendurado no ante braço, ele tirou sua cartola e colocou no cabideiro enquanto ajeitava sua carapinha ruiva. - E então? - Me aproximei. - Valentina dormiu?
-Sim, meu bem. - Ele se aproximou depois de um tempo, conduzindo sua mão até minha cintura. Um calor percorreu o meu corpo e eu sabia que não era pela lareira ou pelos castiçais.
Experimentei seu beijo enquanto minha cabeça estava completamente confusa. Haviam tantos assuntos, havia tanto o que dizer para Tarrant mas ele não parecia se importar com nada além de nós. Permiti que meus lábios imergissem naquele toque tão doce e quente.
Paramos quando precisamos de ar. Eu o olhei, alisando o seu tórax enquanto pensava em uma forma de puxar de uma vez todos os seus botões. No entanto, algo além dos pequenos botões azuis pareciam impedir de tocar e ser tocada. - Essa anágua... - Tentei me aproximar, mas era como uma gaiola que aprisionava os meus desejos. Nos encaramos. - Ainda não sou a favor de anáguas! - Me movimentei, sentindo suas mãos em minha cintura, ele beijou o meu pescoço depois de recuperar o ar perdido, pousei minhas mãos em seus ombros e murmurei, insatisfeita. - S-são como acessórios de castidade.
Ele deu uma risadinha abafada enquanto sussurrou rente ao meu ouvido. - Eu posso tirar para você. - O seu sotaque e seu hálito quente arrepiaram minha pele. Suas mãos adentraram nas primeiras camadas da minha saia, camadas que suportavam o peso da anágua de ferro que, além de reprimir o meu corpo do seu, criava um volume exagerado em meu vestido.
Fechei os olhos quando ele tirou abriu o fecho, era como se eu me sentisse liberta. Tarrant também parecia satisfeito com a facilidade em tirá-la.
A forma como ele jogou aquela ''gaiola'' de ferro para um canto qualquer muito me animou. Agora nossos corpos estavam colados, enquanto insistíamos em um beijo de tirar o fôlego, eu bagunçava os seus cabelos e suas mãos nervosas chegavam as minhas costas, eu conseguia sentir minha pele sendo exposta pouco a pouco, botão a botão.
-Tarren... - O chamei, ele beijava o meu colo, descendo seu rosto e ajoelhando-se enquanto partia seus beijos por minha barriga, ainda escondida pelo cetim do vestido. - Tarren... - Ele beijou os meus lábios mas eu o afastei por um momento. - Não quer conversar sobre essa noite? - Perguntei acariciando o seu rosto.
Suas sobrancelhas juntas, os cabelos levemente bagunçados e os olhos ofuscando para o vermelho. - Estamos noivos agora. - Disse com seriedade, parecia ansioso para que aquela pequena conversa se encerrasse de vez. - F-foi uma ótima noite! - Parecia mesmo sincero. Ele me levantou, me jogando em nosso colchão. - E agora... - Ele levantou uma das minhas pernas, sorri, permitindo que ele a alisasse... Assim Tarrant fez, subindo e descendo suas mãos por minha perna, sentindo a maciez de minha pele enquanto subia a saia do meu vestido. - Ficará melhor ainda. - Ele completou, carregando intensidade em sua voz.
[...]
-Sabe quando estamos cansados mas não conseguimos dormir? - Perguntei, brincando com os seus dedos. Ele virou seu rosto para mim e sorriu em resposta. Me acomodei em seus braços. - Eu estou assim hoje.
-E-eu estou assim sempre! - Balançou a cabeça ao rir.
Eu o abracei, gostava de sua gargalhada insana e estridente. - Você foi o primeiro... - Comecei, ele me olhou confuso. - Sabe... o primeiro a conseguir tirar aquela anágua - Apontei com a cabeça para a anágua jogada ao canto. - Me lembro que no castelo precisava de duas criadas para me ajudarem.
-Hum. - Sorriu satisfeito.
As pontas dos meus dedos deslizaram por seu tórax nu quando agarrei o seu rosto para beijá-lo. Seus lábios estavam salgados pela transpiração do seu corpo e aquilo tornou aquele beijo ainda mais irresistível. Ele passou suas mãos por mim, alisando cada curva do meu corpo nu entre as cobertas.
Aquela altura da noite a cera das velas já havia sido consumida pelo calor.
Busquei sua mão por minha barriga e fiz com que pousasse em meus seios, ele se escondeu entre as cobertas e passou a lambuzar o meu mamilo quando gemi, agarrando seu pescoço e nuca que não paravam de se movimentar. - E-espere, e-escute... - Eu o chamei, ofegante e animada. Ele voltou para mim e eu me ajeitei em seus braços. - Antes de prosseguirmos... - Respirei fundo. - Eu queria que soubesse que... Apesar de estar... - Ele me ouvia com atenção. Isso só me deixava mais ansiosa, havia tanto o que falar. - E-eu queria que soubesse que eu... - Respirei, engoli e sorri. - Estou muito feliz com o nosso noivado. - ''Não consigo...''
-Eu t-também estou, Alice. - Cerrou os olhos quando tocou o meu rosto, tocando os dedos em meus cachos e desmanchando-os em suas mãos. - Eu te amo muito, q-querida.
Será que ele queria que eu retribuísse?
Era minha segunda chance de tentar dizer.
Mas só pude abraçá-lo. As coisas quase nunca saiam como planejávamos. - Eu sei... - Torci levemente meus lábios. - Eu sei que você me ama...
Ele encaixou seu rosto no topo da minha cabeça e assim adormecemos.
[...]
A cozinha estava bagunçada com as ervas e legumes que logo seriam jogadas na água fervendo. Vez ou outra eu observava a janela do jardim. - Valentina?! - Minha voz saiu zangada quando percebi os seus brinquedos espalhados. -Quantas vezes preciso dizer?! - Ruí os dentes ao chegar na sala, mas me surpreendi por não vê-la desenhando sentada ao chão. Olhei para o andar de cima, eu poderia desconfiar que estivesse em seu quarto ou no banheiro se o carpete da escada estivesse bagunçado. Aqueles pezinhos eram como dois furacões! - Valen?! - O jardim estava definitivamente vazio. Rosnei ao me agachar, catei seus brinquedos um por um... Bonecas, ursos, pequenas xícaras de plásticos e até alguns giz de cera que se camuflavam na grama meio alta.
Pus tudo em na caixa de papelão e levei para dentro. Mas da janela meia oculta pelas cortinas da sala pude ouvir sua voz serena. ''Calma bichinho, eu não vou te machucar. '' - Levei os meus olhos naquela direção.
Ela estava à beira do lago onde as águas se movimentavam levemente, ela olhava para cima, um galho fino da árvore de Macadâmia lhe prendia atenção.
Fui até ela bem devagar, a criança assistia atentamente ao tal ''bichinho'' quando me aproximei com passos cuidadosos, não queria assustá-lo. - O que está fazendo? - Questionei, olhando para o seu rosto sereno, que respirava de vez em quando. As bochechas meio coradas com sardinhas e os olhos... Olhos grandes e fascinados.
-Schiu. - Ela trouxe o dedo indicador até rente aos lábios. - Vai espantar.
Decidi imitá-la e estiquei o pescoço.
Uma lagarta dormia tranquilamente em seu casulo, pendurada de cabeça para baixo com o apoio do caule que sua própria cera criou. - Ora. - Sorri. - Ela não parece incomodada conosco. - Peguei a pequena em meus braços para aproximá-la do bichinho. Valen se encolheu, insistia que não queria espantá-la. - Isso não vai acontecer. Ela está dormindo.
-Ela está dormindo faz muitos dias... - Percebeu.
Sorri. - Eu sei. - Encostei minha cabeça em seu ombro. - É o que acontece. Quando ela acordar vai usar suas forças para abrir o seu casulo.
-É como uma casinha, mamãe? - Estava curiosa.
-Sim. - Confirmei. - Como uma casinha. E depois... - A observei com cuidado. - Ela se torna uma borboleta.
-Ela vai ganhar asas?!
-Vai. - Encarei sua expressão incrédula antes de colocá-la no chão.
E antes que pudesse me encher com mais perguntas, seus grandes olhos redondos e castanhos mudaram de direção e assim, a menina exclamou: - Papai! - Ela saiu correndo pelo jardim.
Virei o meu pescoço e sorri com a cena que via ao longe, Tarrant atravessava a estrada sem olhar para os dois lados, costumava ser uma estrada deserta. Ele empurrou o portãozinho de ferro, recém pintado da tinta branca que encontramos no porão e Valentina se jogou em seus braços. Ele a pegou, não parecia ter o mesmo sorriso vivo de sempre, eu acho que estava cansado.
Mas de qualquer forma, ele preencheu o rosto de sua filha com beijos carinhosos. - Hum. - levantei a saia do vestido para ir até sua direção com mais rapidez e me atirei em seus braços, quase esmagávamos Valentina quando nos abraçamos. Estava suado e meio ofegante quando experimentei seus lábios salgados.
Nossa filha tampou os olhos com as mãos. - Como foi no trabalho?
Ele suspirou longamente enquanto andávamos. Virou-se para mim, meio decepcionado. - Fui demitido. - Meu rosto se encheu de dúvidas, ele era o melhor costureiro do armazém. - A-acontece que eu estava fazendo o meu trabalho muito bem, e por isso fui mandado embora. - Abaixou a cabeça, tristemente.
-Ela o mandou embora por ser um bom costureiro? - Alisei suas costas.
-As outras moças estavam saindo no prejuízo por que ninguém mais queria os serviços delas, e então a Madame Amélia decidiu me mandar... - Suspirou. - E-embora, q-querida...
-Você vai encontrar um bom emprego. - Afirmei.
Mas ele não parecia muito esperançoso.
Quando entramos, ele tirou o chapéu e sua bolsa de couro depois que colocou Valentina no chão. Ela não entendia muito bem o que estava acontecendo, e o quanto aquele dinheiro nos faria falta, mas compreendia a tristeza do seu pai. - Nós daremos um jeito. - Queria lhe passar confiança.
Tarrant se jogou no sofá. - C-como? - A voz trêmula guardava o seu choro.
-Crie seus vestidos aqui. - Sorri. Seus olhos me seguiam sem muita animação. - Você já fez isso antes.
-M-mas... - Ele ajeitou seus cachos ruivos para trás. - Vou precisar comprar muitos materiais para isso... E... N-não tenho dinheiro.
Respirei, eu não queria ter que dizer isso. Mas eu entendia que era necessário. - Então faça chapéus. Eu sei que há material de sobra no sótão. - Me sentei ao seu lado e busquei sua mão. Valentina nos ouvia. - Além disso... - Sorri, esperando que me imitasse. - Vou ajudá-lo.
Ele abrigou-se em meu ombro, agradecendo meu apoio em sussurros, eu alisei os seus cabelos e ficamos assim por algum tempo.
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