A aproximação do verão deixava o tempo abafado e desconfortável, ou talvez fosse apenas o estado de espírito de Naruto naquela manhã. Desde que Hinata partira em missão, ele sentia-se inquieto e ansioso. Não que isso fosse algo incomum nessas ocasiões, mas, daquela vez, parecia mais intenso. Acabara de deixar a academia, onde sua aula havia sido um verdadeiro fiasco. Sua paciência estava do tamanho de um grão de areia e ele sentia-se em dívida com seus alunos pelo péssimo professor que fora aquele dia.
Almoçou no Ichiraku com Sasuke e, depois, seguiram para uma sessão de treinamento. O Uchiha era uma boa companhia naquele momento, pois entendia o sentimento, mesmo que não trocassem muitas palavras sobre. A melhor forma de comunicação naquela amizade sempre fora a luta, entretanto até isso estava sendo difícil para o Uzumaki. Estava disperso, possibilitando uma vantagem fácil ao oponente, o que irritou Sasuke, porque conhecia-o muito bem para saber que aquele não era seu normal. Estavam num dos campos de treinamento, quando o Uchiha interrompeu a luta para chamar a atenção do loiro.
— Dobe, você está me fazendo perder o meu tempo. Se for pra lutar como uma criancinha, seria melhor eu treinar sozinho.
— Ah, que merda, Teme! Como se você estivesse grande coisa também hoje, hein…
— Você está certo. Esse treino não está rendendo nada. Melhor irmos pra casa.
— Não vou pra casa. Melhor ir ajudar o Kakashi-sensei e ocupar a mente. Você deveria fazer isso também.
— Eu passo.
— Ah, dá um tempo, Teme! Como se tivesse algo melhor pra fazer em casa, sozinho, olhando pras paredes e lembrando da Sakura-chan…
Sasuke olhou-o atravessado, porém, não havia como refutar, aquilo era um fato. Então ele apenas pôs-se a caminhar ao lado do outro, que deu um pequeno sorriso de quem tem razão.
Quando adentraram o prédio principal, cruzou com um shinobi que ali trabalhava e perguntou por Kakashi, ao que o outro respondeu que estava em seu escritório.
Quando subiu, a dupla deparou-se com Shikamaru, no corredor, dando alguma ordem urgente. Quando o olhar do Nara chocou-se com o seu, Naruto sentiu algo estranho. O costumeiro olhar de tédio havia abandonado por completo aquelas orbes escuras e o loiro pegou-se desejando que o moreno desse um bocejo naquele exato segundo, certificando-o de que a paz reinava. Contudo, em vez do habitual gesto, ele pareceu forçar um sorriso e os interpelou.
— Ei, aonde vocês estão indo?
— Pro escritório do Kakashi-sensei. — O tom empregado por Naruto mostrou o quão óbvia ele achava aquela resposta.
— Vocês não podem entrar.
Shikamaru continuava com um sorriso estranho, que dava nos nervos de Naruto.
— Bela piada! Hoje é o dia da pegadinha?
Naruto continuou avançando, sem entender o comportamento do outro. Sasuke seguia ao seu lado, apenas observando.
Para a surpresa da dupla, Shikamaru postou-se entre eles e a porta
— Shikamaru, o que pensa que está fazendo, por que eu não posso ver o Kakashi?
— Ele não está aí.
— Ele está aí sim, 'ttebayo! Eu perguntei do lado de fora e me disseram que ele estava aqui no escritório.
— Mas ele acabou de sair. Quem te informou está um pouco atrasado. Que saco, Naruto!
Tudo aquilo era muito estranho. Shikamaru não estava agindo normal e disso Naruto tinha certeza. Mas por que ele mentiria sobre o paradeiro de Kakashi? Como sua paciência estava diminuta, ele apenas fez o que julgou mais prático e rápido para pôr um fim naquela dúvida. Reuniu energia natural e ativou seu modo sennin.
As preces silenciosas de Shikamaru não haviam sido atendidas. Era tarde demais para aquela frase, mas, mesmo assim, ele não conseguiu calar o inútil apelo:
— Não faz isso, Naruto!
Para o Uzumaki, logo ficou claro qual era a peça sobressalente naquele quebra-cabeças. A assinatura de chakra de Sakura. Sem permitir que sua mente destrinchasse detalhadamente o fato, apenas deixou o impulso guiá-lo. Empurrou o Nara para um lado, sem machucar propriamente, mas também sem qualquer delicadeza e escancarou a porta. Uma pergunta sem resposta dardejava sua mente, de maneira alucinada e torturante: por que Hinata não estava ali também?
Uma outra pessoa que, apesar de silenciosa, estava também muito intrigada com a situação era Sasuke. Quando Naruto finalmente abriu a porta, ele seguiu firme ao seu lado e seus olhos recaíram imediatamente nos cabelos rosáceos à sua frente. E no sangue seco que grudava e tingia os fios de um lado da cabeça. A feição inexpressiva se desfez, sendo substituída por uma carranca dura, que transmitia horror, indignação e fúria.
— Sakura… quem fez isso com você?
Diferente de sua expressão, a voz de Sasuke era fria. Tão gélida que fez o sangue de Sakura congelar nas veias. Daquela vez, ele não estava tomado pela marca da maldição, mas parecia ainda mais letal.
— Quem fez isso e onde está a Hinata? — Naruto intrometeu-se. — O que vocês estão escondendo? Eu exijo saber agora!
Por outro lado, a voz de Naruto estava trêmula de raiva e ele cerrava os punhos, ao lado do corpo, até os nós dos dedos ficarem brancos.
— Calma, rapazes, — Kakashi chamou a atenção, com uma voz fingidamente tranquila — iremos explicar tudo.
Kakashi tornou a oferecer uma cadeira para Sakura, pois ela ainda estava pálida, e assumiu a responsabilidade de dar a má notícia. Conforme relatava o que ouvira da kunoichi, os dois homens à sua frente pareciam ainda mais lívidos. Ele omitiu a gravidez de Hinata, porque Naruto, num ímpeto, já havia se virado para deixar a sala, sem nem uma palavra.
— Naruto, volte aqui imediatamente! Eu tenho informações sobre os bandidos.
Isso chamou a atenção do ninja e ele retrocedeu, atento.
Kakashi circundou sua mesa e tirou da gaveta o livro Bingo. Folheou por alguns longos segundos e voltou para junto de Sakura, mostrando a página aberta para a mesma.
— Você reconhece?
— Sim. São esses.
Ele trouxe o livro à vista dos demais. Havia a foto de um homem mais velho na página da esquerda e outro, com feições parecidas às do primeiro, embora mais novo, na direita.
— Esses dois são Karagami e Koro Ayamichi. São pai e filho e ninjas renegados da Vila do Pássaro. O Clã Ayamichi foi, outrora, bem conhecido e temido pelo jutsu secreto que executavam, embora desavenças familiares tenham causado guerras dentro do próprio Clã. Poucas famílias restaram e a deles era uma, até que eles atacaram outro ramo rival e foram derrotados. O restante da família foi morto em retaliação, e eles fugiram, se tornando renegados. Para conseguir dinheiro, eles roubam e armam sequestros, mas ainda não foram pegos até hoje.
— Até hoje. — Naruto estava vermelho e o rosto contorcido — Porque hoje é o dia da morte desses filhos da puta!
— Naruto, você precisa ter calma. Eles têm um trunfo. O jutsu deles é perigoso. Basta um toque e eles paralisam toda a sua rede de chakra.
— Não me importo que eles drenem meu chakra, tenho de sobra e a Kurama também pode me ajudar!
— Escute com atenção! Eles não drenam seu chakra. Eles o paralisam! Então não importa a quantidade. Estará paralisado e você não poderá usá-lo.
— Foda-se. Eles vão morrer do mesmo jeito.
Naruto ameaçou sair mais uma vez, mas foi contido pelo grito desesperado de Sakura.
— Naruto! Você não pode fazer isso assim, por favor! A Hinata está grávida!
Aquela última palavra atingiu o Jinchuuriki como um soco na boca do estômago, daqueles que deixam a pessoa sem ar. Ele sentiu seu corpo vacilar e, por pouco, não perdeu o equilíbrio. Precisou se apoiar na mesa que Shikamaru costumava usar, para não cair. Ele virou lentamente para a rosada. Todo o sangue havia abandonado o seu rosto.
— O-o quê você disse?
A Uchiha deu um suspiro cansado.
— É verdade. Eu mesma a examinei. Foi por isso que não notamos a aproximação deles. Ela não conseguiu usar o Byakugan e eu resolvi avaliá-la, pra saber o que estava acontecendo. Nós íamos voltar pra Vila… estávamos tão perto… Naruto, me desculpe… eu não consegui...
Uma lágrima rolou pelo rosto de Sakura e um soluço escapou-lhe os lábios, impedindo que completasse sua fala. Naruto tentou engolir, mas havia um bolo em sua garganta e seus olhos ardiam. Uma criança. Uma criança sua e de Hinata. Como ela deve ter ficado feliz! Como ele estava feliz! E como o medo o assolou ainda mais forte ao pensar em tudo isso…
— Sakura, os nukenins sabem do estado de Hinata? — Shikamaru se pronunciou pela primeira vez, desde que entraram.
— Acredito que não. Eles apareceram quando já íamos voltar.
— Isso pode parecer bom por um lado, mas, na verdade, pode ser ruim. Não acredito que eles tenham a intenção de machucar a Hinata, porque querem o dinheiro e precisam dela pra isso, mas eles podem não agir da forma mais cuidadosa. — O Nara direcionou o olhar para Naruto. — Cuidado com como você vai agir. Isso pode prejudicar a Hinata e seu filho.
Naruto enterrou os dedos de ambas as mãos nos cabelos, puxando os fios de forma desesperada e urrou, frustrado, amedrontado:
— Kami-sama, o que eu faço?!?
— Naruto, eu já mandei chamar o Hiashi. — Kakashi aproximou-se e depositou uma mão no ombro de Naruto, em apoio. — Pedi ao shinobi encarregado que o deixasse totalmente a par da situação, inclusive da gravidez. A opção mais segura é pagar o resgate e trazer Hinata em segurança.
— Mas quem garante que eles não vão machucá-la?!? Quanto mais tempo passamos nesse escritório, maior a chance de estarem abusando dela!
Quando Naruto ergueu o rosto para encarar Kakashi, foi possível ver seus olhos transbordando de lágrimas.
Naquele exato momento, Hiashi irrompeu na sala.
— Minha filha! Minha Hinata… Mais uma filha sequestrada, eu não posso acreditar! — Ele viu Naruto e foi em sua direção, apoiando-se no ninja. — Naruto, eu trouxe tudo o que eles pediram! Vamos entregar logo isso e trazer Hinata de volta, por favor!
Um outro Hyuuga vinha segurando uma sacola, que provavelmente estava recheada de dinheiro.
— Vamos fazer o seguinte: — Kakashi tomou a palavra — Naruto e Hiashi irão ao encontro dos bandidos e entregarão o dinheiro, mas enviarei um esquadrão ANBU para dar cobertura, de forma discreta. Mas isso só será possível se você, Naruto, agir de forma controlada. Pense no bem estar da sua esposa e filho.
Shikamaru pronunciou-se.
— Eu vou com eles. Alguém deve ficar de olho no Naruto.
— Não. — A voz do Uzumaki saiu firme — Você acabou de ter um filho. A Temari está precisando de você.
O Nara não podia refutar aquilo, visto que era um fato. Estava trabalhando temporariamente apenas meio turno, para ajudar com o pequeno Shikadai.
— Eu encontro você no caminho. — Sasuke chamou a atenção de todos. — Vou apenas levar Sakura ao hospital primeiro.
Com um movimento de cabeça, Naruto assinalou sua concordância. Sasuke adiantou-se para Sakura e a pegou no colo.
— Sasuke-kun… Eu estou bem, realmente não precisa…
O moreno lançou-lhe um olhar que deixava claro que ele não cederia naquela questão. Dessa forma, ele saiu em disparada, com Sakura em seus braços.
— Hiashi-sama, vamos!
Não havia nenhum tempo a perder e a saúde de Sakura também estava em jogo, portanto, Sasuke não poupou o poder de seu rinnegan e utilizou seu ninjutsu de espaço-tempo para chegar imediatamente ao hospital. Ino veio até eles assim que soube. Ela estava imensa e sentia muitas dores decorrentes do encaixe do bebê em sua bacia, mas não conseguia ficar em casa o dia inteiro, ainda trabalhando meio período no hospital.
— Kami-sama, o que aconteceu?! — Ela arregalou os olhos diante do ferimento de Sakura, que já estava deitada em uma maca quando ela chegou.
— Sakura lhe explicará mais tarde. Eu preciso ir, apenas gostaria de saber se esse ferimento não é grave. — Sasuke falou, com urgência e preocupação.
— Bom, ela me parece inteiramente consciente, mas precisamos fazer vários exames, para ter certeza.
— Sasuke-kun, por favor, não se preocupe. Vá ajudar o Naruto. A Ino vai cuidar bem de mim.
Sasuke encarou Ino, que assentiu de maneira confiante. Com isso, ele fez menção de virar-se, para deixar o local, mas, antes que o fizesse, voltou a atenção para Sakura e tocou sua testa com a ponta dos dedos indicador e médio.
— Nos vemos em breve.
Ela sorriu e ele partiu.
O sol estava baixo no horizonte quando Sasuke apareceu ao lado de Naruto instantaneamente, através do poder do seu ame-no-tejikara. O Uzumaki e o Hyuuga já estavam muito perto do local combinado. O jinchuuriki usava o modo sennin para localizar sua mulher. Quanto mais a sentia próxima, maior era sua vontade de pegá-la à força, esmagando os pedaços de lixo que se atreveram a tocar num fio de cabelo dela. Ela era uma princesa, a sua princesa, e nenhum ser inferior tinha direito de passar dos limites.
— Calma, moleque. — Naruto ouviu a conhecida e retumbante voz de Kurama dentro de si. — Se você se precipitar, pode estragar tudo. Quando o momento certo chegar, eu te ajudarei.
— Certo. — Naruto respondeu, semblante sério, rugas formadas em sua fronte e um suor frio que escorria pela têmpora.
~◇~
Às margens do riacho, onde a captura houvera acontecido mais cedo, Ayamichi Koro guardava vigília sozinho. Seu pai estava dentro de uma pequena gruta, a alguns metros dali, mantendo a refém amarrada e amordaçada. Ouviu passos se aproximando e ocultou-se por de trás das folhagens, aguardando ver quem era. Logo um homem alto e esguio, de porte austero, surgiu. Koro observou atentamente e viu a semelhança do mesmo com a mulher que eles mantinham em cativeiro, buscou por outros ninjas que pudessem estar o acompanhando, mas não conseguiu ver mais ninguém. O homem se pronunciou no meio da noite, para ninguém em especial:
— Sou Hyuuga Hiashi e recebi o recado de vocês. Estou aqui com a quantia que pediram. Por favor, devolvam minha filha.
Algum silêncio se fez, até Koro decidir, finalmente, revelar-se.
— Hyuuga! Espero que não tenha sido tolo o suficiente para tentar armar qualquer tipo de armadilha! A vida de sua herdeira está em jogo.
— Não! Está tudo aqui, nessa bolsa, como pediu. Vim sozinho.
Hiashi suava frio, mas, por sorte, a escuridão daquela noite sem luar escondia seus temores. Ele abriu a bolsa de couro, mostrando os malotes de dinheiro que ali estavam, porém, sem se aproximar.
Um brilho fugaz perpassou a vista do renegado e ele pareceu satisfeito.
— Vou trazer sua menina. Fique aqui e não tente nenhuma gracinha.
O homem desapareceu, veloz, no coração da floresta. Após alguns minutos, o som de passos chamou a atenção do Hyuuga.
Hinata caminhava com dificuldade entre os dois homens. Aquilo chocou Hiashi, mas ele sentiu-se aliviado quando percebeu que era apenas porque ela tinha os pés atados, assim como as mãos, em suas costas. Seus olhos estavam amedrontados.
— Aqui está sua belezinha. — O homem mais velho, que trouxera a Uzumaki, disse. Ele agarrava o braço dela fortemente. — Koro me disse que o dinheiro está aí, como acertado.
— Sim, tudo aqui — Hiashi repetiu. Ele não tirava os olhos da filha.
— Pois bem. Jogue a bolsa pra cá, que eu solto a belezinha. Ela sabe muito bem o poder do nosso jutsu, então nem pense que pode nos enfrentar, quando a soltarmos.
— Eu não os enfrentarei. Vocês têm a minha palavra.
— Ótimo. No três, então. Um, dois, três!
Hiashi jogou a sacola, ao passo que Hinata foi arremessada sem qualquer cuidado aos seus pés. Como ela estava com os membros atados, não conseguiu manter o equilíbrio e caiu com um baque surdo no chão. Os bandidos pegaram o dinheiro e partiram em disparada.
Hiashi imediatamente agachou-se para ajudar a filha. Ajudou-a a sentar e removeu sua mordaça.
— Minha filha, você está bem? Eles a machucaram?
— Estou bem, eu apenas quero sair daqui! Que bom que o senhor veio sozinho! Se o Naruto ficasse sabendo disso…
Hiashi desatava os nós das cordas que a envolviam.
— Não se preocupe com isso. Vou levá-la ao hospital imediatamente! Kami-sama, nós precisamos saber se meu neto está bem!
Hinata espantou-se com aquilo. Não sabia ao certo se Sakura iria repassar aquela informação ao seu pai, então, de qualquer forma, não estava preparada. E ainda menos para a visão dos olhos claros desmanchando-se em lágrimas, à sua frente.
— Se acontecer alguma coisa a vocês dois… eu não posso nem pensar nisso! Meu netinho! Meu netinho!
Ele levantou e a agarrou em seus braços, correndo o mais rápido que podia para alcançar o hospital o mais breve possível.
Um pouco distante dali, os renegados afastavam-se a toda a velocidade. Isso até um imenso disco de luz, semelhante a uma shuriken gigante interceptá-los. Foi tudo muito rápido. Num segundo, aquilo havia aparecido e, no segundo posterior, o Ayamichi mais novo era atingido em cheio, caindo por terra, imóvel. Karagami soltou um grito horrorizado, mas não havia tempo para lamentações, porque uma figura apavorante acabara de surgir bem à sua frente. Tinha o corpo todo amarelo, de aparência flamejante.
— Você ousou tocar na minha mulher, na porta da minha vila, e acha que vai realmente conseguir sair impune?
Naruto deu um sorriso maquiavélico, que fez o renegado da Vila do Pássaro ter certeza que era hora de partir para o tudo ou nada, ou não sairia dali vivo. Arremessou-se contra o inimigo, agarrando qualquer porção de corpo que conseguiu alcançar.
Quando a mão do oponente tocou seu punho, o Uzumaki sentiu a reação instantânea alastrar-se por seu corpo, paralisando suas forças.
— Achou que era fácil me capturar? — O homem gargalhou. — O problema de vocês de Konoha é que se acham demais.
Com a mão livre, o homem alcançou o cabo de uma katana cuja bainha carregava na cintura e, em um movimento veloz e fluido, arremeteu-a contra o pescoço do Uzumaki. Entretanto, antes que pudesse completar o movimento, avistou várias kunais zunindo, velozes, em sua direção. Usou a katana para desviá-las, no entanto, não contava que aquilo fosse mera distração. Uma dor lancinante atingiu o braço que segurava o punho do oponente e, quando se virou para ver o que havia acontecido, deparou-se com o cotoco de seu braço jorrando sangue e a lâmina suja de um segundo shinobi, que possuía uma aparência totalmente oposta ao outro. Era todo escuro e os únicos pontos de cor que emitia vinham de seus olhos desiguais, que exibiam dois dos três mais poderosos doujutsus do mundo shinobi.
— Realmente eu achei fácil. — O ninja flamejante falou, com a voz carregada de sarcasmo — Você caiu na nossa armadilha como um patinho.
— Naruto, — a voz fria de Sasuke transbordava raiva — você já acabou com o outro. Agora é a minha vez. Eles têm de pagar pelo o que fizeram com Sakura.
— Não, por favor, não fui eu, foi o meu filho! — O homem acusou, em tom suplicante, enquanto tentava parar o sangramento do braço nas próprias vestes. — Está falando da rosadinha, não é? Foi ele sim, foi ele que bateu nela! Por favor, me poupe!
— Pra mim, tanto faz quem bradou a arma. Sou tão renegado quanto vocês e, diferente do meu parceiro, não tenho qualquer piedade.
O homem assistiu as tomoe do sharingan mudarem de padrão e se preparou para seu fim. Para sua sorte, caçadores ANBU chegaram naquele instante, interrompendo a sua execução.
— Vocês já fizeram estrago o suficiente, agora voltem pras suas mulheres. Nós cuidaremos daqui por diante. O Sexto não precisa de nenhum incidente diplomático nesse momento. — Um dos mascarados disse, agarrando o homem que estava à beira de um colapso, pela perda de sangue. — Esses dois já estão fora de combate.
~◇~
No hospital, Naruto e Sasuke separaram-se, direcionando-se, cada qual, para o quarto de suas respectivas esposas.
Sasuke deparou-se com uma Sakura desacordada em seu leito. Seu peito ardeu em desamparo, mas logo uma enfermeira apareceu para informá-lo de que a rosada estava bem e apenas descansando. Seus cabelos já estavam lavados e havia um curativo na lateral de sua cabeça. Um médico veio e o informou que a mesma precisaria passar a noite em observação, mas que seu estado geral de saúde era bom e que, após a alta médica, provavelmente a ocorrer no dia seguinte, ela precisaria retornar diariamente para a troca do curativo.
Com a conversa, Sakura acabou despertando.
— Sasuke-kun?
— Bom, eu vou deixá-lo a sós um pouco. Vocês precisam de um pouco de privacidade, nesse momento. — Ele deu uma piscadela suspeita para Sakura e saiu.
— Sasuke-kun, como a Hinata está? Vocês conseguiram trazer ela em segurança?
Sasuke pousou a mão sobre a da esposa e olhou bem profundamente em seus olhos esmeraldinos, achando irresistivelmente bonita a forma como estava se preocupando com os outros, mesmo deitada em uma cama de hospital. Sakura era a luz da qual ele sempre precisara, mas que mantivera afastada por muito tempo.
— Ela está bem, pelo menos foi o que eu consegui ver enquanto estávamos à espreita. O Hiashi-sama a trouxe pra cá. Acredito que ela deva estar passando por exames agora.
— Que bom! — Sakura suspirou, aliviada — E você? E o Naruto? Vocês estão bem?
Ela correu os olhos pelo corpo esguio, buscando alguma alteração. Sasuke deu um de seus raros sorrisos.
— Estamos bem. E você? Querendo saber de todo mundo, mas deitada aí nesse leito.
— Eu estou bem, Sasuke-kun. Na verdade, — um rubor espalhou-se por sua face e seus olhos brilharam mais intensamente — nós estamos bem.
Sasuke estudou a ênfase empregada na palavra nós. De repente, um calor se espalhou por seu peito e ele exibiu uma expressão de espanto.
— O-o que quer dizer com isso? — Ele soprou num fio de voz, após um longo instante de silêncio.
— É isso mesmo, Sasuke-kun. Agora somos três. Acabei de descobrir que estou grávida.
No outro quarto, Naruto chegou aos tropeços. Uma médica estava lá, conversando com Hiashi e Hinata, todavia, Naruto não parecia enxergar nada mais à sua frente nem se importava com mais ninguém. Ele apenas invadiu o cômodo e agarrou o rosto da morena entre as mãos.
— Hinata, você está bem?
Ele iniciou um exame meticuloso por todas as partes expostas de pele da mulher. Para o seu total desagrado, haviam algumas escoriações e marcas arroxeadas em alguns pontos.
— Aqueles desgraçados te machucaram! Eu não devia ter permitido que os ANBUs os levassem! Eu vou…
— Naruto-kun! — Hinata levou a palma de sua mão ao rosto do loiro, fazendo com que ele parasse de falar. — Isso não é nada! São arranhões da mata fechada e marcas do agarro deles. Você sabe como a minha pele é sensível e como qualquer coisinha me deixa roxa.
Naruto engoliu em seco, nervoso com a próxima pergunta.
— E… e o n-nosso... bebê?
Ouvir aquelas palavras despertava em Hinata uma felicidade tão intensa! Aquela não era a melhor das ocasiões nem fora como ela sonhara, mas o carinho e preocupação que o tom do marido transmitiu, naquele momento, foi tão sublime que fez seus olhos transbordarem de emoção. Sua voz saiu falha e trêmula.
— N-nosso bebê está bem! O nosso bebê...
— Sim, o nosso bebê!
Naruto estava sorrindo e chorando ao mesmo tempo, assim como Hinata. Eles deram as mãos e começaram a gargalhar enquanto continuavam repetindo, juntos: “o nosso bebê”.
Por fim, Naruto levou os lábios aos dela e a beijou com ternura, segurando firme, como se a pudessem tirar de seus braços a qualquer momento e realmente podiam, porque dois enfermeiros enormes foram necessários para afastá-lo, já que a paciente ainda estava em observação. O sermão da médica não estava adiantando, uma vez que nenhum dos dois a escutavam.
— Senhor Uzumaki, controle-se! A paciente ainda está debilitada! — A médica ralhou. — Vocês precisam sair. Ela deve descansar agora.
Naruto anuiu, preocupado se havia machucado Hinata de alguma forma. Porém, mesmo afastado, antes de cruzar a porta do quarto, ele soprou declarações de amor a sua esposa e filho.
— Eu te amo! Eu amo vocês dois! Amo muito!
Hinata riu, a alegria era tão grande que mal cabia no peito.
— Eu também te amo! Nós te amamos! Pra sempre!
Hiashi, a médica e os enfermeiros não conseguiram se privar de sorrir diante de uma família tão bonita.
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