Numa bela tarde de verão, Kakashi apreciava a vista deslumbrante do pôr-do-sol sobre a Aldeia Oculta da Folha. O brilho dourado banhava as construções de maneira encantadora, tirando toda a atenção do prateado em seu trabalho. Algo atrás de si, porém, chamou sua atenção. Nenhum som, apenas um movimento captado por sua visão periférica experiente. Girou na grande cadeira que ocupava.
— Sasuke.
— Kakashi.
A presença soturna do antigo aluno contrastava com o cenário. Ele depositou alguns pergaminhos sobre a mesa.
— Trouxe alguns relatórios para a sua apreciação.
Dito isto, o Uchiha girou nos calcanhares, pronto para deixar o compartimento.
— Sasuke, espere.
O ex-aluno estancou no lugar, sem voltar seu rosto para o Hokage.
— Você voltou em boa hora. Estava mesmo precisando. O Naruto está com o Shikamaru, na sala ao lado. Por favor, vá lá e peça para ele vir aqui, sim?
— Você estava precisando de um garoto de recados?
— Também… — Sasuke sentiu o sorriso do sensei em sua voz — Mas eu preciso conversar com vocês dois sobre uma missão.
A dupla inusitada caminhava pelas ruas da Aldeia, cada vez distanciando-se mais do centro. A figura escura de Sasuke atraia olhares não tão cordiais, embora, quando encontravam a presença radiante ao lado, esses olhares tendiam a abrandar-se consideravelmente. Caminhavam em silêncio, ainda que um silêncio confortável. Após explicar superficialmente a missão, Kakashi havia instruído Naruto para que acompanhasse o antigo companheiro até o distrito Uchiha. Sasuke havia protestado, dizendo que sabia perfeitamente chegar até lá sozinho, no entanto, sabia que, quando o Uzumaki enfiava algo na cabeça, não adiantava perder energia tentando convencê-lo do contrário.
Dessa forma, chegaram aos portões com o símbolo característico. Quando cruzaram os mesmos, Sasuke deparou-se com uma paisagem diferente da qual se lembrava. Em vez das várias casas, a maior parte do terreno estava tomado por plantas e algumas árvores. Havia uma única casa, grandiosa. Ela não era aquela da infância de Sasuke. Era totalmente nova, embora mantivesse o estilo tradicional.
— E aí, o que achou, Teme? Kakashi-sensei e eu decidimos revitalizar o distrito. Como o grande antissocial que é, nós sabíamos que você iria preferir um local mais afastado quando resolvesse voltar pra Vila.
— Hm.
A expressão do Uchiha continuava impassível como sempre. Isso, antes, aborreceria o Uzumaki. Contudo, agora, ele não se importava mais. Já estava habituado.
Foram em direção à casa, onde Naruto encaixou a chave, na porta de entrada, e eles tiveram acesso ao interior. Estava minimamente mobiliada. Notando que Sasuke estava para pouca conversa, Naruto decidiu não prolongar a estadia.
— Bom. Está entregue. — Num movimento repentino, jogou a chave na direção do outro, que usou a única mão para apará-la, demonstrando bons reflexos — A casa é sua, literalmente. Espero que fique confortável. Nos vemos amanhã.
O Uzumaki virou, para ir embora, mas estancou a alguns passos da porta. Girou novamente para Sasuke.
— Ah, e Teme… Use esse resto de dia pra refletir sobre o seu futuro. A Sakura não vai esperar pra sempre.
Naruto já estava passando pelo umbral, quando ouviu a resposta malcriada de Sasuke.
— Dobe! Só porque casou, agora se considera conselheiro amoroso?
Naruto não parou nem virou de volta. Apenas sorriu e seguiu andando devagar.
— Sim. Eu realmente acredito que tenho bastante propriedade pra falar de amor e felicidade. Quem diria, né?
~◇~
Sakura não estava preparada, quando abriu a porta do escritório. Seu coração deu um solavanco. Kakashi e Naruto viraram para olhá-la. Sasuke não. Permaneceu como uma estátua em ébano. Tão melhor, pensou. Era o que ela precisava para motivá-la ainda mais a curar-se daquela paixão desenfreada. Era difícil? Sim. Era totalmente consciente disso. Entretanto, a Haruno sempre fora determinada. Usaria isso ao seu favor.
— Sakura, seja bem vinda! — O Rokudaime sorriu, por baixo da máscara.
— Bom dia. — Sakura cumprimentou.
— Bom dia, Sakura-chan! — Naruto deu um de seus sorrisos largos. Parecia animado. Sasuke permaneceu silencioso. Uma parte da mobília.
— Agora que estão todos aqui, vou deixá-los a par da situação. Já conversei com os rapazes por alto ontem, mas agora, com a Sakura presente, darei mais detalhes.
"O Kazekage me enviou uma solicitação há alguns dias. Eles estão precisando de nossa ajuda, em Suna. Nada grave, pelo contrário. Gaara está construindo um hospital em sua aldeia e gostaria de contar com nossa experiência, já que temos um hospital de referência entre as nações mais próximas.
Sakura, ele me pediu especificamente a sua ajuda, pelo seu grande conhecimento em gestão hospitalar. A estrutura física já está praticamente pronta, mas ele precisa de ajuda na questão de abastecimento de recursos humanos e de equipamentos, treinamento de equipe, etc… Tudo o que for necessário para pôr o hospital em pleno funcionamento. Já falei com Tsunade e Ino. Elas irão cobrir sua ausência, já que você ficará, no mínimo, dois meses por lá.
"Eu também aproveitarei pra fazer uma visita, pois preciso tratar de alguns assuntos inter-vilas importantes com o Kazekage. Naruto, você irá comigo, como parte de seu treinamento. E Sasuke, você fará nossa segurança, além de ajudar Sakura no que for preciso. É uma bela oportunidade para o time 7 voltar à ativa. Nostálgicos?"
As expressões entre os presentes eram as mais diversas. Kakashi exibia um sorrisinho irônico, perceptível pelos olhos apertados; Naruto demonstrava empolgação; Sakura, aturdimento e Sasuke… bem, Sasuke não demonstrava qualquer emoção.
O calor durante o dia todo havia sido infernal. Após algumas horas do sol se pôr, Kakashi chamou a atenção de todos, fazendo-os parar.
— Vamos montar acampamento e descansar um pouco. O calor estava muito desgastante e eu não sou mais tão jovem quanto pareço. Não é uma missão urgente, podemos passar a noite e voltar a nos mover pela manhã.
— Eu vou percorrer os arredores para checar se a área é segura. — Sasuke disse e partiu em meio às árvores.
— Naruto, me ajude aqui com a barraca. — Kakashi solicitou.
— Certo.
— Já que está tudo sob controle, vou voltar àquele lago que passamos. Não vão até lá. Estou louca por um banho, minha pele está toda grudenta.
Sakura afastou-se, levando sua pequena mochila.
Rapidamente, Kakashi e Naruto montaram uma lona espaçosa o suficiente para dois, pois eles se revezariam em turnos.
— Kakashi-sensei, preciso me aliviar. Tudo bem você ficar aqui só?
— Também não sou nenhum velho, né, Naruto? Vai logo!
Sasuke não poderia dizer que estava contrariado pela parada. Aproveitou a desculpa de fazer uma ronda para se afastar um pouco. Estar de volta com o time sete era estranho, mas, ao mesmo tempo… bom, de alguma forma. Isso o deixava confuso. Eram as mesmas pessoas, porém, diferentes. Cada um havia mudado um pouco, mas, a mudança mais radical vinha da rosada.
Era bastante evidente que ela havia deixado de ser aquela menininha frágil e um tanto quanto fútil para trás. Isso ele já havia percebido durante a guerra. O problema – não, não deveria chamar de problema – a questão era que ela estava diferente com ele. Fria. Impassível. Não haviam trocado uma palavra durante todo o dia. Algo que ele deveria achar bom, afinal, nunca fora entusiasta de jogar conversa fora. Entretanto, ali estava ele, de alguma forma, sentindo-se mal com isso.
As palavras de Naruto, no dia anterior, ecoavam em sua mente, reverberando ainda mais diante da postura atual de Sakura. Mas isso era ótimo, não era? Não seria tolo de negar seus sentimentos, mas, por isso mesmo, sabia que era melhor para ela seguir em frente e esquecê-lo de vez. Era um renegado e sempre seria. Nem o perdão de Naruto seria capaz de apagar todas as coisas horríveis que havia feito no seu passado, por mais que se arrependesse disso até a morte. Principalmente com as pessoas que mais amava. Principalmente com ela. Então, por que doía tanto vê-la partir?
Já cobrira boa parte do perímetro, um tanto distraído por esses pensamentos, o que não era o seu normal, quando escutou um barulho fora do comum vindo de alguns arbustos. Não era nada que ele conseguisse identificar, então ativou seu sharingan, pronto para qualquer percalço. Aproximou-se com cautela, objetivando surpreender o que quer que ali estivesse. Pé ante pé, contornou o amontoado de folhas, no mais completo silêncio. Até se arrepender completamente de tê-lo feito.
Foi a pior visão de toda a sua vida até aquele momento: ajoelhado na relva, Naruto estava com os genitais para fora das calças, masturbando-se(!) diante de uma foto de Hinata, que jazia no chão.
— PORRA, NARUTO, QUE MERDA É ESSA?!? — O Uchiha virou-se para o outro lado, bufando.
— S-SASUKE?!? E-eu… — Naruto se levantou, recompondo-se e guardando a foto da esposa. — f-foi sem querer… eu ia só mijar, mas eu encontrei essa foto da Hina e… comecei a lembrar de umas coisas… quando vi, já tava duro…
— MAS QUE DROGA, NARUTO! VOCÊ TÁ NA MERDA DE UMA MISSÃO!!!
— Tá! Tá bom, Teme, não precisa fazer escândalo! Eu tenho só seis meses de casado, porra! Seis meses muito intensos. É difícil pra mim, pensar que vou passar um tempão longe dela, caralho! Vai dizer que você nunca precisou se aliviar desse jeito?
— Cala a porra da boca, seu idiota! Eu vou terminar a ronda, que é a melhor coisa que faço. Vê se se toca que a gente tá trabalhando, dobe!
Sasuke não era dado a rubores, mas estava sentindo seu rosto e orelhas arderem. A lua estava cheia no céu, porém as sombras das árvores lhe conferiam abrigo. Afastou-se rápido dali, ainda xingando baixo. Claro que ele já havia se tocado. Era um ser humano, afinal de contas. Já tivera sonhos instigantes, que refletiram-se em seu corpo ao acordar. Já vira muitas coisas em suas andanças pelo mundo e já tivera algumas ofertas bastante... indecentes. Embora tenha declinado delas. A ideia de fundir seu corpo com uma completa estranha não lhe parecia muito convidativa.
As árvores rarearam e logo ele estava na clareira, onde havia o lago pelo qual haviam passado antes. Quando olhou para a água, uma silhueta esguia chamou sua atenção. Ela estava de costas. Seu cabelo tinha um tom de cinza pálido sob a luz do luar. Seus ombros desnudos estavam à mostra, enquanto o resto de seu corpo encontrava-se submerso no lago.
A mente do ninja ordenou que ele desse meia volta, mas seu corpo não obedeceu. Era como se estivesse preso em algum genjutsu. Permaneceu imóvel, ainda que uma voz em sua cabeça gritasse o quão errado era aquilo. Repentinamente, ela ergueu-se. Estivera agachada, mas agora, em pé, com os braços erguidos, enquanto suas mãos torciam os curtos fios pálidos, as curvas estavam completamente expostas. Sakura estava completamente nua, embora a luz não fosse suficiente para revelar todos os detalhes que, inconscientemente, Sasuke desejava ver.
A voz em seu interior ganhou força e gritou " ela vai te ver!". Seu coração acelerou e uma descarga de adrenalina percorreu seu sistema circulatório, destravando finalmente seu corpo. Ele girou nos calcanhares, ligeiro, agradecendo por estar a uma distância segura, que impossibilitava que ela escutasse seus ruídos. Não se encontrava em um estado de ter controle total sobre seus movimentos. Embrenhou-se por entre as árvores, tomando novamente o rumo do acampamento.
Antes que lá chegasse, porém, algo em seu corpo chamou sua atenção. Tomou consciência do aperto em suas calças. Olhou para baixo, apenas para constatar o que já imaginava: estava duro.
Usou um tempo para controlar sua respiração, que estava acelerada como poucas vezes se lembrava. Inundou sua mente de pensamentos ruins. Coisas que ele havia feito e outras que havia visto, mundo afora, apesar de que os lampejos da cena no lago insistissem em interrompê-los. Usou todo o seu poder de concentração para trancar esses últimos pensamentos em um local escondido do seu intelecto e, assim, conseguiu recuperar finalmente sua postura austera e impenetrável.
— Sasuke?
A voz melodiosa quebrou um pouco o efeito, mas ele conseguiu disfarçar bem e a olhou de esguelha. Estava novamente vestida e seus cabelos, úmidos. Não deixou de reparar que ela não usara o sufixo "kun", como de costume.
— Estou terminando minha ronda e seguindo para o acampamento.
— Hum… Ok. Apenas me assustei. Por um momento, achei que pudesse ser algum inimigo.
Dito isso, ela passou por ele e seguiu para o local onde os demais estavam. Sasuke respirou fundo. Não era fácil conviver com sentimentos conturbados, não precisava de mais aquilo para somar-se ao caos que já era sua mente.
Quando alcançou o acampamento, Sakura, Naruto e Kakashi estavam sentados no chão, em roda,, iniciando uma refeição. Havia um espaço entre Naruto e Kakashi, que ele imaginou estar reservado para ele, mas, quando pensou na perspectiva de sentar frente a frente com Sakura, aquilo não o animou. A calma exterior não refletia nem um milésimo da bagunça que sentia em seu interior. Aproximou-se e anunciou:
— Farei o segundo turno de vigília. Agora vou descansar.
— Você não vai comer? — Naruto perguntou.
— Não. Sem fome.
Ao se afastar, Sasuke ouviu a provocação do loiro:
— É, Kakashi-sensei. Parece que não é só você que tá ficando velho…
Todos riram, inclusive Sakura. Sasuke apenas fingiu não ouvir, adentrando a lona, em busca de alguma paz.
Foi um tanto quanto difícil pegar no sono. Ele podia escutar o barulho de conversa, embora não conseguisse distinguir o que falavam, apenas risos e, eventualmente, algum ralho que, aparentemente, Sakura estaria dando em Naruto. Havia um abismo entre ele e seus antigos companheiros. Isso o desestabilizava, pela perspectiva de que, talvez, nunca conseguisse se reconectar com eles novamente. E ele era o único culpado. Único vilão de sua própria história.
Como estava muito habituado à solidão, geralmente seu sono era muito leve. Estava sempre em um estado de semiconsciência, alerta para qualquer perigo. No entanto, naquele momento, resolveu confiar em sua equipe. Esse era o primeiro passo, que só cabia a ele mesmo dar.
Dessa forma, conseguiu cair em um sono relativamente mais pesado que o habitual. O problema foi o sonho.
Estava de volta ao lago, sob a lua cheia. Sakura torcia seus cabelos e ele pensava em fugir, antes de ser descoberto, porém, antes de dar cabo ao pensamento, escutou a voz dela.
— Sasuke. Eu sei que você está aí, me observando.
Sasuke sentiu seu coração parar. Havia sido descoberto na posição humilhante de um vil pervertido. Um voyeur. Não conseguiu emitir nenhuma palavra. Ela girou o corpo lentamente, com graça e leveza, até os olhos, musgos, pelas sombras da noite, cravarem-se nos seus. Ele percorreu, primeiramente, seu rosto, buscando indignação. Mas ela sorria, um sorriso malicioso, o qual ele nunca havia visto. Ver que ela não parecia aborrecida liberou algo dentro dele, e ele não resistiu em baixar o olhar, para o restante de seu corpo.
Em vez de ficar retraída, Sakura começou a avançar lentamente em sua direção. Enquanto se aproximava, seus contornos foram ficando mais nítidos. O colo leitoso, os braços esguios… os seios. Pequenos e firmes, perfeitos para abarcar com as mãos. Mas por que aquele tipo de pensamento estava lhe ocorrendo?
Antes de tentar responder a si mesmo, já estava concentrado em sua barriga lisa e cintura delgada. Não chegou a ver seu sexo, o que lhe causou uma estranha sensação de desapontamento, porque ela já estava muito próxima. Tão perto que ele sentiu seu perfume floral e almiscarado invadir suas narinas, embaçando seu raciocínio e destacando a quentura e rigidez em sua virilha.
— Por que me chamou de Sasuke?
A pergunta deixou seus lábios sem pedir licença, num tom de voz rouco, diferente do normal. Chegava a ser engraçado como, naquele momento crucial, era aquilo que o preocupava. Aquilo lhe incomodava.
Sakura abriu o sorriso um pouco mais e aproximou seus lábios de sua orelha direita, como se fosse contar-lhe um segredo. Seu hálito brincou com a sua pele, fazendo-o arrepiar-se. Porém, antes que ela respondesse, ele acordou.
Piscou os olhos, tentando se situar. Viu-se sob a lona do acampamento. Olhou para baixo e sentiu-se envergonhado. Sua calça estava totalmente esticada, tentando, estoicamente, conter o volume de sua ereção, o que deixava seu membro dolorido. O constrangimento só piorou quando olhou para o lado e viu a personagem de seu sonho deitada, dormindo placidamente, ao lado, a um mero metro de distância. Era possível sentir seu perfume, o mesmo que invadiu seu onírico devaneio. Sasuke teve a sensação de que seu inferno particular estava apenas começando.
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