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História Apples - Reconhecimento


Escrita por: folklorewriter

Capítulo 4 - Reconhecimento


Fanfic / Fanfiction Apples - Reconhecimento

ἦλθες, †καὶ† ἐπόησας, ἔγω δέ σ' ἐμαιόμαν, ὂν δ' ἔψυξας ἔμαν φρένα καιομέναν πόθωι.

"Você veio [e fez bem], eu ansiava por você, e você serenou todos os meus sentidos que ardiam de desejo."

– Sappho, fragmento 48 (minha tradução).

 

Observo o quadro a minha frente, linhas nervosas pintadas em quase um borrão. Mas, na pressa, ainda consegui retratar bem o mar de Storybrooke. Eu nem sabia o que estava pintando o mar. Deixei Emma em seu quarto e vim correndo para o meu. Minha mente gritava e borbulhava quando eu peguei o pincel. Apenas quando tudo parou de zumbir ao meu redor, notei um mar bagunçado na tela, as ondas caóticas e sem direção, como elas sempre são.

Terminei de pintar até não existir um único pensamento na mente, até colocar tudo para fora, até poder enxergar melhor. Não sei quanto tempo havia passado enquanto eu apenas admirava o quadro, sem qualquer rastro de pensamento na mente. Era bom esses momentos de paz quando nada de negativo percorria em mim.

Aproveito agora para pensar na detetive. As ondas na tela lembram-me os seus olhos, tão incertos e mutáveis, tão verdes de perto e quase azuis de longe. Lembro-me da atenção que encontrei neles, do cuidado. Uma mera estranha que não demonstrou qualquer medo ou incerteza ao me ajudar. Pergunto-me quantas crises ela deve ter presenciado para reconhecer uma antes mesmo dela acontecer. Eu não sabia que aquele tornado de atrevimento em forma de mulher podia ser tão gentil e prestativo. Foi uma surpresa, uma vergonhosa, mas boa também.

Talvez ela só se preocupou com você porque faz parte do trabalho dela. Respiro fundo, não vou deixar esses pensamentos voltarem, mesmo que sejam verdadeiros.

Não sei, apenas não sei. Vou aproveitar que consegui me acalmar e pensar em outras coisas. Henry. Ele deve estar com fome, então desço para fazer o jantar, cozinhar é a minha segunda terapia após pintar.

Como a tarde de hoje foi bem caótica, não vou reclamar que Henry a passou toda jogando. Ele vai precisar de muita distração nos próximos dois meses. E eu também. Vejo no relógio da cozinha: 18h. Já posso abrir uma garrafa de vinho para ver se eu relaxo, é a minha terceira terapia. O meu medo que já quase intrínseco se intensifica nessa cozinha. Esse lugar é amaldiçoado para mim. Só de pensar que o stalker esteve logo ali, me olhando pela janela, eu sempre travo no lugar, a boca sempre seca. Ás vezes quero olhar para fora, às vezes não.

Engulo a taça de vinho, agradecendo pela quentura que a bebida me fornece por alguns minutos. O calor do vapor subindo pela panela também ajuda. Tudo o que puder me aquecer agora, eu usufruo, até o meu coração se esquecer daquela foto. Jantar pronto e posto à mesa, o frio volta. A mesa da sala é rodeada por várias portas de vidro, e lá fora já escurece.

Faço a primeira coisa que me vem à mente:

Regina Mills [18:47]: detetive, apenas para avisar que o jantar está pronto.

Espero mais dez minutos, mas nenhuma resposta vem, e eu tenho que comer em puro medo. Como todos os dias. Eu deveria ser madura o suficiente para ir na cozinha e lavar a louça, mas a verdade é que, quanto mais escurece lá fora e mais sozinha eu fico aqui, não consigo entrar mais naquele cômodo. Deixo os pratos na mesa e subo junto com Henry.

Após contar-lhe duas histórias, o meu filho dorme sobre o meu peito, e eu tenho que me segurar para não cair no choro ao seu lado. Minha fonte de amor e firmeza no mundo. Como eu queria que ele se sentisse sempre seguro. Eu sou capaz de fazer de tudo para que nada desse terror chegasse a ele.

Eu estava quase decidindo ir dormir daquele jeito mesmo, quando o meu celular apita na cômoda.

Emma Swan [21:02]: Desculpa, só vi agora. Estou sem fome. Depois de ler tudo o que está nessa caixa, eu só precisaria mesmo de uma bebida, e olhe lá.

Ah, Emma Swan, sempre tão informal. Pelo menos ela já começou os estudos, a sua eficácia ainda está presente. Então, já que estamos aqui...

Regina Mills [21:03]: Abri um vinho mais cedo, quer terminá-lo comigo? Na área da lareira lá embaixo. A senhorita me fala o que achou das fotos e das cartas.

Emma Swan [21:03]: Te encontro lá em 5 minutos :)

Desço e ligo a lareira, contando cinco minutos na cabeça para esquecer o fato que eu estou sozinha. Já estou sentada o sofá em frente a lareira com duas taças de vinho quando ela desce as escadas. Para a minha surpresa, ela desce com shorts preto, uma regata branca que, por sorte, tem um top azul por baixo. Eu tinha esquecido que não havia motivo para ela se vestir formalmente durante sua estadia da mansão, mas não imaginava que ela ia ficar tão confortável assim. Eu tento ao máximo não descer os olhos pelas suas pernas. Pernas aveludadas e bem definidas, com a aparência de serem bem fortes e grossas. Desci sem querer. Muito rápido. Não sei se tão rápido que ela não percebeu, mas, se percebeu, não demonstrou dessa vez.

— Mills — ela sorri, antes de sentar-se ao meu lado no sofá. Com um pouco de distância, ainda bem. — Tudo bem?

Quase acho aquela pergunta genérica, se não fosse a sua voz suave. O seu rosto podia não demonstrar, mas os seus olhos ainda estavam com aquele brilho atencioso. Ela passa a olhar cada canto do meu rosto como se tentasse me ler, como se buscasse algo de errado para cuidar.

Coço a garganta e, como mais cedo, não respondo a sua pergunta. — Sua taça. — Entrego-lhe o vinho.

— Obrigada — ela responde. — Um brinde ao começo desse trabalho.

Aceito o brinde, mas vou direto ao assunto. — Então, o que você tem até agora sobre o caso?

— Para começar, e sendo bem sincera — Emma toma um gole para se preparar —, creio que você demorou para buscar uma ajuda profissional no assunto.

Eu estou prestes a puxar um longo ar de desagrado para lhe responder, quando ela passa na minha frente.

— Regina, aquelas cartas não são mensagens simples de algum admirador, são cobranças. Ele não quer apenas o seu amor e fazer parte da sua vida, ele quer ter tudo, a sua casa, a sua família e, inclusive, Henry vem sendo citado muito ultimamente. É como se, na cabeça dele, ele tivesse direito a tudo que você é e possui. — Ela deve ter percebido todos os meus músculos tencionando, porque faz uma longa pausa, e me olha com aquele brilho de novo, quase fazendo meu coração sair pela garganta. — É claro que, naturalmente, a primeira pessoa que vem à minha mente é o pai do garoto — Emma continua. — Será que você poderia me contar um pouco mais dele?

— Sim, todo mundo pensou nele primeiro. — Pisco os olhos para diminuir a tontura que eu estava começando a sentir, eu nunca estaria pronta para aquele assunto. — Porém, não existe registro dele em nenhum hotel da cidade e ninguém avistou ele por aqui. — Tomo um gole enorme do vinho para continuar. — Como fizemos escola e faculdade aqui, todo mundo da nossa idade meio que se conhece, ainda mais o casal que engravidou cedo demais. — Reviro os olhos e aponto para mim mesma.

Emma faz questão de não demonstrar nenhuma reação e apenas segue bebericando o vinho, sem retirar os seus olhos do meu rosto. É quase suspeito o jeito como ela nunca demonstra uma reação negativa comigo, nunca me lança um olhar julgador ou questiona os meus medos. O que me dava mais confiança para conversar sobre o caso com ela. — Então, enquanto o xerife e a delegada buscavam pelo nome dele em hospedarias, em aluguéis de carro e na rodoviária, minhas amigas se dividiram e passaram uma semana questionando vários funcionários de estabelecimentos da nossa idade — continuo. — Todos se lembravam dele, mas afirmaram não ter visto ele por aqui. Certamente ele poderia ter mudado de nome, mas não de rosto, e não sobreviveria sem passar em algum mercado, restaurante e, até para tirar as fotos, teria que sair pelas ruas.

— Certo, parece razoável, mas não vou descartá-lo. — Emma muda a sua visão para o bloco de notas – ainda bem, porque eu não sei mais o que fazer para não encarar os seus olhos com a mesma intensidade -, e começa a escrever nele sem parar. — Pode me falar sobre suas amigas?

— São a minha família, as únicas pessoas em que eu confio cegamente. Três amigas, a minha cunhada e a minha irmã, mas considero elas cinco como irmãs.

— Eu sei — Emma diz, ainda sem tirar os olhos do papel. — Úrsula, Ella, Malena, Ruby e Zelena.

Eu sei que todas essas informações eram fáceis de conseguir pelas nossas redes sociais, então, a minha surpresa dura pouco. Desde a entrevista, eu estava me acostumando com Emma usando todas as suas habilidades de detetive na minha vida.

— Os seus pais?

— Os meus pais faleceram quando eu era ainda era de menor, mas como Zelena já era considerada adulta, continuamos morando na mesma casa e ela virou a minha responsável por alguns anos. — Olho para a lareira, era mais fácil do que seu rosto. — E, como eu disse, detetive, minha família é apenas as minhas cinco amigas. Não tem mais ninguém.

— Tudo bem. — Emma continua escrevendo no caderno. — Porém, pelo tom da carta é algo pessoal, é alguém que já esteve em contato com você, que já teve algum tipo de relacionamento com você. Já que não é ninguém com quem você teve alguma relação puramente romântica ou familiar, podemos começar pelo profissional. Essa pessoa é obcecada por você, se não for por já ter sentido da sua paixão, se não for pelo seu dinheiro, então ele pode ter se encantado pelo seu jeito de ser. Com certeza, você deve chamar atenção por onde passa.

Eu permitiria que essas frases tivessem outro efeito em mim, se não me trouxessem apenas medo. Era um obsessor pensando aquilo de mim, não ela.

— Mas ele sabe de gestos específicos seus e ele fala muito sobre algumas sensações profundas que você provocou nele. — A detetive continua. — Então, algum amante? Algum funcionário? Um secretário, assistente, qualquer pessoa que tenha ficava algumas horas ao seu lado no trabalho, até alguém que você saiu apenas uma vez e depois você achou a pessoa meio estranha?

Esqueço do medo para pensar, puxando uma lista de nomes na cabeça enquanto dou dois goles de vinho. — Eu não sou bem uma mulher de encontros. Saí com algumas pessoas, mas nada fora do comum. E eu tive vários assistentes, estagiários e colegas ao longo dos meus anos na prefeitura, seria uma lista grande.

Emma se encosta no sofá, respirando fundo. Ela mesma começa a brincar com a sua taça ao pensar em algo. Bebemos em silêncio por um tempo, nós duas encarando a lareira já quase apagada. Até ela parecer pensar em voz alta. — E se eu pedir por aqueles que já estiveram presente enquanto você fazia algo com o seu filho, ou com as suas amigas, alguém que necessariamente já falou com Zelena e Henry? — Finalmente a encaro em busca de respostas, e ela continua. — Depois de você sozinha, existem muitas fotos de você ou com o seu filho, ou com sua irmã. Então, ele deve conhecer um pouco deles.

Considero o pensamento dela, podia ser um tiro no escuro, mas era a forma mais lógica de começar tudo aquilo. — A lista diminuiria. Nenhum encontro chegou a conhecer Henry. E eu só misturei colegas da prefeitura com minha família em aniversários, mas nunca convidei muitos.

— Ótimo. — Emma parece apreciar essa resposta. — Precisarei de uma lista com os nomes e os endereços de todos que você pensar e também gostaria de uma foto e alguns dados básicos sobre o pai de Henry.

— Providenciarei tudo isso para você, detetive — digo, sentindo a minha tensão se dissipar um pouco por ter algo para fazer e ajudar o caso. — Posso coletar todos esses dados no trabalho e trago amanhã de tarde.

— Então, começo de verdade amanhã. — Emma, de algum jeito, consegue ficar ainda mais atenciosa e explicativa. — Eu vou estudar cada câmera próxima aos locais que foram tiradas as fotos em suas possíveis datas e vou analisar todas as anotações do seu xerife, após conversar com ele. Tentarei melhorar o quadro psicológico do perseguidor e montar um de características físicas com as câmeras e as pistas deixadas no seu jardim, porque com certeza ele deve ter feito algum deslize, eles sempre fazem. — Eu apenas assisto à sua mente funcionando, presa em seus olhos agora arregalados de atenção. — Também percebi que você só tem um alarme de segurança que nem fica acionado durante o dia e não há nenhuma câmera de segurança pela residência. Gostaria da sua permissão para instalar algumas.

— Bem, é, bom — balbucio a palavra, ainda digerindo tudo o que ela falou no último minuto. — Creio que chegou o momento de aceitar que a nossa privacidade já está destruída. Então, fique à vontade. Apenas me avise das mudanças que fizer.

— Avisarei no mesmo dia.

Divido do seu pequeno sorriso, mas levanto-me logo para mostrar que aquela reunião tinha acabado. — Tenho que arrumar as coisas para amanhã. Se quiser, pode continuar se servindo à vontade aqui embaixo.

— Está tudo ótimo, obrigada por me receber tão bem. — Emma também se levanta e busca pela minha taça vazia. — Deixa que eu levo isso para a cozinha enquanto você sobe.

Será que? Não, ainda não deve ter dado para ela perceber que eu não consigo ficar aqui embaixo sozinha à noite.

— Certo, obrigada também, detetive. Tenho certeza que serão ótimos dois meses. Ou talvez menos.

Antes que eu me retirasse, Emma se inclina um pouco em minha direção. Prendo a respiração quando percebo ela se aproximando do meu ouvido, como se fosse me contar algum segredo. Sinto um pouco do ar quente que sai da sua boca sobre o meu pescoço e permaneço imóvel, não querendo quebrar ou piorar o que fosse aquilo.

— Tenho certeza que tudo vai ocorrer bem — ela sussurra contra o meu ouvido, fazendo arrepios percorrerem por todo meu corpo. Eu culpo somente o vinho. Devo estar à beira da loucura.

Tão rápido quanto havia se aproximado, Emma se afasta, e eu me permito respirar. Ela me concede um último sorriso, um quase inocente se a sua alma não fosse lavada em atrevimento. — Boa noite, Mills.

— Boa noite, detetive — respondo, odiando a fraqueza presente em minha voz.

Entretanto, não aguardo mais nada, e viro-me para subir as escadas. Bato a porta devagar para não acordar o meu filho, mas não me junto a ele na cama. Eu precisava me perder em outra pintura.

__

Segunda de manhã. Aquele período promissor da semana, onde os inícios são possíveis. Olho para o lado e encontro Henry ainda adormecido, seu corpo todo estirado em cima do travesseiro. Isso rouba-me um sorriso, é bom acordar assim, sinto falta de quando ele dormia sempre comigo. Olho para o outro e vejo que ainda são 5:10 da manhã. Para quê alarme se o meu despertador natural é tão ansioso quanto eu?

Decido me levantar e descubro que deixei os pincéis todos espalhados pelo chão. No fundo você sempre será desleixada, Regina. Solto um grunhido baixo, vou arrumar isso só depois. Agora, preciso de um café.

Saio para o corredor e noto que a casa está em silêncio. Da ponta da escada consigo ver que a porta do quarto da detetive está fechada. Tudo bem, ainda está cedo.

Decido preparar café da manhã para nós duas, já que Henry provavelmente vai querer só o seu cereal com leite quando acordar. Não sei do que Emma iria gostar, esqueci de perguntar das suas preferências e alergias. Por dedução, decido em torradas e ovos mexidos, ela deve gostar de proteínas para o seu corpo atlético, aquelas pernas não devem se manter de uma alimentação ruim.

O calor da panela e da cafeteira são bem-vindos, mas não são necessários. Os raios de sol desse verão quente entram na cozinha e iluminam tudo, não me permitindo sentir medo nesse horário da manhã .Deixo tudo no balcão e vou até a janela apreciar o meu jardim, ignorando a macieira. Ou pelo menos, tento ignorar a macieira. Mas é impossível quando percebo algo se movendo perto dela, até enxergar uma figura saindo de trás.

Por um segundo, tudo para. Eu não respiro, eu não penso, nem sinto o meu corpo. Minha visão está quase escura quando a figura fica nítida para mim. Antes que minha garganta trancasse, noto os cabelos loiros e o corpo atlético que eu estava quase gravando.

Emma Swan.

Tudo o que eu não estava sentindo chega de vez aos meus sentidos. Abaixo a cabeço e respiro fundo, impedindo mais uma crise de chegar. Percebo o meu coração palpitando, parecendo que quer explodir para fora do meu peito. Respira, Regina, respira.

— Regina?

Olho para cima, forçando um sorriso, o mundo ao meu redor ainda girando. — Detetive.

— Está tudo bem?

Emma não tem nem 48h nessa casa e já me perguntou isso quatro vezes. Para variar, não respondo.

— Pensei que você estava dormindo. — Consigo focar nela e percebo que ela está com um top e um short de corrida. Só consigo gravar um borrão de abdômen trincado antes de lembrar de erguer meu olhar. O meu coração palpitando agora por outro motivo. Seguro o meu olhar no seu e não ouso descê-lo. Como se fosse melhor encarar bochechas vermelhas e um sorriso lindo com covinhas do que seu corpo musculoso. Regina, pelo amor de Deus.

— Eu sempre corro de manhã — Emma explica. — Aproveitei esse campo infinito que você chama de jardim e corri por aqui. Conheci a área da piscina e da churrasqueira, ainda descobri uma área de lazer com uma jacuzzi atrás da casa.

— Que bom que você fez o seu próprio passeio pelo terreno, detetive — respondo.

— Estava voltando e decidi verificar a macieira. — Ou ela percebeu que eu precisava de uma distração, ou só estava no seu normal estado de ousadia, porque logo ela passa os braços pela janela e os apoia no balcão, quase tocando as minhas mãos. — Espero não ter te assustado.

— Apenas não sabia que você estava aí fora, acabei de fazer o que café agora. — Mesmo já sentindo o formigamento dos seus dedos perto das minhas mãos não faço questão de movê-las por puro orgulho. — Por que não vem tomar café da manhã.

— Você fez café da manhã para mim?

— Claro, por que não?

Juro que não sei o que é, talvez seja esse magnetismo curioso em seus olhos, talvez seja a minha vontade de retribuir o conforto que ela me entregou ontem, mas, sem pensar, estico minhas mãos até as pontas dos nossos dedos se encontrarem.

A face de Emma está neutra quando ela olha para baixo, sem ousadia e sem surpresa. O que não está neutro é o meu corpo. Minhas pernas estão trêmulas quando eu sinto Emma alisar a minha mão, um arrepio frio atravessando os meus braços até o meu pescoço, colo e seios. Agradeço por estar de sutiã.

Como pode a mulher na minha frente está suada enquanto eu sinto o meu corpo todo reagindo à calafrios?

Uma de suas mãos cobre a minha, e é tão quente, tão macio, até que percebo o seu olhar voltar a ficar curioso enquanto alisa a minha mão.

— Isso é tinta?

Sigo o seu olhar e percebo a mancha que ela fala. Quase na parte de dentro do meu polegar tem um pouco de tinta azul. Com certeza, de ontem. Os limites ficam claros para mim e retiro a minha mão do seu agarre, não quero ela tão próxima assim. — O café vai esfriar, detetive — digo e viro-me para cozinha.

Não demoro para escutar a porta do jardim se abrindo. Emma entra na cozinha como se já tivesse feito aquele caminho várias vezes. Escuto ela atrás de mim, e tento me concentrar enquanto coloco café para nós duas.

Para a minha surpresa, ela só se senta na mesa, não dizendo mais nada. Eu penso que ela é muitas vezes inapropriada. Mas, tem alguns momentos que eu sinto como se eu quem estivesse reagindo demais. Não tenho culpa. Sou levada pelo momento, e é bom. Mas não é o certo, a realidade das coisas não me permite sentir isso. É só... tudo muito estranho.

Quando coloco o café de Emma na sua frente, ela busca pela minha mão com uma leve hesitação. O formigamento voltando para o meu corpo.

— Obrigada, Regina, de verdade — ela diz com um pequeno sorriso. — Eu estava morrendo de fome.

Concedo-lhe um sorriso de volta. — Correr faz isso com você. — Aperto a sua mão, antes de soltá-la. — Já me junto a você, vou acordar Henry.

O café foi sossegado entre nós três, mais do que eu esperava. Tudo desatinou quando Emma perguntou sobre o joguinho eletrônico nas mãos de Henry e ele se abriu para não se calar mais. Emma realmente tinha algum poder de derreter as pessoas aos poucos.

Até que subimos para nos arrumar, e deixei Emma na cozinha. Quando eu desço já arrumada e pronta para sair, percebo que ela já lavou os pratos e deixou um bilhete na geladeira.

Meu celular está descarregado lá em cima. Estou indo tomar banho para ir à delegacia. Anota o endereço para mim, por favor.

Obrigada pelo café, estava delicioso :)

Swan

Me pego sorrindo quando termino de ler. Ridículo. Bilhete é algo tão clichê. Mesmo assim, busco pela caneta e outro papel do bloco de notas.

Delegacia: Rua Margarida, 219.

Observo o papel enquanto tento segurar outro sorriso. Não, Regina, não faça isso. Eu ia colocar o papel na geladeira, eu ia. Mas releio a mensagem e, antes que a voz na minha cabeça tivesse chance de dizer algo, completo:

Obrigada por ontem, por ter me ajudado na sua suíte... e obrigada pelos pratos, não precisava.

Tenha um ótimo dia hoje, nos falamos mais tarde com a atualização do caso.

Mills


Notas Finais


Poupei vocês de comentários iniciais, porque, quando eu falo delas, eu surto de um jeito que pareço mais leitora do que autora da história. Então, deixei com que vocês surtassem sozinhos ao longo do capítulo <3 espero que estejam gostando!


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