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História Apenas um sonho III - Herdeiro do trono - Antes da tempestade


Escrita por: Maallow

Notas do Autor



Capítulo 1 - Antes da tempestade


Catharine amava meu leite na mesma intensidade em que seu pai amava chá da tarde. 

Ela tinha completado um ano e meio, e eu sei que deveria desmamá-la, todas as mães me diziam isso. Porém, para mim, era sempre importante criar um vínculo com nossos filhos. Não foi assim na minha criação, é claro, nem mesmo conhecia minha mãe verdadeira, e a mãe na qual eu acreditei que fosse a minha era apenas uma madrasta.

Bom, nada disso importava agora.

Eu tinha três filhos e entendia a respeito da maternidade. Minha doce bebê sempre sorria com os olhos enquanto eu lhe dava leite, era um momento de afeto que preenchia o meu dia.

Ela gostava de esticar o seu bracinho, buscando o pingente dourado que pendurava-se em meu pescoço e atraía  sua atenção. Seus olhos eram graciosamente verdes e eu conseguia ver o reflexo da peça através deles. Aos poucos, ela os fechava, claro que lutava contra, embora eu sentisse a lentidão e a falta de força ao puxar o meu leite.

Apenas esperei que suas pálpebras não suportassem mais.

O que não demorou.

Logo, a bebê se rendeu ao sono e então, enquanto a posicionava melhor em meus braços, afim de esconder meu mamilo para dentro da chemise, observei que Tarrant estava parado no batente da nossa porta.

Por um instante me assustei. Depois, deixei que um suspiro amoroso saísse de mim, era impossível não gostar da forma como ele nos olhava: um meio sorriso, as bochechas quase corando e os olhos brilhavam como nunca.

Ele molhou meus lábios com um breve beijo seu. Fechei os olhos, viajando em pensamentos com o cheiro do seu perfume.

Tarren havia demorado um pouco para subir, confesso.

E eu tenho a sensação que sempre que ele fazia isso, era por que não queria conversar.

Esperava me encontrar dormindo, é claro, e logicamente eu estaria se sua filha não gostasse tanto de leite.

- Vou deixá-la com a irmã. – Anunciei ao levantar. A mola da cama grunhiu com sutileza quando o fiz. – Você sabe, Valentina insiste que quando Catharine está no quarto, ela consegue dormir por uma noite inteira. Diz que a irmãzinha é um inibidor de insônia.

Ele só fez assentir, silencioso. O que eu estranhei ainda mais.

Sei que era mais de uma da manhã quando virei a maçaneta do quarto de Val e a fiz equilibrando a bebê pesada num braço só.

Logo a luz das velas irritaram a minha visão por alguns instantes, não tanto quanto me irritava ver que Valentina ainda estava acordada: De pé, olhando para a janela como se esperasse por alguma coisa, ou alguém. – O que faz acordada? – Minha presença assustou-a com força, era tudo tão suspeito, ela se virou para mim, os ombros duros e a feição mantinha um medo e espanto notórios.

- N-nada. – A ruiva balbuciou. Ainda usando seu vestido. Eu o analisei em silêncio, ela sabia que eu o olhava, me perguntando se já não deveria vestir o seu pijama. – Vejo que trouxe meu amuleto da sorte preferido! – Exclamou, esticando os braços.

- Ela está dormindo. – Avisei, mas lhe dei a bebê que cansava-me com o seu peso.

- Oh, eu sei. Catharine tem sorte por ter um sono rápido. – Ela a colocou no berço e suspirou. – Ah, mamãe... Ela nem mesmo parece ser como eu.

- De certo que não. – Avaliei. – Você era uma bebê com a energia de três. – Lembrei ao sentar na beira do colchão. – Creio que algumas coisas não mudam. – Cruzei minhas pernas. – O que faz acordada?

A mocinha sabia que não poderia vencer uma discussão. Ela olhou uma outra vez para a janela aberta, então eu soube que tinha algo a ver com isso. – Eu não posso te dizer, mamãe.

Pressionei minhas têmporas. – Eu espero exatamente o contrário. – Retruquei. – Passei um dia cansativo hoje enquanto você se divertia em Marmoreal com seu noivo. – “Não foi tão divertido. “ ignorei sua baixa retruca. – Não me levantarei para espiar sua janela.

- Gilbert está em Wonderland. – Revelou.

Sim, eu sabia. Ele tinha me visitado durante a tarde, vê-lo foi a parte mais maravilhosa do meu dia. – Ele me pediu para que eu o esperasse na calçada, ele pretende me levar para algum lugar... – Dizia, escolhendo bem as palavras.

Me levantei, dando as costas.

Eu era mãe.

Sabia quando agir como uma, e quando não agir.

Infelizmente, em meu interior, as coisas eram complicadas com meu filho mais velho. Eu sei que ele era meu, havia saído de mim, possuía o meu sangue e o de Tarrant, até mesmo sua entonação de voz lembrava um pouco a calma da minha, no entanto, com ele...

Com ele era diferente.

Eu me sentia culpada às vezes, queria ter cuidado dele. Queria estar com ele em seus primeiros passos e palavras, queria vê-lo escrever seu nome pela primeira vez, queria vesti-lo, escovar os seus dentes, pentear seus cabelos e curar seus resfriados mas sei que não o fiz.

Ao invés disso, minha ausência forçada lhe causou tanto sofrimento que as marcas se mantinham até hoje.

Isso pesava em mim.

Por mais que ele dissesse que isso era uma grande tolice, eu sabia que, por não tê-lo criado, ele era independente de mim.

Não precisava da minha aprovação, ou rejeição.

- Mãe?

Apenas suspirei. – Não faça nenhuma bobagem. – Respondi, ainda de costas.

- O que quer dizer com isso? – Ela herdava minha coleção de perguntas.

Virei meu pescoço. – Pode ir. Não quero que seu irmão venha aqui atoa, afinal.

Gilbert não morava conosco.

Ele decidiu morar com Charles, e é claro, essa decisão não precisou incluir uma opinião minha quanto a isso.

Embora eu gostasse dos dois juntos. Charles acrescentaria grandes informações a ele acerca de Londres, e do nosso mundo. E eu sei que como um bom explorador, seu neto não hesitaria em voltar para o mundo de cima através do espelho sempre que desejasse.

Embora eu gostasse dos dois juntos...

Queria mesmo era que ele morasse aqui. Com seus pais e suas irmãs.

Tina espiou através das cortinas outra vez. – Então eu vou descer. Ele acabou de chegar. – Passou voando por mim e desceu os degraus da mesma maneira.

Olhei para Catharine, não me perdoaria se eu a acordasse sem querer ao levá-la de volta para o quarto.

Retornei só. E Tarrant cuidadosamente desfazia o nó da gravata borboleta. Ele estava estranhamente quieto.

Normalmente perguntava como foi o meu dia. E tagarelávamos como dois melhores amigos até que houvesse o silêncio que nos faria decidir se deveríamos dormir, ou fazer amor por uma hora ou duas antes de esgotarmos completamente nossas energias.

Parei na sua frente, ganhando a atenção do par de olhos verdes. Toquei a gravata com a ponta dos dedos e ele se surpreendeu por ver que eu possuía mais delicadeza naquilo do que ele, logo ele, que sabia bem como respeitar cada traje de roupa ou acessório que vestia.

O beijei, me colocando na ponta dos pés. Pude sentir o peso das suas mãos emoldurando minha cintura, e me trazendo a sensação maravilhosa de estar segura em seus braços. – É melhor fechar a porta. – Eu percebia as segundas intenções naquela frase.

- Valentina não está. – Cochichei.

Eu pensei que ele beijaria meu pescoço, aquecendo minha pele com os seus lábios, depois me lançaria sobre a cama e começaria a me chupar como gostava de fazer.

E como não fazia há algumas noites.

Mas ao invés disso, ele só se afastou, agora perdido. Nem mesmo viu a mobilha que acabara por chutar, ou se viu, não sentiu o impacto que com certeza daria uma marca roxa e repentina em sua coxa pela manhã.

– Ela estava aqui no jantar. – Fiquei surpresa por ele notar, afinal, jantava com certeza em devaneios.

- Tarrant, o que está havendo?

Ele segurou meus braços. – Nosso filho, querida. – Ele achou que isso resolvesse toda a charada, mas me viu confusa. – Nosso filho não está pensando bem. – Ele cerrou os olhos.

- Ele esteve aqui de tarde. Tomamos chá, ao menos, eu tomei. Ele sempre prefere o álcool. – Acrescentei. – Bom, ele conversou sobre Londres, até me contou que venceu um torneio e conheceu algumas senhoritas. – Um sorriso infundiu meus lábios. – Fico feliz que ele esteja se saindo bem nessa questão.

Era um alívio para nós.

Mas Tarrant continuava perplexo. – Ele está perturbado e acredita piamente que viu o Valete lá. – Arregalei os olhos. – E conversava com seu... Primeiro marido. – Uma certa aversão preencheu sua fala, se era ciúmes, eu jamais saberei.

Meu estômago se revirou ao pensar em Hamish.

Pensar em Hamish e Stayne juntos quase me fazia golfar.

Levantei, tocando a barriga. – Ele não parecia perturbado... Ele nem mesmo me falou sobre isso.

- Com certeza não quis te preocupar.

- Ele e Valentina acabaram de sair.

Isso só piorou os devaneios de Tarrant, que matutava silenciosamente com os pensamentos. Então, me aproximei. – Devemos ir atrás dele?

Tanto eu, quanto meu marido, sabíamos que isso não iria adiantar.

Wonderland era grande, e nomear os lugares em que poderiam estar demoraria horas.

Ele, como imaginei, apenas negou.

[...]

Catharine dormia distante dos problemas e distante de nós. Mal sabia ela os aflitos que sua família passou antes do seu nascimento, antes que tudo ficasse bem.

No entanto, naquela fatídica noite, era como se todo o tormento retornasse.

Estávamos na sala, eu terminava de adoçar o chá terminantemente fumegoso que preparei. – Confiamos neles, não é? – A minha consciência teimou em questionar.

Tarrant me olhou. – Sem dúvidas, querida. – Ele me viu sentar no braço do sofá. Espantado com minha pergunta. – Eu acho que a relação deles está saudável. – Concordei bebericando o chá. – Embora... – Ele se calou, talvez levando a continuação de seu raciocínio apenas para si.

Éramos casados. Éramos um só. Partilharíamos pensamentos também, certo? – Continue, meu amor. – Pedi.

- Eles se respeitam, querida. – Ele pegou minha mão sobre o joelhos. – Se tratam como irmãos, mas sabemos que eles não se sentem assim.

- Você também notou? – Sussurrei, ele assentiu.

- Notei mais quando Louise nasceu. – Concordei. – Ela sim, é a verdadeira irmã dele, Alice. Eu posso sentir a fraternidade no sentimento de Gilbert. Talvez Valentina não tenha notado, e quando isso ocorrer, de certo ela ficará magoada.

- Ou não. – Essa possibilidade era ainda mais tenebrosa. - O que devemos fazer? Separá-los?

Aquela era uma sugestão terrível para nós. – Não. – Dizia Tarrant, pensativo. Ele tocou meu rosto. – Temos filhos maravilhosos, meu bem.

Havia certa emoção em meus olhos. Assenti, concordava.

Gilbert tinha seus demônios, e lutava com eles a cada dia, mas ele ainda assim, era o melhor filho que poderíamos ter. Ele era compreensivo, zeloso e protetor, da sua maneira.

Valentina era espirituosa, criativa e carinhosa. Ela também parecia saber lidar com seu passado sem precisar ferir a si mesma ou a sua família, sua preciosa família.

– Sempre fiquei feliz com seus retornos de Londres. Não quero dizer que não estou agora. – Meu marido puxava certo sotaque. – Só que dessa vez, estou muito preocupado.

- Acha que ele pode fazer algo com Valentina? – Meu coração parou por um instante. – eu não deveria ter permitido que ela saísse.

- Não acho. – Essa questão já havia sido resolvida, eu sei. Reforçamos que confiávamos nos dois, mas tudo bem, posso admitir para mim mesma que recaídas não eram impossíveis de acontecer, e que Valentina não agia com total razão quanto ele. – Quando eu o vi, reconheci o mesmo olhar que eu tinha. Um olhar que suplicava vingança.

- Stayne. – Murmurei.

Tarrant se levantou, me pondo de pé. Ele pegou mais chá, precisava. Era como uma necessidade. – O assunto mexe com nosso filho, m-mas... Ele me contou. – Os olhos fixaram em mim. – Não com riqueza de detalhes. M-mas me contou o que houve... Com eles.

Isso bastou para que eu perdesse o meu ar.

Sempre quis saber o que havia acontecido nos segredos de Salazem Grum.

Tentei muitas vezes para que Valentina contasse, mas ela sempre dava um jeito de escapar daquela conversa e mudar o rumo do assunto para suas pinturas.

Já Gilbert, ele simplesmente fingia não me ouvir quando eu perguntava.

Me sentei. - Fale-me. – Meus olhos fixaram no ruivo, afim de não perder nenhum detalhe, aquele era o momento que eu descobriria o que minha curiosidade clamava em saber há anos!

Tarrant caminhava de um lado para o outro quando parou.

- Stayne lhe deu um acordo de casamento. Até ofereceu um dote. Ele disse que... Suspeitou aquele agrado. Stayne sempre o incentivava a... – Ele engoliu o nojo. – Se deitar com Valentina. Ele evitou que isso acontecesse mas aceitou o acordo para que assim, Stayne não fosse mais o seu tutor legal. – Precisou de uma pausa. Massageando suas têmporas, eu queria acreditar que ele o fazia para que se lembrasse de tudo, e não que fosse algo pesado demais para que lhe desse fisgadas na cabeça. – No sexto dia em que assinou o acordo, seu pai lhe disse que faria uma breve cerimônia de casamento para que Gilbert tivesse mais certeza de que o acordo era real e consumasse. Ele não aceitou, mas Valentina que ouvia atrás da porta achou uma ótima ideia.

Toquei meu rosto com pesar. – Não...

- Com certeza o clérigo foi comprado pelo próprio Valete. De repente, nem era mesmo um clérigo. – Bebeu do seu chá, pela expressão já parecia morno. – Não sabemos... E-ele não quis me contar mais. Eu não instiguei, já estava nauseado. E olha que te poupei de mais alguns detalhes.

Pela primeira vez, evitei os detalhes.

Pensava no que me disse.

Stayne os enganou e os incentivou para que praticassem algo horrendo.

- Aquele maldito arruinou nossos filhos. – O ódio de minha voz se replicava pelo ambiente.

- Essa é a questão, querida.

Assenti, compreendendo. – Gilbert estava feliz por saber que esse desgraçado pagou pelo o que fez a ele e a sua irmã na guilhotina.

- E agora, ele vê o Valete vivo como uma oportunidade de se vingar.

- Com as próprias mãos. – Completei.


Notas Finais


Adoraria a opinião de vcs!
Valete está vivo ou não?
Saberão em breve! <3


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