Sakura surpreendeu-se com a paciente inesperada.
- Hinata?!?
- Bom dia, Sakura-san, quer dizer, doutora...
Sakura saiu de trás de sua mesa, para abraça-la.
- Para com isso, você sabe que não precisa me chamar de doutora! - ela retornou à sua poltrona, indicando a cadeira a sua frente, para a morena. - Está tudo bem? Ah, já sei, você está sentindo os efeitos colaterais da noite de ontem? Nossa, eu amanheci com a maior dor de cabeça!
- Ah, não, não é isso, estou bem. Ficou tudo bem na sua casa? Os seus pais?
- Sem problemas... Eu subi direto pro meu quarto e desmaiei, eles nem me viram chegar.
Sakura sorriu, sendo retribuída pela Hyuuga.
- Mas então, o que traz você aqui, no consultório? Sua última consulta de rotina foi há poucos meses...
- Hm, bem... Digamos que é uma consulta preventiva... - respondeu, corando. - Sakura-san, vou ser direta, porque isso é bem constrangedor, mas... Eu gostaria que você me orientasse sobre o uso do anticoncepcional.
Sakura, que levava uma xícara de café à boca, engasgou-se, arregalando os olhos. Hinata pulou da cadeira, dando a volta na mesa e batendo nas costas da rosada.
- T-tudo bem, j-já passou... Por favor, sente-se. - Sakura pediu, recuperando-se. Após uma breve pausa, tornou a falar. - Você e o Naruto já...
- Não, ainda não, mas, talvez, venha a acontecer... quero me prevenir... A Kurenai-sensei me falou por alto, mas eu queria a sua opinião e orientação profissional.
- Sim, sim, claro. Mas, Hinata... O Naruto não tá te forçando a nada não, né? Ou te pressionando?
- Não, muito pelo contrário, ele tem sido super cavalheiro. - a essa altura, Hinata estava da cor de uma beterraba, encarando os próprios pés - Apesar de eu sentir o quanto ele quer, ele sempre se afasta quando as coisas começam a passar um pouco dos limites... O caso é que isso só me faz ter ainda mais certeza de que ele é a pessoa certa. Sabe... eu acabei descobrindo que, quando a gente ama alguém como eu o amo, a proximidade com essa pessoa nos faz querer mais e mais... o pacote completo...
- Oh, vocês são tão fofos! - Sakura disse, com olhar sonhador. - Eu posso apenas imaginar o que é isso, mas acho que compreendo totalmente o que você quer dizer!
Após uma explicação detalhada, Sakura advertiu a Hyuuga.
- Lembre-se, Hina, você só deve começar a tomar o contraceptivo no primeiro dia do seu ciclo. E os primeiros dias não são seguros, então, se acontecer, vocês terão de usar a camisinha! Como eu disse, é sempre bom usar, na verdade, pra proteger de doenças.
- O-ok... Obrigada, Sakura-san.
- Não há de quê! Boa sorte!
Mais alguns dias passaram-se, com um clima de tensão deliberadamente instalado entre o casal. Eles não haviam trocado uma só palavra sobre a noite do hanami. Enquanto, de um lado, Hinata não tinha a coragem necessária de declarar seus sentimentos, de outro, Naruto evitava, a todo custo, aprofundar qualquer contato mais intimo. Nem ao menos ficavam mais a sós. Naruto sempre marcava os encontros na casa dos Hyuuga, ou no Ichiraku ou em qualquer lugar onde houvesse bastante gente. O período menstrual de Hinata chegou e, com ele, a dúvida se era isso o que ela realmente queria. Ficou olhando demoradamente para a cartela de anticoncepcional que Sakura havia lhe entregado. Relembrou as sensações que a proximidade do corpo de Naruto trouxera. Afastou todos os medos e inseguranças bobos para o fundo de sua mente e deixou seu instinto e sentimentos falarem mais alto. Sim, de alguma forma, aquilo apenas lhe parecia certo e natural. Engoliu a primeira pílula.
Uma semana depois, Hinata retornara de uma missão e eles haviam combinado um jantar no Ichiraku. Estavam deixando o local quando a jovem notou como a noite estava escura. O céu encontrava-se totalmente nublado e logo uma trovoada sinistra anunciou a tempestade iminente. Segundos depois, um clarão cortou o céu de ponta a ponta e grossos pingos de chuva começaram a cair, impiedosamente, fazendo todos os transeuntes correrem, em busca de abrigo. Hinata e Naruto conseguiram chegar até o hall de entrada do prédio em que o ninja morava. Ficaram lá por alguns minutos, aguardando, em vão, a chuva amenizar. Embora, internamente, muito relutante em ficar a sós com a namorada em seu apartamento, Naruto viu-se sem alternativa. A chuva estava extremamente forte e não demonstrava sinais de melhora, e o frio começou a tornar-se opressivo. Convidou-a a subir.
Uma vez dentro do apartamento, Hinata perguntou se havia chá no local, para que ela fizesse, de forma a aquece-los. Naruto indicou o local na dispensa. Enquanto ela encontrava-se ocupada, na cozinha, o Uzumaki aproximou-se da janela, desejando que a chuva passasse logo. Minutos depois, a morena aproximou-se, com xícaras fumegantes em mãos. Eles sentaram-se à mesa.
- Essa chuva veio de surpresa, fez um dia tão bonito...
- É verdade.
- Que bom que ainda tá cedo. Acho que dá tempo de passar até a hora de você voltar pra casa.
- Sim, acho que sim. Mas mesmo se já fosse tarde, o papai iria entender. Está muito forte.
- Sim. - Naruto deu um gole no chá e continuou, após uma pequena pausa. - essa tempestade me lembra aquela, da primeira noite que passamos juntos, na sua casa.
- Realmente. Estava lembrando disso também. - A kunoichi estremeceu levemente.
Naruto notou que as roupas dela estavam um pouco molhadas, apesar do esforço dos dois em escapar da chuva. Ele mesmo retirara o casaco que vestia, assim que cruzaram a porta, ficando apenas com a camiseta que estava por baixo.
- Eu vou pegar uma camiseta seca pra você. Está frio, você pode se resfriar.
Hinata pensou em recusar, por vergonha, porém assentiu. Ele tinha razão.
- Pode se trocar no banheiro. - Naruto falou, entregando-lhe a peça.
Hinata seguiu até o banheiro. Retirou sua blusa molhada e colocou a roupa de Naruto. Trouxe a camiseta até o nariz. Estava limpa mas, de alguma forma, ainda tinha o cheiro dele.
Quando voltou, Naruto estava mais uma vez parado próximo a janela, embora seu olhar parecesse vago. A chuva lá fora permanecia a mesma. Hinata queria chama-lo, ainda que não soubesse ao certo o que dizer. Na verdade, sabia muito bem o que gostaria de falar, só não sabia como. Aproximou-se, a pulsação acelerando. Era seu corpo reagindo à simples oportunidade de estar perto dele, a sós.
Naruto estava de costas e não ouvira seus passos, mas o arrepiar de sua espinha e o bater forte do seu coração anunciaram o seu regresso. Virou-se e sorriu.
- Bom, você deveria ficar com essa camisa, porque, em você, fica linda.
E o quê não fica lindo nela? Pensou, vendo-a sorrir e corar levemente. Hinata deu mais um passo, ficando ainda mais perto.
- Na-naruto-kun, eu acho que precisamos conversar...
- Da última vez que ouvi essas palavras de você, tinha feito burrada, então, você acaba de me deixar bem preocupado... o que eu fiz agora?
- Nada, além do fato de me deixar cada dia mais apaixonada.
As pupilas do ninja dilataram. Ele sentiu vontade de averter o olhar, porém, não pode. Seus olhos estavam presos aos dela, como um imã. Ela estava corada, mas seu olhar era firme, decidido. Um olhar que o deixou impactado. Mudo.
- O que eu quero dizer, Naruto-kun, é que eu preciso de você... Do seu olhar, do seu toque, do seu beijo... - Hinata desatou a falar em um atropelo, temendo que a repentina coragem lhe faltasse. -Sabe todas aquelas coisa que você me disse que estava sentindo por mim? É recíproco! Só que você continua se afastando de mim, porque prometeu me respeitar e eu acho isso lindo, a intenção por trás dessa atitude, mas...
- Mas?
- Mas eu também quero estar perto de você, te sentir... E isso não é falta de respeito. Seria, se eu não quisesse, mas eu quero...
Naruto não sabia muito bem o que pensar e, menos ainda, o que dizer. Estavam bem próximos um do outro, frente a frente. a única coisa que separava seus rostos era a diferença de altura. Não se tocavam. Após uma breve pausa e uma respiração profunda, Hinata continuou.
- Eu não sei se está fazendo sentido pra você o que estou falando, mas o que eu quero é que nós possamos agir naturalmente, sem ficar nos retraindo. E se isso tomar um caminho mais profundo, vamos deixar acontecer o que tiver de acontecer... Se eu achar que devemos parar, eu falo, eu prometo. Só não quero que você pressuponha nada por mim.
Naruto abriu e fechou a boca algumas vezes, sem emitir qualquer som. Até finalmente conseguir pronunciar o seu nome, em um fio de voz.
- Hinata...
- N-naruto-kun, eu quero que você prometa que não vai mais se afastar de mim, a não ser que eu peça. E eu quero que você saiba que estou tomando essa decisão não por você, nem por ninguém, apenas por mim. Pelo o que eu sinto por você.
Naruto apenas balançou a cabeça positivamente, devagar.
- Você promete? - ela queria ouvi-lo em alto e bom som.
- S-sim, eu prometo.
Por cerca de um minuto, que pareceu, aos dois, uma eternidade, o barulho da chuva lá fora foi o único som que se ouviu. Dentro do imóvel, os dois jovens continuavam encarando-se. Hinata queria demonstrar, através de seu olhar, o quanto estava decidida, caso suas palavras não houvessem sido o suficiente. Estava sendo bem sucedida. Naruto estava admirado com sua postura. Ela não cansava de surpreende-lo. Pouco lembrava aquela menina tímida, de atitudes que, por vezes, ele considerara até estranhas, já que não sabia do que se tratavam. Conhecer Hinata de uma forma mais profunda, sem dúvidas, era uma dádiva, pois, sob aquela figura retraída, havia uma mulher forte, independente, que sabia o que queria e lutava para conseguir. Ele sentiu-se abençoado por poder ter acesso aquele universo particular.
- Então, nós estamos quites, porque você me deixa cada dia mais e mais gamado.
Hinata sorriu, assim como Naruto. Ela elevou o braço, tocando seu rosto de leve, sobre as marcas peculiares em sua bochecha. Naruto pôs a mão sobre a dela.
- Sua mão está gelada. Você ainda está com frio. Vem cá.
Com a mão livre, o ninja a puxou para um abraço. Afundou o rosto na curva de seu pescoço, inalando o perfume de seu cabelo. Hinata acomodou a cabeça em seu peito, passando as mãos ao redor de sua costa. Aninhada daquela forma, era possível escutar as batidas de seu coração, que pareciam sincronizar-se às suas. Ela estava com um pouco de frio, mas sentiu-se rapidamente aquecida em seus braços. Era o lugar perfeito, onde mais gostava de estar. Naruto a apertava de modo firme. Ele nunca tivera antes um abraço assim para desfrutar, então aproveitava cada oportunidade. Nunca se cansaria daquilo.
- Eu te amo, Hinata.
- Eu te amo, Naruto-kun.
Naruto afastou-se um pouco, a fim de ver seu rosto. Passou a ponta dos dedos entre seu cabelo, até acomodar a mão em sua nuca. O toque firme. As feições do rosto da kunoichi eram tão delicadas... Mais uma vez afirmou para si mesmo que nunca se cansaria daquilo. Beijou os olhos amendoados, com ternura. Beijou o nariz, pequeno e afilado. Beijou as bochechas rosadas. Encarou a pequena boca de lábios perfeitos. Aproximou-se devagar, tocando-a sutilmente. Deu vários selinhos, testando sua maciez, até finalmente pressionar seus lábios com firmeza. Suas bocas entreabriram-se, encaixando-se como um quebra-cabeças. Foi um beijo terno e lento. Naruto usou aquele momento para refletir sobre o pedido da Hyuuga. Ela se sentia como ele. Isso trazia alívio, pois, dessa forma, não se sentia mais nenhum pervertido e, sim, alguém perdidamente apaixonado. E como era bom se sentir assim.
Separou seus lábios e brincou:
- Você não bebeu nada hoje não, né?
Riram. A tensão havia se dissipado.
- Para! Assim você vai me deixar com vergonha! - Hinata deu um soquinho no peito do namorado.
- Tô brincando! Vem, vamos ver um pouco de TV enquanto essa chuva não passa.
O Uzumaki segurou sua mão, puxando-a para sentar na cama. Escorou-se na cabeceira, com as pernas afastadas, fazendo a jovem sentar-se naquele espaço, entre suas pernas, com as costas apoiadas em seu peito. Ligou o aparelho e envolveu-a com os braços, pousando o queixo em seu ombro.
- Sabe, Hina, só tô preocupado com o seu pai. Daqui a pouco dá o horário de você estar em casa e essa chuva não dá trégua...
- Sim... Mas acho que ele vai entender o meu atraso...
- Eu achava melhor a gente avisar, pra ver se ele fica numa boa.
- Mas como?
- Já sei. Vou invocar um sapo mensageiro. Vou pegar caneta e papel pra você escrever um bilhete. Só um momento.
O Jinchuuriki da Kurama levantou-se, parecendo um pouco perdido em meio à bagunça que era a sua casa, demorando uns bons minutos para encontrar o que procurava. Com caneta e papel em mãos, Hinata escreveu o seguinte bilhete:
"Papai,
Estou com Naruto. Nós estamos aguardando a chuva passar ou, pelo menos, estiar um pouco, pra que eu possa voltar pra casa. Por isso da minha demora. Se o Senhor quiser, pode mandar resposta pelo mesmo sapo.
Hinata"
Naruto fez a invocação e o sapo partiu com o bilhete dentro de si, para o distrito Hyuuga. O casal acomodou-se novamente, assistindo a um programa de comédia qualquer. Naruto ria até das piadas mais sem graça, o que acabava causando grande divertimento na Hyuuga.
Por volta de vinte minutos depois, o sapo mensageiro retornou e regurgitou um novo bilhete. Naruto o retirou da cápsula que o protegia e entregou a Hinata, que surpreendeu-se ao encontrar não a caligrafia fina do pai, mas, sim, a garranchuda de sua irmã.
"Irmã,
Talvez você não lembre, pois estava em missão, mas o papai partiu hoje cedo para aquela reunião anual dos líderes dos principais clãs de Konoha com o Damyiou.
Então, relaxa. Pode ficar aí com o cunhadinho de boa. Nem se atreva a vir nesse dilúvio! Pode deixar comigo que eu aviso aos guardas que você está presa, na casa de uma amiga. E não retorna hoje.
Da sua irmã fantástica a quem você fica devendo uma,
Hanabi."
Os dois entreolharam-se, após lerem, juntos, a mensagem. Naruto coçou a nuca.
- Er... bom, então, você pode dormir aqui... se essa chuva for igual àquela, só passa de manhã...
- S-sim, tudo bem, obrigada.
- Você quer tomar um banho? O chuveiro elétrico tá funcionando. Não tava, sabe, mas eu fiz uma gambiarra e deu certo, hehehe...
- Ah, sim, claro...
Naruto levantou-se e vasculhou seu guarda roupa, retornando, em seguida, com uma toalha e um pijama limpos.
- Toma, pode ir lá.
Hinata saiu, deixando um Naruto apreensivo para trás. Não é como se fossem dormir juntos pela primeira vez, mas tantas coisas haviam acontecido, tantas descobertas e aprendizado. E o principal: as palavras de Hinata naquela noite.
Hinata, por sua vez, entrava embaixo do chuveiro com os pensamentos a milhão. Toda aquela coragem de mais cedo parecia haver se esvaído, e ela estava mortificada de tanto medo. Havia dado o aval, então qualquer coisa podia acontecer, inclusive nada. Mas esse leque de possibilidades a fazia tremer. Tentou respirar fundo e acalmar-se, afinal, não faria nada que não quisesse, disso ela tinha certeza, pois confiava integralmente em Naruto. Mas, e se quisesse e tudo acabasse sendo um verdadeiro desastre, pela sua falta de experiência? O coração retumbava no peito, enquanto ela se enxugava. Porém, ao vestir o pijama e sentir aquele leve aroma, que pertencia ao seu dono, sua respiração normalizou um pouco e sentiu-se confiante para deixar o banheiro.
Naruto sorriu ao vê-la. A kuinoichi era a própria definição da palavra fofura. Parecia uma criança naquele pijama bem maior que ela. Embora um pensamento travesso lhe houvesse escapado sem querer: a lembrança daquela adorável blusa lilás da qual sentia imensa saudade. Para esquecer a recordação, levantou-se e se dirigiu ao banho.
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