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História Apenas um sonho - O retorno da esperança


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


AMEI CADA COMENTÁRIO DO CAPÍTULO ANTERIOR.
TENHO AS MELHORES LEITORAS DO MUNDO ♥

Capítulo 21 - O retorno da esperança


Fanfic / Fanfiction Apenas um sonho - O retorno da esperança

Mantinha meus olhos fechados, contudo, minha mente estava bem aberta para tudo o que acontecia em minha volta. Eu já havia acordado, e sabia que passaria o restante do dia com dor no pescoço por dormir de mal jeito no balcão da cozinha.  

Alguns pequenos raios de luz batiam em direção ao meu rosto, mas eu não me importava com nada no momento.  

Abri lentamente os meus olhos, pisquei algumas vezes para normalizar a minha visão embaçada. A primeira coisa que vi foi o meu copo pela metade, peguei a garrafa e suspirei ao ver que tomei todo o conteúdo, avistei o pequeno frasco da poção do sono e ao lembrar o que aconteceu, uma onda de tristeza invadiu o meu peito. Guardei a poção no bolso. Deitei minha cabeça de novo, dessa vez, do lado oposto da janela para que o maldito Sol não me incomodasse.  

Havia tantos e tantos pensamentos me castigando no momento que a minha vontade era de passar o dia todo encostado no balcão da cozinha. 

'' - Quando estou sonhando, meus sentimentos são reais. - Ela sorriu abertamente para mim. - Eu juro, juro... A-acredite em mim. 

-C-como posso acreditar? E-está me dizendo que tem sentimentos por alguém que está só nos seus sonhos. - Fiz uma pausa, torturando-me com minhas próprias perguntas. - P-por não sentes o mesmo por mim quando está acordada?  

 -Eu não conseguiria se quisesse. - Alice respondeu depois de um breve, porém, profundo silêncio. '' 

Eu não conseguia me curar da ressaca interna que afetava a minha alma. Pensar no sonho que dividi com Alice naquela noite não fazia bem para a minha muiteza. Eu sabia que não deveria ter correspondido aos seus sentimentos fantasiosos, e me doía saber que eu era fraco o bastante para não deixar de amá-la.  

Pressionei meus pulsos enquanto tentava estabelecer a cor da minha íris. Mesmo com os olhos fechados.  

-Eu ganhei o jogo de esconde-esconde da última vez! - A falação que se aproximava da cozinha me causou uma forte fisgada na cabeça.  

-Você trapaceou!  

-Não trapaceei! 

-Trapaceou sim! - A gritaria não cessava. 

Só mesmo os irmãos Tweedles começariam o dia com uma discussão boba, enquanto eu pensava em pegar uma faca qualquer no balcão e enfiar nos meus ouvidos, os gêmeos por fim chegaram na cozinha. - Parece que o café não está pronto. - Finalmente um deles mudou de assunto.  

-Eu disse que o relógio do nosso quarto estava uma hora adiantado!  

-Não disse não! 

-Disse sim!  

-Meninos... - Apoiei meus cotovelos no balcão. - Por favor, parem com isso. - Com um certo esforço abri os meus olhos. 

Os dois gorduchinhos me olhavam, parados um do lado do outro. - Viu, o café já devia estar pronto! - Tweedle-Dum recomeçou a discussão. - O Chapeleiro está aqui!  

-Não seja tonto, ele dormiu na cozinha! - Revidou o irmão.  

Abaixei minha cabeça. - Não dormiu não!  

-Dormiu sim! 

-Não dormiu!  

A briguinha boba dos dois ganhava um outro nível: Pude ouvir que os dois apelavam para tapas e beliscões. -V-vocês não querem me ver nervoso... - Murmurei e minha ameaça causou um silêncio profundo na cozinha.  

Sorri com a doce aquietação que se instalou no ambiente.  

Eu não me sentia bem, meu corpo estava quente e a minha mente perturbada com os acontecimentos passados, além de me sentir completamente sonolento.  

Apesar de tudo isso, não conseguia deixar de pensar no Oráculo nem por um minuto, se quer. Pensar nas coisas que me aconteceriam futuramente já fazia parte da minha rotina, mas nessa manhã, isso me afetava ainda mais.  

Os rumos que Alice tomará num futuro próximo era uma tortura para mim. Eu a amava, estava completa e perdidamente apaixonado por ela e eu preciso fazer de tudo para que o Oráculo não se cumpra.  

Ela precisa ficar comigo. -C-comigo... Só comigo... A-Alice.  

''Ouviu o que ele disse? '' - Abri um dos meus olhos ao escutar certos sussurros.  

Levantei o meu rosto e lá estavam os irmãos Tweedles. '' Ele está apaixonado pela Alice. '' - Murmurou Tweedle-Dee, enquanto eu me esforçava para regular a cor da minha íris e não explodir com os dois.  

-Não está não!  

Os chutes e beliscões recomeçaram.  

-Está sim!  

Levei a mão ao rosto após respirar fundo. Os dois continuavam, quando minha raiva finalmente foi ao limite. - JÁ CHEGA! - Me levantei e bati meus dois punhos no balcão. Eu tive certeza que o meu grito se espalhou por todo o Castelo, contudo, minha raiva ainda não tinha sido totalmente extravasada.  

Os dois irmãos deixaram de lado toda aquela rivalidade boba de família e se abraçaram, sem esconderem seus olhares de puro medo para mim.  

- Desculpe, meninos. - Me sentei. - E-eu só estou um pouco... - Hesitei. - Embriagado. N-não precisam... - Sacudi minhas mãos no ar. - Não precisam ter medo... H-Hum... - Alisei minha testa. - Que dor de cabeça. 

-Acha que devemos voltar para o quarto? - Um deles sussurrou.  

-E-eu não sei, acho que sim.  

-Por favor... - Forcei um sorriso. - Fiquem. Só... Só façam silêncio.  

-Obrigado Chapeleiro. - Responderam em coro, revirei meus olhos.  

Deitei minha cabeça no balcão de novo. - Bom dia a todos. - De repente, Cheshire flutuava em minha volta.  

-Não acredito...  

-Tarrant. - O Gato sentou-se no balcão. - Seu chapéu está amassado. - Seu tom de voz me trouxe uma certa desconfiança, mas decidi ignorá-lo. - O que andou fazendo? - Perguntou o bichano após perceber a garrafa vazia de vinho. 

Olhei para os dois meninos a minha frente e afastei a garrafa. - Mas quanta petulância! - Cheshire sorriu com a minha murmuração. Aquela bola de pelos flutuante queria me irritar.  

E devo dizer que estava conseguindo.  

Eu simplesmente odiava o modo como ele voava, passeando em minha volta, como se eu fosse um dos seus brinquedos. Segurei minha cartola, só para garantir que o meu querido chapéu não seria roubado. - Ora, Tarrant... V-você não teve tanto cuidado com o seu chapéu ontem a noite. - Eu o olhei com dúvida. Seu sorriso aumentou.  

Alisei minha cartola. - N-não sei do que está falando. 

-É mesmo? - Ele aterrissou em cima do meu chapéu, eu o enxotei. - Está amassado... - Suas patas peludas tocaram na lateral da minha cartola, eu a abracei e Cheshire continuou. - Resultado de uma boa noite na carruagem...  

Arregalei meus olhos. 

 - Carruagem? - Os Tweedles repetiram juntos.  

Me levantei, tentando esconder o meu nervosismo quanto aquela situação.  

O maldito Gato sorria vitoriosamente para mim. - M-meninos... P-porque não vão brincar de pique? - Sorri, contudo, tive certeza que o meu sorriso perturbado assustou os gêmeos. - T-tem... Uma carruagem por ai... - Cerrei meus olhos. - Vão... Procurem! E-explorem!  

-Eu acho que ele quer conversar a sós com o Cheshire... - Tweedle-Dee comentou com o mais novo.  

-Claro que não! - Bradou o outro. Os dois atravessavam a cozinha. - Você não ouviu? Ele disse para brincarmos de pique!  

-Isso foi só uma desculpa! 

-Não foi não! - Suspirei. - Para de me beliscar! 

-Para você! 

-Agora sabe do que estou falando, Tarrant? - Cheshire teve o bom senso de esperar os irmãos se retirarem.  

Minha íris não escondia minhas emoções desequilibradas. - O que você é, afinal? - Ele sorriu com a minha pergunta. - Algum espião?! - Ri, enquanto fazia uma careta. - Como sabe disso? - Sussurrei. 

-Estou em qualquer lugar. - Ele evaporou de repente, e surgiu rente ao meu ombro. - A qualquer hora...  

-Não me venha com essas conversas absurdas! - O cortei. 

-Tenho extintos, Tarrant. - Chessur sentou-se no balcão, enquanto lambia uma de suas patas dianteiras. - Consigo ouvir quando dois corações batem ao mesmo ritmo. - Pausou. - Quando dos corpos se desejam mais do que tudo.  

-... - Mirei o chão, angustiado. - Você está enganado, Cheshire. - Sentei-me novamente, agora a ressaca não me causava mais desconforto do que aquela conversa. - Você viu o Oráculo. - Acusei, me virando para o felino sorridente. - Sabe o que vai acontecer no futuro, então não me iluda. - Pedi.  

-Tarrant... Nós fazemos nosso próprio futuro. - Seu conselho não me convenceu, e ele tinha os extintos apurados o bastante para notar. - Posso ajudá-lo. 

Juntei minhas sobrancelhas. - N-não sei do que está falando... 

-Tudo é como um jogo... - Ele enrolava-se na garrafa vazia de vinho. - Um jogo de gato e rato. Eu sei que você entende de jogos, Tarrant. - Vinha se aproximando. Tomei distância. - Se não soubesse do que estou falando, já teria revelado à ela que você está nos sonhos.  

-Não tenho muiteza o suficiente para falar... - Enrolei minha língua. 

Mas jamais poderia enrolar o Cheshire, ele era o felino mais esperto de todo o Mundo Subterrâneo, e ele sabia muito bem disso. - Entre no meu jogo, Tarrant.  

-Não! - Me levantei, ele diminuiu seu sorriso e seus olhos passaram a me encarar tristemente. Eu já não tinha esperanças, e a minha alma evidenciava muito bem isso. - N-não adiantaria, o Oráculo vai se cumprir. 

-Bom, e-ele não se cumpriu da primeira vez. A profecia do Jaguadarte... 

Parei para pensar, pior do que o Oráculo se cumprir, era... Não se cumprir. Afinal, quando Alice desistiu de combater o Jaguadarte, todo o Mundo Subterrâneo veio abaixo.  

Por um momento, imaginei que Stayne estava certo: O Oráculo precisava ser cumprido dessa vez. Pois se não fosse, uma nova profecia envolvendo Kingsley se formaria. Uma profecia talvez ainda mais devastadora. - S-seria muito egoísmo da minha parte, interferir no que já está predito. - Admiti. 

-Alice sempre diz que ela faz o seu próprio destino. - Cheshire me convencia com novos argumentos. Fiquei em silêncio e deixei que prosseguisse. - Ela parecia mesmo sentir algo por você essa noite.  

-... - Pensei no que ela me disse na carruagem e que Cheshire certamente não ouviu. - Ela disse que não conseguiria sentir nada por mim de verdade, nem mesmo se quisesse... - Abaixei meus ombros, tentando não demonstrar o quanto tais palavras acabaram comigo.  

-Então, não há nada para perder. Tarrant... - A bola de pelos flutuava em minha volta, me deixando levemente atordoado. 

Minha loucura voltava ao mesmo tempo em que a minha ressaca ia embora. Eu já não aguentava mais pensar no que houve noite passada. - Quando a encontrar, diga que ainda está muito doente. - Ele viu minha expressão de pura reprovação e continuou. - Ela cuidará de você, como prometeu. Passarão mais tempo juntos... - Sorria. - Pense só... Ela não esqueceria o sonho que teve com você. - Balancei a cabeça em negativa, parte de mim adorava o plano enquanto meu outro eu advertia-me mentalmente. - Ela seria carinhosa... Principalmente por saber que você ficou doente por esperá-la para o chá. - Puxei meus cabelos ao ouvi-lo. - Você não quer perdê-la... - Chessur parou na minha frente. - Ou quer?  

Me levantei. Não suportava mais ficar ali.  

Passei agitado pelos corredores. - Tarrant?! - Ignorei McTwisp que caminhava rumo a cozinha e subi as escadas.  

Minha visão ainda estava um pouco turva, meus sentimentos embaralhados e os meus pensamentos confusos. E ao pensar que ainda não haviam preparado uma boa dose de chá só me deixava mais louco.  

Parei no corredor de repente, estranhando encontrar a porta do meu quarto aberta. - Meninos... - Murmurei. - Não brinquem de esconder dentro do meu... - Me surpreendi ao ver que os Tweedles não estavam presentes. - Quarto. - Concluí. 

-Ah, B-bom dia... Chapeleiro. - Alice sorriu enquanto escondia seus braços atrás do seu belo vestido azul claro.  

-... - Eu me perguntava o que ela fazia no meu quarto. - B-bom... - Sorri. - B-bom dia.  

Ela retribuiu o sorriso e o meu coração acelerou, seu sorriso era igual ao do sonho, era largo, mostrando seus lindos dentes.  

Deixei de notar no seu rosto e passei a reparar no seu jeito naquela manhã: Estranhei ao ver que Alice estava um tanto nervosa, nervosa e surpresa... Como se não esperasse me ver ali. Ela continuava com os seus braços para trás, e quando pensei em perguntar o que estava havendo, ela correu em minha direção e me surpreendeu com um longo abraço.  

Suas mãos apertavam a minha nuca, ela estava na ponta dos pés para conseguir encaixar o seu rosto no meu ombro. Não demorei para retribuir. Minhas mãos alisavam suas costas com um carinho jamais feito antes. Fechei os meus olhos, sem esconder o tamanho do meu sorriso. Alisei seus belos cachos soltos, sentindo o bom aroma das suas mechas douradas. - Senti sua falta. - Ela admitiu, num fio de voz.  

-S-sentiu mesmo? O-oh, A-Alice... E-eu também senti sua falta! - Minha loucura não me permitiu agir de um modo menos exagerado. Eu a soltei, segurando seu rosto com as duas mãos. - S-sei que foi só essa noite, m-mas não devíamos brigar. - Sorri. - N-não, não devíamos! De fato!  

Ela ria. - Me abraça. - Pediu, esticando os seus braços.  

Não hesitei em abraçá-la de novo. Ela apertava os meus cachos quando sussurrou ''Não vamos mais brigar... Nunca mais brigaremos por nada! Promete? '' - Me abraçou mais. '' Por favor, prometa...''  

Tais palavras encheram o meu coração de muiteza. - Prometo... - Sorri. - T-tenho certeza que não brigaremos. - Abri meus olhos para beijar seus cabelos.  

Porém, reparei algo no chão do meu quarto que me fez soltá-la. - Tarrant... - Ela segurou meu braço ao me ver abaixado, mas prontamente me soltei.  

Peguei o Livro dos Sonhos, ajeitando algumas páginas que estavam arrancadas. - Você ia roubá-lo? - Virei-me para Kingsley, controlando a cor dos meus olhos.  

-N-não... - Ela balançou a cabeça. Nervosa. Se agachou para me ajudar. 

Puxei as folhas de suas mãos com certa violência após concluir o que estava evidente: - Você já havia pego! - Acusei. - E veio devolver pela manhã. - Mirei minha íris alaranjada para a moça, seu silêncio constatou que eu estava certo. - Entendi por que me abraçou, a-afinal. E... - Apertei meus lábios. - E me fez prometer que não brigaríamos! 

-V-você não entenderia, e certamente não me emprestaria o livro se eu lhe pedisse!  

-Esse livro não é meu. - O abracei. - P-por favor... - Olhei para o teto, não podia encará-la depois do que aconteceu naquela noite. - Saia do meu quarto, A-Alice.  

A loira se aproximou, suas mãos tocaram carinhosamente no meu ombro. - Saia!  

Ela permaneceu parada ali, Kingsley certamente era a única que não temia o laranja quase puxado para o vermelho dos meus olhos. - Não queria magoá-lo. - Suspirou, senti a sinceridade de suas palavras e me acalmei. Alice me deu um sorriso triste, enquanto me olhava com um brilho diferente. - Tarrant... - Abaixou a cabeça, caminhando até a porta. - V-você acha que é possível um sonho virar realidade? 

O excesso de muiteza naquele momento me fez agir por impulso. Fui andando lentamente em sua direção enquanto nossos olhos estavam fixados um no outro. Ela ansiava por uma explicação. - Responda-me. - Seus olhos se encheram de lágrimas. - Tenho tantas dúvidas... Sei que pode respondê-las.  

Peguei sua mão, apesar de estar magoado por ela ter me enganado de certa forma, eu sabia muito bem que nada seria maior do que o louco sentimento que crescia dentro de mim.  

-Encontramos a Rainha! - Soltei sua mão imediatamente.  

Os Tweedles chegaram agitados, eles falaram em coro enquanto chutavam um ao outro, certamente disputavam quem contaria a novidade primeiro. Alice olhou para os dois, com certeza pedindo uma explicação. Porém, eu fui mais rápido e perguntei: - ONDE?  

-Lá fora! - Responderam em sintonia. - Perto do bosque! - Um deles (no momento, não sabia qual) especificou o lugar.  

Corri pelos corredores. - Chapeleiro! - Alice me gritava, mas eu não poderia dar ouvidos.  

As esperanças voltaram para o meu peito como as estrelas voltavam para o céu a noite. Quem me visse certamente perceberia um brilho especial em meus olhos. Encontrar a rainha simplesmente poderia mudar tudo!  

E foi com esses pensamentos que desci as escadas do palácio, praticamente voando.  

Eu não tinha tempo para perder o fôlego, precisava falar com Mirana imediatamente!  

De repente, eu já me via do lado de fora de Marmoreal, impressionado com a minha própria rapidez. Ousei em olhar brevemente para trás e lá estava Alice e os irmãos tentando me alcançar. Desviava das diversas árvores que dificultavam o meu caminho, haviam muitos bosques em Wonderland, mas eu tinha certeza que Mirana apreciava um bosque em especial.  

O que por trapaça do destino, era o mesmo Bosque que levei Alice, nos seus sonhos.  

Atravessei a ponte de madeira, a pequena estrutura estremeceu com a minha falta de sutileza ao correr.  

-MAJESTADE! - Por fim, cheguei ao bosque.  

Tirei o meu chapéu, reparava seu belo rosto esbranquiçado. Mirana estava estirada no chão e vê aquela cena não fazia bem para a minha sanidade. Me aproximei devagar e hesitante, eu não queria pensar o pior, mas era impossível deixar tais pensamentos de lado e imaginar que a Rainha Branca tirava apenas um cochilo.  

Me agachei na sua frente, ela mostrava olheiras fundas e arroxeadas, seus lábios carnudos já não tinham aquela cor escurecida habitual, pelo contrário, ele estavam tão brancos quanto a neve, porém, seu rosto não me parecia ferido.  

Analisei todo o seu corpo. Seus braços estavam mais magros do que o normal, apesar de seus ombros e pescoço também não mostrarem nenhum sinal de agressão, suas pernas estavam muito bem escondidas pela saia longa e volumosa do seu vestido branco. - Majestade? - Toquei no seu rosto, sua pele estava fria, mas não muito.  

Eu a puxei, colocando-a sobre minhas coxas, enquanto passava meu braço esquerdo pelo seu ombro, apoiando sua cabeça. Ajeitava delicadamente os seus cabelos brancos e macios quando notei que todas as flores e árvores dali estavam tristes: As árvores não balançavam seus galhos, e as rosas vermelhas estavam tão murchas que certamente secariam.  

Alice e os dois briguentos chegaram, a loira não notou que esse bosque era o mesmo lugar em que estávamos no seu sonho, e a essa altura, eu não estava preocupado com isso. O silêncio não durou muito tempo, pois eu mesmo fiz questão de quebrá-lo. - Ela estava assim quando a encontraram? - Perguntei aos Tweedles.  

Eles se entreolharam.  

- RESPONDAM!  

-A encontramos assim. - Tweedle-Dee juntou coragem para me responder.  

Eu olhei para os gêmeos com uma certa desconfiança. - E POR QUE NÃO A SOCORRERAM? 

-Certamente acharam que seria mais plausível se procurassem um adulto. - Alice me respondeu, sua voz suave não me tranquilizava.  

Fiquei em silêncio, todos me imitaram e passaram a encarar a Rainha. Meu excesso de preocupação estava evidente. - Majestade... - Eu a sacudia. - Acorde, por favor!  

-Tarrant... - Alice se agachou do meu lado, alisando os cabelos de Mirana. - Eu acho que ela está mor-- 

-Não! - Virei-me. - E-ela não está! - Tentei disfarçar minhas lágrimas, mas não obtive sucesso. Kingsley me olhava preocupada com a minha sanidade, ao mesmo tempo em que estranhava o meu jeito desesperado. - Consigo sentir que o coração dela está batendo... - Hesitei, mas acabei tocando em seu peito e ouvindo as batidas, estavam fracas, mas ainda era possível ouvi-las. - Mirana, por favor. - Toquei no seu rosto com delicadeza. - Acorde... - Sussurrei, sentindo que as minhas lágrimas já não tinham espaço suficiente dentro dos meus olhos. - Acorde... Wonderland precisa de você. Por favor... - Acabei molhando suas bochechas.  

Eu a abracei mais, deitando o meu rosto perto do seu peito. Alice e os Tweedles assistiam a minha agonia, sem poder fazer muito para ajudar. - A-acho que devemos levá-la para Marmoreal. 

-E-ela precisa se aquecer... - Sussurrei. Retirei o meu terno e passei em seus braços. 

-Chapeleiro! V-você está me ouvindo?! - Alice não ganhava a minha atenção. Todo o meu afeto e preocupação estavam focados em Mirana naquele momento. - E-eu disse que devíamos levá-la para o Castelo! L-lá teremos mais recursos... Q-quem sabe ela acorde. - Sorriu. 

-Não existe ''quem sabe''! - A loira desfez o sorriso, enquanto a minha loucura vinha à tona. - Mirana tem que acordar... - Lentamente beijei sua testa. - V-você é minha única esperança.  

-Hum... - Alice tocou no meu ombro. - Do que está falando? 

Os Tweedles responderam por mim. - O Oráculo.  

A moça curiosa levou seu olhar para os gêmeos. Por sorte, o som dos passos firmes de um cavalo cessaram suas futuras perguntas em relação a isso. Imaginei que fosse um dos soldados de xadrez para nos ajudar, porém, apertei meus lábios com força enquanto segurava Mirana desacordada, mais pra perto do meu peito.  

Stayne descia do seu fiel cavalo marrom e enquanto amarrava o mesmo no tronco de uma árvore, deixei a Rainha delicadamente no chão, tomando certo cuidado para ajeitar o meu terno e cobrir seus braços. - Foi você! - Corri em sua direção, apertando o seu pescoço e o jogando contra a árvore sem que houvesse chances de se defender.  

Alice se levantou rapidamente. - Tarrant, solte-o! - Pediu, puxando o meu braço. Mas sua força não se comparava a minha e a sua calma e tranquilidade em ver Mirana naquele estado só me causava mais revolta. Como Alice não se preocupava?! - Ele não teve culpa! - Mordi meus dentes ao ouvi-la, ela não se preocupava com a Rainha e ainda o defendia. 

Meus olhos transbordavam de raiva e a minha íris ganhava uma cor laranja mais intensa. Os gêmeos também não tinham forças para me impedir. - EU SEI VOCÊ QUE TEVE CULPA! - O Valete já não respirava, seu rosto estava vermelho e ele parou de lutar contra. 

Percebi então que eu estava prestes a matá-lo em uma das piores formas possíveis.  

O joguei, ele bateu sua cabeça no chão, o moreno tossia ao puxar desesperadamente o ar. Alice suspirou e ajudou a levantá-lo. - O q-ue f-az a-qui?! - Perguntei, disfarçando a minha raiva que ainda não havia passado. 

-V-vim... - Ele tossiu. - Assim que soube. - Sua voz estava rouca, Stayne se levantou enquanto massageava o seu pescoço. - Vim ajudá-los.  

Sua ladainha não me convencia, e todos perceberam. - Adoraríamos sua ajuda. - Alice me fez cerrar os punhos. - Não é, Tarrant? - Virou-se para mim.  

-Você não entende mesmo... - Balancei minha cabeça, no momento não me importava com o meu sotaque aparente. - ELE FEZ ISSO COM MIRANA!  

Valete deu alguns passos para trás e Kingsley se colocou entre nós dois para evitar uma nova briga. - Não vamos procurar culpados! - Ela pediu. - Vocês dois estão esquecendo o mais importante! - Apontou para o chão. 

Voltei a me agachar. Sacudindo cuidadosamente a Monarca. - Não seja louco! - Stayne se aproximou. - Ela não vai acordar tão cedo.  

-E-está sabendo demais para alguém que não tem culpa alguma! - Murmurei. 

-Parem, os dois! - Alice tocou no meu ombro. - Temos um cavalo... Por que não a levam para Marmoreal? 

-Levar alguém desacordado a cavalo é muito arriscado. - Stayne respondeu, assenti, precisava concordar com aquele assassino desalmado. Tudo pela segurança e bem estar da doce Rainha de Wonderland - E-eu pensei em uma carruagem. Encontrei uma a poucos metros daqui. - Ele apontou para o leste. 

Levantei meu olhar discretamente para Alice, percebendo que a moça ficou paralisada com as palavras que ouviu. - U-uma carruagem? - Ela corou, escondendo o seu rosto e olhando para o lado. - A-ah...É u-uma ót-tima ideia. - Forçou um sorriso. Desviei meu olhar quando ela focou seus olhos castanhos em mim. - Tarrant? 

-N-não sei de carruagem nenhuma. - Ri.  

-E-eu sei que você não sabe. - Ela riu também. - E-eu ia dizer para você deixar o Valete levar a Rainha. 

-De maneira alguma! - Balancei a minha cabeça enquanto eu a abraçava mais, o sorriso tímido de Alice se foi e deu lugar a um semblante sério.  

Fiz um certo esforço, a saia do seu vestido era bem volumosa, causando um peso desnecessário, mas não era o suficiente para impedir de carregá-la. - Não quero vê-lo perto da majestade! - Alice e os Tweedles se assustaram com a minha atitude, Stayne levantou suas mãos em sinal de paz, revirei meus olhos e decidi tomar distância por conta própria.  

[...] 

A Monarca ainda estava em meus braços quando todos se reuniram em uma sala que sempre esteve trancada. E ao abri-la, percebi que tudo estava predito e certamente todos sabiam que essa desgraça aconteceria: Era uma espécie de quarto, havia muitas flores e vagalumes, no canto tinha como perceber alguns casulos de borboletas, prestes a nascer, tinha também um grande guarda roupa de madeira, certamente com os seus melhores vestidos e uma vitrola dourada no canto. O quarto era lindo, Mirana com certeza estaria encantada se o visse... E pensar que ela ainda não tinha acordado me deixava ainda mais enlouquecido.  

Caminhei com ela em direção a uma cama de solteiro, o colchão era feito com as melhores gramas do Mundo Subterrâneo e a cama em si era feita puramente de vidro. 

-Isso parece um túmulo. - Stayne resmungou enquanto eu a colocava sobre o colchão. Pude ouvir um certo ''schiu'' vindo de McTwisp. 

Estava exausto, abalado emocionalmente e não aguentaria certos comentários. Todos perceberam o meu estado ao me virar. - É melhor deixarmos que se reabilite sozinha. - Propôs McTwisp, tentando aquietar uma nova discussão.  

-Não... - Me agachei. - E-eu não vou deixá-la... E-ela não precisa se reabilitar, e-ela não tem nada. Só está dormindo. - Sorri, olhando para a sua expressão tão serena. - Mirana certamente não gostaria de ficar sozinha!  

-Bom... Eu acho que ela está morrendo. - O Valete balançou seus ombros. 

Me levantei ao notar sua frieza. - É melhor você ir. - Alice se intrometeu ao perceber que eu estava quase explodindo. - Por favor...- Olhou para ele, tocando na armadura do cavaleiro.  

-É melhor que todos saiam, na verdade. - Pedi, em tirar meus olhos da Rainha. Voltei a me sentar do seu lado e segurei sua mão, tinha certeza que Kingsley ainda estranhava o meu excesso de preocupação, afinal, Mirana apenas ''dormia profundamente'' ao meu ver.  

-Você... - A mesma começou depois que todos saíram, levei meus olhos até ela e Alice sorriu ao receber minha atenção, pelo menos por alguns instantes. - Também quer que eu saia? - Seu sorriso permaneceu, certa de que receberia uma resposta positiva.  

Contudo, naquele momento, meus pensamentos já me afetavam o bastante e eu não queria que a sua presença influenciasse ainda mais nos meus sentimentos. - ... - Torci os meus lábios, segurando firmemente a mão esquerda da Rainha.  

-Chapeleiro... A-ainda não me respondeu.  

Fechei meus olhos. - Saia, por favor... A-Alice. - Escutei o seu suspiro com a minha resposta.  

Nos olhamos antes da mesma se retirar. Seus olhos focaram-se nos meus, mas não por muito tempo. Logo sua atenção fixou-se nas minhas mãos que esquentavam as de Mirana. - Tudo bem, então. - Ela sorriu, torcendo os lábios em seguida, não parecia contente com a minha preocupação exagerada. 

Por fim eu estava sozinho.  

Admito que me imaginava passando o dia de ressaca, mas me encontrar naquela situação era algo que jamais se passou pela minha cabeça. 

-T-todos pensam que e-estou completamente pirado... - Comecei, enquanto tocava delicadamente no seu rosto. - M-mas sei que pode me ouvir. - Sorri, ainda alisando sua mão gelada. - Sua volta para Marmoreal pode mudar todo o destino de Wonderland. - Suspirei. - Mostre-me seus olhos...  - Afofei seus cabelos brancos. Olhei em minha volta, só para ter certeza que eu estava sozinho. - S-seus lindos olhos amendoados. - Meu sotaque misturou-se com o meu modo de travar a língua. - Iguais aos da Alice.  

Soltei sua mão ao notar que Mirana havia mexido os seus lábios, mostrando um sorriso um tanto enfraquecido. Mas ainda assim, era um sorriso! 

- E-e-está me ouvindo... - Não pude esconder minha empolgação. - Isso mesmo, Majestade! Alice voltou! E-ela está de volta! V-você precisa acordar imediatamente, para lhe dar as boas vindas! - Eu a abalançava, contudo, seu semblante voltou ao mesmo de antes. A mesma expressão ''paralisada''. - A-acorde, por favor. - Peguei na sua mão mais uma vez, e agora parecia mais fria do que antes. 

Abaixei minha cabeça, deitando o meu rosto sobre a saia volumosa do seu vestido, enquanto esperava ansiosamente por qualquer reação positiva. 

[...] 

-Acha que Mirana vai acordar? - Ouvi uma das típicas perguntas de Alice.  

Parei no corredor, a conversa vinha da cozinha e aquele diálogo com certeza era do meu interesse.  

- É claro que não. - A voz do Stayne me causou repulsa. Pensar que ela confiava no Valete para responder as suas dúvidas certamente não fazia bem para a minha sanidade. - Eles precisam de outra Rainha. 

-Mas então quem vai substitui-la? - Meu peito palpitou com força ao perceber o rumo daquela conversa. 

-Alguém da Família Real, é claro. 

-S-sim, m-mas... Quem? - A moça ainda insistia em uma boa explicação. - Não há mais ninguém na linhagem.  

-Bom... - Decidi espiar e vi quando o Valete alisou os cabelos de Alice, ela tomou distância. - Não há mais ninguém... Ninguém que você não saiba. Mas eu acho que devíamos mudar de assunto, Alice... - O Valete deu a volta pelo balcão de mármore. 

Ela o seguiu. - Claro que não. Você me deixou na dúvida. Tem mais alguém que possa tomar o trono ou não? 

-Algum parente perdido, ou sei lá. - Ele balançou seus ombros enquanto beliscava um bolo. - Mas não sabemos quem. 

-E o Rei? B-bom... o pai das rainhas... Onde ele está? 

-Sim, o rei. - Pausou. - Elas eram princesas... O Rei morreu há um tempo.  

-Iracebeth o matou. - Concluiu a loira. 

-É o que todos dizem... - Stayne se aproximava de novo. - Mas posso afirmar que foi por causas naturais. Sua coroa foi jogada no lago de lavra de Salazem Grum, por Iracebeth como uma forma da punição. Apenas. - O Valete lançou seu olhar para a porta, me escondi. - M-mas, vamos conversar quando estivermos realmente sozinhos. Não é, Tarrant?  

Disfarcei minha raiva. - Não acho correto conversarem sobre isso! - Falei ao entrar na cozinha.  

-Por que estava nos espiando? - Alice cruzou os braços, indignada. 

-Eu tenho uma pergunta melhor. - Sorri, olhando para o moreno. - Por que ainda está aqui? T-tenho plena certeza que Mirana não apreciaria sua presença! - Peguei uma xícara de porcelana.  

-Você está certo, Tarrant. - Fiz uma careta, não esperava que Stayne me desse razão. - Mas tem alguém aqui que com certeza aprecia.  

Ele apertou o queixo de Alice, ela sorriu para o mesmo e abaixou a cabeça, sentindo suas maçãs do rosto ganharem cor. Deixei a xícara, sem ao menos tocar no chá. Atravessei o balcão e segurei o braço de Alice. Ela me olhou com um certo desdém. - N-nós precisamos conversar. - Sussurrei enquanto nossos rostos se aproximaram sutilmente.  

A moça se soltou bruscamente. - Com licença, Stayne. - Sorriu para ele e passou por mim, esbarrando propositalmente no meu peito. Eu a segui, passando em silêncio pela cozinha.  

-O que você quer? - Cruzou os seus braços, parando no corredor.  

Eu a puxei, segurando novamente o seu braço. - Não gosto de ser carregada! - Murmurou, contudo, eu não lhe dava ouvidos pois ela não fazia muito esforço para se soltar dessa vez.  

Passamos pela sala principal, chamando uma certa atenção da Lebre de Março e Mallyumkun. -Está me apertando! - Reclamou. 

-Ora, não minta, Alice! - Eu a soltei depois que chegamos no jardim.  

-Por que me tirou da cozinha?! Poderíamos conversar no corredor!  

Ri. - Como se o Valete não fosse escutar.  

Ela cruzou seus braços. - Perdão, mas não era ele que nos espiava!  

Ignorei sua alfinetada. - E-eu quero ele fora daqui. M-me ouviu?  

-E por que?! - Alice levantou sua voz. - Vamos, me dê motivos! 

-P-por que eu sou louco! - Gritei. - E se eu vê-lo c-om c-ertas co-nversas para o s-eu la-do, e-eu... - Engoli em seco. Me auto interrompendo. Ajeitei meu chapéu depois de puxar os meus cabelos.  

-Você o que?! Diga!  

-E-eu termino o que era para ser feito no bosque! 

Alice balançou a cabeça. - Por que não vai cuidar da sua Rainha?! - Eu lhe lancei um olhar de reprovação. - Desculpe-me. - Sussurrou. - V-você está certo. - Admitiu. - Mirana não ia gostar de vê-lo em Marmoreal. 

Respirei fundo. - É claro. E-eu estou pedindo pela Majestade. - Alice assentiu. - E-eu... Pr-reciso voltar para o quarto. - Nos olhamos, ela sorriu ao me ver puxar a língua.  

-Tudo bem.  

Sua compreensão e gentileza trouxeram a tona as lembranças do seu sonho. Lembranças que foram apagadas momentaneamente de mim pelos acontecimentos atuais, contudo, jamais seriam esquecidas.  

Seus lindos olhos castanhos carregavam um brilho que me hipnotizava, me levando a continuar parado ali, minha única vontade era de passar a noite apreciando-os, sem me importar com cada minuto que eu ''assassinava'' do meu relógio de bolso. Para mim, estar com a Alice jamais seria perda de tempo.   

Segurei seu rosto com as minhas duas mãos, Alice me olhou intrigada, com certeza se perguntando o que viria a seguir. 

Beijei sua testa, ela fechou os olhos ao sentir o toque sutil de meus lábios na sua pele quente, enquanto minhas mãos infiltravam-se nos seus cabelos macios e enrolados. Ela levantou o seu rosto por um certo impulso ao ver que eu me afastava, nos olhamos, ainda hipnotizados um com o outro. Não consegui disfarçar e acabei olhando para os seus lábios, ela voltou a sorrir assim que notou. Precisei engolir o desejo que eu sentia naquele instante.  

Eu a soltei e saí. 

[...] 

-Acorde, Majestade... Acorde. - Supliquei, espremendo minhas lágrimas. Eu já havia perdido as contas de quantas vezes desejei que Mirana abrisse os olhos. 

Olhei para a janela fechada do quarto. A cor do céu não era mais o lindo azul claro da manhã, nem mesmo o alaranjado habitual de todas as tardes. As estrelas o encobriam, mas dessa vez, elas não brilhavam o bastante. - Mirana, por favor... - Segurava sua mão.  

Eu estava exausto, e temia tirar o relógio de bolso para ver as horas. Passei toda a tarde ali, esperando obter alguma resposta da Rainha. Mas o passar das horas levavam consigo a minha esperança de um futuro melhor para o Mundo Subterrâneo. - N-não vou esquecer o seu sorriso... - Desci a minha mão até o seu peito, seu coração continuava fraco e sem muito ritmo.  

-Tarrant... - A porta se abriu.  

Me virei, mesmo sabendo de quem era aquela voz. Alice estava entre a porta, usava sua camisola azul e não esperou que eu lhe perguntasse o que fazia ali. - São quase duas e meia da madrugada. - Ela coçou os seus olhos. - N-não vai dormir? 

Neguei, em silêncio. - Você me parece cansado. - Ela observou, dessa vez fechando a porta e se instalando no quarto.  

-M-mas eu não estou com sono. - Revidei. 

-Hum... - Alice não tinha mais argumentos. Retomei a atenção para a Monarca, sentindo Alice se aproximando lentamente. - Sei que... Parece estranho, mas... E-eu queria muito passar um tempo com você. - Admitiu a moça enquanto coçava sua nuca.  

-T-talvez uma outra noite, A-Alice. - Deitei minha cabeça na barriga da Rainha. - Vá dormir. - Peguei um dos braços de Mirana, massageando seu pulso enfraquecido.  

-E-eu não estou com sono... - Resmungou.  

-Bom, e-eu lamento mas não posso lhe dar atenção. - Entrelacei nossos dedos. - Majestade, acorde...  

-Hum. E-ela... - Kingsley hesitou. - Ela é muito importante para você não é?  

Sorri. - N-não tenha dúvidas disso. 

-Hum, e-eu realmente não tenho... Chapeleiro. - Alice se agachou do meu lado, observando o meu rosto com uma certa seriedade. - Acha que ela vai acordar? 

-E-eu espero que sim. - Sequei minhas lágrimas.  

-É. - Ela sorriu. - Também espero... 

Ouvi seu longo suspiro, um suspiro que não parecia ser nem de tristeza e nem de cansaço. De repente a minha afeição por Alice voltou. - O que houve? - Sussurrei.  

Ela balançou a cabeça em negativa. - Eu só fico pensando... - Pausou. - Você passou o dia todo aqui. Perdeu até a hora do chá. Ela recebeu toda a sua atenção, só por dormir... - Me virei para ela, analisando sua seriedade. - Imagino quando estiver acordada. N-não é? 

-Todos ficariam muito felizes se Mirana acordasse... 

-Especialmente você. - Concluiu a loira, juntei minhas sobrancelhas. - Oh, e-eu não quero que pense que eu estou incomodada com isso. 

-De maneira alguma... - Alisei o rosto da Majestade.  

-Chapeleiro. - Estranhei sua atitude: Alice puxou minha mão, obrigando-me a soltá-la da Rainha.  

Eu a olhei e ela se deitou no meu peito. Não disfarcei minha expressão confusa. Ela segurou minha nuca após deixar minha mão no seu joelho, aproveitando para enrolar meus cachos entre seus dedos. Pensei em perguntar o por quê do seu comportamento tão anormal, porém, naquele momento eu não me importava com os sentimentos confusos da Alice e nem mesmo os efeitos que eles causavam em mim. -Nunca te vi tão triste. - Ela comentou, tocando delicadamente no meu peito. 

Ficou em silêncio quando me assistiu soltá-la, voltei a pegar na mão gelada da Rainha. Alice esfregou seu rosto, acomodando-se na minha gravata borboleta. Eu a olhei e ela sorriu para mim. - Queria te fazer uma pergunta... 

-...

-Chapeleiro. - Ela levantou o seu rosto. - Está me escutando? - Assenti. - B-bom.. E-eu queria entender por quê... H-hum, Por quê de repente você ficou tão feliz com a volta da Rainha. - Pausou. - P-pensando bem, você está bem sã, na verdade. - Analisou. 

-Ela é minha única esperança. - Beijei sua mão. - E sei que está viva. 

-Hum... - Alice se ajeitou. - Sua única esperança em que sentido? 

-Viu isso? - Minha íris brilhou. - Ela mexeu um dos dedos! 

-E-eu não vi... - Murmurou. - Para ser sincera, e-eu queria um pouco da sua atenção. T-tenho algumas dúvidas que não me deixam dormir. 

Não podia tirar os olhos de Mirana, ela poderia reagir a qualquer instante e eu não queria perder aquele momento. - T-Tarrant... - Senti as mãos de Alice tocando hesitantemente o meu ombro. - E-eu sei que me esconde as coisas, m-mas... Eu preciso mesmo de muitas explica-- Se calou ao ver que eu deitava minha cabeça no peito da Rainha adormecida. 

Ela notou as lágrimas que caíam pelo meu rosto. Mas só aquilo não era o suficiente para cessar as suas perguntas. - Aquela carruagem... - Foquei minha íris na loira. Notando seu rosto corar. - E-eu sonhei com ela noite passada e... - Suspirou, reparando que eu entrelaçava meus dedos com os de Mirana. 

Alice se levantou. - Está claro que você não divide a sua atenção.

-Não me leve a mal, Alice. - Me levantei, puxando o seu braço.  Minha loucura voltava ao pensar que não lhe dei atenção. Eu me perguntava como pude ser tão grosso e ignorá-la. - F-fique, s-sua companhia me faz bem.

 - N-não se incomode. Chapeleiro. - Pediu, indo em direção a saída. - A Rainha certamente é mais importante do que eu. 

Bateu a porta com força após se retirar.


Notas Finais


Sabe a conversa da Alice com o Stayne? É importante! ^^
Deixei algumas pistas nesse capítulo do que pode acontecer no futuro. Vocês tem seus palpites? Por favor, deixem nos comentários!


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