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História Areia e Ondas - Conto Dois


Escrita por: dfcrosas

Notas do Autor


Eu não desisti do Conto Um, tá bem? Eu ainda vou terminar ele. Só não posso agora porque a continuação que eu tinha escrito ficou no meu notebook e como eu já disse um milhão de vezes, eu não estou com ele no momento. Então resolvi postar um outro que eu tava fazendo ontem. Sobre a Clarisse e a Andy e seus medos.

Divirtam-se.

Capítulo 3 - Conto Dois


Fanfic / Fanfiction Areia e Ondas - Conto Dois


Conto II - A Morte do Medo
        "Faça a coisa que você mais teme e a morte do medo é certa." 
Mark Twain 

 

Andy estava numa aula de ciências quando ouviu sons vindos lá de fora. SCRAUC! AU! SCRECH!

Era como se alguém estivesse sendo atacado por uma galinha possuída. Ninguém mais pareceu notar o tumulto. No laboratório, todo mundo estava conversando. O mais discretamente que pode, Andy se inclinou pela janela para poder dar uma olhada lá fora. Havia uma garota no beco empunhando uma espada. Ela era alta e musculosa como uma jogadora de basquete. Estava golpeando um bando de pássaros pretos do tamanho de corvos. Um corte acima de seu olho esquerdo sangrava. Um dos pássaros lançou uma pena como se fosse uma flecha, que se alojou no ombro dela. Ela praguejou e tentou acertar o animal, mas ele voou para longe. 

Andy não tinha ideia do que a Clarisse, de todas as pessoas, fazia no Upper East Side no meio da semana, mas, obviamente, ela estava com problemas. E não ia aguentar por muito mais tempo. 

"Sra. White," Andy chamou, "posso ir ao banheiro? Acho que vou vomitar."

"Vá!" respondeu a professora enojada. 

Andy correu para a porta, sacando sua caneta esferográfica. Ninguém a parou nos corredores. Ela saiu pelo ginásio e chegou ao beco a tempo de ver Clarisse acertar um pássaro demoníaco com a lateral da espada. O pássaro guinchou e voou para longe em espiral, batendo na parede de tijolos e escorregando para dentro de uma lixeira. Mesmo assim, ainda havia uma dúzia deles em volta dela.

"La Rue!"

A garota lhe lançou um olhar furioso, descrente. "Jackson? O que você está fazendo-" ela foi interrompida por uma saraivada de penas que zuniram sobre sua cabeça e espetaram-se na parede.

"Essa é a minha escola."

"Que sorte a minha," Clarisse resmungou, mas estava muito ocupada para reclamar mais.

Andy destampou a caneta, que se tornou uma espada de bronze, e entrou na batalha golpeando os pássaros e desviando as flechas com a lâmina. Juntas, Clarisse e Andy atacaram e atingiram os pássaros até que todos fossem reduzidos a pilhas de penas no chão.

As duas respiravam com dificuldade. Andy tinha alguns arranhões, mais nada, além disso. Arrancou uma pena do braço. Ela não a tinha perfurado muito. Se não fosse venenosa, Andy ficaria bem. Tirou um saquinho de ambrosia do bolso da jaqueta, onde sempre o mantinha para emergências, partiu um pedaço ao meio e ofereceu um pouco a Clarisse.

"Não preciso da tua ajuda," murmurou ela, mas pegou a ambrosia mesmo assim. Clarisse colocou sua espada na bainha e bateu a sujeira da jaqueta. "Então... a gente se vê."

"Espere aí!" Andy retrucou. "Você não pode ir embora assim."

"Claro que posso."

"O que está acontecendo? O que está fazendo fora do acampamento? Por que aqueles pássaros estavam perseguindo você?"

Clarisse passou direto por ela.

"Vamos lá," Andy insistiu. "Você quase foi morta na minha escola. Isso agora virou assunto meu."

"Não virou, não!"

"Deixe eu ajudar você."

Clarisse deu um breve suspiro como se realmente quisesse bater em Andy, mas, ao mesmo tempo, havia desespero em seus olhos, como se ela estivesse com sérios problemas. "São meus irmãos," começou ela. "Eles estão aprontando comigo."

"Ah," Andy respondeu, sem muita surpresa. "Que irmãos? Sherman? Mark? Aquele do bigodinho?"

"Não," respondeu ela, parecendo assustada. "Meus irmãos imortais. Phobos e Deimos."

Elas sentaram-se num banco do parque enquanto Clarisse lhe contava a história. "Então me deixe entender isso direito," Andy falou, "você pegou o carro do teu pai para dar uma volta e agora ele sumiu."

"Não é um carro," rosnou Clarisse. "É uma quadriga de guerra! E ele me disse que pegasse. É como... um teste. Eu deveria trazê-la de volta ao pôr do sol. Mas..."

"Teus irmãos roubaram o carro de você."

"Roubaram a quadriga," corrigiu ela. "Normalmente, são eles que a guiam, entende? E não gostam que ninguém mais o faça. Então roubaram a quadriga e me perseguiram com esses pássaros idiotas que disparam flechas."

"Os animais de estimação do teu pai?"

Ela assentiu, chateada. "Eles guardam o templo. De qualquer forma, se eu não encontrar a quadriga..." Parecia que ela estava prestes a ter um ataque de nervos. Andy não lhe culpou. Já tinha visto Ares ficar irritado e não fora uma visão agradável. 

"Eu sei que não tem jeito de você pedir. Mas, ainda assim, vou te ajudar," Andy decidiu.

"Por que faria isso? Eu não sou tua amiga," devolveu ela, irritada.

"E eu não estou pedindo que seja."

As duas meninas se olharam. De repente, uma voz masculina falou: "Ah, olhe só. Acho que ela andou chorando!" Um garoto mais velho estava encostado num telefone público. Usava jeans surrado, camiseta preta e jaqueta de couro, e uma bandana cobria seus cabelos. Tinha uma faca presa ao cinto. Seus olhos eram da cor de chamas.

"Phobos," Clarisse cerrou os punhos. "Onde está a quadriga, seu idiota?"

"Você a perdeu," provocou ele. "Não pergunte a mim."

"Seu-" Clarisse desembainhou a espada e partiu para o ataque, mas Phobos desapareceu bem no meio do golpe e a lâmina acertou o poste do telefone público. Ele apareceu no banco ao lado de Andy. Estava rindo, mas parou quando ela encostou a ponta de Contracorrente em sua garganta.

"É melhor você devolver aquela quadriga," Andy disse a ele. "Antes que eu me irrite."

Phobos lhe deu aquele olhar de quem acha que mulher só serve pra uma coisa. "E quem você seria, flor-de-figo? Agora Clarisse precisa de ajuda para vencer as batalhas?"

"Eu não preciso de ajuda!" Com um puxão, Clarisse tirou sua espada do poste. "E ela não é ninguém importante. É só... Andy Jackson."

Algo mudou na expressão de Phobos. Ele pareceu surpreso, talvez até nervoso. "A filha de terra e mar? Aquela que deixou papai furioso? Ah, isso é muito bom, Clarisse. Você está confraternizando com o inimigo?"

"Eu não estou confraternizando com ninguém!"

Os olhos de Phobos brilharam num vermelho bem vivo.

"Por favor, não!" gritou Clarisse. Ela golpeou o ar como se estivesse sendo atacada por insetos invisíveis.

"O que está fazendo com ela?" Andy exigiu. Clarisse se afastou para a rua, balançando sua espada furiosamente. "Pare com isso!" Andy disse a Phobos. Ela apertou a espada um pouco mais fundo em sua garganta, mas ele simplesmente sumiu, reaparecendo perto do telefone público.

"Não se anime tanto, Jackson," disse Phobos. "Só mostrei a ela aquilo de que ela tem medo." 

O brilho desapareceu dos seus olhos. Clarisse se curvou, respirando com dificuldade. "Seu desgraçado," arfou ela. "Eu vou... eu vou pegar você."

Phobos se virou para Andy. "E quanto a você, Andy Jackson? O que você teme? Sabe, vou descobrir. Eu sempre descubro."

"Devolva a quadriga," Andy tentou manter a voz calma. "Enfrentei teu pai uma vez. Você não me assusta."

"Nada a temer além do medo em si. Não é o que dizem?" Phobos riu. "Bom, deixe eu contar um segredinho a você, meio-sangue. Eu sou o medo. Se você quer a quadriga, venha pegar. Está sobre as águas. Você vai encontrá-la onde vivem os animaizinhos selvagens, exatamente o tipo de lugar a que você pertence." Ele estalou os dedos e desapareceu numa cortina de fumaça amarela.

Andy ajudou Clarisse a se levantar. Seu rosto ainda estava coberto pelo suor.

"Agora você quer ajuda?" perguntou.

Ela pegaram o metrô preparadas para novos ataques, mas ninguém as incomodou. Enquanto viajavam, Clarisse lhe falou sobre Phobos e Deimos. "Eles são deuses inferiores," explicou ela. "Phobos é o medo. Deimos é o pânico."

"Qual é a diferença?"

Ela deu de ombros. "Deimos é maior e mais feio, eu acho. Ele é bom em enlouquecer multidões. Phobos é mais, digamos, pessoal. Ele consegue invadir a tua mente."

"E por que eles não querem que você conduza a quadriga?"

"Isso costuma ser um ritual apenas para os filhos homens de Ares, quando completam dezoito anos. Eu sou a primeira menina a ter uma chance em muitos anos."

"Bom para você. Orgulho feminino."

"Diga isso a Phobos e a Deimos. Eles me odeiam. Eu tenho de levar aquela quadriga de volta ao templo."

"Onde é o templo?"

"Píer 86. O Intrepid."

"Ah. Bem, talvez tenhamos cerca de quatro horas antes do pôr do sol," Andy supôs. "Pode ser tempo suficiente, se acharmos a quadriga."

"Mas o que Phobos quis dizer com sobre as águas? Estamos numa ilha, pelo amor de Zeus. Pode estar em qualquer lugar!"

"Ele disse alguma coisa sobre animais selvagens," Andy lembrou-se.

"Um zoológico?"

"Pode ser. Um zoológico sobre as águas pode ser o do Brooklyn, ou talvez... algum lugar de difícil acesso, com pequenos animais selvagens. Algum lugar onde ninguém pensaria em procurar uma quadriga..." Algo fez um clique na mente de Andy. "Staten Island!" ela exclamou. "Há um pequeno zoológico lá."

"Talvez," respondeu Clarisse. "Esse parece o tipo de lugar fora do comum em que Phobos e Deimos esconderiam alguma coisa. Mas se estivermos erradas..."

"Não temos tempo para estarmos erradas."

Elas desceram na Times Square e pegaram o trem  em direção ao cais das barcas. Embarcaram para Staten Island às três e meia da tarde, com um monte de turistas que lotavam as grades do convés superior, tirando fotografias da Estátua da Liberdade.

"Ele a esculpiu em homenagem à mãe," Andy comentou, observando a estátua.

"Quem?" Clarisse olhou para ela com desdém.

"Bartholdi," ela respondeu. "O cara que fez a Estátua da Liberdade. Ele era filho de Atena e projetou a estátua de forma que se parecesse com a mãe dele. Pelo menos, foi o que Anthony me contou. E ele acha que eu não presto atenção."

"As coisas que ele consegue fazer você dizer..." Clarisse revirou os olhos. "Inútil. Se não ajuda você na batalha, é uma informação inútil."

Andy teria discutido com ela, mas, logo em seguida, a barca se inclinou como se tivesse batido em uma rocha. Os turistas escorregaram, derrubando uns nos outros. Clarisse e Andy correram para a frente do barco. A água abaixo delas começou a borbulhar. Então, a cabeça de uma serpente marinha emergiu na baía. O monstro era, no mínimo, tão grande quanto o barco. Era cinza e verde, e possuía uma cabeça de crocodilo e dentes em formato de lâminas afiadas. Montado em seu pescoço, estava um garoto forte que usava uma armadura grega de cor preta. Seu rosto estava coberto de feias cicatrizes, e ele segurava uma lança.

"Deimos!" berrou Clarisse.

"Olá, irmã! Que tal uma brincadeira?"

O monstro rugiu. Os turistas gritaram e se dispersaram. Seja lá o que tenham visto, deixou-os aterrorizados.

"Deixe-os em paz!" Andy mandou.

"Ou o quê, filha de areia e ondas?" Deimos desdenhou. "Bem que o meu irmão disse que você era apenas uma garotinha! Ah, mas eu amo pânico. Eu vivo em meio ao pânico!" Ele incitou a serpente a golpear a barca com a cabeça, e, com o impacto, ela espalhou água para trás. Alarmes dispararam. Passageiros se atropelaram ao tentar fugir. Deimos gargalhava de felicidade.

"Chega," Andy falou. "Clarisse, segure-se em mim."

"O quê?" ela fez uma cara de nojo.

"Então não segure, mas vamos dar uma volta."

Clarisse segurou-se em Andy. As duas pularam do convés superior direto para dentro da baía, mas ficaram embaixo d’água só por um instante. Andy sentiu o poder do oceano tomar conta de si. Induziu a água a fazer um redemoinho em torno delas, aumentando a velocidade até que surgiram no topo de uma tromba d’água de dez metros de altura que as conduziu diretamente ao monstro. 

"Acha que consegue cuidar de Deimos?" Andy perguntou para Clarisse.

"Eu pego ele!" respondeu ela. "Só me faça descer uns dez metros."

Elas avançaram rapidamente em direção à serpente. Assim que ela expôs sua presa, Andy desviou a tromba d’água para o lado e Clarisse pulou. Ela foi de encontro a Deimos e os dois caíram na água. A serpente veio atrás de Andy. Rapidamente, Andy virou a tromba d’água para encará-la. Então, reuniu todo o seu poder e induziu a água a subir cada vez mais.

Milhões de litros de água salgada atingiram o monstro. Andy pulou em sua cabeça, destampou Contracorrente e cortou com toda a força o pescoço da criatura. O monstro rugiu. Sangue verde jorrou da ferida, e a serpente afundou nas ondas. Andy mergulhou e observou a criatura enquanto ela recuava em direção ao mar aberto. Clarisse emergiu perto dela; cuspindo e tossindo. Andy lhe deu um suporte. "Você pegou Deimos?"

Clarisse balançou a cabeça. "O covarde desapareceu enquanto lutávamos. Mas tenho certeza de que o veremos de novo. E a Phobos também."

Os turistas ainda corriam em pânico pela barca, mas não havia sinais de ninguém ferido. O barco não parecia estar danificado. Andy segurou Clarisse pelo braço e fez com que as ondas as levassem para Staten Island.

No oeste, o sol se punha sobre a costa de Jersey. O tempo se esgotava. Staten Island era maior do que Andy imaginara.

"Não vamos conseguir chegar a tempo," observou Clarisse.

"Pensamentos felizes, parceira. Flores. Verão. Água. Chocolate que derrete na boca-"

"Se você não calar a boca, vou te encher de porrada."

"Isso foi um pensamento feliz pra você, não foi?"

Clarisse deu de ombros. "Até que sim."

Depois de se arrastarem até a metade da ilha, elas finalmente avistaram uma placa em que se lia zoológico. Viraram a esquina e seguiram pela rua sinuosa com algumas árvores em um dos lados até que chegaram entrada. Graças aos deuses, Andy tinha dinheiro suficiente para pagar as entradas. 

No viveiro dos répteis e Clarisse parou de repente. "Lá está ela." A enorme quadriga vermelha e dourada atrelada a quatro cavalos pretos estava estacionada num cruzamento entre a fazendinha das crianças e o lago das lontras. "Onde estão Phobos e Deimos?" sussurrou Clarisse, desembainhando sua espada.

Andy concentrou-se nos cavalos. "Ei, cavalos, vocês estão muito bonitos. Muito bem cuidados."  

Um deles relinchou desdenhosamente e chamou Andy de alguns nomes que não seria legal repetir.

"Vou tentar pegar as rédeas," Clarisse avisou. "Os cavalos me conhecem, me dê cobertura."

"Tá."

Andy manteve os olhos bem abertos enquanto Clarisse se aproximava da quadriga. A mão dela estava a quinze centímetros do arreio quando os cavalos empinaram, relinchando e soltando chamas. Phobos e Deimos apareceram na quadriga. 

"A caçada começou!" gritou Phobos.

Clarisse tombou para trás enquanto ele chicoteava os cavalos e conduzia a quadriga diretamente para cima de Andy. Ela pulou por uma lata de lixo e uma grade, mas não houve meio de ser mais rápida que a quadriga. Ela foi de encontro à grade logo atrás de Andy, escavando tudo pelo seu caminho.

"Jackson, cuidado!" gritou Clarisse.

Andy saltou e pousou numa ilha de pedra no meio da área das lontras. Fez com que a água formasse uma coluna para fora do lago e se jogasse sobre os cavalos, apagando temporariamente suas chamas e deixando-os confusos. Andy correu enquanto Phobos xingava e tentava controlar seus cavalos. Clarisse aproveitou a chance para pular nas costas de Deimos justamente quando ele começava a empunhar sua lança. Os dois saltaram da quadriga no momento em que ela tombou para a frente. Andy pode ouvir Deimos e Clarisse começarem a lutar, espada contra espada. Mas Phobos estava a perseguindo novamente. Ela avançou rapidamente em direção ao aquário.

"Ei, flor-de-figo!" provocou Phobos. "Tenho uma coisa para você!"

Andy olhou para trás e viu a quadriga derreter e os cavalos se transformarem em aço, envolvendo uns aos outros como se bonecos de barro estivessem sendo retrabalhados. A quadriga se remodelou em uma caixa preta de metal com a parte de baixo como a de um trator, uma pequena torre e um longo cano de arma. Um tanque de guerra. Andy rolou para o lado quando a arma disparou. CABUUUM! Um quiosque de suvenires explodiu em todas as direções. Enquanto Phobos recarregava sua arma, Andy se levantou e mergulhou no aquário. Ela correu pelas salas iluminadas por uma estranha luz azul-clara vinda dos tanques de exposição de peixes. Andy parou no final do aquário para escutar. Não ouviu nada. E então... vrum, vrum. Um tipo diferente de motor. Phobos apareceu pilotando uma Harley-Davidson. 

"Oi, queridinha," Phobos a cumprimentou puxando uma enorme espada da bainha. "Hora de ficar com medo."

Andy empunhou a espada, determinada a encará-lo. Então, os olhos de Phobos incandesceram e ela cometeu o erro de olhar dentro deles.

De repente, Andy estava num lugar diferente. Era o Acampamento Meio-Sangue. Mas estava vazio. Não tinha ninguém por lá. Andy olhou em volta, seu coração se acelerando. "Anthony?" ela chamou. "Grover? Quíron?"

"Não tem ninguém," uma voz disse. "Você está sozinha, Andy Jackson."

"O quê?" Andy tentou encontrar o dono da voz, mas não conseguiu. "Onde eles estão? O que aconteceu com eles?"

"Morreram. Se foram. O que você preferir. O importante é que não estão mais aqui. Você está sozinha, Andy Jackson."

"Eu..." Andy sentiu o medo gelado tomando conta do seu corpo. 

"Todos eles seguiram sem você. E por que fariam o contrário? O que você tem para oferecer à eles? Você não é nada. E agora está sozinha, Andy Jackson."

As mãos de Andy tremeram. Respirando pesadamente, ela chamou: "Anthony?"

"Ele não pode te ouvir," a voz respondeu. 

"Não."

"Ele não pode te ver."

"Anthony?"

"Ele nem sabe quem você é. E agora você está sozinha, Andy Jackson!"

"Não. Pare! Por favor, eu-"

Andy estava paralisada, mas algum lugar do seu cérebro sabia que aquilo só estava acontecendo em sua mente. Não é real, ela disse à si mesma. Não estou no acampamento. Ela podia sentir o poder do mar em suas veias. É só uma ilusão. Não estava acontecendo. Ela não estava sozinha. Não poderia estar...

Andy piscou e viu a espada de Phobos vindo na direção da sua cabeça. Andy empunhou Contracorrente e bloqueou o golpe segundos antes que ele a partisse em dois. Contra-atacou e acertou Phobos no braço. Icor dourado ensopou sua camisa. Phobos rosnou e avançou sobre ela. Andy desviou facilmente. O medo ainda ameaçava congelar suas pernas, mas Andy se manteve forte. Ela conteve Phobos, golpeando seu rosto e deixando-lhe um corte na bochecha. Quanto mais irritado ele ficava, mais desajeitadamente agia e menos medo Andy sentia. 

Finalmente, Andy chutou-o contra a fonte de água. Sua espada foi parar no banheiro das mulheres. Andy lhe deu um soco no nariz que lhe deformou o rosto. "Você vai desaparecer agora," ela apontou para ele. "Vai sair do caminho de Clarisse. E se eu o vir de novo, vou quebrar algo muito maior."

Ele engoliu em seco. "Haverá uma próxima vez, Jackson! Eu sei o que você teme!"  e ele se dissolveu numa fumaça amarela. 

Andy encontrou Deimos e Clarisse na área das cabras. Clarisse estava de joelhos. Andy foi até ela, mas parou subitamente quando viu como Deimos havia mudado sua forma. Agora ele era Ares: o grande deus da guerra, e ele levantava o punho para Clarisse. "Você me decepcionou de novo! Eu a avisei do que aconteceria!" 

Ele tentou acertá-la, mas Clarisse arrastou-se para longe. "Não! Por favor!"

Só naquela palavras, Andy ainda podia ouvir-se implorando para Phobos. A sensação de ver acontecendo com outra pessoa era tão ruim quanto passar por aquilo ela mesma. Andy sabia que não podia ajudar o que deixava as coisas ainda piores. Clarisse precisava fazer isso. Esse era o seu maior medo e ela teria de superá-lo sozinha.

"Garota estúpida!"

"Clarisse!" Andy chamou. "É uma ilusão. Não é real. Enfrente-o!"

A forma de Deimos vacilou. "Eu sou Ares!" insistiu ele. "Eu sabia que você me decepcionaria. Agora vai sofrer minha ira."

"La Rue!" Andy insistiu. "Enfrente-o. Isso é só fachada. Levante-se!"

"Eu... eu não consigo."

"Sim, você consegue. Porque é uma menina! Porque é uma guerreira! Qualquer menino no seu lugar não teria forças, mas você vai se levantar agora mesmo!"

Ela hesitou. E então começou a se erguer.

"O que está fazendo?" Ares elevou a voz. "Humilhe-se por misericórdia!"

Clarisse deu um breve suspiro. "Não," disse calmamente. "Estou cansada de ser amedrontada por você." Ela empunhou a espada. Deimos atacou, mas Clarisse se desviou do golpe. Ela cambaleou, mas não caiu. "Você não é Ares," afirmou ela. "Você não é nem mesmo um bom guerreiro."

Deimos rosnou de frustração. Ele atacou de novo, Clarisse estava preparada. Ela o desarmou e o atingiu no ombro. Ele uivou de dor e começou a incandescer. Tanto Clarisse quanto Andy desviaram o olhar enquanto Deimos explodia em luz dourada e desaparecia. As duas ficaram ali ao lado de uma quadriga puxada a cavalos.

Clarisse observou Andy cautelosamente. "Você não viu isso. Você nunca viu nada disso."

Andy segurou seu olhar. "Nada disso o quê?"

Clarisse sorriu. Ela olhou para o céu, que ficava vermelho atrás das árvores. "Suba na quadriga, Jackson. Ainda temos uma longa viagem a fazer."

O único problema era: elas estavam numa ilha. 

"Ótimo," resmungou Clarisse. "O que fazemos agora? Conduzimos essa coisa pela Ponte Verrazano?"

Andy teve uma ideia. "Vamos pegar um caminho direto."

"O que você quer dizer?" Clarisse franziu as sobrancelhas.

Andy fechou os olhos e começou a se concentrar. "Siga em frente. Vá!"

Clarisse estava tão desesperada que não hesitou. Ela chicoteou os cavalos. Eles avançaram em direção à água. Andy imaginou o oceano se tornando sólido, as ondas se transformando numa superfície firme até Manhattan. A quadriga de guerra bateu na arrebentação. Elas andaram por cima das ondas diretamente até o porto de Nova York.

Chegaram ao Píer 86 bem no momento em que o céu ganhava a cor roxa. Estacionaram a quadriga na rampa e desceram dela. Andy quase desmaiou de exaustão. Concentrar-se em manter a quadriga sobre as ondas fora uma das coisas mais difíceis que já fizera. 

"É melhor eu sair daqui antes que Ares chegue," resolveu.

Clarisse concordou. "Ele provavelmente mataria você assim que a visse." Ela enrolou as rédeas na mão. "E sobre aquilo que você não viu, Jackson... Aquilo de que eu tenho medo..."

"Não vou contar a ninguém."

Clarisse a olhou com desconforto. "Phobos assustou você também?"

"Ah, sim. Pelo visto, sofro de Monofobia. Eu não... Eu não sabia disso. Acho que nunca pensei a respeito."

Clarisse fez uma careta como se achasse que Andy estivesse mentindo. "Você tem medo de ficar sozinha?" 

"Não é sozinha tipo todos-estão-ocupados-demais-para-me-dar-atenção. É mais tipo... Todas as pessoas que eu amo se foram? E não há mais ninguém só... só eu." Andy afastou o pensamento pra longe. "O que estou tentando dizer é... Sei como você se sentiu."

Clarisse baixou os olhos. "Eu, hum... acho que eu devo dizer..." as palavras pareciam estar presas na sua garganta. 

"Não precisa dizer nada."

Andy começou a se afastar, mas Clarisse lhe chamou. "Jackson?"

"La Rue?"

"Só pra deixar uma coisa bem clara... Eu votaria em você como a pessoa menos provável a ficar sozinha. Você tem muitos amigos. Muitas pessoas que se importam. Não vai acontecer." Um sorriso fraco passou pelo rosto de Clarisse e toda a certeza dela inundou o coração de Andy.

The End



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