História Aquela pessoa. - Dois corações e uma historia.

POR Ana Luiza.

Depois de o corrido na casa da dona Maria eu voltei para minha casa e por sorte todos estavam dormindo, fui para o meu quarto e por mais que eu tentasse não conseguia tirar a Julia da minha cabeça; ela era com toda a certeza a menininha mais linda que já vi na vida e nem digo porque ela é a cópia do pai e sim porque é a mais pura verdade. Depois de muito insistir eu levantei derrotada e bastante cansada e fui fazer um chá e acabei por ver o dia amanhecer sentada na varanda; eu não sei explicar o que estou sentindo em relação a tudo que estou vivendo desde que cheguei. Meu medo de voltar era ter o Henrique em cima de mim forçando sua presença me lembrando a cada segundo da nossa história, mas mito me enganei o único contato que tivemos foi aquele dia no hospital e ele só aconteceu porque ninguém sabia que eu estava de volta; a vó Lia tinha razão ele não iria interferir na minha oportunidade de ser feliz mesmo que não fosse ele ao meu lado e sendo o motivo de tal sentimento. Talvez no fundo eu quisesse que ele se colocasse no meio para quem sabe aí eu tomar coragem...

Hoje meu dia seria bem cheio no hospital, eu faria um plantão de trinta horas e avaliando que era final de semana aquilo vai estar lotado de pessoas, pensando nisso resolvi trocar o chá por uma dose cavalar de café preto e sem açúcar para só assim me manter acordada. Estava tão concentrada que não notei que meu avô havia chego e estava ali parado observando meus passos e quando o notei ali quase enfartei e ele como sempre riu da minha cara, ele não tem jeito as vezes parece um menino arteiro. Sabe aquela pessoa de fácil convívio que quando menos se espera está apaixonada? Pois, bem ele é assim a minha avó Luiza dizia que se apaixonava por ele todos os dias e de uma maneira diferente e depois que ela se foi eu passei a entender muito bem o que ela dizia. Ele é a melhor pessoa desse mundo e se eu tenho um verdadeiro amor dentro de mim com certeza é ele! Ele que deixou sua vida de lado duas vezes para cuidar de mim, para garantir a minha felicidade. Ele se sentou servindo de um bolo que estava sobre a mesa e eu aproveitei que ele estava ali para desabafar, pois, eu sentia que ele poderia me ajudar a entender tudo o que estava acontecendo.

_O que se passa nessa cabecinha em Ana Luiza Sobral! –Falei depois que ela rodeou a cozinha inteira em silencio.

_O senhor sabia que o Henrique visita a vó Lia desde que fomos para a Itália? –Tinha tantos questionamentos.

_Eu sabia minha filha, e antes que fale alguma coisa; ele pediu para que a Anália não dissesse nada, porém somos amigos a mais anos do que consigo me lembrar então quando ela pediu para que não te contasse eu acatei. Você estava tão ferida que tive medo de cair naquele mundinho que um dia esteve e eu não ter tempo suficiente para te ajudar... –Falei com os olhos marejados. E ela ficou quieta assimilando cada uma das palavras que eu disse e eu ansioso esperando sua posição.

_Eu já disse que o senhor é a pessoa mais maravilhosa desse mundo? Eu já disse que te amo? --Meus olhos estavam marejados e foi aí que entendi que mesmo de longe o Henrique se preocupava comigo, que mesmo de longe ele me cuidava do modo que podia e eu não estava sabendo lidar com essa descoberta. Conversamos mais durante um tempo e escutamos uma pessoa falar e quando notamos a sabedoria da vó Lia se fazia presente.

_Oh filha me desculpe por não te contar sobre as visitas do menino Henrique minha intenção não era de forma alguma te machucar eu só queria ajuda-lo a aliviar a dor que ele carrega no peito. Eu sei que nessa história ele errou bem mais que você, não estou dizendo que esqueci as lagrimas que derramou, mas eu não posso abandonar uma alma que me peça ajuda. Eu acompanhei sua jornada em busca de curar seu coração e sei que com ajuda do Matteo você conseguiu, seguiu em frente deixando todas as feridas no passado. No entanto, eu ele não... –Fui interrompida.

_Vó Lia não se preocupa eu compreendo que o que fizeram é para o meu bem e agradeço demais todo esforço para me ajudar e não me deixar cair. Eu não me incomodo de forma alguma que continue visitando-o e ele é será sempre bem-vindo aqui... –Eu não sabia se a minha decisão era a correta ou se isso respingaria em meu casamento, mas estava disposta a seguir em frente. _Ontem eu fui levar a naninha da Julia e...

_E o que filha? –Ela parou de falar e começou a chorar. Tenho certeza que ela pensou nos planos que fizeram a respeito de terem uma família.

_Ela me pediu colo e quando a peguei ela dormiu e eu senti que uma corrente elétrica percorreu todo meu corpo; porque eu me senti dessa forma? Eu senti como se ela fosse...como se ela fosse minha. -A esse ponto eu já chorava. _Não sei explicar, mas eu não consegui tirar aquela garotinha dos meus braços e quando o fiz me senti tão vazia... –Eles não falaram nada apenas me deu colo.

Fiquei ali com eles até me acalmar de vez; mas eu tinha que ir trabalhar e assim o fiz; quando entrei no hospital estava um verdadeiro caos pessoas gritando com as enfermeiras, outras chorando e muitas outras com dor e cansaço como se estivessem esperando a muito tempo. Parei na recepção para conversar com a enfermeira chefe e um homem se aproximou de nós com uma expressão de ódio estampado em sua face e admito que fiquei com medo do que ele poderia fazer e me surpreendi quando vi um homem daquele tamanho implorar para que seu filho fosse atendido. Pelo que me foi dito o pediatra que atenderia hoje simplesmente não compareceu para trabalhar e a Luciana estava aflita procurando um outro médico para assumir o plantão e isso gerou uma revolta naqueles que ali esperavam então assumi os casos mais graves.

_Olha senhor estamos sem um pediatra, mas assim que conseguir seu filho será atendido. –Ele se enfureceu ainda mais.

_Você está dizendo que devo esperar mais? Esperar meu filho morrer é isso? –Nisso minha esposa se aproximou de mim com meu filho nos braços com um sangramento nasal que o impedia de respirar e a médica que ali estava fez o serviço de outra pessoa.

_Luciana segura minha bolsa... –Entreguei para a enfermeira e fui em direção a criança no colo da mãe. _ Por favor eu preciso de luvas e tragam a criança para a sala de emergência; vamos cauteriza-lo... –Depois de fazer o procedimento que aparentemente foi bem sucedido eu voltei para a recepção e pedi para as enfermeiras intercalarem entre atendimento de um clinico geral com pediátrico até que elas encontrassem um outro médico.

...

Já estava atendendo nesse esquema a três horas quando a Luciana entrou dizendo que o único médico disponível estava em cirurgia em outro hospital na cidade vizinha e só poderia vir depois que acabasse e quando perguntei quanto tempo demoraria ela disse que no mínimo seis horas. Em seis horas esse hospital entraria numa situação caótica e claro eu era a responsável; de verdade eu não sabia o que fazer, mas parar os atendimentos não era nem de longe uma opção. Quando fui chamar o próximo paciente o pai da criança que atendi quando cheguei disse que o filho estava sangrando novamente e eu sai em disparada para a sala que ele estava; apesar de termos comprimido o ponto de sangramento ele havia voltado. Levando a alterações das funções cardíacas e pulmonares eu poderia admiti-lo para observação, mas o tratamento cirúrgico era realmente a medida mais eficaz então como uma medida emergencial larguei o plantão e fui para o centro cirúrgico. Depois de algumas horas eu finalmente voltei para os atendimentos e o número de pessoas havia duplicado então podem imaginar como foi passar trinta horas em pé andando de um lado a outro atendendo paciente nível um e emergências bem serias, quando entreguei meu plantão meu corpo estava exausto e confesso que nem sentia minhas pernas.

(...)

Eu cheguei em casa e não tive forças para nada, mas me obriguei a tomar banho e depois disso nada apaguei de roupão mesmo. Acordei no meio da noite e notei que tinha um corpo dormindo ao meu lado e eu me senti tão invadida, tão incomodada que me levantei e fiquei olhando de longe aquele corpo másculo coberto por um lençol de seda e eu não me reconheci como pertencente ao sentimento que ele me devotava. Fiquei alguns instantes olhando e muitas lembranças invadiram minha mente e eu estava ficando zonza e sufocada e não aguentei ficar ali e desci para a área externa da casa me sentei no gramado olhando o céu enquanto uma brisa suave tocava minha pele com delicadeza. Sabe o que sentia nesse momento era acomodação, eu me acomodei. Nos acomodamos em ter a presença um do outro, de não estar sozinho, nos acomodamos com a nossa relação e conosco mesmo. E o fim só poderia ser esse, sentimento se acomodou até sumir, acabar...temos que entender e ter a consciência de quem nem todos os sentimentos foram feitos para durar, alguns apenas acontecem e acabam. E foi exatamente isso que aconteceu com nosso amor, ele foi feito para não durar.

_A noite daqui de Palmas é linda não é mesmo?! -Me sentei ao seu lado e só então percebo seus olhos banhados de lagrimas, e eu sabia o que aquilo significava e eu estava disposto a ajudá-la a ser feliz não importa qual seja o trajeto que tenhamos que tomar.

_Oi Matteo eu não tinha te visto, como você está meu amor?

_Eu estou bem, mas a questão é como você está? – Naquele momento fiquei em silencio, pois, não sabia como responder as suas perguntas e então ele tomou as rédeas da situação e fez por mim a maior prova de amor por uma pessoa.

_Analu você se lembra quando nos conhecemos? -Ela confirmou que sim a cabeça. _Eu fiquei tão encantado com seu sorriso e eu pensei ‘tenho que falar com ela’, e não resiste e fui até você e nossa conversa varou a noite toda e eu me sentia o homem mais sortudo do mundo. Sempre fomos dois mundos diferentes, duas vidas paralelas que em determinado momento se uniu; mas temos que ser sinceros com o que faz nosso coração pulsar mais forte e eu sei que estamos nos engando mantendo nosso relacionamento. –Respirei fundo e continuei. _Eu pensei muito esses dias do que adianta tudo isso? Todos esses sentimentos que não sabemos lidar? Não adianta mais nada, mas confesso que adiantou porque aprendi, mas não aprendo mais. Nada me parece mais tão bonito como tudo que um dia compartilhamos, mas chegou o momento de cada um seguir o seu trajeto em direção aquilo que sonhou. Analu eu espero de verdade que fique bem, espero que fique bem mesmo longe do meu coração e que principalmente se aproxime do seu coração de uma vez por todas.

Eu escutei suas palavras calada, mas por dentro eu estava tão agradecida por ele ter tido a coragem que me faltou e eu fui atingida por um sentimento de liberdade que minha vontade era sair por aí gritando aos quatros ventos. _Matteo obrigada, obrigada por todas as vezes que você ficou mesmo tendo motivos para ir. Eu te agradeço pelo respeito que você sempre teve comigo, por sonhar os meus sonhos e partilhar dos seus comigo...vivemos momentos tão lindos e especiais e pode ter certeza de que guardei cada um deles em meu coração com muito carinho, mas hoje nós dois olhamos em direções opostas e caminhar lado a lado já não é mais possível. Eu desejo de todo meu coração que encontre um amor que posso corresponder aos seus sentimentos com verdade, fidelidade e muita paixão. Mas a nossa história chega ao fim e mesmo que não estejamos mais juntos saiba que ela deu certo sim, porque para sempre vou te amar...amar com uma pessoa cheia de luz...

Nos ficamos sentados um ao lado do outro até o dia amanhecer e assim que o sol saiu ele fez as malas e seguiu para São Paulo e eu fiquei ali pensando no que fazer da minha vida neste momento e eu me toquei de que a frase ‘temos pressa para ser feliz’ está equivocada porque eu quero aproveitar cada mínimo momento da minha felicidade, quero apreciar cada segundo da mesma até quando os cabelos brancos chegarem e o último suspiro se apresentar...