Naruto acordou tarde. Estava de folga, após a missão da lua, então podia se dar ao luxo. Também custara a pegar no sono, relembrando muitas vezes os momentos que tivera com Hinata. Iria pular o café da manhã e ir direto para o almoço. Tomou um banho, arrumou-se e partiu para o Ichiraku. Por mero acaso, encontrou-se com Sakura, que já estava fazendo seu pedido.
— Hey, Sakura-chan! Tudo bem?
— Ah, oi, Naruto!
Sentou-se ao seu lado e fez seu pedido.
— Escuta, Naruto, é hoje que você vai jantar na casa dos Hyuuga, não é?
— Sim...
— Naruto, por favor, comporte-se lá! O Sr. Hiashi é o líder do clã, trate-o com muito respeito, entendeu?
— Claro que sim, Sakura-chan!
— Não vai falar besteira!
— Eu sei! Hmpf! - Ele bufou, amarrando a cara e cruzando os braços.
Os pedidos chegaram. Eles ficaram em silêncio por um tempo, apenas comendo.
— Naruto, não fique chateado... Só estou falando isso pro seu bem! Eu sei que você quer estar nas boas graças dele, porque eu sei muito bem o que você pretende!
— C-como assim?
— Deixa pra lá, apenas esteja bem apresentável, sim?
Aquela conversa com a Sakura só serviu para enervar Naruto ainda mais. Não que ele já não estivesse nervoso o suficiente, embora tentasse empurrar a sensação para um lugar escondido de sua mente. Mas ele entendia o que ela estava querendo dizer e sabia que era para o seu bem. Hinata poderia ser a próxima líder do clã Hyuuga, se assim desejasse. Era natural que o pai quisesse o melhor para ela. Naruto só não sabia se se enquadraria na ideia de melhor que o outro tinha... Aquilo provocou um nó em sua garganta que, por um momento, até mesmo o lámen ficou difícil de engolir. Mas Naruto procurou animar-se. Afinal, ele era Uzumaki Naruto e não desistiria! Esse era o seu jeito ninja! Ele enfrentaria qualquer coisa por ela!
Com o ânimo renovado, terminou sua refeição e despediu-se da rosada.
— Até mais, Sakura-chan! — Fez um sinal de positivo em direção à garota — Pode deixar, eu vou me comportar!
— Tchau, Naruto. Boa sorte! Eu vou estar torcendo por vocês!
Naruto foi para o lugar onde costumava treinar, para passar o tempo. Ocupar a mente e o corpo seria a melhor estratégia para não deixar o nervosismo o dominar.
~◇~
Hinata estava com os nervos à flor da pele. Estava cuidando dos preparativos para o jantar daquela noite. Na verdade, estava cozinhando grande parte do que seria servido, apesar de haver empregados para isso. Sentia-se melhor assim, distraindo-se com seu hobby. Naruto havia sido enigmático sobre o assunto que trataria com seu pai mais tarde, mas ela tinha quase certeza que era sobre o recém iniciado relacionamento entre ambos. Se isso se concretizasse, não sabia qual seria a reação do pai. Ele sempre fora extremamente rígido na sua criação. Será que seu pai aceitaria que eles namorassem? Não gostava da ideia de ir contra o pai, mas, se o posicionamento dele se mostrasse desfavorável, infelizmente ela teria que fazer valer sua vontade, de alguma forma. Sonhara com aquilo por tantos anos, não desistiria agora, quando finalmente fora correspondida pelo homem que sempre amou. Mas talvez nem fosse aquele o assunto... afinal, eles estavam mesmo namorando? Haviam se beijado, mas nenhum deles falara na palavra namoro. Não sabia do que mais tinha medo: do pai não aceitar Naruto ou de descobrir que estava se iludindo.
— Sonhando acordada, maninha? — Hinata teve seus pensamentos interrompidos pela voz de Hanabi.
— Que susto, Hanabi! O que você está fazendo aqui na cozinha?
— Vim ver como minha maninha está. Muito nervosa?
— P-por que está perguntando isso?
— Ora, não é hoje que o príncipe vem pedir a mão da linda donzela?
— O-o quê? — Hinata deixou a tigela que tinha na mão cair, enquanto corava violentamente.
— Calma, maninha! Não fique tão nervosa — Hanabi disse, dando uma grande gargalhada.
— P-por que você está dizendo essas coisas?
Hanabi aproximou-se, ajudando a irmã a pegar a tigela e envolvendo seus ombros com o braço.
— Bom, óbvio que o Naruto vem hoje pedir permissão pro papai pra namorar com você, né?
— V-você acha mesmo que é isso?
— Claro que é! E olha, se o papai for contra, você não tem que aceitar! Tem que se revoltar e mostrar sua vontade! Eu também vou ficar do lado de vocês! — Ela disse, cerrando um punho, numa pose ofensiva.
A irmã mais velha apenas admirou‐a, com um olhar de gratidão, abraçando-a em seguida.
— Obrigada, irmã. É muito bom saber que você me apoia.
— Tá bom, tá bom! — Hanabi desvencilhou-se do abraço — Mas isso não quer dizer que eu queira ver melação na minha frente! Nada de ficarem se beijando por aí toda hora! Eca!
Hinata sorriu. Aquele diálogo havia lhe deixado mais confiante para enfrentar o que viesse pela frente.
~◇~
Naruto arrumou-se da melhor forma que podia. Tentou deixar o cabelo menos espetado, porém sem muito sucesso. Aquilo teria que servir. Pelo menos agora, mais curtos, os fios loiros tornavam-se mais apresentáveis. Olhou-se no espelho, a confiança vacilando um pouco. Porém forçou-se a entrar em marcha rumo ao distrito Hyuuga. Logo ele, que já vivera tantas situações perigosas, arriscando sua vida ao limite, estava com medo de uma simples conversa. Seria até engraçado, se ele não estivesse tão nervoso, com aquela sensação estranha na boca do estômago. Alcançou a entrada do distrito e dirigiu-se à maior e mais bonita casa de lá. Parou à porta, hesitante. No entanto, as duas pérolas lilazes surgiram em sua mente, dando a coragem necessária para bater. Após alguns segundos, a porta foi aberta por ninguém menos que o próprio Hyuuga Hiashi. Naruto engoliu em seco e cumprimentou.
— Boa noite, Hiashi-sama.
— Boa noite, Naruto. Por favor, entre.
Ele abriu espaço para que o Uzumaki adentrasse. Por dentro, a casa era ainda mais impressionante que por fora. Estavam numa grande sala de estar, adornada de modo tradicional.
— Sua casa é linda.
— Obrigada. Hinata que cuida da maior parte. Ela tem muito bom gosto. Como irmã mais velha, acabou assumindo um pouco o papel da mãe. Mas vamos, me acompanhe até meu escritório, por favor.
Até ali, não havia sinal das meninas. Porém, quando passaram por uma porta entreaberta que parecia levar à cozinha, devido ao aroma delicioso que de lá exalava, Naruto pensou ter tido, por uma fração de segundos, um vislumbre de cabelos negro-azulados.
Pararam em frente a uma porta, que Hiashi abriu, dando espaço para que Naruto entrasse. Dentro do cômodo havia uma mesa de escritório, com uma cadeira grande e confortável e outras duas menores, de frente para ela. Naruto esperava que o homem mais velho sentasse na cadeira grande, no entanto, viu Hiashi sentar-se no chão, à moda japonesa, em frente a uma mesinha baixa, no canto do escritório, e depois fazer sinal para que Naruto sentasse à sua frente. Sobre a mesinha, havia um serviço de chá posto, que Hiashi serviu para ambos, em silêncio. Naruto perguntava-se se deveria abordar o assunto de imediato, porém lembrou do que Sakura dissera e achou melhor esperar que o mais velho conduzisse a conversa. Com o chá servido, Naruto agradeceu e tomou um gole, sendo imitado pelo outro, apesar de que era difícil engolir, haja visto que sua garganta parecia fechada. Todo aquele silêncio só estava deixando-o mais nervoso. Estava a ponto de soltar todo o seu discurso previamente ensaiado de uma vez, quando o Hyuuga finalmente quebrou o silêncio.
— E então, Naruto, o que lhe traz aqui? Qual assunto particular gostaria de tratar comigo?
— B-bem... Caham... — Empertigou-se, limpando a garganta, e decidiu ir direto ao assunto — Hiashi-sama, eu gostaria de pedir a sua permissão para namorar sua filha. A Hinata.
Hiashi olhou-o, com uma expressão intrigada, dando um gole de seu chá e mantendo o silêncio por um tempo, que mais pareceu uma eternidade para Naruto.
— Bem, estou bastante surpreso. Não sou cego, sei que Hinata nutre sentimentos por você há tempos, mas nunca achei que fosse correspondida.
Naruto praguejou mentalmente. Até o pai dela havia sido capaz de detectar os sentimentos de Hinata, menos ele. Era um baka mesmo.
— Veja bem, Naruto. Sou o líder do meu clã e Hinata, como minha filha mais velha, é a mais indicada para assumir meu posto quando me for. É claro que sempre desejei o melhor para ela. Ser uma kunoichi respeitada e formar uma família, com um pretendente distinto, de preferência do próprio clã, para passarmos nossa herança mais preciosa, nosso doujutsu, e nossos ensinamentos milenares.
Todo aquele discurso martelava na cabeça de Naruto e ele já via onde aquilo ia dar: Hiashi dizendo que o Uzumaki não servia para a filha dele. Esforçava-se para se controlar, mas estava a ponto de berrar aos quatro ventos que ninguém, mais do que ele, queria a felicidade da garota.
— Relaxa, pirralho — Escutou a voz aparentemente entediada de Kurama — Deixa o velhote terminar de falar. Depois você fala. Se não, vai acabar perdendo a razão.
Com muito custo, manteve-se calado, mas sustentou o olhar de Hiashi de forma desafiadora, disposto a mostrar que não desistiria fácil.
— Sempre achei que essa paixonite de Hinata por você um dia passaria, quando ela finalmente desse por si que nunca seria correspondida. E aí estaria livre para aceitar alguém bem mais do nosso... Como posso dizer... Hum... Nível.
Naruto nem ao menos piscava. Os punhos cerrados sob a mesa.
— Mas agora, você vem me dizer que quer namorá-la. Pois bem, o que quero saber realmente é por quê? Assim, do nada?
— Eu sei que demorei a perceber — Naruto disse, controlando o tremor na voz, proveniente da raiva — Eu tinha muitas coisas em mente. Trazer um amigo de volta das sombras. A Akatsuki. A guerra. Meu treinamento pra superar tudo isso. Mas quando Toneri a levou, eu pude enxergar meus sentimentos. E vi que sou correspondido.
— Mas você acha que o que sente por ela é forte o suficiente?
— Sim. Meu laço com a Hinata é inquebrável. Ela sempre me apoiou. Sempre acreditou em mim. E eu acho que também a ajudei a melhorar e superar algumas inseguranças — Naruto bateu o punho cerrado na pequena mesa, o tom de voz crescente, ouviu um muxoxo contrariado da Kurama. Ignorou — Por mais que o Senhor não me ache adequado o bastante, eu sei que me esforçaria ao máximo pra fazer sua filha feliz! Mais do que qualquer outro! E eu não vou desistir fácil, porque sei que ela sente o mesmo por mim!
— Acalme-se, garoto. Eu não disse que você é inadequado. Esses eram pensamentos de outros tempos, passados. No entanto, com tudo que nós vivemos ao longo dos últimos anos e mais a ameaça recente de perder minhas filhas, eu pude enxergar que existem coisas mais importantes que clã e status. Hoje, tudo o que mais quero é ver minhas filhas felizes. E saber que, quando chegar minha hora de partir, elas vão estar bem, com alguém que possa assumir meu papel na proteção delas. Não que elas precisem de proteção, tornaram-se kunoichis excepcionais. Mas é sempre bom saber que pode-se contar com alguém.
Naruto ouvia atônito, pego de surpresa.
— O mais importante para mim era saber se você gosta realmente da minha filha. Você mostrou que sim, então fico feliz por vocês. Confio em você, Naruto, para cuidar da minha preciosidade.
Com cara de bobo, Naruto ficou em silêncio por alguns minutos, tentando assimilar a informação, até notar que precisava agradecer ao futuro sogro.
— O-obrigado, Sr. Hiashi, muito obrigado! Eu não vou lhe decepcionar, prometo fazer a Hinata a mulher mais feliz e cuidar dela com a minha vida!
— Certo, certo. Mas me diga uma coisa. Você já falou com ela? Já pediu ela em namoro?
Naruto ficou pensativo. Ele sabia que era correspondido, mas não haviam colocado a situação deles em palavras. Entendeu, então, que era até um pouco arrogante os dois homens ali discutindo a vida da garota como se a primeira pessoa a decidir qualquer coisa não devesse ser ela, obviamente.
— Não. Eu preciso falar com ela.
— Imaginei. Vamos, eu vou chamá-la e vocês podem se resolver. Se ela aceitar, vocês têm a minha benção. Só quero pedir mais uma coisa.
— Pode falar.
— Respeito — E, nesse momento, Hiashi ativou seu byakugan — Minha filha é uma moça de família! O namoro vai ter que ter limites! Regrinhas básicas! Você está entendendo?
— Sim... sim, senhor!
— Ótimo — Seus olhos voltaram ao normal e ele estendeu a mão para que um Naruto muito assustado apertasse.
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