A sala de cirurgia estava preparada, o garoto dopado na maca com seu peito aberto recebendo seu novo coração. Cirurgias desse tipo sempre são arriscadas, o novo órgão pode não se adequar ao corpo, se ocorrer algum atraso o órgão pode acabar sendo descartado. Tudo era incerto naquele momento.
Em uma sala de espera, a família Han estava aflita, esperando por qualquer notícia que fosse sobre a cirurgia do filho.
O jovem viveu quase 10 de seus 18 anos preso ao hospital, por possuir um coração maior do que deveria, e ser um coração frágil, que podia simplesmente parar a qualquer momento.
A senhora Han chorava de preocupação, medo, alívio, e empatia, pois sabia que aquele coração que salvaria a vida de seu filho, pertencia originalmente a uma pessoa que tinha uma vida, família? Amigos? Um amor? O que será que essa pessoa deixou para trás além de seus órgãos?
Do outro lado da cidade, uma viatura parava na porta da casa dos Lee, a senhora Lee foi prontamente atender, mal imaginava, que receberia a notícia que mudaria drasticamente a vida de todos naquela casa.
-Boa noite, vocês são os familiares de Lee Minseok? - O policial disse calmamente, olhando fixamente nos olhos da senhora a sua frente.
-Sou mãe dele. - A senhora já tinha os olhos marejados, mesmo que não soubesse exatamente o que era, seu coração de mãe não lhe enganava, havia algo de muito errado ali.
-Omma, o que tá acontecendo? - O Lee mais novo presente na casa, assim que notou as luzes da viatura, foi correndo ver o que estava acontecendo.
-Senhora, eu sinto lhe informar, seu filho faleceu em um acidente de carro.
Não precisou de mais nada, para que a senhora desabasse no chão, sentindo seu peito pesar, sua respiração falhar, e as lágrimas lhe impedirem de enxergar qualquer coisa com clareza.
O mais jovem da casa correu em direção a matriarca, tentando processar o que acabara de ouvir, seu irmão, ele havia morrido?
-Como? - Saiu da boca do mais jovem como um sussurro.
-Um motorista embreagado invadiu a pista da direita em alta velocidade. Não houve nada que pudéssemos fazer. Infelizmente o jovem estava quase sem vida quando a ambulância chegou. E veio a falecer a caminho do hospital. Eu realmente sinto muito. Espero que tenham os corações de vocês confortados. O corpo foi levado para o hospital de órgãos, no centro. Eu sinto muito por vocês, de verdade. - O policial se lamentou antes de se retirar.
Mãe e filho se abraçavam no chão, enquanto choravam sem parar, era uma dor que nenhum dos dois haviam experimentado nessa vida. Eles não conseguiam acreditar.
-Appa. - O mais jovem disse. - Precisamos avisar o Appa.
Correu para o seu quarto, onde seu celular estava carregando. Discando rapidamente o telefone do pai, enquanto suas mãos tremiam.
-Minho? - O pai atendeu com um tom de voz tranquilo. - Filho? - O garoto não conseguia falar, o nó em sua garganta impedia que qualquer som além de murmúrios saíssem. - Você está chorando? Fala comigo meu filho, o que aconteceu?
-Minseok, Appa... - O garoto começar, mas logo sua voz embargou mais, e não conseguiu segurar mais, caindo de joelhos em um baque mudo.
-Eu estou indo pra casa, fique com sua omma.
O Lee mais velho desligou, não se importou de desligar seu computador, ou finalizar seu serviço, tão pouco fechar sua sala. Ele só correu, como se não houvesse amanhã, pegou seu carro, e acelerou, seguindo para sua casa.
Quando chegou, avistou a porta aberta, sua esposa ajoelhada junto a seu filho, ambos em um choro sofrido, de partir qualquer coração. Seus olhos já se enchiam, mesmo que não soubesse ao certo, e nem em seus piores pesadelos poderia imaginar ouvir a frase que sua esposa lhe diria.
-Nosso Minseok, ele se foi. - Não conseguiu ouvir mais nada, parecia que uma bomba havia estourado próximo de seus ouvidos, causando zumbidos estranhos, e tontura.
-Onde, pra onde levaram? - Perguntou atordoado.
-Hospital dos órgãos.
-Preciso ir lá. Minho, não saia de perto da sua omma.
-Appa, eu preciso ir, eu quero ir.
-Você leva a sua mãe pra casa da sua avó, e vai depois. - Ditou por fim antes de sair correndo.
O caminho até o hospital foi difícil, quase não conseguiu chegar, o choro estava preso em sua garganta, ele só precisava chegar ao hospital, e ver que seu filho estava bem. Era o resquício de fé que havia em seu corpo.
-Com licença. - Disse assim que pisou na recepção. - Sou Lee Taemin, me falaram que meu filho deu entrada aqui, Lee Minseok. Poderia me informar algo?
-Só um segundo senhor. - A moça pediu, enquanto verificava as informações em seu computador. - Eu sinto muito senhor, ele veio a óbito à algumas horas, ele tinha uma carteirinha de doador de órgãos, por isso encaminharam pra cá. Eu sinto muito mesmo. Eu vou pedir para um médico vir falar com o senhor.
O Lee nada respondeu, apenas se sentou nas cadeiras da sala de espera. Ele ainda não conseguia permitir que seu choro escapasse. Sua cabeça estava tão cheia, sua esposa, como ela ficaria? Seu filho Minho? Ele era tão apegado ao irmão, não era pra menos, eram gêmeos univitelinos, idênticos. Se não fossem as diferenças gritantes de personalidades e estilos, poderiam jurar que eram clones.
-Senhor Lee? - O médico perguntou se aproximando do Lee que apenas acenou para que continuasse. - Minhas condolências. O coração do seu filho, foi passado para uma pessoa que estava na fila de doação. A pessoa ainda está na mesa de cirurgia, a família optou por ter contato com vocês. Então talvez, o senhor queira fazer companhia a eles. Sei que é um momento de dor profunda, e sei que nada pode reparar isso. Espero que consigam alguma paz. - após isso o médico se retirou.
-Appa? E então? - Minho já estava mais calmo, mas ainda tinha seus olhos inchados e marejados.
-Tem alguém recebendo o coração do seu irmão.
-Até partindo, ele conseguiu ajudar alguém. - Minho riu descrente. Nunca conheceria alguém tão incrível como seu irmão.
-A família optou por ter contato conosco. Eles estão aqui agora mesmo.
-Eu quero, quero saber quem está recebendo o coração do meu irmão.
-Tudo bem, fiquei aqui, vou procurar o médico, e dizer que queremos o contato.
Depois de algumas horas, que mais pareciam uma eternidade, as duas famílias estavam cada vez mais aflitas. A família Han queriam seu filho bem, e com chances de uma vida normal, e longa. E a família Lee se apegava a esperança de ter pelo menos uma parte de seu querido familiar.
-A cirurgia foi um sucesso. - O médico entrou na sala sorrindo minimamente. E todos suspiraram em alívio. - Jisung vai acordar daqui algumas horas, e poderá receber visitas. Ficará internado algumas semanas, até o corpo se adaptar a cirurgia.
Dito isso o médico saiu, e restou apenas as duas famílias. Os Lee decidiram que era hora de partirem, irem para casa, e enfrentarem seu próprio luto. Precisariam ajustar suas vidas, e tentar viver a partir daquela perda.
-Han Jisung, por favor, cuide do coração do meu irmão. - Minho pediu silenciosamente aos céus, rezando que o coração do seu irmão estivesse em uma boa pessoa.
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