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História Apenas um sonho - Tudo virou segredo


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Dei sorte de terminar esse capitulo hoje.
Talvez tenha tido muitos acontecimentos, acho que não ficou do jeito que eu queria mas decidi postar;
Espero que gostem!

Capítulo 75 - Tudo virou segredo


A sala do trono era entediante.  

Principalmente depois das quatro, hora esta em que Wonderland se torna mais quente.  

Eu estava sentada ao trono. Precisava esticar meus braços para que minha mão alcançasse a de meu marido.  

Meus pensamentos flutuavam.  

Relembrando o beijo que havia vivido há pouco.  

Tarrant segurou minha cintura, ainda mantendo nossos corpos separados mas com o desejo de uni-los. Sua língua me tocava com timidez quando agarrei sua nuca e nosso beijo se aprofundou. Sua língua entrava e saia de mim, causando-me cócegas involuntárias. Sem querer, sorri entre o beijo e o meu sorriso chamou a atenção de suas íris elétricas. Nossos lábios se apartaram um pouco, no entanto, ainda era possível sentir o aroma de chá de hortelã, o seu preferido.  

Suas mãos deixaram de envolver minha cintura para tirar uma madeixa de cabelo que escondia o meu queixo.  

Nos olhamos outra vez e nos beijamos.  

Os estalos ecoavam por aquele lugar...  

“Alice?” – Sinto minhas lembranças se apagando como as nuvens depois de uma tempestade.  

Stayne me balançava.  

Retornei a realidade, limitando-me apenas em lhe dar um sorriso. Ele me olhava de canto desde então. Detestava saber o quanto sua esposa era distraída. 

-Soldados, entrem! – Mais uma de suas ordens, a sua voz respingava autoridade em exagero.  

E assim, os soldados abriram o portão para a entrada de mais dois deles.  

Caminhavam com lentidão pela sala do trono. A luz do Sol que se infiltrava nas janelas da lateral não me trouxe uma boa visão do individuo sendo carregado pelos mesmos.  

Cerrei os olhos. Seus pés eram arrastados, sujando o couro de seus sapatos. Os Soldados de Copas, então, o jogaram ao chão.  

Tarrant apoiou suas mãos e joelhos no piso. Eu o olhava com empatia. – O que veio fazer aqui, Chapeleiro da Corte?  

Ele permanecia a olhar para o chão, ofegante e sem forças. – Ele disse que se feriu, Majestade. – Um dos soldados respondeu por ele.  

-Ah sim, e imagino que não tenha mais forças para continuar o trabalho braçal. – Os olhos de Tarrant pararam no rei. – Não é mesmo? Não é para isso que veio?  

Tomou fôlego. – S-sim. 

O Rei parecia pensar. -Stayne. – Toquei seu ombro. – Deixe-o ir.  

Minha preocupação repentina se tornou alvo de desconfiança por parte de meu marido. Afinal, hoje mesmo ordenei como punição um trabalho braçal. – Por favor, Majestade. – Tarrant tossiu sem forças. – M-minhas costas d-doem.  

Me levantei. McTwisp e os poucos súditos ali presentes notavam o carinho em meu olhar. – Aonde está indo?! – Stayne apertou o meu pulso. – Não está pensando em ajudá-lo, está?  

Tarrant e eu nos entreolhamos. “Volte ao serviço, agora!” – Ordenou o Rei, seus soldados preparavam-se para levá-lo.  

-Espere! – Meu grito ecoou. Eu era atenção dos súditos, do Rei e principalmente de Tarrant. – Stayne... – Suspirei. – O Chapeleiro me salvou dos escombros. – Todos se admiraram com minhas palavras. Ele sorriu de leve. -Eu... Fui verificar se estavam fazendo o trabalho corretamente e... Uma pilha de madeiras cairiam direto em mim se não fosse... O Chapeleiro. – Gesticulei. – Ele usou seu corpo como escudo e as madeiras caíram em suas costas. – Pausei. Stayne parecia surpreso como os outros. – É este o agradecimento que tens ao homem que salvou a vida de sua esposa?  

Estava em silêncio. Alisei meu ventre. – E seu... Herdeiro?  

Foi ai que convenci o Rei, e sua opinião mudou.  

-Pois então Hightopp é um herói! – Stayne exclamou, com... Alegria. Era estranho notar tamanho a sinceridade em sua voz. – Para que vejam que sou um rei justo, lhe darei uma recompensa. -Apontou seu dedo ao Ruivo desequilibrado. Tarrant sorriu, esperançoso. – Deixarei que tenha três dias de repouso.  

Ele assentiu com a cabeça, juntando as mãos. – Fico muito agradecido, Soberano. – Também parecia sincero. 

-Não só isso. -Stayne revelou ao levantar. -Deixarei que escolha uma das mulheres de meu palácio para que cuide de seus ferimentos. – Ele fez uma pausa. – É claro que... -Se aproximou de mim, ciente que os olhos verdes do Chapeleiro paravam nos meus. – Sabendo o quanto desejas, não poderá escolher minha esposa. Ela é minha Rainha. – Segurou minha mão. – E somente minha.  

Dei um sorriso sem graça. Tinha a certeza que Nivens McTwisp se segurava para não revelar ao Rei o nosso segredo.  

-Mas há mulheres tão bonitas quanto Alice! – Havia um sorriso de malicia nos lábios rancorosos do Rei.  

Precisei me intrometer. – Não compreendo. O que insinua com sua recompensa? Que uma das suas criadas se deite com o Chapeleiro da Corte?! – Meu tom saiu um pouco mais indignado do que deveria.  

-Ora, e que interesse tens nisso? – Ilosovic me olhou.  

Disfarcei. – Interesse algum. Apenas não concordo com seu machismo. As criadas estão aqui para ajudarem em nossas necessidades.  

-Concordo. – Ele me cortou, descendo os degraus. – Pois escolha uma, Hightopp. Para que ajude em qualquer de suas necessidades.  

Tarrant me espiava.  

Sem saber como prosseguir.  

Eu tentava não demonstrar o quanto me sentia incomodada com a situação.  

Estava claro as intensões maliciosas de meu marido.  

-E-eu não sei quem escolher, Soberano. Não as conheço.  – Afirmou, balançando a cabeça, confuso.  

Foi então que encontrei a deixa perfeita para me intrometer novamente. – Pois minha criada favorita é Meredith. – A senhora sorriu com minhas palavras. – Ela é muito prestativa e atenciosa. 

-Gentileza sua, Majestade. – Agradeceu.  

O Rei a olhou.  

- E então, Tarrant. – Sorri. – Fique com ela. Sei que cuidará bem de seus ferimentos.  

-Pois sinto que está enciumada, Alice! – O Rei cruzou seus braços. 

-Por favor, esse tipo de discussão não deve ser feita diante dos súditos. – Retruquei. – Aliás, pensei que estávamos falando de cuidados, não de criadas atraentes aos seus olhos, Stayne. Meredith é um amor, se darão muito bem. 

-Cuidarei bem dele, com prazer. – Garantiu a senhora de avental branco. Aproximando-se do pai de minha filha. – Venha, meu jovem. Eu o ajudo. – Segurou um dos seus braços, o fazendo passar em volta de seu ombro.  

Ele assim, passou a caminhar. Fazia uma expressão de dor ao mesmo tempo em que seus olhos mantinham a atenção na sua Rainha. – Até mais... – Sorriu, acenando com dificuldades para mim.  

Retribui o aceno, discretamente. 

[...] 

-Desejas alguma coisa, Soberana? – McTwisp me importunava.  

-Só desejo admirar as estrelas. – Respondi, erguendo meu pescoço para os pequenos pontos prateados ao céu.  

Era inicio do anoitecer. Estava num banco de madeira, ao jardim. As vezes me pegava acarinhando minha pequena. Com certeza ela dormia. – Posso lhe fazer companhia? – McTwisp não esperou minha resposta para se sentar.  

Suspirei. – O que estás pensando, Alice?  

Precisei encará-lo. – O Rei também pediu para que você tire a liberdade dos meus pensamentos?  

-Alice. – Seu suspiro fora pesado. – Eu não sei por quanto tempo posso esconder de Stayne sobre o herdeiro e...  

-Meredith! – Me levantei, sorrindo.  

Corria pelo jardim quando vi a criada se aproximar. Seus passos pararam. Fui até ela.  

Segurei suas mãos pequenas. – Como ele está? – Sorri, apenas esperando boas noticias.  

-Está se recuperando. Suas costas continuam doloridas. – Meu sorriso se foi. – Mas creio que em três dias estará melhor.  

-Venha... – lhe dei meu braço. – Desejo que caminhes comigo.  

-É claro, minha Soberana.  

Sorrimos uma para a outra. – Você me parece bem melhor do que a última vez que a vi.  

Suspirei. – Minha raiva se foi. – Mordi os lábios ao revelar. – Eu e ele nos beijamos. – Sussurrei, sorrindo forte. – Foram dois beijos, depois que me salvou de ser atingida. – Pausei. – Vocês se deram bem?  

-Oh, sim. Ele é um bom rapaz como me descreveu.  

-Ele... – Hesitei. – Falou algo de mim?  

-Não.  

-... 

-Mas não deverias falar mesmo, Majestade. – Meredith parecia tentar me animar. – Ele não sabe que sou como sua amiga.  

-Ele não estava pensando em mim...  

-Admito que ele me parecia disperso, preocupado. Com muitos pensamentos mas... Tenho certeza que Vossa Majestade estava incluída. 

-Por favor. – Alisei seu braço rechonchudo e confortável. – Me chame de Alice.  

Seus olhos brilharam quando repetiu, assentindo: - Alice. – Caminhamos entre as moitas escondidas do jardim. – Alice... O Coelho Branco parece vigiá-la. – Olhamos juntas para o mesmo.  

McTwisp se escondia em uma árvore qualquer. A minha espia. Suspirei. – Ser Rainha não é fácil. Sinto que minha liberdade se foi. Nem mesmo posso ter uma amiga.  

Meredith se calou, parecia preocupada. – Para mim, me parece ser uma jovem mal interpretada que tornou-se monarca sem seu consentimento. – Ela me descrevia, com perfeição. – Quero ser sua amiga. Mas não quero que isso a prejudique.  

-De forma alguma. Não prejudicará. – Pausei. – Por favor, vamos entrando...  

[...] 

-Às vezes, sinto-a chutar. – Comentei num sussurro, os corredores vazios ainda poderiam revelar meus segredos. – Mas nesses últimos dias não tenho sentido nada. – Murmurei, um pouco frustrada.  

Meredith me ouvia com calma e atenção. – É assim mesmo, Alice. Talvez ela possa estar dormindo.  

Sorrimos ao mesmo tempo, toquei minha barriga, alisando-a carinhosamente. – Bom, e acho que você também deveria descansar. – Propôs a doce criada. – Teve um dia corrido e cheio de emoções. – Assenti. – Eu fico por aqui, Alice. – Soltamos nossos braços, a senhora gentil apoiou-se em sua maçaneta. – Este é o meu quarto, mas antes de ir preciso saber se desejas mais alguma coisa?  

Balancei a cabeça em negativa enquanto me afastava. – Estou bem, Meredith. Obrigada por sua companhia, e boa noite.  

Subia as escadas para o meu corredor quando passei a imaginar uma bandeja com uvas e calda de chocolate. Os desejos por comida começavam a se tornar mais estranhos a medida em que minha barriga crescia. Eu a alisei, enquanto a outra mão tocava o corrimão de porcelana.  

Atravessei mais dois corredores, encontrando alguns Soldados de Copas fazendo a segurança do Castelo. 

Cerrei os olhos quando se curvaram diante de sua Rainha.  

Detestava aquele tipo de cumprimento forçado.  

Continuei a caminhar quando de repente, parei.  

A cena que presenciava era no mínimo curiosa: McTwisp e duas criadas espiavam a porta do meu quarto.  

Eu mantinha uma distância significativa, longe o bastante para o Coelho não me notar.  

Aos poucos, deslizei a mão de meu ventre, parando os dedos em minha saia volumosa. Eu a levantei, apressando os meus passos e causando eco no corredor.  

As criadas foram as primeiras a me avistarem, elas correram, pegando um novo corredor.  

Mas McTwisp, parecia sem reação. Não havia mais nada a fazer a não ser arrear suas orelhas e me encarar.  

Parei a porta, tinha muitos questionamentos para Nivens quando percebi que não era preciso pergunta alguma.  

Compreendia sua surpresa ao me ver, e sua curiosidade quanto ao que acontecia atrás da porta do meu quarto.  

Aproximei meu rosto na madeira, só para ter certeza do que estava ouvindo.  

Gemidos. Gemidos altos de mulher.  

Fechei os meus punhos. -Quem está ai dentro? – Foi tudo o que perguntei a Nivens, já sem forças.  

-A-achei que fosse... Vossa Majestade. – Ele respondeu entrelaçando os dedos de suas patas.  

Os gemidos perseguiam e torturavam minha audição.  

Não era preciso perguntar quem era o homem do outro lado da porta. Afinal, este era o quarto da Realeza e só um nome vinha em minha mente.  

-Vamos, Alice. Por que não tomamos um pouco de chá?! 

- É dessa forma que quer que eu reaja a essa afronta?! – Rebati, McTwisp tratou de se calar. – E-eu não aceitarei isso! – Por puro impulso, empurrei a maçaneta e a abri a porta. – Não no meu quarto!  

Stayne saiu de cima da mulher que o satisfazia naquela noite. Ambos assustados com a minha presença.  

A Bruxa sorriu entre os lençóis, eu a encarei. Incrivelmente, em meus olhos não existiam lágrimas. – O que faz aqui? – Perguntei de forma natural. – Stayne... – O olhei, meu marido ao contrário, parecia um pouco sem graça. – O mínimo que peço é que vá para outro quarto.  

-E-eu não p-planejei bem isso. – Gaguejou. – N-não ach-hei que viria tão rápido, e-estava com sua c-criada.  

-Basta de explicações. – Dei as costas, suspirando. – Se vistam, e saiam.  

“Vamos, Stayne. Acho que ainda não acabamos. “ – Mesmo não os vendo, eu pressentia a mão da feiticeira alisando o seu corpo enquanto tinha o atrevimento de dizer.  

- Alice. – Havia um peso no meu ombro. Era a mão suja de meu marido. Me afastei. – E-eu não queria que isso acontecesse. D-de verdade...  

O que me parecia mais estranho era o seu pedido de desculpas.  

O remorso, que era possível notar em sua voz. – De qualquer forma, você fez. - Retruquei. Aborrecida. – Se não fosse com ela, seria com Celina.  

Me virei para encará-lo, ele cobria-se com nosso lençol. – OU COM QUALQUER OUTRA DESTE CASTELO! – Bradei com força. 

Enquanto a Meretriz parou de se vestir para me olhar.  

Existia um sorriso naqueles lábios. – Continuem... – Eu não poderia aguentar sua afronta. – Com licença.  

Passei pela porta, McTwisp continuava a espiar. Eu o desprezei, passava as pressas no corredor.  

Esta seria uma longa noite.  

“Majestade! “ – Ouvi sua voz, ecoando no vazio.  

Parei, secando minhas lágrimas.  

-O que quer?! – Me virei, e a mulherzinha cobria seu corpo semi-nu com a manta escura que escondia sua dignidade. – Meretriz. – Completei.  

Ela vinha sorrindo. – Quero que saiba que o Rei me liberou do serviço braçal. – Pausou, vangloriando-se. – Só precisei lhe dar um pouco de prazer. Apesar de parecer arrependido, ele mesmo quem pediu. Só gostaria de deixar claro.  

-Pois eu sei que é apenas para isso que você serve. Para dar um pouco de prazer.  

Consegui mudar sua expressão. Ela se aproximou, agora irritada. – É melhor que não me provoques, Alice.  

Senti seu tom de ameaça. E dessa vez, me orgulhei de ser a Rainha. – Faço o que eu quiser!  

-Pois eu também! – Rosnou. – Inclusive... – Caminhava, dando voltas em circulo. – Eu vi. – Ela sussurrou, ao pé do meu ouvido.  

Virei meu rosto por cima do ombro. – O quê?  

-O seu beijo... – Disse com suavidade. – Seu beijo com o Chapeleiro da Corte. – Agora hesitou. – Faria tudo para estar em seu lugar. – Fez uma pausa. – O que achou, Majestade? Que só as madeiras envelhecidas seriam testemunhas daquele ato?  

Não sabia o que responder, até retrucar. – Não há como impedir um homem de expressar o seu amor.  

Ela abaixou seu capuz. – Estou farta da forma como joga o amor de Tarrant na minha cara!  

-Ah... Sim. – Sorri. – Lembro-me agora que me disse que o amava. – Nos olhamos. -E que amor. – Balancei a cabeça. – O ama tanto que foi capaz de se deitar com o meu marido. O amor é mesmo uma grande hipocrisia!  

-EU O AMO! – Berrou, seus olhos não suportaram carregar as lágrimas. – E é por isso que não contei ao Rei. Não quero que ele seja castigado, mas você sim! – apontou-me sua unha pontiaguda. – Você merece punição! E-eu mesma vou tratar de puni-la.  

-Estás louca?! – Me afastei, agora assustada. – Saia daqui agora mesmo!  

Ela não tinha muito o que fazer, se não obedecer.  

[...] 

Era difícil controlar minhas emoções, mesmo sabendo que eu deveria me acalmar para que isso não afetasse minha gravidez.  

Eu me virava no colchão. Ansiosa para que aquela noite chegasse ao fim.  

Me cobria, me descobria. O meu problema não era o frio e sim os pensamentos.  

A angustia de estar deitada com um homem que não me ama.  

-Não consigo dormir. – Avisei, ao me sentar sobre o colchão.  

-Não dorme, e nem deixa que os outros durmam! Preciso de uma noite de sono, eu sou o Rei! – Essa era sua justificativa para tudo. Ele passou a mão no rosto quando me viu em silêncio. - O que há?!  

-E-estou com enjoos. – Menti, outra vez afastando os lençóis. – Aliás, não consigo dormir neste colchão sujo!  

-Não é hora para discutirmos, Alice!  

Gargalhei. – Por que sabes que estou com a razão, você se deita com metade das mulheres deste palácio! – Pausei. – E deixa claro para todos que não me ama, que sou enganada, que sou traída, quase todas as noites! – Eu não poderia aguentar. – V-vou... Encontrar outro lugar para dormir. Fique você com essa cama!  

[...] 

Esperançosa, alisei sua maçaneta.  

Olhei para os lados, até que meus dedos fizeram força para baixo. Suspirei, sorria enquanto fechava os olhos.  

Sua porta estava aberta.  

Não tardei a entrar, seu quarto estava escuro. Nem um lustre, nem mesmo uma vela solitária para iluminá-lo.  

Além de escuro, estava tão quente que desejei me despir de imediato.  

Toquei em seus móveis, temendo fazer barulho.  

Até chegar em sua janela. Abri as cortinas, a luz da lua penetrou no ambiente.  

-Hu-m. – Fiz força para desemperrar sua janela, o vidro rastejou, causando um ruído alto.  

Finalmente, uma brisa se instalava naquele cubículo bagunçado. 

Ele dormia, serenamente.  

Um dos braços pendurados, os dedos tocando ao chão.  

Dormia com as costas para cima. Amassando o rosto sobre o travesseiro.  

Eu me perguntava como o Chapeleiro conseguia dormir usando suas roupas quentes e com a janela fechada, mas não se poderia questionar os gostos de um louco.  

-Tarrant... – Afaguei os seus cabelos, carinhosamente.  

Seu sono era pesado. Resultado do remédio para dor que Meredith lhe deu.  

Havia uns comprimidos espalhados em sua escrivaninha. – Tarrant... – Eu o balancei. – Nós precisamos conversar.  

Ele ameaçou responder, mas tudo o que saiu de seus lábios eram palavras inaudíveis para mim. – Este lugar está quente. – Notei em seu corpo. – Está suando. – Talvez poderia ser resultado do remédio, no entanto, era mais fácil pensar que o problema era o seu quarto. – Tarrant... – Me sentei a beira do seu colchão.  

Afastei suas cobertas. -H-h-hun? – Em meio a escuridão, o incandescente dos seus olhos ganhavam mais beleza. Ele ameaçava abri-los, mas tudo o que conseguia era revirá-los, suas pálpebras estavam pesadas.  

-Como você está? – Ainda insistia para ouvir sua voz. -Tire este terno. – Mexi em suas vestimentas, ensopadas de transpiração.  

-M-meu a-amor? – Por uns segundos, seus olhos se mantiveram meio abertos.  

Sorri, colocando meus joelhos sobre seu colchão. – Isso, sou eu. Alice. Seu amor. – Alisei suas costas, ele gemeu com a dor e então subi as mãos ao seu rosto molhado. – Acorde. -Sussurrei.  

Ele sorriu, só de ouvir minha voz, sorriu.  

Apoiou uma das mãos em seu colchão, esforçando para manter a cabeça levantada. Afastei os seus cachos. Ele parou de revirar os olhos e me encarou.  

Sorrimos.  

Lhe dei um selinho. Seus lábios estavam salgados de suor mas não menos saborosos.  

Me ajeitei em seu colchão. – V-vamos... – Afastei o seu terno, depressa.  

E desabotoei sua blusa social.  

Sentia a sua pele, livre das vestimentas que o esquentava. – Então durma... – Pedi, suavemente.  

Eu o abracei, juntando nossas barrigas.  

Nossa filha estava acolhida naquele abraço.  

Estar ao seu lado me fazia repousar em segurança.  

[...] 

Seu tórax subia e descia ao respirar. 

Era de manhã. E a forma como seus cabelos causavam cócegas em minhas bochechas com certeza era a melhor forma para ser despertada. Aos poucos, fui me ajeitando em seu colchão estreito.  

Cocei um dos olhos. Sorri. – Está acordado. – Eu o via, desperto. Os cabelos despenteados, os lábios reprimidos. – Por que está tão sério? – Ele desviou o seu rosto de minhas mãos.  

-O que faz aqui? – Aquele seu sotaque não se perdeu nas palavras.  

Estava irritado.  

Mesmo assim, continuava satisfeita por estar em seus braços. – B-bom... Eu estava...  

- Você deixou a porta aberta. – Cruzou os braços.  

Sério.  

Olhei para trás.  

-Eu... Não percebi.  

Ele se afastou do meu corpo, levantando em seguida. Eu o olhava, quando bateu a porta com força. – Dormimos juntos a noite toda, com a porta aberta!  

Eu não conseguia imaginar uma reação negativa.  

Eu havia o visitado.  

Eu. Sua Alice. – Como pode gritar assim comigo?! – Revidei, no tom de voz na mesma altura. – Eu vim para te ver! Estava preocupada, Tarrant! – Ainda me olhava sério. – Depois que nos beijamos não tivemos tempo para conversar!  

Ele gargalhou, nervoso. – Fale baixo!  

Juntei as sobrancelhas. Ainda mais indignada. Me levantei. – Falar baixo?! Desde quando seu amor por mim é um segredo?! – Me aproximei, estranhando cada vez mais suas reações, ele deixou de dar atenção a mulher que ama para espiar pelo buraco da fechadura. – RESPONDA-ME, TARRANT HIGHTOPP!  

Ele arfou, abaixando os seus ombros e olhando para o teto. – Onde estão meus dias de descanso, hun?!  

-Eu vim aqui para conversarmos sobre aquele beijo. – Quase sorri, se não fosse meu orgulho ferido. – Só vim para isso e nada mais.  

Ele se deu por vencido, agora se sentava cabisbaixo no colchão. -F-foi errado. – Disse de forma fraca.  

No entanto, os seus olhos só me diziam o contrário.  

Torno a me aproximar.  

Me abaixei, certamente meu movimento acordaria a bebê aquecida dentro de mim. No entanto, toquei o seu rosto sem hesitar.  

Eu o beijei. Chupando seus lábios, ainda tão salgados quanto antes. Agarrei seus cachos, subindo sobre suas coxas. De alguma forma e por algum motivo, ele tentava se esquivar. Mas depois de muito lutar contra, acabou se rendendo. Nossos lábios se moviam, ainda num encaixe perfeito.  

Seus dedos balançaram ao ar quando tocaram minhas costas, agarrando minha cintura.  

Nos afastamos.  

Sorriamos. – Eu não posso mesmo evitar meus sentimentos.  

-Não... – Beijei o seu rosto. – Não evite.   

Ele tocou minhas bochechas. – Escute bem, Alice. – Fez uma pausa. Me olhando com atenção. – Temos que ser mais discretos do que nunca. -Levantou as sobrancelhas despenteadas. – Sim?  

A forma como segurava o meu rosto dificultava o meu sorriso, no entanto, não deixei de esticar meus lábios. – Então... Estamos juntos? – Minha voz saiu abafada.  

Aos poucos, ele foi me soltando, sério e pensativo.  

Eu o vi cruzar as pernas, erguendo seu queixo e me olhando de canto. – Eu não sei, senhorita. Não sou fácil de se conquistar.  

Decidi entrar em sua brincadeirinha.  

- Eu também sou uma Rainha muito orgulhosa. Sendo assim. – Me levantei, passando por seu colchão. – Eu vou embor—Ele nem mesmo esperou que eu concluísse.  

Tarrant segurou o meu braço. 

E beijou minha mão. Me virei, ele me puxava, ainda sentado ao colchão.  

Trocamos um selinho. – Mas... Me prometa, meu amor. – Fechei os olhos com o doce timbre de sua voz. – Que tudo será segredo?  

-Eu não entendo.  

-Apenas... Prometa. Sim?  

-Eu tenho uma amiga. – Afirmei, alisando seu tórax nu. Ele assentiu, ouvia-me com cuidado e atenção. –  É... A criada que cuidou de seus ferimentos. Eu conto tudo a ela. 

-Alice. - Meu nome pesou nos seus lábios. Ele me olhava como se eu fosse uma criança, prestes a receber uma correção. - Você está me dizendo que contará a ela? 

-Só... Só para ela, e-eu prometo. 

Ele ainda me olhava com desconfiança. - É a única amiga que tenho. - Pausei. Frustrada. - Você tem Thackery e a Dormidonga. Eles te entendem por que são loucos... Pois bem. - Cruzei os braços. - Ela me compreende. Para McTwisp e todos os outros, tudo acabou entre nós.  

Tarrant sorriu. - Mas... - Torno a tocar em seus cachos volumosos. - Tem algum motivo para... 

-Sua segurança. - Ele parecia sincero.  

-C-c-como assim? Está me assustando.  

Beijou minha testa. E só.  

[...] 

Tomava o meu café. Em silêncio. 

Stayne fazia o mesmo. 

Nenhum de nós dois se esforçava para conversar, no entanto, às vezes o via me olhando, esperando que qualquer palavra escapasse dos meus lábios. 

Nada. Eu comia a torrada, e bebia meu chá.  

-Então... - Ele começou, após pensar muito num assunto saudável, talvez. - Sabe o sexo de nosso herdeiro?  

Eu me perguntava por que essa era a única forma como ele dirigia-se a criança. Por que não o chamava de filho? -...- Continuei com o meu café.  

-Alice? - Ele afastou sua xícara. - Eu estou falando com você.  

-... - Cerrei os olhos. 

-Alice! - Dessa vez exclamou, insatisfeito.  

Algumas criadas eram testemunhas. - Eu não sei! EU NÃO SEI!  

Me levantei de imediato, não aguentaria passar nem mais um segundo ao seu lado. Foi então que sua mão apertou o meu pulso, ele me puxou, com tanta violência e raiva que na hora eu congelei. Minha pequena se despertou no mesmo instante em que meu coração teimou em acelerar. Ele ergueu sua mão, virei o meu rosto, fechando os olhos com força. - Se não estivesse grávida, e-eu a estapearia! - E assim, me soltou.  

Eu o olhei, incrédula com suas palavras. Ele tornou a se sentar. - Estou tentando ser um bom marido. - Disse simplesmente.  

-Bom marido?! - Gargalhei. - Poupe-me do seu cinismo, Stayne!  

Celina tocou o meu braço. - Soberana, é melhor descansar. 

-SOLTE-ME! - Ela se reprimiu. - Quero sua prostituta particular fora daqui.  

-Isso não é hora para discutirmos sobre este assunto. - Ele molhou o seu pão.  

-E quero uma punição a Bruxa.  

Stayne parecia mais calmo. - Sobre isso, posso estar de acordo. 

Estava claro para mim que Enid não era mais sua favorita.  

Virei meu rosto por cima do ombro, encarava a jovem Celina, que ainda parecia constrangida com o grito que recebeu.  

[...] 

-E todos os dias, a Vida e a Morte trocavam juras de amor. - Lia em meu quarto, estava farta daquele trecho, mas ele parecia me perseguir.  

Meus dedos tocavam as palavras, meio apagadas. Quando escutei alguém bater na porta. ''Majestade?'' - Em seguida, a doce voz de minha criada favorita. 

Fechei o livro, sorrindo. - Entre, por favor!  

Assim ela o fez. Parecia animada. - Tenho algo para você. - Disse num sussurro. 

Estiquei meu pescoço, curiosa. Ela pegou uma folha de papel muito bem dobrada no bolso de seu avental, entregando-me em seguida. Sorrimos uma para outra. - É do Tarrant? - Ela confirmou com a cabeça.  

Perambulei pelo quarto. Confusa. - E-e-eu não sei se devo ler. - Pausei. - Você o viu escrever? Ele estava... Triste, chateado?! T-talvez mude de ideia... Talvez queira que tudo se acabe entre nós, e-eu não posso. - Lhe devolvi. - Leia para mim, por favor.  

Ela foi desdobrando o pequeno pedaço de papel. - ''Meu amor... - Pude sorrir, apenas com aquelas duas palavras. Meredith prosseguiu. - Estava em meu quarto quando McTwisp veio me visitar. - Eu ouvia, atentamente. - Ele mencionou o seu nome, disse que não compreendia sua atitude de me punir. Foi então que eu contei ao Orelhudo que tudo se acabou entre nós. '' 

Me aproximei. - Por favor, continue.  

Ela suspirou, assentindo. - '' Eu nunca vi o Coelho Branco tão feliz. Ele é um dos muitos súditos de Marmoreal que não aprova nossa relação. Isso me deixa triste, e ao mesmo tempo me trás forças para prosseguir. Quero que saibas que nunca deixarei de te amar, nem mesmo por um segundo de minha existência, doce Alice. Você é minha muiteza e sanidade. '' - Meredith dobrou o bilhete, entregando-me outra vez.  

Alisei o papel em meu peito, suspirando. - Ele é mesmo muito romântico, Alice.  

Sorri. - E o que devo fazer? D-devo ir ao seu quarto?!  

-Oh Majestade. Talvez não. Se ele te entregou uma carta é por que quer manter a discrição. - Pausou, propondo em seguida: - Por que não escreves para ele? Assim poderão trocar juras de amor...  

Me sentei, pensativa. - Juras de amor? 

-É. - A senhora continuava a sorrir. - Eu disse algo errado, Alice? 

-N-não... Não disse. - Peguei o livro da Vida e da Morte, recolocando na prateleira.

 [...] 

-Que entre a Feiticeira! – Pela primeira vez, gostava de usar autoridade em minha voz.  

Os soldados abriram as portas da sala e assim, a mulherzinha foi arrastada até os primeiros degraus chegando ao trono. – Abaixe este capuz. – Ordenei, de forma ríspida.  

Ela me obedeceu com prontidão, revelando seus cabelos escorridos, a franja rala que não era capaz de esconder a esmeralda em sua testa e a cicatriz em sua bochecha.  

Eu e Stayne nos entreolhamos. – Os súditos presentes são testemunhas de minha decisão. – Comecei. – Mas antes, quero que todos saibam que esta mulher. – Apontei, pressionando meus dentes. – Usou de sedução para se livrar do trabalho que impus. Ela se deitou com o Rei. E que isso não venha ser segredo. – Pausei, sorrindo vingativa. – Que todos saibam que essa prostituta se presta a ser usada por qualquer homem deste palácio!  

-Alice...  

-E não ouse me interromper, Stayne! -Me levantei enfurecida. – O Rei e eu chegamos a um impasse. – Sorri. – Escolha... Entre abandonar Marmoreal ou trabalhar em nossa cozinha por todos os anos de sua vida miserável. Lavando e cozinhando sempre que desejarmos. Terá que servir os melhores pratos de Marmoreal.  

Ela pensava, achei que estivesse humilhada o bastante para deixar o castelo. Mas novamente, sua audácia me surpreendeu. – Ficarei com os serviços da cozinha, Majestade. – Ela ainda sorria.  

Balancei a cabeça. – Começará os serviços daqui há cinco noites. 

[...]  

~Cinco dias depois.~  

- Escolha um vestido para mim. – Essa frase havia virado rotina. Usava apenas as roupas debaixo, meus cabelos estavam molhados, acabara de sair do banho. 

Meredith caminhou até o armário. – Que tal este roxo?  

Me aproximei, gostava da cor. Toquei o tecido, parecia fresco e confortável. – Esse está ótimo. – Retornei ao espelho, ela me vestia, apertando bem as amarras em minhas costas. – Tarrant e eu nos veremos hoje. – Comentei.  

-Vocês passaram esses últimos dias se falando por cartas.  

Sorri. – S-sim... Não vejo a hora de vê-lo. – Pausei. Alisando minha barriga. – Minhas bochechas se tornaram rosadas. – Há tempo não nos beijamos.  

A criada sorriu sutilmente. – Então eu suponho que também faz tempo que não fazem amor, se me permite.  

-Oh... – Suspirei, fechando os olhos. – Sim e mal posso esperar... E-ele continua muito cuidadoso com nossa relação. Não quer que ninguém nos veja juntos, nem mesmo nos falando ao corredor.  – Pausei. – Isso me enlouquece, minha amiga.  

-Acredito que ele esteja muito mais louco do que você. – Soprou ao meu ouvido, com uma leve risadinha. – Apenas tenta suportar.  

-Ao que se refere?  

-Majestade... – Arfou. – Esqueço-me que tens somente dezenove anos. – Ainda puxava minhas cordinhas. – Quis dizer que ele é homem. Homens sentem mais desejos do que as mulheres. Talvez ele não consiga evitá-la por muito tempo.  

-Eu espero que esteja certa, Meredith. – Admiti. – Quero uma reconciliação amorosa que me faça suspirar durante horas... Me entende. – Sorri, fitando tímida o chão.  

-Prontinho. – Já não sentia minhas costas sendo puxada. – Agora só precisamos fazer um penteado.  

-Quero o melhor penteado. - Estava animada. - O mais lindo que saiba fazer.  

Meredith me guiou até a penteadeira, alinhava os meus cabelos, desembaraçando os cachos rebeldes com os dedos. - E que horas pretendem se encontrar?  

-A meia noite. - Respondi elétrica. - Sairemos do Castelo as escondidas. Ele disse que há uma cabana, num bosque não muito próximo daqui. Mas poderá me levar a cavalo, disse também que o bosque não tem muitas árvores, que poderíamos observar as estrelas. - Estiquei o meu braço para pegar a pequena pilha de papel. - Foi em uma dessas cartas... Mas creio que tenha dito isso para não soar vulgar, ele quer fazer amor tanto quanto eu.  

Ela me penteava. – Torço para que aproveite bem a noite com o pai de sua filha. – Foi cautelosa ao dizer, as paredes de Marmoreal tinham ouvidos.  

Eu continuava a sorrir. – Também espero.  

[...] 

-Não dormirei em nosso quarto essa noite. – Stayne revelava, sentado a mesa de jantar. – Eu tenho que resolver umas coisas... 

– Me poupe de suas desculpas. Sei que se deitará com Celina. – Fui ríspida.  

Ele deu-me um sorriso amarelo.  

A Bruxa vinha com uma bandeja de prata. – Eu espero que eu lhe agrade, meu Soberano. Fiz um rissole de cogumelos com molho de rosas azuis. – Dizia sorrindo. – E para Vossa Majestade... – Me olhou. – Preparei algo mais leve. – Entregava-me o prato de porcelana. – Uma sopa de castanhas vermelhas.  

Me limitei a encará-la. – Não gosto de sopas. M-mas o que posso fazer se só consegues agradar ao meu marido. – Ela se manteve séria, me enforcava com os olhos. Peguei a colher, mas parei. – O que faz parada? – Parecia ansiosa para me ver degustar. – Saia daqui.  

Ela se curvou. – Sim, Majestade.  

Provei de sua sopa, tinha um gosto estranho, talvez incomum ao meu paladar. Ainda não estava acostumada com os pratos tão exóticos desse Mundo.  

[...] 

Após o jantar tudo o que precisei fazer foi aguardá-lo com anseio.  

Estava sentada na cadeira do meu quarto, próxima a janela. Alternava minha atenção entre o relógio de parede e o jardim de Marmoreal.  

Faltava alguns minutos para meia noite quando eu o vi chegar. Um sorriso brotou em meu rosto sem minha permissão, mas a verdade é que aquele era o momento mais feliz depois de dias de angustia.  

Sai as pressas de meu quarto. A essa hora, tinha plena certeza que meu marido estava com outra.  

Dessa vez o que ele fazia não me importava.  

Apenas desejei por um momento que aquele castelo não fosse tão grande. Os corredores me cansavam, mas de qualquer forma, continuei a correr, tomava o cuidado para que a bota de meus pés não fizesse barulho.  

Chegava aos últimos degraus.  

Girei a maçaneta da porta da frente.  

Lá estava Tarrant. Apoiado num cavalo branco. Como sempre a minha espera, muito embora estivesse distraído o bastante para olhar pro céu e contar as estrelas.  

-Tarrant! – Não poderia suportar depois de tanto tempo.  

Eu me joguei em seus braços. Enlaçando minhas pernas em sua cintura. A corda do cavalo escapou de suas mãos por um momento para que ele me segurasse, surpreso.  

Eu o enchi de beijos. Beijava seu rosto, suas bochechas, seu nariz e seus lábios, desesperada e apressadamente.  

Ele retribuía da mesma forma. Poderíamos passar as primeiras horas daquela noite assim, só nos beijando. No entanto, Hightopp me pôs em seu cavalo. – Segure-se firme. – Recomendou, um pouco antes de subir.  

-Para onde nós vamos?! – Perguntei risonha, apesar de saber que eu não teria uma resposta.  

Ele montou em seguida. Me sentia segura em seus braços.  

Tarrant chicoteou o Cavalo de leve, não arriscaria correr sabendo que minha barriga já estava saliente.  

Pegava um atalho ao se infiltrar numa caverna escura, era possível ouvir o som do agouro das corujas quando entramos para um outro bosque de árvores altas com poucas folhas.  

O cavalo passou a caminhar mais lentamente após uma corridinha apressada.  

Cerrei os meus olhos, a escuridão da mata quase não me permitia enxergar uma cabana de tijolos com um moinho de vento. Eu só torcia para que fosse ali, não aguentaria mais nem um segundo de espera.  

Sorri quando o cavalo parou, Tarrant foi o primeiro a descer. Amarrava o animal no tronco mais próximo da cabana. – Já está bem firme. – Teimava em apressa-lo. V-vamos logo.  

-Só um minutinho, meu amor! – Ele dava um novo nó.  

Juntei minhas pernas, sentando-me na lateral. – Eu vou pular. – A ameaça me fez receber a atenção dos seus olhos incandescentes.  

Ele estendeu seus braços, agarrando-me na cintura.  

Finalmente estava no chão. – Vamos! – Mas ele ainda vigiava o nó que fez.  

Eu o puxei. – Vamos logo, eu estou com frio! – Menti, conseguindo de vez a sua atenção.  

Entrelaçamos os nossos dedos e entramos juntos.  

Era uma cabana humilde, com um carpete de pelo em todo o chão e alguns castiçais acessos. Um sofá ao canto e mais para frente uma escada que dava para o único andar de cima.  

Não pude reparar mais. Os seus braços quentes me abraçaram por trás. Fechei os olhos, repousando minha cabeça em seu ombro.  

Ele beijava o meu pescoço, ao mesmo tempo em que acarinhava minha barriga.  

-Fique ai, meu bem. – Seus beijos pararam. – Vou sair para procurar lenhas. Há muitas por perto.  

Me virei. – N-não estou mais com frio. Não precisamos.  

-Ora, c-como não?  

-Não vá. – Beijei os seus lábios, nos levando até o sofá.  

Ele se afastou, sorrindo. – Tem uma cama no andar de cima.  

Fitei as escadas.  

Não queria perder tempo. – Eu quero aqui. – Me livrei de seu terno. Beijava seu tórax, mesmo coberto com sua blusa social.  

-Uhn... – Ele riu, eu o fazia cócegas. – Alice... Eu não vou demorar, s-sim? Só desejo que fique mais confortável.  

Aceitei. Ele beijou minha testa e saiu. Eu o observei pela janela mais próxima.  

Foi então que senti um chute.  

Abaixei a cabeça. – Valentina, isso aqui não é salão de danç—Mais um, que me fez contorcer meu corpo. – Au. – Cerrei os olhos, agora alisava minha barriga. – Calma, q-querida... O seu pai já volta. – Gemi. -Hu-m... Ai... – Minha respiração pesou a medida em que minha neném se tornava mais agitada. – A-ain. – Fazia uma careta de dor. Alisar meu ventre não adiantava como nas outras vezes.  

Cai de joelhos ao chão.  

Não era como nas outras vezes, havia algo errado.  

-Acalme-se, Alice. – Respirei fundo. – Está tudo bem. – Fechei os olhos.  

Me apoiei nas cortinas para levantar.  

E assim que levantei, senti o enjoo mais forte do que todos os outros juntos.  

Avistei o banheiro.  

Vomitei tanto que tive certeza que desmaiaria de fraqueza. 


Notas Finais


Alice agora tá botando ordem no castelo!

Valentina já fazendo arte antes de nascer. Ou será que tem algo realmente errado por ai?

E a amizade de Alice e Meredith? Como será que vai ser o desfecho disso?

Sobre o ''suposto herdeiro do trono'' preparem-se por que o Stayne vai atacar!

E Enid, será que está aprontando alguma?


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