Naruto caminhava pelas ruas da aldeia de forma descontraída. O temporal da noite anterior parecia ter lavado o inverno embora, deixando um clima quente, que mais parecia verão, e um céu tão azul e luminoso, que espelhava o estado de espírito do jovem ninja. Observava o céu, pensando que aquele não seria um dia ideal para seu amigo Shikamaru, já que sequer havia nuvens para observar. Sorriu com a constatação. Todos que encontrava no caminho o cumprimentavam alegremente, e, da mesma forma, ele respondia, com seu largo sorriso, característico. Estava a caminho da academia e sua mente estava cheia de planos sobre o que passar para seus alunos naquela manhã.
Lembranças da noite anterior volta e meia invadiam seus pensamentos. Após o tão esperado beijo, haviam se recolhido, cada qual em seu respectivo leito, mas permaneceram de mãos dadas e assim adormeceram. Ao amanhecer, havia sido ímpar ser acordado por Hinata, de seu jeito calmo e comedido, o chamando, com sua delicadeza inerente. Ela estava linda, com o rosto de quem acabara de acordar, e ficara sem graça ao receber tal elogio, achando inclusive que Naruto estaria sendo irônico ao afirmar tal coisa. Em resposta, Naruto segurara seu queixo e aproximara o rosto, distribuindo pequenos beijos por toda sua face, até encostar seus lábios, em um selinho estalado. Tomou banho e vestiu a roupa, que já encontrava-se seca. Antes de saírem, tiveram um pequeno momento de hesitação, pensando como fariam para Naruto sair sem ser visto. Hinata ativou seu byakugan mais uma vez. A patrulha dos dois ninjas de elite já havia se encerrado, haja visto que o combinado com o Hokage era que fariam a ronda noturna apenas, não havendo necessidade de estender-se durante o dia. Portanto, o único obstáculo remanescente, eram os guardas que patrulhavam a entrada e saída do distrito.
Ficou acertado que Naruto usaria a técnica de fuga transparente (touton jutsu), aprendido com Jiraya, enquanto Hinata se encarregaria de distraí-los ao máximo. Todo o cuidado era pouco, afinal, mesmo sendo um jutsu muito útil, não seria efetivo, caso seus byakugans estivessem ativos. Então ele esgueirou-se da forma mais sorrateira possível, enquanto Hinata cumpria seu papel, mantendo-os ocupados em uma conversa. Obtiveram sucesso, encontrando-se mais a frente, já fora de alcance dos guardas. Despediram-se e, o que contribuía ainda mais para o contentamento do Uzumaki, havia sido o acerto de que, mais tarde, mais uma vez ele passaria a noite na mansão Hyuuga. Tudo com a grande desculpa de que era perigoso Hinata passar a noite só.
Rindo bobamente com o pensamento, seguiu seu caminho, para seus afazeres rotineiros.
Hinata passou na floricultura Yamanaka, a fim de comprar flores para ornamentar o túmulo do primo Neji. Não o visitava desde antes dos acontecimentos que a levaram a lua. Ino a cumprimentou, com sua jovialidade típica, cheia de sorrisos e insinuações acerca do recente pedido de namoro. Vermelha, a Hyuuga desconversou, dando a desculpa de que estava atrasada.
- Nós vamos marcar depois um almoço só entre as meninas! Quero saber todos os detalhes de você com o Naruto! - Gritou Ino, por de trás do balcão, enquanto Hinata saía apressada para a rua.
Após prestar suas homenagens ao ente querido e dar um trato em sua lápide, a jovem seguiu até o local preferido de treinamento do time 8. Seus companheiros já estavam lá, em ação. Para sua surpresa, Kurenai também se encontrava no local, com a pequena Mirai, que olhava atentamente os dois ninjas lutando, dando pequenos pulos e vivas, claramente bastante empolgada.
- Kurenai-sensei, que surpresa agradável vocês aqui!
- Hinata! Que bom vê-la! Como está?
- Estou bem!
- Vim pegar um pouco de ar e trouxe Mirai, ela adora assistir ao treinamento!
Ouvindo o seu nome, a pequena voltou a atenção para as duas, indo em direção à Hinata com os bracinhos estendidos, assim que a viu. Hinata a pegou no colo, enquanto a pequena apontava para Kiba e Shino e batia palminhas. Após dar um beijo em sua bochecha, Hinata a pôs no chão novamente, e juntou-se aos amigos para o treinamento.
Após algumas horas de trabalho árduo, sob a torcida de Mirai e as dicas valiosas de sua sensei, o time resolveu dar por encerrado o treinamento do dia. Voltaram ao centro da vila, Mirai nas costas de Akamaru, como ela adorava.
Repentinamente, sem aviso prévio, Hinata viu-se cercada por Ino, Sakura e Tenten que, de maneira bem espalhafatosa, a seguraram e puxaram, dizendo que iriam almoçar juntas. Kiba se auto convidou para o almoço, enquanto Shino comentou que também estava com fome. Entretanto, foram rechaçados por Ino, no mesmo instante.
- Não! Esse é um almoço de mulheres! Só não convido a Kurenai-sensei porque ela está com a Mirai, que é muito pequenina pra ouvir certas coisas. Desculpe, Kurenai-sensei.
A Jounin riu e respondeu que entendia, enquanto uma Hinata mortificada e muito vermelha fixava seus olhos no chão. Kiba ficou chateado e partiu muito empertigado, com Shino em seu encalço.
Elas se dirigiram ao Yakiniku Q. Enquanto a carne assava, no centro da mesa, Hinata era o centro das atenções. As amigas a olhavam em expectativa, esperando que a jovem iniciasse seu relato. Sem saber o que dizer, ela apenas olhava fixamente sua carne dourar sobre o braseiro.
- Anda logo, Hinata, conta tudo! - falou Ino, impaciente.
- M-mas o que vocês querem saber?
Todas começaram a falar ao mesmo tempo, numa confusão de perguntas.
- CALMA! Sakura gritou, após um momento. Então, dirigindo-se à Hinata, falou, docemente - Por que você não começa nos contando como foi que ele te pediu em namoro?
As outras duas sorriram e aquiesceram, ansiosas.
Hinata juntou as pontas dos dedos, nervosa.
- B-bem... o N-naruto-kun foi até minha casa e conversou com meu pai. Depois n-nós fomos até o jardim e-e ele me pediu...
- Mas como foi? - Tenten perguntou.
- O que ele disse? - Ino complementou.
Hinata contou às amigas as palavras que o namorado usara, pois ainda estavam muito frescas em sua memória. O mais provável era que nunca as esquecesse.
As três suspiraram.
- Nossa, quem diria que aquele cabeça oca pudesse ser romântico assim, hein? - Sakura comentou, com as outras prontamente concordando.
- Mas e depois? - Ino perguntou, com um olhar malicioso.
- Hã? - Hinata voltou a encarar a comida, corando mais um pouco.
- Bom, que vocês se beijaram é óbvio, só pela sua cara - Ino deu um sorriso de lado. - Mas o que eu quero saber é: o Naruto beija bem?
As outras soltaram risinhos afetados, entreolhando-se e mirando Hinata, em seguida. Muito embarassada, Hinata viu-se acuada, não restando outra opção a não ser confirmar com a cabeça. Tenten tomou a palavra.
- Ah, qual é Hina! Nós queremos detalhes!
Após algum silêncio, a morena resolveu falar.
- E-eu nunca tinha b-beijado antes... n-não tenho como c-comparar... m-mas quando e-ele me b-beija e-eu sinto uma c-coisa... b-boa... m-muito boa...
E cobriu o rosto com as mãos, envergonhada demais para continuar.
- Eu sabia! Não te falei, Testa? O Naruto só tem aquela cara de bobão. Esses daí são os piores, minha filha! E você não desmaiou não, Hina?
A garota apenas negou com a cabeça, ainda cobrindo o rosto. Em parte, pelos comentários recentes das amigas e, em parte, porque a fala de Ino ativara a lembrança de quando se deparara com Naruto vestindo apenas uma toalha, ao redor do quadril. Suas amigas não podiam nem desconfiar de que ele passara a noite em sua casa, em seu quarto. E mais: voltaria naquela noite.
- Meninas, tá bom, a Hinata já está muito sem graça. - ouviu a voz de Sakura, intercedendo a seu favor.
Hinata foi descobrindo o rosto lentamente, achando que o assunto perigoso já havia terminado, quando foi interpelada por Ino, mais uma vez.
- Mas tem só mais uma coisinha que quero saber...
As outras três kuinochis a encararam muito sérias. Até mesmo Sakura e Tenten pareciam temerosas do que viria a seguir. Nem um pouco intimidada, a loira questionou.
- Você e o Naruto já passaram pra próxima fase? Você sabe, vocês dois já...
Hinata voltou a cobrir a face, negando veementemente, antes que a amiga terminasse a sentença. Tenten se encolheu na cadeira, Sakura lançou um olhar feroz para a Yamanaka, ralhando.
- Sua porca! Você não tem limite não?!? Coitada da Hinata!
- Ih, quem tem limite é aldeia, Testa de marquise... Até parece que vocês também não estavam doidas pra saber! Só que a única corajosa aqui sou eu. Tudo bem, Hinata, pode parar de se esconder, não vou mais te perturbar.
Fizeram a refeição enfim, o clima um pouco abrandado por outros assuntos mais amenos que entraram em pauta. Ao fim, despediram-se, mas não sem antes mais algumas recomendações das amigas de Hinata.
- Quando vocês forem partir pros finalmentes, nós queremos saber tudo em detalhes, hein, dona Hinata!
- Porquinha...
- E se precisar de alguém pra conversar ou aconselhar, estamos aqui. - Ino continuou, ignorando o tom de aviso e ameaça contido no chamado de Sakura.
- O que ela quer dizer, é que estamos todas felizes por finalmente vocês estarem juntos e felizes! Não é, Porca? - Sakura disse, cutucando a loira.
- É, isso também.
- Sim, Hina! É muito bom ver vocês apaixonados! - Tenten complementou.
Após se despedirem, Hinata foi ao mercado comprar alguns mantimentos. Iria fazer uma surpresa para o namorado.
~◇~
Naruto estava entediado. No escritório do Hokage, juntamente com Shikamaru, ajudava o antigo sensei com a papelada. Após a visita do Senhor Feudal, Kakashi ficara atolado de trabalho, documentos para assinar, resoluções para redigir, mais o serviço normal da vila. Kakashi continuava com o velho hábito de ajudar velhinhas a atravessar a rua, carregar cargas para senhores idosos, etc., o que praticamente sempre o fazia chegar tarde ao prédio principal, tendo que compensar no turno da noite. Ansioso para voltar ao distrito Hyuuga, Naruto amaldiçoava mentalmente o Sexto, com uma grande carranca. Kakashi, ao contrário, divertia-se com a situação. No entanto, lá pelas nove da noite, compadeceu-se do antigo aluno e o liberou para ir. Mais do que depressa, o Uzumaki despediu-se, saindo correndo.
- Tadaima! - Naruto anunciou, à porta, já descalçando os sapatos.
Hinata abriu a porta, sorrindo.
- Você demorou, pensei até que não vinha mais...
- Estava ajudando o Kakashi-sensei. Ele não tem jeito, chega tarde e depois fica com trabalho acumulado!
Naruto deu um selinho na namorada, entrando em seguida. No mesmo momento, suas narinas foram invadidas por um aroma suculento e inconfundível. Lámen.
- Hinata! Isso que estou sentindo é cheiro de lámen mesmo ou minha fome está me fazendo delirar?
- É sim, Naruto-kun. Eu queria fazer uma surpresa pra você!
- Você não existe, Hinata! - exclamou, puxando a morena para um abraço apertado.
Foram até a cozinha e serviram-se. Ao provar, Naruto arregalou os olhos, assustando Hinata.
- O-o que foi, Naruto-kun? Está muito quente? Está r-ruim?
Naruto engoliu.
- Nunca, em toda a minha vida, eu achei que algum dia fosse comer um lámen mais gostoso do que o do Ichiraku! Hinata, eu não tenho nem palavras pra descrever isso daqui... Suas mãos são de fada!
Hinata sorriu, tímida.
- Imagina! Deve ser a fome. A fome é o melhor tempero.
- Não! De uma coisa eu entendo e é de lámen. E eu nunca comi nada tão delicioso.
Após terminar a primeira tigela, o ninja lembrou-se que precisava produzir um clone para despistar a segurança. Dessa vez, o clone das sombras comportou-se de maneira menos rebelde, executando seu trabalho sem maiores questionamentos. Naruto era da teoria de que o do dia anterior estava com tanta saudade de Hinata quanto ele próprio, por isso havia sido tão audacioso. No fim, ele compreendia.
Após a saída do clone, Naruto repetiu a comida várias e várias vezes. Em seguida, lavaram e guardaram a louça e subiram para o quarto.
Dessa vez, ele trouxera uma pequena bolsa, com seus pertences. Entrou no banho, enquanto Hinata arrumava o futon. Como havia feito calor o dia todo, escolhera uma camiseta de algodão e shorts confortável para dormir. Ao sair, Hinata entrou para escovar os dentes e trocar-se.
Naruto estava sentado numa poltrona, que ficava próxima à janela, distraído, aguardando a namorada para despedirem-se com um beijo de boa noite antes de deitarem-se, quando ouviu o trinco do banheiro girar. Virou o rosto em direção aonde estaria Hinata e paralisou. Ela vestia calça branca de um tecido leve, mas o que chamou a atenção do jovem foi a pequena blusa lilás de alças que a kunoichi vestia. Ele nunca vira Hinata daquela forma. Pelo contrário, desde pequena, ela parecia se esconder por trás de grandes agasalhos, que muito pouco revelavam de seu corpo. Agora, no entanto, a blusa, justa, delineava suas curvas. Podia-se ter um pequeno vislumbre da delgada cintura a partir da milimétrica faixa de pele à mostra de sua barriga. As finas alças deixavam seu colo e ombros a mostra, tornando impossível não notar o enorme volume de seus seios. Todos os músculos de Naruto estavam tencionados, e sua boca, entreaberta em admiração.
Ruborizada, Hinata desviou o olhar, lutando contra a vontade de cruzar as mãos na frente do corpo e sair correndo de volta ao banheiro. Aquela era sua roupa usual de dormir em noites quentes, mas nunca havia tido companhia de alguém, ainda por cima do sexo masculino. Considerara altamente não utilizar aquela roupa na presença de Naruto, no entanto, lembrara das palavras da irmã, quando dissera que precisava se libertar da timidez, por Naruto. Existiam dezenas de garotas por aí, querendo o seu posto. Garotas bonitas e desinibidas. Então ela precisaria lutar contra suas próprias limitações. Para não ceder à tentação de se trocar, caminhou até sua cama, usando o pretexto de remover as cobertas, para não precisar olhar para Naruto. Este, por sua vez, encontrava-se em transe. Possuía plena consciência do quão estranho era olhar tão fixamente pro corpo de Hinata, contudo, era mais forte que ele. Seus olhos pareciam presos, como imãs, ainda mais quando viu o rubor dela espalhar-se não só pela face, como também pelo colo e ombros, deixando-os ainda mais atraentes. Quando ela afastou-se, ele recobrou um pouco do controle sobre si próprio, não entendendo exatamente o que estava acontecendo consigo. Seu coração palpitava, sentia-se quente, as mãos suadas e sua boca salivava. Um silêncio misterioso pairou sobre o cômodo. Naruto observava a namorada bater em seu travesseiro, afofando-o. Ele estava com vergonha de se aproximar e com medo de tudo o que estava sentindo, embora não compreendesse o motivo.
-Naruto-kun, você não vai se deitar?
Hinata questionou, ainda de costas para ele, apenas o rosto um pouco virado, olhando-o de esguelha.
- Sim, sim... eu vou! - respondeu, dando um pulo da poltrona, sem graça e sem saber muito bem o que fazer. Deveriam beijar-se e deitar para dormir, simplesmente. No entanto, o ninja, por algum motivo, não confiava em si mesmo para se aproximar de Hinata naquele momento. Mesmo assim, ele chegou um pouco mais perto. Ela virou em direção a ele com olhos baixos. Normalmente ele tomaria a iniciativa, no entanto, ficou parado, coçando a nuca e desviando o olhar.
- Algum problema, Naruto-kun? V-você está aborrecido com alguma coisa?
-
NÃO! - Naruto exclamou, fazendo movimentos frenéticos com as mãos em negativa.
Hinata o olhava, tentando decifrar o porquê dele estar agindo tão estranho. Ele focou nos olhos dela, evitando as demais partes do corpo.
- Desculpe, Hina... É que... você está tão linda...
A expressão da garota foi de surpresa por aquele comentário. Seria possível ficar mais vermelha? Seus olhos ficaram presos um no outro por um longo momento. Naruto deu um pequeno passo a frente. Hinata imitou-o. Chegaram muito próximos, de forma que podiam sentir a respiração do outro sobre a face, porém, sem se tocarem. Naruto levantou uma mão para tocar o braço desnudo da kunoichi, no entanto, quando encostou a ponta dos dedos em sua pele, sentiu uma corrente elétrica invadir-lhe, que fez sua mão recuar, involuntariamente. Hinata parecia haver sentido o choque igualmente, pois deu um pequeno salto na direção oposta.
- V-você sentiu isso?
Hinata apenas confirmou com a cabeça.
Não se dando por vencido, o rapaz aproximou lentamente as duas mãos dos ombros da garota, enquanto ela aguardava, em expectativa. Em um movimento rápido, agarrou seus braços, não soltando, embora um choque, de menor intensidade, houvesse atingido a ambos novamente. Deu um beijo rápido na namorada. Sentia-se energizado demais naquele momento, confuso e amedrontado pelas próprias reações de seu corpo. Dormir seria difícil.
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