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História Apples - Senhorita Swan, Eu Não Flerto


Escrita por: folklorewriter

Capítulo 3 - Senhorita Swan, Eu Não Flerto


Fanfic / Fanfiction Apples - Senhorita Swan, Eu Não Flerto

"Mas sei que o meu coração
Tá batendo mais forte
Porque você chegou."

– Vander Lee, Iluminado.

 

Detesto sentir qualquer mínima decepção, porque eu sei que a única culpada por esse sentimento sempre será eu mesma, e não os outros, já que fui eu quem depositou muita expectativa em algo. Nada nesse mundo merece meu voto de confiança. Calma, Regina.

Respiro fundo apesar da situação. A detetive está atrasada, e as minhas mensagens não estão chegando ao seu celular. Ou ela está perdida na estrada, sem sinal, ou desistiu do caso e me bloqueou.

De qualquer forma, sinto-me uma besta em estar sentada no escritório de casa há duas horas com o contrato em mãos e sem a detetive. Talvez a culpa seja minha mesmo por ter esperado tanto por esse domingo. E tanto para conhecê-la.

Resolvo trabalhar enquanto espero. Ignorar a preocupação que cresce em mim é a única coisa que eu posso fazer agora. Quando consigo me concentrar, a campainha toca.

Desperto na hora, uma estranha e forte sensação de esperança passeando pelo meu corpo. Era agora. Vou conhecer a detetive, o caso vai ser solucionado e vai dar tudo certo. Ou poderia ser uma psicopata na minha porta. Ou o maior erro da minha vida. Ou absolutamente nada. Talvez o caso nem se resolva. Talvez o stalker consiga chegar até mim. Talvez seja ele agora na porta. Ou não é nenhum dos dois, apenas uma das minhas amigas. Não, elas têm as chaves. Respira, Regina!

De qualquer jeito, não consigo me mover na cadeira. Fico estática, até a campainha tocar de novo e escutar o meu filho gritando.

— Tá! Eu atendo.

Isso me faz pular para fora da cadeira.

Quando chego à sala, só vejo o jogo do meu filho pausado, e o controle do videogame jogado no sofá. Antes de conseguir formular qualquer pensamento, escuto a porta principal se abrindo para além do longo corredor.

— Quem é você? — Escuto ele perguntando e sinto o sangue correr frio pelo meu corpo. Corro para atravessar a sala até ouvir uma voz quase familiar.

— Você não deveria abrir a porta assim para qualquer um sem perguntar antes, ainda mais com o perigo que você e a sua mãe correm.

Era a detetive.

Eu me aproximo ao mesmo tempo que vejo o meu filho batendo a porta tão rápido que eu só consigo perceber uma mancha verde do lado de fora.

— Henry?

Ele me encara com olhos assustados. — Era uma mulher dizendo que estamos em perigo.

O meu coração pesa no peito, minha garganta fechando-se em culpa. Por mais que eu estivesse acostumada a sentir medo quase o tempo todo, nunca estava preparada para ver o meu filho com o mesmo sentimento. — Está tudo bem, querido. — Aliso o seu cabelo e desço para segurar a sua bochecha com delicadeza. — É só uma nova colega da mamãe. Fique aqui. — Quando o vejo mais calmo, viro -me para abrir a porta. Como eu queria ter me preparado antes.

Tudo chega ao meu campo de visão ao mesmo tempo: olhos verdes, nariz e lábios finos, bochechas vermelhas e cabelos loiros. Desço o olhar e descubro que o borrão verde que eu havia visto era uma blusa social de seda quase da mesma cor que os olhos da sua dona, o que só fazia realça-los mais ainda. Noto uma calça jeans e botas pretas, antes de subir o olhar novamente.

É Emma Swan ali. Emma que agora faz o mesmo passeio detalhado pelo meu rosto e corpo. O sol se pondo atrás dela só contribui para acender o loiro que descia feito uma cascata dourada pelos seus cabelos, criando uma aura iluminada e calorosa ao seu redor. Parecia até que a mulher fizera um acordo com o próprio sol.

Só percebo que estava estática no lugar quando noto a detetive coçando a garganta. Puxo uma boa quantidade de ar e tento sorrir. Jesus, há quanto tempo eu estava sem respirar?

— Detetive? — Quase me assusto pela rouquidão na minha voz, mas consigo manter um pequeno sorriso. — Pensei que não viria mais.

Emma parece relaxar e retribui o meu sorriso. — Bom, a sua cidade não é uma das mais fáceis de encontrar. — Ela estende-me a mão direita. — Detetive Emma Swan.

Aperto a sua mão em reflexo, a sua palma é tão macia, dedos finos e longos que se encaixam de forma certa em volta dos meus. Sensação estranha, mas boa. Solto a sua mão com mais hesitação do que eu pretendia, só não entendo o formigamento quente que ficou pela minha pele em todos os pontos que a mão dela tocara a minha.

— Regina Mills — respondo em modo automático e abro mais a porta. — Por favor, entre.

Meu Deus, está acontecendo. Onde eu estava com a cabeça?

Respira, Regina, respira.

Emma passa por mim exatamente quando respiro. Sou atingida pelo seu cheiro suave e cítrico, quase frutado. Um cheiro calmo. Pelo visto, a mulher fizera um acordo com o próprio vento também.

Enquanto ela passa por mim, desço o olhar para a sua calça de novo. Por curiosidade, é claro. Ela tinha um corpo quadrado, mas magro. Com certeza malhava, pois, suas pernas eram torneadas, e os seus glúteos eram bem marcados pela sua calça apertadíssima. Era uma excelente visão. Não me sinto culpada, afinal o único motivo é conhecê-la melhor. E admirar alguém ainda não era crime.

Passo a língua entre os lábios que ficaram secos sem motivo. Ao recuperar a minha concentração, percebo ela se virando para observar uma figura atrás das minhas pernas. Henry. O meu filho cruza os braços e mantêm os olhos semicerrados em sua direção, fazendo Emma me encarar, buscando por ajuda. Solto um sorriso ao perceber o que estava acontecendo.

— Talvez você dizer que estamos correndo perigo não foi um dos melhores cumprimentos — digo, alisando o cabelo dele de novo.

Emma assente o seu entendimento, e eu podia ver que ela estava tentando não sorrir também. — Oi, garoto. — Ela dá um leve aceno em sua direção, mas ele não se move. Sempre considero que a minha desconfiança passara para ele.

— Henry — chamo a sua atenção com o meu melhor olhar repressivo de mãe —, a senhorita falou com você.

É o suficiente para ele desmanchar os braços e estender a mão. — Henry Mills.

— Emma Swan. — Ela deixa seu sorriso escapar enquanto aperta a mão dele. A minha própria mão gelando com a cena, como se estivesse lembrando da sensação que foi ter a palma macia dela contra a sua. Apenas ignoro.

— Muito bem — informo, passando por eles. — Detetive, venha comigo até o meu escritório, por favor.

Não foi preciso falar duas vezes, Emma se despede de Henry e me segue, começando a prestar atenção no interior da casa. Atravessamos o corredor, passando pela porta da cozinha e do lavabo, até chegarmos na sala de estar. Percebo Emma diminuindo o seu andar para encarar cada canto das áreas principais, todas iluminadas pela luz natural que atravessava as portas de vidro. Era impossível saber o que ela estava pensando. O seu olhar parecia de surpresa e de análise, mas não dizia nada.

Ao entrar no meu escritório, sento-me e espero ela fazer o mesmo. — Não se preocupe com Henry. Ele demora para se acostumar com estranhos, mas não irá te atrapalhar no caso.

— Vocês são engraçados — Emma responde, e logo a encaro com certa dúvida. Não entendi o comentário, mas também não encontro ironia em sua face, o que é bom. Vamos ao que interessa.

— Estou com todos os documentos prontos — digo, buscando uma pequena pasta preta da gaveta. — Aqui está o contrato idêntico ao que eu te mandei. — Estendo os papéis por cima da mesa. — Confira-os, por favor.

— Certo.

Aproveito para observá-la lendo. Ela é linda. E confiante. Não sei se é apenas encenação, mas ela parece saber o que estava fazendo. Se concentrava fácil e não mostrava qualquer tipo de ansiedade, suas sobrancelhas franziam em algumas cláusulas, mas ela não perdia o foco. Sobrancelhas só um pouco mais escuras que a cor do seu cabelo, e finas, para combinar com o seu nariz estreito. Agora que eu percebo que ela tinha algumas sardas que se espalhavam para as suas bochechas, o que era adorável, considerando as suas maçãs altas e rosadas. Regina. Ignoro a minha mente só para descer um pouco o olhar. Mas, quando paro em seus lábios, ela levanta o rosto.

Estico-me na cadeira em surpresa. Sinto minhas bochechas aquecendo e me seguro para parecer normal, eu só tinha a mim mesma para culpar. Bom trabalho, Regina, bom trabalho. Você com certeza parece séria.

Emma volta a ler, mas se tenta não demonstrar qualquer reação, ela falha, porque há um novo sorriso em seus lábios e daqui consigo ver uma sobrancelha arqueando. Era só o que me faltava. Mas, que mulher.

— Parece tudo certo — ela responde ao acabar, a sua voz pingando ainda mais determinação. Olhos verdes afiados subindo para cravar nos meus. —  Penso que podemos preenchê-lo agora.

— Perfeito. — Preciso voltar para o meu foco. Busco pelo papel e passo a preenche-lo. — Certo, detetive, nosso prazo está estipulado para dois meses. O valor já acertamos. Metade no início e metade ao final dos dois meses — explico e insiro a quantidade certa na cláusula de número quatro. Passo o olho nas três folhas restantes e confiro que está tudo certo. Logo, seria oficial. — Pronto, Swan, preencha o seu cabeçalho e assinamos.

— Está bem — diz ela, buscando pela caneta na minha mão.

Ela estava começando a brincar comigo, ou eu estava ficando neurótica. Porque eu posso jurar que, por um instante, Emma alisou a minha mão mais do que era necessário para pegar uma simples caneta. Mas, antes que eu pudesse sair desse pensamento ou até mexer a minha mão para que parasse de formigar, Emma devolve todo o material e o coloca em cima da minha mesa.

Era oficial. Minha intuição zumbia com a estranheza disso tudo, mas era oficial.

— Bom, detetive, está feito. — Solto o meu melhor sorriso político para não precisar estender a minha mão e apertar a dela. Já estava muito agoniada. — Amanhã levarei o contrato comigo até a prefeitura.

— Ok. Como vamos fazer amanhã mesmo?

— Infelizmente, não tenho tempo para te levar na delegacia antes do meu trabalho, porque tenho que deixar Henry na escola. Mas eu te enviarei a localização e, quando você chegar lá, o xerife David Nolan irá te receber e te mostrar todo o material que você vai precisar. — Levanto-me e indico para ela me seguir até a porta. — Mas, vamos, eu tenho muito o que te mostrar ainda. Acompanhe-me, por favor.

Passamos por Henry jogando e eu não pude deixar de perguntar. — Como é você com crianças?

— Sou boa, eles costumam a gostar de mim — responde, antes de me lançar um olhar brincalhão. — Bom, quando não tentam acertar o meu lindo rosto com uma porta.

Passo a lhe encarar com incredulidade e descrença apenas para receber outro sorriso convencido seu. Que falta de profissionalismo. Reviro os olhos e sigo para o meio da sala, fingindo ignorar o seu comportamento. A pior parte? Eu não tinha como eu negar a sua afirmação.

— Essa parte do fundo toda é o quintal — explico, apontando para todas as paredes de vidro da sala. — Tem um jardim imenso que leva para uma extensão de terra e abaixo desse morro está o rio da cidade que deságua no oceano. Outro dia você pode conhecer melhor a área.

— Parece um lugar difícil de ter acesso— aponta Emma.

— Parece, mas há a entrada pela floresta onde fica a rua, quem atravessa a mata sai na minha churrasqueira. — digo.

— Bom saber. O stalker pode ter usado esse caminho.

— E acho que ele usou. — Mudo em direção a cozinha, percebendo de canto de olho que ela me seguia. — Aqui é a cozinha, você pode se servir à vontade enquanto estiver aqui — digo e começo a andar até a janela que eu mais odiava. — Você vê aquela macieira? — pergunto.

— Sim — ela responde, e eu percebo que ela está do meu lado agora, o seu cheiro cítrico de volta.

— Foi o local mais perto da casa que o stalker já esteve. Pelo menos, é o que sabemos através de uma foto. —  Arrepios surgem nos meus braços com a visão da macieira, aquele lugar sempre me dava medo e desesperança, tirava tudo de bom e forte que havia dentro de mim. Era a minha insegurança em forma de cultivo.

— Espera. — Olho para Emma e ela está séria de uma forma que eu ainda não havia visto, ela olha para mim e para a macieira várias vezes. — O seu perseguidor já esteve a três metros da sua casa?

Além de uma certa preocupação, tinha até raiva na fala dela? Uma raiva valente que até dissipou um pouco do meu medo. Sim, a petulância dela tinha algum serviço. — Venha. Vou te mostrar — chamo, indo até a escada ao lado do corredor.

Emma me segue escada acima. Eu apresento a única porta à esquerda como a minha suíte, antes de seguir para o corredor à direita com três portas. — Essa primeira porta é um pequeno quarto de visitas com duas camas de casal. É aqui que parte das minhas amigas dormem quando têm festas aqui.

— Festas aqui? — Emma indaga, soprando uma risada.

Por algum motivo, solto um sorriso. — Em algum momento você vai conhecer a minha família e vai saber que elas são um pouco agitadas. Minhas amigas, bom, minhas amigas eram peças raras, e a minha casa é sempre a casa das festas. Não sou tão animada assim, mas eu gosto.

Começamos a andar lado a lado no corredor até as últimas duas portas. Percebo que a detetive está com uma expressão de pura reflexão no rosto, até que me encara de volta com um sorriso, os seus olhos antes afiados, agora meigos, pequenos. — Penso que todos nós temos um jeito de escapar um pouco da nossa rotina.

Sinto um estranho embrulho no estômago. Emma sem a sua ousadia e com um sorriso carinhoso era, bom, era um pouco diferente. Você nem conhece a mulher, Regina, pelo amor de Deus. Mesmo assim, devolvo o seu sorriso. — Qual seria o seu meio de escapismo, então, detetive? — Pergunto, voltando a andar até o final do corredor.

Emma espera estarmos viradas uma para outra entre as portas para responder. — Eu tenho alguns. Mas é errado eu considerar que resolver casos é a minha forma de escape?

— De fato, seria uma resposta contraditória, já que esse é o seu trabalho. — Tento pensar na pergunta certa. — A não ser que você queira fugir de outra coisa?

— Pergunta difícil — Emma ri, passando a mão pelo seu cabelo, soltando ainda mais os fios dourados e volumosos, era difícil não olhar para esses ondulados se desmanchando. —Acho que só da chatice do dia-a-dia — Emma responde. — Eu me torno uma pessoa mais desperta e determinada quando estou em um caso.

— Eu imagino. — Aprecio a sua resposta. — Os seus olhos até mudaram de cor quando eu falei da macieira.

Percebo o meu erro no momento que um sorriso convencido volta para lábios finos.

— Os meus olhos? — Emma pergunta, agarrando o seu lábio inferior com os dentes. Merda! — Mudaram de cor?

— Qual é o problema? — Cruzo os braços, tentando ignorar a forma como o meu coração começa a palpitar forte no peito. Com certeza ela podia escutar.

— Nada. — Emma nega com a cabeça, ainda sorrindo. — É só que ninguém havia feito uma observação desse tipo para mim.

— Desse tipo, detetive?

— Sim. É como se fosse um elogio bom e um flerte ao mesmo tempo.

Dou um passo para trás, quase cambaleando, e agradeço por ser segurada pela porta. Como você chegou a esse ponto, Regina? Conserto a minha postura e busco pela minha voz. — Senhorita Swan, eu não flerto.

Emma só ergue uma sobrancelha na minha direção. Meu Deus, e ela ainda estava com aquele lábio entre os dentes. Faz alguma coisa, Regina! Olho para qualquer lugar menos para o rosto dela e entro em modo automático. — Essas são as suítes com as varandas voltadas para frente da casa — falo mais rápido do que eu pretendia, quase me engasgando. — À direita é o quarto de Henry. E esse aqui será o seu. — Abro a porta que eu estava amparada antes para ela passar, o seu cheiro cítrico me invadindo de novo. Que inferno de mulher cheirosa!

Enquanto ela admira o local, tento me acalmar para não desatar o nó de estresse em mim que se transforma em ansiedade.

— Aquilo é um piano? — Tenho certeza que ela falou outras coisas antes, mas só aquilo chama minha atenção.

— Sim — respondo seca, querendo mudar de assunto. — Creio que arrumei tudo, os lençóis e as cobertas são novos, também lavei as cortinas — explico e começo a apontar para os móveis enquanto circulava o cômodo. — Esse armário é só de toalhas e roupas de cama. Já o lado direito do guarda-roupa está livre para você, o lado esquerdo só tem brinquedos ainda fechados de Henry e roupas mais pesadas de inverno. — Ela assente e eu vou até a porta do banheiro. — Aqui também está cheio de produtos higiênicos e uma escova nova. — Fico do lado na entrada para Emma olhar todo cômodo, ainda segurando a maçaneta. — Mas se precisar de algo a mais, só me avisar.

— Certo, eu aviso.

— Bom, e agora para a parte séria. — Viro-me e vou até a mesa onde já deixei a maldita caixa vermelha. — Eu trouxe isso para que ficasse com você. Tudo o que eu recebi está aqui, inclusive a foto que foi tirada na macieira. Você só terá acesso às câmeras da cidade e todo o trabalho feito até agora quando for para a delegacia. Mas, tudo que foi entregue diretamente para mim, está aqui.

Emma parece até outra pessoa agora, o seu rosto travado e a sua postura rígida enquanto se aproxima para buscar a caixa. Percebo até uma certa raiva presente em olhos claros quando ela abre o recipiente e vê alguns documentos por cima. Talvez eu tenha feito a coisa certa.

— Isso parece bastante preocupante, Regina — Se ela soubesse o medo que estava sempre presente em mim, ela saberia que não precisava me afirmar isso. — Não vejo a hora de me afundar no caso e, claro, resolvê-lo o mais rápido possível.

— Ótimo — respondo, não sabendo mais como me comportar com ela tão séria e atenciosa. A Emma audaciosa já me desequilibrava, mas essa Emma determinada e responsável já era um novo patamar de nervoso que eu não queria nem pensar em adentrar muito.

Olho para baixo e dou de cara com a foto da macieira. Maldita seja. Sinto as minhas mãos gelarem na hora e o enjoo surgir na boca do meu estômago. Tudo dentro dessa caixa despertava em mim as piores das sensações, até aflorarem em grandes crises. Detestava, abominava aquilo tudo.

— Está tudo bem? — Escuto a voz de Emma retirando-me dos meus pensamentos. Só agora percebo que ela está encarando as minhas mãos. Sigo o seu olhar e o enjoo ficou ainda mais forte, trancando a minha garganta com força.

Minhas mãos começaram a tremer, os primeiros sinais do desatar do estresse estavam evidentes e eu não havia percebido. Eu tenho que ir embora dali só por um segundo, quero sair da presença de Emma antes que o meu corpo se entregue a uma ansiedade que eu não controlo.

Mas é claro que, antes de eu conseguir fazer qualquer coisa, de todas as opções possíveis que Emma tinha naquele momento, ela decide largar a caixa na mesa para segurar as minhas mãos. Foi a última coisa que senti, antes da tontura me invadir. Era muita coisa rodando na minha cabeça: stalker; ameaças; a detetive; a macieira; o caso; essas mãos macias; olhos verdes atenciosos; medo; falta de ar; perigo. Tudo rodopiando em alta velocidade pela minha mente, tudo muito forte, sufocante e turvo.

— Regina, respira comigo — escuto a sua voz de novo. Pisco os olhos e vejo a palma da minha mão sendo apoiada contra o seu seio. — Sente como eu respiro fundo, está vendo? — Seu seio subia e descia, sua pele quente mesmo através do tecido de seda, e eu só concordo. — Pronto, agora respira comigo.

Não tenho outra escolha, apenas sigo seu comando, era a coisa mais lúcida que entrava na minha mente agora. Assim que a imito, a névoa na minha vista vai se dissipando, e começo a perceber algumas coisas: as minhas mãos estavam geladas e a minha boca aberta, puxando todo o ar que eu conseguia.

Já conhecia o que era aquilo e fecho os olhos, levando meu tempo para sair da crise que Emma mal me permitiu entrar. Que vergonhoso, Regina, que vergonhoso.

Ela solta a minha mão, e a minha vergonha triplica. Já ia me afastar, mas as suas mãos voltam, dessa vez passeando pelos meus braços em um carinho lento. Permito aquele cuidado até voltar a ter controle da minha respiração. Era quase bom esse conforto, se não fosse agonizante.

A realidade da situação chega até mim em um choque assim que me acalmo. Em um pulo, afasto-me dela e do seu carinho.

— Tudo bem — Emma fala primeiro. — Está melhor?

Tudo o que eu pretendia falar morre na ponta da minha língua quando eu vejo pura preocupação em seus olhos, as linhas do seu rosto demonstrando certa aflição.

— Você precisa de algo? — Ela insiste.

O susto passa, mas minhas bochechas continuam ardendo em vergonha. — Não. — Coço a garganta e evito o seu olhar. Começamos bem, Regina.

É nesse momento que eu percebo que essa mulher vai ficar aqui por dois meses. Não que eu estivesse arrependida de ter Emma aqui, até porque, se o trabalho dela era me proteger, ela já se mostrou determinada e pronta para tal. Eu só precisava de um tempo. Uma pausa.

— Deixarei você se acomodar e começar os seus estudos – falo e praticamente corro até a porta. Já havia passado vergonha mesmo.  — Aviso quando o jantar estiver pronto.

Com isso, bato a porta do quarto, sem dar chance para detetive falar algo que bagunçasse ainda mais os meus pensamentos.


Notas Finais


É literalmente essa mesma energia aí até o final (talvez pior).


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