Eu costumava andar pelos corredores da Arca, sempre tentando descobrir novos lugares, mesmo conhecendo esse lugar de cabo a rabo. Observava com atenção os detalhes, os parafusos bem pregados e os fios de energia mal encaixados nos cantos das paredes.
Eu não tinha muitas amizades, por ser filha de Marcus Kane, muitos guardavam mágoa dos atos de meu pai e, por isso, me viam como igual a ele. Eu amo meu pai, mas seus atos muitas vezes são extremamente questionáveis, flutuar pessoas por roubar remédios para o filho doente não me parecia um sistema de política justa.
O silêncio dos corredores metálicos da Arca é interrompido apenas pelo som suave dos meus passos. A luz fraca das lâmpadas no teto lança sombras estranhas nas paredes enquanto me aproximo da área de manutenção, uma zona proibida para civis. Mas hoje, algo me atraiu para cá, uma curiosidade incontrolável, ou talvez um pressentimento.
Chegando a uma porta trancada, ouço vozes abafadas. Instintivamente, me abaixo, espiando pela pequena janela da porta. Lá dentro, vejo um grupo de oficiais da Arca reunidos ao redor de uma mesa. No centro, hologramas projetam imagens que eu não reconheço de imediato, mas a expressão nos rostos deles diz tudo: é algo grave.
Então, as vozes ficam mais claras, e eu percebo que estão discutindo um plano para reduzir drasticamente a população da Arca. Com os recursos se esgotando mais rápido do que o esperado, eles estão considerando uma "purga" — uma eliminação secreta de milhares de pessoas sob o pretexto de um acidente. Meu coração acelera ao entender a gravidade do que estou ouvindo.
É nesse momento que o pânico se instala. Um dos oficiais se vira, e nossos olhares se encontram através da janela. Meu sangue gela. Tento me levantar e sair correndo, mas o som do alarme ecoa pelos corredores. Meus passos rápidos são logo seguidos pelos de guardas armados que aparecem à minha frente, bloqueando minha fuga.
"Para onde você pensa que vai?" diz um dos guardas, me olhando com uma expressão dura.
Sem saída, sou rapidamente algemada. O metal frio nos meus pulsos faz com que a realidade me atinja em cheio. Enquanto sou levada pelos guardas, pensamentos se atropelam na minha mente. Como meu pai, Marcus Kane, reagiria a isso? Será que ele sabe o que está acontecendo? Será que ele também está envolvido?
Quando a porta da cela de contenção se fecha com um estrondo metálico, o peso do que eu descobri se torna insuportável. Eu sei demais, e essa informação pode custar não só minha liberdade, mas também minha vida. As sombras da verdade ainda dançam na minha mente, e eu me pergunto se meu pai saberá o que aconteceu comigo antes que seja tarde demais.
No silêncio da cela, a única coisa que posso fazer é esperar e planejar meu próximo movimento, sabendo que na Arca, até mesmo os laços de sangue podem não ser suficientes para me proteger.
O silêncio da cela é interrompido pelo som dos passos se aproximando. Meu coração acelera ao ouvir a pesada batida na porta. A luz da cela é fraca, e as sombras parecem se esticar e se contorcer enquanto espero, com uma mistura de esperança e medo.
A porta se abre com um estrondo, e o brilho de uma lanterna ilumina o rosto de Marcus Kane, meu pai. Seus olhos, normalmente implacáveis e firmes, estão agora carregados de preocupação e frustração. Ele entra, fechando a porta atrás de si com um cuidado quase reverente.
"Eu sabia que você estava encrencada, mas não imaginei que seria assim", ele diz, sua voz grave ecoando pela pequena cela.
"Pai...", começo, mas minha voz sai fraca e trêmula. "Eu... eu ouvi algo que não deveria. Eles estão planejando uma purga. Vão reduzir a população da Arca como se fossem... descartáveis."
Marcus se aproxima, sua expressão é um misto de raiva e desespero. Ele se inclina para me observar mais de perto. "Você se meteu em algo muito perigoso. A Arca não lida bem com informações como essas. Eles vão fazer de tudo para manter isso em segredo."
"Eu não queria causar problemas. Eu só... precisava saber a verdade", digo, tentando explicar. "Mas agora... agora sei que está além do meu controle."
Marcus dá um suspiro profundo e coloca uma mão protetora no meu ombro. "Vou fazer o que posso para te tirar daqui, mas você precisa entender que a situação é crítica. Eles não vão hesitar em te manter aqui se isso significar proteger seus próprios interesses."
"Pai, há algo que eu possa fazer? Alguma maneira de ajudar a impedir isso?" pergunto, desesperada.
Ele hesita por um momento, o peso da responsabilidade visível em seu rosto. "Pode ser que haja uma forma. Mas você precisa prometer que, se eu conseguir te tirar daqui, manterá a cabeça baixa e esperará até que possamos agir sem colocar mais vidas em risco." Nossos olhares se encontram, e posso ver a determinação e o amor paternal nos olhos dele.
"Eu prometo", digo, segurando firme a mão dele.Marcus aperta meu ombro antes de se virar e se preparar para sair.
"Vou fazer o que puder para mudar essa situação. Fique forte e mantenha a fé. Eu voltarei." Com isso, ele se afasta e a porta da cela se fecha novamente, deixando-me sozinha, mas com uma esperança renovada.
Eu sei que a luta está longe de terminar, mas agora tenho um motivo a mais para lutar: a promessa de meu pai e a chance de expor a verdade que pode salvar muitas vidas.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.