Alguns anos mais tarde
O grande dia na vida do Uzumaki estava muito perto. Um sonho que perseguira desde muito novo, não sabia nem ao certo desde quando, mas o termo certo seria: desde que se entendia por gente.
A cerimônia de nomeação do sétimo Hokage seria na manhã seguinte e, por isso mesmo, o loiro encontrava-se numa pilha de nervosismo. Avisou à esposa que passaria a noite no escritório, repassando seu discurso. A verdade era que não queria incomodá-la, pois sabia que provavelmente passaria a noite toda se revirando na cama. Contudo, Hinata era uma companheira tão prestativa e cuidadosa que, por volta das duas da manhã, ele ouviu delicadas batidas na porta, seguidas por ela adentrando o cômodo com uma bandeja em mãos.
— Hime, o que você está fazendo acordada a essa hora?!
— Naruto-kun, eu vim trazer um pouco de chá de camomila pra você.
Ela depositou a bandeja na mesa e começou a servir a bebida fumegante em uma xícara ricamente adornada, daquelas que ela adorava comprar para casa. Naruto balançou a cabeça de um lado para o outro, em sinal de reprovação, mas, ao mesmo tempo, sorrindo.
— Ah, Hime… Você não tem jeito! Eu não quis dormir no quarto hoje justamente pra não te incomodar…
— Não se preocupe, amor. Eu também estou sem sono e vi a luz acesa pela brecha da porta, então resolvi fazer esse chá pra nós.
Ela entregou-lhe a bebida, servindo uma nova xícara, em seguida, para si. Sentou-se na cadeira que ficava de frente para a escrivaninha e os dois guardaram silêncio, enquanto bebericavam a bebida.
— Amanhã vai ser um dia corrido.
— Sim.
— E a tia do bordado não entregou minha capa a tempo…
— Não se preocupe, amanhã eu pego. Vai dar tudo certo.
Seus olhares se cruzaram. Havia uma conversa muda. De um lado, os olhos cristalinos de Hinata buscavam passar serenidade e confiança, enquanto os marítimos de Naruto demonstravam uma tempestade de sentimentos, na qual a insegurança prevalecia. Lendo isso, Hinata pousou a xícara na mesa e deslizou uma mão até encontrar e cobrir a de Naruto, que jazia ali.
O Uzumaki, diante do gesto, expirou pesadamente, seus ombros caíram, rendidos.
— Ah, Hime… tô tão nervoso! Não sei se posso realmente dar conta disso. Me sinto uma fraude! Sonhei tanto com isso e, agora, não sei se sou a pessoa mais indicada…
— Naruto-kun, eu confio plenamente em você. Sempre confiei, mesmo quando os outros não. E você nunca me decepcionou. Então, acredite em mim. Você é a pessoa mais indicada ‘pra assumir esse título. Você se preparou por anos. Você tem a maior vontade de fogo de Konoha. Você daria a sua vida pelo nosso povo, principalmente pela futura geração. Não só eu acredito nisso, como tantas outras pessoas, que estão junto com você nessa caminhada. É normal se sentir nervoso e inseguro, mas não deixe isso te afetar. Você já é o meu Nanadaime.
Ele sorriu. Não existia pessoa no mundo como ela. E ela sempre estava disposta a ouvi-lo e presenteá-lo com palavras encorajadoras e tocantes.
— Obrigada, Hime… Você sempre sabe como me animar e dizer as palavras que eu preciso ouvir — Ele colocou a outra mão sobre a dela, apertando-a entre as suas — Mas sabe, tem outra coisa me preocupando…
— O quê?
— A nossa família. Com toda essa responsabilidade que assumo amanhã, tenho medo de ter pouco tempo pra você e pros nossos filhos.
— É claro que as coisas não serão como antes. Não vou mentir, as crianças me preocupam um pouco. Elas são muito agarradas a você. Principalmente o Boruto, que já está numa idade de sentir uma falta maior. Mas creio que, com o tempo, ele vai se adaptar e entender a importância do seu cargo e há de se orgulhar.
— Tenho muito medo que eles não entendam, sabe? Que me vejam como um pai ausente…
Hinata levantou-se e deu a volta na mesa, parando atrás da cadeira do marido e rodeando-o com os braços, encostando suas bochechas.
— Faça seu melhor, eu farei meu melhor também. ‘Tô aqui pra ser o seu apoio, o seu esteio. Nossa família é cheia de amor e o amor supera todas as dificuldades.
Naruto ergueu-se e tomou Hinata nos braços, uma mão na base de sua coluna, a outra acariciando seus cabelos negrume e sua pele de alabastro, enquanto encarava os olhos límpidos à sua frente.
— Obrigado, meu amor. Não seria nada sem você.
~♡~
O tempo passa mais um pouco…
A noite estava muito bonita e estrelada. Ele voltava para casa. Havia conseguido terminar o trabalho mais cedo.
Girou a chave na fechadura. Sentou-se no desnível para descansar as sandálias.
— Tadaima!
— Okaeri!
Além da voz de sua esposa, respondendo, havia outras, um verdadeiro burburinho no interior da casa. Quando ele adentrou a sala de estar, a primeira visão que teve foi da morena, que brilhava ainda mais intensamente aquela noite, parecendo ter roubado todo o brilho da lua. Ela estava sentada no sofá, conversando animadamente com uma bela ruiva de cabelos longos e grossos, que fazia um cafuné em sua filha mais nova, Himawari, que parecia radiante.
As mulheres viraram em direção a ele, notando sua presença.
— Anata! — Hinata lhe sorriu.
— Papa! — Himawari levantou-se de pronto, correndo para os seus braços.
— Meu filho! — Os olhos, num tom escuro de azul, cravaram-se nos seus. Eles transbordavam de… carinho?
Kushina levantou-se, devagar e soberanamente, cruzando o espaço que os afastava, de braços abertos.
— Há quanto tempo! Eu estava com muita saudade!
Ela segurou seu rosto entre as mãos. Hinata e Himawari assistiam à cena, sorridentes.
— M-ma… mamãe? — Ele balbuciou, confuso. Seus olhos se encheram de lágrimas.
— Claro, né, seu tonto?! — Embora quisesse parecer braba, suas orbes estavam igualmente úmidas. Para disfarçar, ela rapidamente o envolveu num abraço, esmagando a pequena Himawari entre eles. Era bruta até para dar carinho.
Naruto retribuiu o aperto, sentindo os fios vermelhos brincando com seu nariz. Eles exalavam um perfume maravilhoso, que Naruto não sabia explicar, mas que lhe trazia um sentimento nostálgico incrível. Apertou os olhos, inalando profundamente, gravando o aroma na memória.
Ainda no abraço, ele abriu os olhos e mirou Hinata, por cima do ombro da mãe. Ela lhe sorriu, emocionada e, em seguida, virou o rosto na direção da cozinha. Ele seguiu seu olhar e deparou-se com uma cena inusitada: um homem alto e loiro, de costas, com um avental rosa, à beira do fogão e cercado por seus filhos mais velhos, Boruto e Kawaki. O homem parecia ensinar algo aos meninos, que prestavam muita atenção e faziam perguntas ocasionais. Até mesmo Kawaki, com seu jeito reservado, parecia muito à vontade com aquela companhia, que exalava uma aura de gentileza palpável.
— P-papai? — A pergunta saiu em um sussurro, sendo escutado apenas por Kushina, que se afastou um pouco, ainda segurando seus ombros, embora fizesse algum esforço para tal, pois seu filho era bem mais alto.
— Ah, sim! Ele 'tá ensinando aos meninos algumas coisas sobre cozinha. 'Tá todo se achando o grande mestre… — a ruiva fez uma careta engraçada, arrancando risos dos demais, até de Naruto, que não continha a emoção.
Ouvindo os risos, Boruto, Kawaki e Minato viraram-se.
— Velhote! Vem aqui aprender com o vovô também! — Boruto colocou uma mão, ao lado da boca, virando para Minato, mas foi impossível não ouvir o “segredo” confidenciado — Ele é péssimo! Se alguém aqui em casa precisa de aulas de culinária, esse alguém é o velhote.
Minato e Kawaki riram discretamente. Naruto afastou sua mãe com delicadeza e foi ao encontro deles.
— Meu filho querido! — O loiro mais velho pousou as mãos na curva entre o pescoço e os ombros do Uzumaki, de modo firme. — Você está enorme! Talvez até um pouco maior que eu, hein? Venha cá, me dê um abraço!
Ele puxou o filho num enlace apertado, dando firme batidas em suas costas.
— Um homem! Com uma família linda! Que orgulho, meu filho, que orgulho!
Aquelas palavras romperam a barreira que seguravam suas lágrimas, que desceram em torrentes generosas. Minato desvencilhou-se, com os olhos azuis, tão parecidos com os seus, transbordando e vermelhos. Pegou uma ponta do avental e usou para secar o rosto, fungando, mas tentou agir naturalmente.
— Venha, o jantar está pronto, mas você ainda pode nos ajudar a servir.
— Sim! Chega desse chororô, porque nós estamos com fome! — Kushina bradou da sala, porém, sua voz estava levemente embargada, o que denunciou sua emoção.
Todos sentaram-se à mesa e o jantar transcorreu num borrão de conversas, gargalhadas, histórias e sensações. Por fim, as crianças ofereceram-se para lavar, enxugar e guardar a louça, enquanto os adultos descansavam na sala de estar. Hinata e Kushina sentadas no sofá, Minato e Naruto sentados em poltronas bem em frente a elas, em uma configuração diferente da que o Uzumaki se recordava.
— Mãe, pai… tô tão feliz por ter conseguido sair cedo do escritório hoje! Quase nunca isso é possível… — Naruto baixou o olhar, cabisbaixo.
— Não fique assim, Naruto! Eu sei como é isso, acredite! Me sentia o pior dos homens pelas noites que deixei Kushina sozinha, mas é o preço que pagamos por proteger nossa vila. Tenho certeza que você não seria plenamente feliz se não pudesse executar esse papel.
— Sim. Muitas vezes eu precisei jantar só — Kushina possuía um brilho nostálgico no olhar e buscou a mão do marido, que estendeu a sua de encontro a dela, os dedos se entrelaçando. — Mas foi por esse homem que eu me apaixonei. Valente, comprometido. Nunca me senti triste ou sozinha. A vila toda era como nossa família e eu só conseguia sentir orgulho dele. E tenho certeza que Hinata se sente dessa mesma forma, não é, querida?
A ruiva estendeu a outra mão para a morena, que a segurou ternamente.
— Sim! Me orgulho muitíssimo do meu marido! Ele nasceu pra ser Hokage e eu sempre soube. E meu coração explode de felicidade e amor ao vê-lo tão dedicado, tão prestigiado e querido, após tudo o que passou — Hinata desviou o olhar para Naruto, corando ao ver o brilho que as gemas azuis emanavam em sua direção.
— Meu filho, você cumpriu todos os desejos de uma mãe. Mesmo eu não estando aqui para te guiar, você conseguiu! Saiba que você é um grande orgulho para mim e para o seu pai e nós estamos sempre, olhando pela sua família linda.
— Sim! — Minato pressionou o ombro do filho, com a mão livre.
— E Hinata — Kushina continuou, agora para a nora. — Obrigada por ser essa mulher tão maravilhosa na vida do meu filho. Você sempre esteve ao lado dele, apoiando-o e eu sou eternamente grata a você. Se esse cabeça-oca tivesse te deixado escapar, eu teria dado um jeito de vir pessoalmente dar um grande cascudo nele! — Hinata, que tinha os olhos marejados, não pôde deixar de sorrir, como os outros. — Naruto, cuide bem dela. Você sabe que tem um tesouro, sim?
— Sim, mamãe! A Hinata é meu precioso tesouro, eu a amo infinitamente — ele disse, encarando Hinata.
— Muito bem! — Kushina aprovou. — E continuem cuidando bem dos meus netos, inclusive dessa pequenina que está se formando aqui dentro.
Kushina soltou a mão de Hinata e a usou para acariciar o ventre da mais nova. O jovem casal tinha os olhos arregalados mediante àquela revelação. Kushina riu de seu espanto.
— É isso mesmo! — Ela reafirmou. — Mais um bebê a caminho. Quatro filhos, hein? Quem diria que vocês dois iam ser como um casal de coelhos?
Naruto espantou-se, abrindo os olhos de súbito e deparando-se com a claridade da manhã, em seu quarto cheiroso e bem arrumado. Pôs a mão no coração, que batia acelerado em seu peito. Fora tudo apenas um sonho? Parecera tão real…
— Naruto-kun, você está bem? — Hinata havia se acordado com os movimentos bruscos do esposo e preocupava-se com o semblante assustado que seu rosto demonstrava.
— Hime… — os olhos do loiro foram, gradativamente, recuperando o foco, até ele conseguir enxergá-la. — T-tudo bem… quer dizer, eu tive um sonho…
— Um pesadelo?
— Não. Na verdade, foi um sonho maravilhoso… mas foi tão real que é até um pouco decepcionante saber que foi apenas isso…
Hinata aconchegou-se mais perto, deslizando a mão pelos fios loiros, ofertando conforto com seu carinho.
— Sobre o que foi o sonho?
— Meus pais, Hina. Eles vinham nos visitar… E parecia que estavam mesmo aqui, sabe? Conversando conosco, brincando com as crianças…
Naruto contou tudo. Cada detalhe que lembrava, inclusive as palavras de admiração que Kushina havia direcionado à Hinata, cujos olhos marejaram, remetendo Naruto ao sonho ainda mais.
— Eles diziam que se orgulhavam de mim. E minha mãe… Nossa, ela babava em você! Disse que você era um tesouro!
As lágrimas de Hinata rolaram pela bochecha e queixo. Não sabia explicar, mas aquilo estava lhe afetando como se realmente houvesse acontecido. Repentinamente, as feições de Naruto se iluminaram ainda mais, como se ele recordasse de algum detalhe muito importante.
— Lembrei! Antes de eu acordar, ela falou que nós estávamos esperando mais um bebê! Não, uma bebê! Lembro que ela chamou de pequenina…
Eles se entreolharam, de maneira profunda. Ambos os corações batendo velozes.
— Existe alguma possibilidade? — Naruto perguntou, baixinho.
— N-não sei… Minha menstruação deveria ter vindo ontem, mas ainda é muito cedo pra dizer…
— Um teste de sangue! Nós vamos fazer um teste de sangue hoje mesmo! Vamos nos arrumar e passar no hospital antes de eu ir para o escritório.
Naquele final de semana, Naruto tirou uma folga. Hinata e ele haviam planejado um piquenique com a família. Quando acordou, a esposa já havia se levantado, provavelmente organizando os últimos detalhes para o passeio.
Assim que desceu as escadas, deparou-se com sua deusa. Usava uma saia midi roxa, camiseta branca e tênis claros que lhe conferiam um ar jovem e despojado. Era surpreendente como ela conseguia parecer tão elegante com tão pouco. As crianças também desceram para o desjejum, vestidos em roupas especiais para um dia especial em família.
A pequena Himawari, doce e delicada como a mãe, com uma blusa branca de mangas com babados nas pontas, sobreposta por um vestido amarelo, tênis quase idênticos aos de Hinata, porém escuros e uma charmosa bolsinha infantil, transpassada, de Kurama, que era seu xodó. Boruto vestia um macacão jeans com a barra da calça enrolada e camiseta rosa (amava essa cor). Ele parecia bastante feliz, apesar de se concentrar em parecer que não. Kawaki, mais discreto, usava jeans e uma sobreposição de camisetas, por baixo branca, por cima verde.
A família se direcionou até o Parque senju, onde conversaram, brincaram, riram e tiveram muitos momentos agradáveis.
Boruto, Kawaki e Naruto treinaram levemente, enquanto Hinata e Himawari colhiam algumas flores para adornar o cenário da refeição.
Sob um grande carvalho, que projetava uma imensa sombra acolhedora e fresca, eles se sentaram sobre uma toalha, para comer os quitutes deliciosos de Hinata, mas que haviam sido preparados, também, com a ajuda de cada um dos três filhos.
Por fim, quando estavam todos satisfeitos, Naruto tomou a palavra.
— Bem, crianças, nós viemos aqui para curtir essa folga, mas também por um motivo especial. Uma notícia muito incrível!
Todos arregalaram os olhos, com feições curiosas em diferentes níveis. Naruto olhou para Hinata, lhe passando a palavra.
— Sim, crianças. O que seu pai e eu temos a dizer é que nossa família acaba de ganhar mais um presente. E vai aumentar.
Os três olharam de Hinata para Naruto, que exibiam expressões serenas e, depois, se entreolharam. Himawari foi a porta-voz da turma.
— Mama, papa… nós vamos ganhar mais um irmãozinho ou irmãzinha?
— Sim, querida. Uma irmãzinha.
— Naruto-kun, nós ainda não sabemos…
— Sabemos sim, Dona Kushina me disse! — O Jinchuuriki deu um largo sorriso característico.
Himawari projetou-se para os braços dos pais, sendo seguida por Boruto, que tinha um sorriso idêntico ao do pai. Kawaki estava um pouco hesitante, mas Naruto o puxou para junto deles e ele os abraçou forte, sorrindo levemente, o que era um pouco raro.
Apesar das dificuldades da vida, os Uzumaki eram uma família feliz.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.