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História Apenas um sonho III - Herdeiro do trono - Kingsley


Escrita por: Maallow

Notas do Autor


Esse capítulo teria 2 narrações, mas achei melhor manter só uma para um final mais impactante.
Sinceramente achei esse capítulo lindinho demais, se me permitem dizer hahah.

Capítulo 39 - Kingsley


Margareth parecia pensar. E enquanto o fazia, alisava seu ventre crescido, vagarosamente. “Ele está aguardando, senhorita.” – Disse a empregada, Judith, uma última vez, com cautela.

A irmã de Alice me olhou brevemente.

- É hoje que irei pegá-lo. – Prometi com rancor quando minha tia segurou o meu pulso.

- Judith, leve Ashley para o quarto, e a distraía. – A empregada assentiu, retirando a criança da cadeira. A garotinha acenou para mim, sem entender a real situação. – Gilbert. – Olhei para Margareth. – Prefiro que se esconda. Não quero que o senhor Ilosovic o veja aqui. – Ela tornou a alisar o seu ventre. – Por favor, seja compreensivo, a essa altura de minha gravidez não posso me expor a muitas emoções.

Rapidamente compreendi. – Vou respeitá-la em sua decisão, senhorita Kingsley. – Ela suspirou de alívio após as minhas palavras. – Mas se eu me esconder e... Ele fizer mal a senhorita? – Questionei.

Margareth tocou o meu rosto graciosamente. – Ele não vai me machucar.

Balancei a cabeça em discordância. – Não o conhece como eu. Prefiro ficar próximo o bastante para defendê-la caso necessário.

- Tudo bem. – Cedeu. – Faça como preferir. Eu vou atendê-lo e o guiarei até aqui, esconda-se.

Olhei em volta da sala de refeições, não havia ali pilastras ou cortinas o suficiente para que ele não me visse.

Mas a porta de entrada era feita de uma madeira grossa, grande e pesada e estava aberta, com uma brecha de espaço entre a madeira e a parede.

Ali era perfeito para que eu me escondesse, e perto o bastante para que eu visse tudo.

Me escondi, ajeitando-me atrás da porta.

Eu adoraria ouvir toda a conversa, por mais que a irmã de minha mãe tivesse provado para mim que era digna de minha confiança.

Ouvi-los conversar me deixaria mais perto de entender as intenções de Stayne aqui, em Londres.

“Não o esperávamos hoje...” – A voz de Margareth iniciava uma conversa, tornando-se menos distante a cada passo.

Pude ver a silhueta deles atravessando a sala através da pequena brecha entre o batente e a porta.

 “Eu sei que não. Mas Hamish Ascot já está muito bem familiarizado com minhas visitas fora de hora. “ – Disse o monstro.

“Acontece que o senhor Ascot não está.” – Respondeu Margareth.

Vê-lo no mesmo cômodo que eu ferventava todo o meu sangue.

Parte de minha mente se distanciava dali. Minhas emoções ainda embaralhadas demonstravam para mim que eu não estava preparado para vê-lo.

E para a minha surpresa, Stayne não estava sozinho.

Estava acompanhado de sua amiga dos cabelos vermelhos e vestes cor de vinho. “Esta é minha amiga. “ – Apresentou. “ Ela veio do mesmo lugar que eu. “

Rapidamente juntei as sobrancelhas.

Ela era a mulher da noite do jantar.

Mesmo lugar que eu.

- Ela veio de Wonderland. – Sussurrei, intrigado e confuso.

“Muito prazer, sou Margareth Kingsley. “

“Kingsley?” – A mulher misteriosa conhecia bem aquele sobrenome, mas não disse mais nada a respeito. Apenas olhava em volta. - “Tem uma bela casa.”

Margareth demonstrava certo nervosismo. – “ Ah, que indelicadeza a minha. Estava tomando meu desjejum, gostariam de se juntarem a mim?” – Ofereceu, gesticulando para a mesa.

“Percebo que a senhorita não estava sozinha, afinal.” – Stayne analisou a xícara com o chá que esfriava ao lado da sua, além das broas e pães que separei.

O Valete era extremamente observador e cauteloso. Ele passou a olhar ao redor, discretamente. Margareth engoliu em seco. “Se Hamish não está, quem a acompanhava no desjejum?”

A loira ajustou sua postura. “Não que eu precise lhe dá satisfação, mas tenho o costume de convidar Judith a se sentar a mesa comigo quando estou muito sozinha.”

Stayne riu. “ Compreendo... Compreendo... “ – Ele tocava discretamente o punhal em seu bolso, atento ao seu redor. “ Ouvi dizer que o filho de Tarrant já esteve aqui na mansão Ascot algumas vezes. “

A irmã de Alice cruzou os braços. “O que veio fazer aqui, senhor Ilosovic, além de me acusar?”

Ele sorriu. “Não a acuso, senhorita. “ – Meu sangue fervia a medida em que ele se aproximava de Margareth. “Tenho certeza que você esconde alguma coisa. Tem o mesmo olhar de medo que a sua irmã.”

“Stayne. “ – A sua acompanhante segurou o seu braço. “Não vamos aborrecê-la. “ – Ambas as mulheres se olharam com empatia. “É melhor voltarmos em um outro momento.”

“Não!” – Gritou Stayne, se apartando do toque de sua cúmplice. “Por muito tempo esperei por esse momento, eu a procurei durante meses, anos, Iracebeth. Agora que posso finalmente retornar ao meu mundo, o marido imprestável de Alice não está aqui. “

- Iracebeth... – Sussurrei tão baixo que nem mesmo eu pude ouvir. Aquele nome era familiar, e quando soou em meus lábios, pude me lembrar com perfeição a quem o pertencia. – A Rainha Vermelha. – Precisei me segurar para não exclamar com surpresa, mas meus olhos arregalavam-se, até mesmo o olho que não enxergava mais.

A rainha vermelha estava viva, afinal.

E isso era algo que nunca imaginei ocorrer.

“Vamos esperar um pouco até que o senhor Ascot retorne. “ – Stayne se sentava em uma das cadeiras da mesa de desjejum. “Creio que a senhorita Kingsley não irá se incomodar.”

Margareth estava visivelmente incomodada, é claro, mas ela era um pouco mais sutil que Alice, que, ao contrário de sua irmã londrina, diria sinceramente que Stayne e sua amiga era um incomodo. “Fiquem a vontade. Mas preciso informá-los que Hamish está desaparecido.”

O homem levantou, furioso. “Como assim desaparecido?!” – Gritou com ódio próximo ao rosto de Margareth.

Ela se agitou mas respirou fundo, tocando o seu ventre. “Peço que abaixe o seu tom. “

Stayne riu com nojo. “Quem você pensa que é, mulherzinha vil, para acreditar ter autoridade sobre mim?!” – As duas mulheres o olhavam. “Nem mesmo é dona dessa casa, você é como uma visitante. Essa casa é de Hamish e Alice.”

“Stayne, pare ou eu vou embora. “ – Pediu Iracebeth.

As ameaças da rainha também não lhe faziam efeito.

“Só estou dizendo a verdade. “ – Murmurou, buscando uma jarra de suco na mesa. “Isso é o que o próprio senhor Ascot me disse.”

Margareth se mostrava profundamente magoada. “Ele... disse isso a você?” – Perguntou. “Disse que sou uma visitante?”

- Margareth, não caia nos truques dele, ele só quer desestruturá-la. – Pedi, o conhecia perfeitamente bem.

Conhecia cada passo.

Cada truque.

Já fui refém de todos eles.

Stayne pareceu satisfeito em vê-la envolvida em sua armadilha emocional. “Ele disse muito mais coisas de você, senhorita, mas eu prefiro não aborrecê-la com tais assuntos. “

“Exijo que conte-me.” – Revidou entre dentes, talvez ela fosse tão curiosa quanto a sua irmã.

Ele mordiscou uma broa. Limpando a borda dos lábios com um pedaço de guardanapo. “Ele disse que não pretende honrá-la e casar com você. E disse que ainda quer recuperar a dignidade, trazendo Alice de volta e reerguendo a empresa e que você só serve para as suas necessidades carnais, nada além disso.”

“Alice está em Wonderland?” – Questionou a Rainha.

Stayne arregalou seu olho, talvez havia se esquecido de mencionar este detalhe, que escapara sem querer. “Sim. Eu esqueci de te contar.”

“O que será que eu ainda não sei?” – Iracebeth o olhou com desconfiança.

“Hamish está em Wonderland. “ – Revelou Margareth, limpando seus olhos de lágrimas. Ganhando então, a atenção dos dois visitantes. “Aquele desgraçado atravessou o espelho junto com Valentina, certamente para reconquistar a minha irmã. “

“Quem é Valentina?” – Iracebeth perguntou.

“Sua ordinária!” – Stayne acertou um tapa no rosto de Margareth.

Peguei minha adaga e me preparei para sair e apunhalar suas costas, Margareth olhou assustada para a minha direção, arregalando os olhos e acenando discretamente com a cabeça para que eu não reagisse.

Iracebeth o deteve. “Você continua agredindo mulheres?!”

Me ative então, permanecendo atrás da porta grossa de madeira.

Por mais que a raiva invadisse todo o meu corpo, eu não queria trazer mais aborrecimento a minha tia.

“Não me contaria a real localidade do seu amante se eu não revelasse o que ele verdadeiramente pensa de você!” – Acusou o homem.

“Saia daqui!” – Mandou Margareth Kingsley, esfregando seu rosto.

“Mulher nenhuma manda em mim.” – Ele a pegou no braço. – “Me leve até o espelho, eu exijo! Voltarei ao meu mundo agora mesmo! ”

E assim, todos os três seguiram as escadarias.

[...]

Estavam a cerca de vinte minutos na grande biblioteca, a biblioteca particular de Hamish Ascot.

Margareth o levou até o espelho, como pediu Stayne. Eu os observava sorrindo, próximo a porta da entrada, mas ainda no corredor.

Segurava com firmeza a adaga em minhas mãos, pronto para surpreender Stayne caso necessário. Mas admito que estava muito mais divertido vê-lo em total desespero.

“Não é possível!” – Stayne estava a ponto de arrancar seus próprios cabelos. “NÃO É POSSÍVEL!”

“Como você pode observar, o espelho não está funcionando. “ – Avisou Margareth, plenamente.

A Rainha Iracebeth estava fascinada com todo o conteúdo acerca de Wonderland entre as prateleiras. Ela buscava alguns livros, os folheando rapidamente.

Enquanto Stayne dava os seus ataques de fúria. “Só posso crer que seu estúpido amante tramou contra mim! “ – Ele olhou para as duas mulheres, seu rosto estava vermelho de fúria. “Todos vocês tramaram contra mim!” – Apontou. – “Traíras! Eu não deveria confiar em vocês, não... Todos estão unidos para atrapalharem os meus planos de retornar para Wonderland! Quem sabe ser um rei, isso é um ultraje! Seu maldito amante vai me pagar por me prender neste mundo! “ – Gritava ele, descontrolado e furioso. “ELE VAI ME PAGAR!” – Berrou no rosto de Margareth, que se tremeu por inteira.

Iracebeth cruzou os braços. “Todo esse escândalo está me causando enxaqueca, quando terminar seu ataque de raiva vamos embora.” – Exigiu ela.

O homem tornou a alisar o espelho. Furioso e inconformado. “Não saio daqui enquanto não atravessar o espelho. “

A Rainha Vermelha suspirou. “Estarei no jardim.” – Apenas anunciou.

Eu não tive muito o que pensar. A biblioteca era pequena e ela a atravessaria em poucos segundos.

Iracebeth me veria no corredor, de uma forma ou de outra.

Me preparei até que ela passou pela porta. – Schiuuu... – Eu a peguei por trás, imobilizando seus braços com uma das mãos e tampando seus lábios com o outro. Ela me olhou com medo e surpresa. – Estou com um punhal. – Sussurrei, encostando meu nariz em sua bochecha e falando bem próximo ao seu ouvido. – Vou libertar seus lábios, mas não ouse gritar, não hesitarei em feri-la se você o fizer.

Iracebeth concordou ao balançar a cabeça.

Afastei minha mão de seus lábios e rapidamente busquei a adaga afiada em meu bolso. – Venha. – Eu não larguei seus braços, ainda paralisados atrás das costas.

[...]

A levei para o quarto em que Margareth me hospedou. – Me lembro de você, na ópera e no jantar. – Nada respondi. Iracebeth parecia um tanto quanto tensa ao ver que eu lhe apontava o punhal a todo o momento. – Você não é capaz de ferir uma mulher, é? – Questionou a mesma, amedrontada.

Fechei a porta, parando na sua frente. – Depende.

Ela me assistia guardar o punhal no bolso. – Rainha. – Mensurei. – Não quero machucá-la.

Iracebeth soltou o seu ar. – Você também é de Wonderland, filho daquele doidinho. – Observou.

- Sou muito mais do que apenas o filho dele. – Balancei a cabeça. – Eu também sou o filho da Alice.

Aquela informação foi como um soco certeiro em seu estômago. – Alice. – Suas memórias pareciam vagar para o passado. – Aquela garotinha. – Um quase sorriso se formou em seus lábios. – Alice e Tarrant. – Me analisou. – Hum, quem diria que eles fariam um filho como você.

Abri a porta para observar o corredor. – Majestade, creio que está cometendo um erro confiando em Ilosovic Stayne. – Fechei a porta outra vez.

Iracebeth me olhava. – Você é meu meio sobrinho. – Aquela informação ainda lhe era fresca e nova. – Se parece com Alice.

Balancei a cabeça, o assunto acerca de minha origem não era importante agora. – O que faz neste mundo?

Minha pergunta a levou para outra lembrança. Ela fechou a expressão, demonstrando uma raiva profunda. – Stayne me dopou e me jogou no espelho.

Eu não conseguia compreender. – E ainda se aliou a ele?

A majestade deu dois passos para trás.

A assisti buscar por uma caneta tinteiro e um pedaço de papel sobre a escrivaninha. Me aproximei com curiosidade, vi que ela anotava algo ali, com uma caligrafia perfeita.

- Aqui. – Sussurrou ao me entregar, eu estava pronto para perguntar do que se tratava quando a mesma decidiu explicar. – É neste endereço que estou situada. – A olhei surpreso. – Me encontre lá dentro de dois dias.

Juntei as sobrancelhas, sem saber o que pensar.

Iracebeth não me deu escolhas quando deixou o quarto e vagou tranquilamente pelos corredores.

Margareth já havia demonstrado para mim inúmeras vezes que era digna de minha confiança.

Em contra partida, a Rainha Iracebeth não parecia ser tão digna de minha amizade assim...

Observei o endereço descrito no papel. Eu não conhecia muito as ruas de Londres. E por um instante pensei que, indo até o endereço...

Eu estaria imergindo em uma armadilha.

Ouvi certo alvoroço vindo do jardim e espiei discretamente da janela, observando que Stayne por fim se deu por vencido.

Ele e Iracebeth caminhavam para a saída. Margareth os acompanhava, visivelmente abatida com aquela visita.

[...]

Eu organizava a biblioteca que Stayne bagunçou em seu último ataque de fúria. Margareth disse que iria para o seu quarto e pediu para não ser incomodada.

Juntei alguns livros, os enfileirando corretamente nas estantes.

“Uau!” – Olhei para trás com aquela exclamação.

Ashley parou no meio da biblioteca bagunçada, segurando seu urso de pelúcia que tinha quase o seu tamanho. – Que bagunça! Parece que um furacão passou aqui!

Sorri levemente. – Pois é. – Voltei a atenção para os livros.

– Eu vim aqui para brincarmos no jardim! – Exclamou a criança, sorrindo com euforia.

Eu a olhei, um tanto chateado por lhe negar. – Eu lamento, Ashley, mas eu estou muito ocupado agora.

A menina murchou. Eu compreendia o quanto era frustrante para ela ser a única criança dentro de uma mansão tão grande como essa.

Ela nem mesmo fazia ideia do problema conjugal que seus pais enfrentavam, e que, diante disso, ela e suas necessidades infantis de ter com quem brincar tornava-se apenas um mero detalhe banal para os adultos.

Me agachei. – Mas você pode me ajudar a organizar os livros, assim terminarei mais rápido e poderemos brincar. – Lhe propôs.

Ela desfez o rostinho triste assim que sorriu. – Está bem! – Colocou seu ursinho sobre o sofá. – O papai quase nunca me deixa entrar aqui.

- É mesmo? – Questionei desinteressado enquanto arrumava as prateleiras.

- É, ele tem ciúmes desses livros. – Ela passou a me entregar alguns pelo chão. – Eu estou aprendendo a ler. Meu tutor vem aqui quatro vezes por semana.

- Isso é ótimo.

- Eu também sei pintar e tocar piano. Veja, fui eu quem fiz! – Apontou para o quadro atrás de mim.

Me virei.

Não havia percebido a pintura até então, estava tão pensativo e intrigado com outras coisas.

- Ela é sua irmã, não é? – Questionou a criança.

Analisei o belo quadro de Valentina. Estava com um vestido novo, sentada com as mãos sobre os joelhos e um sorriso gentil, além daqueles belos olhos castanhos, meio esverdeados. Os cabelos vermelhos e arrumados, se Valentina estivesse aqui, ela diria que seus cabelos ao menos na pintura contrastavam com perfeição com o seu tom de pele. – Sim. – Por fim respondi, sem me importar se demorei muito tempo para fazê-lo.

Parei tudo o que eu fazia para me virar por completo.

Toquei o seu rosto pintado. Meus dedos sentiam os traços secos da tinta. – Minha querida, onde você está? – Pensei na imensidão do meu mundo.

Bosques, florestas, animais selvagens, além da própria fúria da natureza com tempestades anormais. Eu temia por sua vida. “Tio Gilbert.” – Senti Ashley puxando a borda do meu terno.

Olhei para baixo. Ela me mostrava um livro de capa preta e de letras douradas.

Mas o que lhe atraia a atenção era aquele desenho na capa. – Olha esse monstro feio! – Mostrou.

Me agachei, atento. – É um dragão. Se chama Jaguadarte. – Peguei o livro de suas mãos. Era um livro fino.

Eu o abri. Estava escrito em dialetos antigos.

- Parece uma espécie de poesia. – Olhávamos juntos.

- Lê pra mim! – Saltitou a menininha, empolgada.

Sorri. – Eu não entendo dialetos antigos. – Me levantei. – Bom, vamos arrumar essa bagunça.

[...]

Aquele dia havia se passado e por fim repousei em minha cama, pensativo.

As velas se mantinham acessas e eu analisava a caligrafia da Rainha Iracebeth, me perguntando se deveria ir ou não naquele endereço. – E se for uma armadilha? – Essa era a grande questão.

Ser pego desprevenido daria uma grande vantagem para Stayne.

Ele poderia me apunhalar com qualquer uma de suas armas cortantes, me apunhalaria literalmente pelas costas, mas sem intenção de me matar. Não naquele momento.

Ele sempre gostou de machucar muito suas vítimas antes de ceifar suas vidas. – Se eu for ao encontro da Rainha. Irei preparado. – Determinei.

“Gilbert! Ajude-me!” – Me impulsionei para frente com o grito de desespero de Margareth Kingsley.

Rapidamente busquei um dos meus punhais guardados na gaveta.

Por sorte eu ainda estava devidamente vestido.

Peguei um castiçal e abri a porta do meu quarto com rapidez, quase apagando a chama da vela, que se ofuscou por alguns segundos. “Margareth?!” – Eu me sentia perdido em meio ao corredor largo e a tantos quartos, a maioria de hóspedes, eu sei.

Não ouvi sua retruca, apenas um gemido fraco e aflito, como se tivesse sido atacada.

Ou como se algo lhe doesse muito.

“Mamãe?” – Ashley parava na porta do seu quarto, acabara de acordar.

Me aproximei. – Qual é o quarto da sua mãe?

A menina confusa coçou um dos olhos e apontou para a primeira porta depois das escadarias principais.

Corri até a porta e tentei girar a maçaneta. Estava trancada.

- Margareth, se afaste da porta, eu vou arrombar! – Só se ouvia seus gemidos.

Isso de certo me preocupava.

Dei três chutes certeiros e no quarto a porta cedeu.

Seu quarto estava completamente escuro, mas pude vê-la em pé, apoiada no móvel de madeira. Ela usava sua chemise, e apenas sua chemise, segurava sua barriga na altura da bexiga.

Só então pude perceber o líquido que descia vagarosamente por entre as pernas. Juntei minhas sobrancelhas, confuso. - G-Gilbert. – Ela me olhou com dor, enquanto suava. – Meu bebê vai nascer.

Eu nem mesmo sabia o que dizer. O que fazer. Fiquei simplesmente sem reação. - T-tem que me ajudar. – Ela sussurrou enquanto chorava.

Assenti, acordando dos devaneios. – Vou pegar um dos cavalos e chamarei um médico ou uma parteira.

Margareth gritou, erguendo seu rosto para o alto e segurando a barriga. - N-não dá tempo, n-n-n-não dá tempo...

Era madrugada. Não havia nenhum adulto na mansão a não ser eu. Seus empregados terminavam as tarefas diárias sempre as onze da noite. – Margareth. – Balancei a cabeça, deixando o castiçal e a adaga no criado mudo. – Eu não posso fazer seu parto, eu nunca fiz isso antes!

- V-você tem que tentar! – Gemeu. – Ah, Deus que dor!

Ela não se importava com os meus motivos, e nem se eles eram tolos ou plausíveis. A mulher apenas gritou de dor outra vez.

Eu a peguei nos braços e a pus deitada na cama. Ela se contorcia no colchão e o seu ventre parecia ter vida própria. O bebê se remexia, como se estivesse tentando sair. - E-eu acredito em você. – Ela se tremia ao dizer. – Acredito em seu mundo, a-acredito em tudo. – Gemia. – Eu li muitos daqueles livros, Gilbert. Você... – Ela se contorceu de dor. – Oh, você tem o dom da vida, você vai me ajudar. – Margareth pegou minha mão, ela a apertava, quase a quebrando.

Gritou o mais alto que pode então. Se impulsionando para frente.

“Mamãe?!” – a menininha parou na entrada.

- T-tire ela daqui... – Murmurou a mãe de Ashley, com dificuldade.

Eu ainda estava muito atordoado com aquela situação. – Vá para o seu quarto, está bem? – Mas parei na porta de entrada. – Seu irmãozinho vai nascer agora.

A menina assentiu, chocada.

Ela correu para o corredor, desaparecendo na escuridão do mesmo.

- O que eu faço agora? – Sussurrei para mim.

“Não fique nervoso.” – Pediu Margareth, estirada na cama. A olhei.

- Eu nunca vi parto algum, tampouco participei.

- Eu já pari antes. – Ela prendeu seu gemido. – Faça o que eu lhe disser, garanto que vai dá certo.

Decidi não questioná-la mais. Se eu estava resignado a ajudá-la, então, eu a ajudaria, assim como ela me ajudou.

Parei na beira da cama. – Levante minha chemise e veja minha dilatação. – Ofegava.

Afastei suas pernas e levantei a saia de sua chemise, adentrando minha cabeça ali. Me deparei com uma visão que nunca tive antes.

Eu sabia como o parto acontecia.

O bebê saia da mulher.

Só não pensei que sua intimidade fosse capaz de se esticar tanto.

Senti todo o sangue do meu rosto se esvair. “Não desmaie!” – Ela pediu ao me ver.

Me controlei, tocando meu tórax e respirando fundo. – Está dilatada, mas creio que não o bastante.

Ela tornou a gritar de dor. – A-as contrações ainda vem com pausas distantes... – Se contorceu. – T-toda vez que me ouvir gritar, me peça para que eu empurre com todas as forças. – Pediu.

Concordei.

[...]

Se passaram mais de três horas desde que Margareth Kingsley entrou em trabalho de parto.

Eu levantei sua saia por completo depois que sua chemise manchou totalmente de sangue. – Certo... – Segurei seus joelhos, observando o relógio na parede com atenção. – A próxima contração vem em sete segundos. Você precisa empurrar.

Margareth chorava. - N-não dá mais.

- É claro que dá, você é uma mulher forte.

Ela retrucaria se não fosse a contração. Ela empurrou, mas de seu corpo só saiu mais sangue. – Hamish m-me a-abandonou. – Havia muita dor e sofrimento em seus olhos, e não era apenas pelo parto.

- Hamish não a merece.

- P-por que ele me deixou?! P-por quê?!

- Pense em seus filhos agora, eles precisam de você.

Ela tocou a barriga, se impulsionando levemente entre os travesseiros. - N-não tenho mais força.

- Você vai ter que encontrar! – Ela empalidecia. Toquei o seu rosto, estava gélido. – Eu peço que não desmaie.

Seus olhos perdiam a cor enquanto lentamente parava de ofegar. – Margareth? – A balancei. – Reaja, Margareth!

Ela não respondeu.

Os lábios arroxeavam aos poucos e seu rosto estava branco como porcelana. Me afastei, a observando dali.

Olhei para minhas mãos.

Os dedos, as mãos e os braços, imersos de sangue.

Pensei em Ashley, e como seria sua vida daqui pra frente.

E por mais que Hamish merecesse carregar para sempre a culpa de ter matado sua amante e seu filho.

Isso não era justo com Margareth.

Tampouco com o seu bebê.

- Não. – Sorri com tristeza. – A senhorita não vai morrer!

Toquei o seu rosto, e minhas lágrimas desceram, respingando sobre Margareth.

O que seria uma triste (porém comum) morte por parto, transformou-se apenas em um desmaio. A cor de seu rosto retornava aos poucos, junto com o fôlego de sua vida. Seus olhos voltaram a brilhar. – Você acordou. – A segurei em meus braços, ela me olhava confusa. – Suas contrações estão em intervalos de vinte segundos. – Lhe explicava. – Faça força quando senti-la chegar. – Ela balançou a cabeça em negativa, ainda perdida. – Eu sei, as vezes eu também não tenho forças para seguir em frente. Mas precisamos continuar firmes, você tem que dá a luz e mostrar para si mesma que não precisa de um homem como o Hamish. Você se completa sozinha.

Ela assentiu devagar. Voltei a posição de antes, apoiando as mãos em seus joelhos e abrindo mais suas pernas.

Margareth tornou a gritar. Era um grito rouco até perder o som, fazendo saltar a veia do seu pescoço.

A cabeça do bebê, por fim, passou pelo buraco dilatado de sua entrada. Logo vi que o rosto do recém nascido estava lilás claro.

Eu puxei o seu corpinho por fim e Margareth soltou um suspiro de alívio.

Não houve choro. Só muito sangue.

Margareth e eu nos olhamos. – Está morto, não está? – O rosto de minha tia era a imagem perfeita do sofrimento de uma mulher pós parto.

E era tão triste todo esse sofrimento ser em vão.

Eu não sabia como lhe dizer.

Pensei em Alice, e o quanto a minha mãe sofreu quando me perdeu.

Pensar que Margareth sofreria o mesmo me trazia uma imensa dor.

Mas no momento que olhei para o bebê em meus braços outra vez, ele começou a chorar.

O arroxeado de seu rosto se desfez, ganhando uma cor rosada de pura saúde. Margareth e eu rimos juntos, ambos exaustos. – Ashley tem uma nova irmãzinha. – Observei seu sexo, pronto para lhe entregar.

Mas a mulher adormeceu.

Peguei o punhal sobre o criado mudo e cortei o cordão da mais nova Kingsley da família.

Sorri, admirando a beleza e a pureza do bebê.

Aquela vida recém chegada.

Ela chorava mexendo seus bracinhos, enxutos de sangue e líquido. Suas gengivas tão molinhas estavam a mostra e eu achei aquele detalhe extremamente gracioso.

E então, naquele instante, o desejo de ser pai se instaurou em meu peito.

Talvez... Apenas talvez isso fosse o que me faltava para não desistir de tudo também.

Afinal, era o que eu pretendia após matar Stayne. Morrer dignamente depois de vingar Valentina era uma escolha minha.

Mas acho que o que eu precisava mesmo era ter uma família para cuidar.

Ter uma esposa e ser pai.

Ser um marido que Hamish não é.

E ser um pai que Stayne nunca foi.


Notas Finais


Stayne não tem sorte com os seus aliados né... Hamish cansou de esperar e conseguiu ir pra Wonderland com a ajuda da Val, e ainda surtou quebrando o espelho, Stayne vai ter que esperar mais um pouquinho pra voltar pra Wonderland com a Irace e receber o perdão da Rainha
E VCS, DE QUE LADO ACHAM QUE A IRACEBETH ESTÁ?
Será que ela é mais uma que quer se vingar do Valete?! Aliás, motivo ela tem de sobra!
Ou será que isso é uma armadilha pro nosso mocinho?!


Quem mais tá com rancinho do Hamish ai? Largou a mulher com dois filhos pra criar e ainda por cima a destrata para o Valete...
Stayne aproveitou da situação pra deixar Margareth ferida emocionalmente 💔
E toda essa confusão resultou neste parto surpresa, já que ela estava em seus últimos dias de gestação.

Agora sim, vamos a decisão do Gil de ser pai. CONCORDAM?
Acham que ele seria um bom pai e que no fim das contas, conquistar uma família e ter filhos é o que mais vai ajudá-lo com os traumas passados?!
Hummmmm...!
Digamos que em Wonderland ele já tem uma pretendente.

Comentem! Eu AMO interagir com vcs! ❤


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