Em algum lugar do seu sonho, Hinata ouvia a sua mãe cantarolando alguma música feliz. Algo como Somewhere Over The Rainbow.
E aquele som a fez suspirar. Era como estar em casa outra vez, antes do seu pai morrer, quando Himari sempre parecia brilhar e amá-la tanto que era incrível.
Então, algo soprou contra o seu pescoço e toda a história boa mudou-se para Shinji.
“Ela estava de olhos fechados, lágrimas caíam, e havia um braço em torno de sua cintura.
— Não é lindo? — perguntava a voz repugnante do seu “novo pai.”
A sua mãe suspirava.
— Eles realmente viraram irmãos.
Mas o que eles não viam era a mão daquele cara entre as suas pernas, muito menos a faca que já machucava entre os seus seios, a ponta afiada cortando a cada vez que ela respirava.
— Vem. Vamos deixá-los dormir — dizia a sua mãe, saindo do quarto enquanto tudo o que ela queria era gritar e implorar para ir embora.
Assim que eles fecharam a porta, ela o sentiu morder o seu pescoço, um som estranho de aprovação. Hinata se sentia suja, nojenta com ele tocando-a, tão imunda que tudo o que podia fazer era fechar os olhos e tentar não sentir nada.”
O ar de Hinata começou a falhar no momento em que ela percebeu que também havia um braço em sua cintura e um peito em suas costas. E que... Ela arquejou. Estava nua, só de calcinha. Fechou os olhos, tremendo e suando frio.
Shinji havia a encontrado. Todo o pesadelo tinha voltado.
E ele havia agredido-a? A sua cabeça doía tanto. A mão dele estava por baixo do seu peito, o braço por baixo da sua cabeça e mesmo assim ela tremia toda de frio. O quarto tampouco era o seu. Ela se lembrava daquela estrutura. Mas, tudo o que ela queria era sair dali.
Empurrando o braço dele com cuidado, Hinata se esgueirou e caiu no chão de tanto que tremia. Ela sabia que o tinha acordado. Podia vê-lo se levantar com raiva e…
Era Naruto quem a olhava, enquanto ela estava encolhida contra a parede e procurando se cobrir. Os olhos azuis dele passaram de preguiçosos para preocupados.
— Hina... Você está bem?
Então, ela se lembrou de tudo o que havia acontecido na noite anterior.
Ele a tocara. Naruto havia tocado-a várias e várias vezes e ela havia deixado. Ele a beijara. Eles quase...
Segurou a sua cabeça com a mão enquanto ela explodia, lágrimas escorrendo dos seus olhos.
Droga.
— Naruto...
— Hina, aqui. — e havia algo envolta dos seus ombros. — Está tudo bem, não houve nada. Isso deve ser ressaca, você bebeu demais.
Ela negou com a cabeça.
Havia dois lados dela, a com a ressaca e a outra que não parava quieta. Essa segurou a mão de Naruto e o encarou com olhos preocupados.
— Por favor, tome um banho, Naruto, por favor.
Ele franziu o cenho.
— Eu não estou sujo, Hina, eu estou bem.
— Por favor, vai, eu vou ficar louca se você não for... Só, vai, por favor.
— Ok, eu estou indo.
× × ×
Dez minutos depois, Naruto saiu do closet vestido com calça jeans escuras, um suéter vermelho e um Adidas branco superstar.
Ele estava lindo como sempre.
— O que você achou? — ele perguntou. — A Ino diz que fica bom usando assim, mas tanto faz, é só roupa.
Ele não sabia o quanto estava errado, Hinata pensou enquanto o assistia caminhar em sua direção. Um sorriso se expandia no rosto dele.
— Pronto, agora é a sua vez de ir tomar banho. Ainda temos aula hoje.
Hinata assentiu e nada disse ao se levantar, já vestida e caminhando para o seu quarto.
Doze minutos depois, Hinata desceu as escadas vestindo calças jeans, botas e uma blusa de lã azul claro — roupas que Ino havia deixado em seu quarto. A sua mãe só deu tchau, Minato acenou um adeus e então, ficou somente ela e Naruto.
Ele parecia indiferente ao que havia acontecido na noite anterior, tanto que jogou um dos três jornais que havia sobre a mesa a sua frente.
— A mídia está te amando — brincou ele enquanto pegava uma maçã. — "Nova Namikaze e o Herdeiro Uchiha apaixonados?” Devo dizer que isso é hilário.
Hinata nada disse.
× × ×
A escola estava cheia quando eles chegaram lá. Sakura logo se aproximou, com a cara fechada e calada demais para ela.
— Falei? Eles já brigaram — Naruto sussurrou para Hinata. — Eles nunca ficam muito tempo.
Então, Ino surgiu toda saltitante, ocupando todo o estranho silêncio entre eles, tanto com Naruto e Hinata quanto com Sakura.
Ino contava sobre como estava confirmado de eles irem para Paris na semana que vem, logo depois das provas. Os três murmuraram um animado ok e cada um foi para o seu lado.
Hinata estava tão centrada em evitar os olhares das outras pessoas que quando algo caiu no chão, ela levou um susto. Estranhando, ela abaixou-se e franziu a testa quando se levantou com a pasta em mãos. Era o tipo de pasta para polícia, onde eles olocavam tudo sobre o assassino.
Até que ela viu algo parecido.
Umas vinte fotos dela, tanto com Naruto, como com Sakura, Sasuke e Ino, todas com os nomes de seus amigos, uma da casa dos Namikazes, outra do carro que ela dirigia e do carro de Naruto.
Então, escrito atrás: Eu sei tudo sobre você, garota.
— Hey, Hina, eu poderia falar com… — Naruto abaixou o olhar para suas mãos. — O que é isso?
Tudo o que Hinata pôde fazer foi entregar a ele, não conseguia dizer, não conseguia se mover.
Shinji.
Shinji havia descoberto tudo sobre ela.
— Como aquele desgraçado conseguiu tudo isso?
Hinata deu de ombros, procurando contar em francês.
— Ele... É persistente quando quer algo — e ela se lembrava bem como foi até ele conseguir acabar com toda a sua vida. — Ele vai me matar... É isso que ele quer, é isso que ele vai fazer.
Naruto segurou o seu cotovelo com força.
— Vem comigo, Hina.
Ambos ignoraram os olhares curiosos dos demais alunos quando passaram por eles até estarem do lado de fora.
Incrivelmente, Sasuke encontrava-se sentado no ginásio, com algo em mãos e ouvindo música. Ele parecia quase tão trágico como Hinata, mas mudou sua expressão assim que os viu.
— Aconteceu alguma coisa?
— Você pode cuidar dela pra mim, Sasuke?
— Hum, claro, eu não to a fim de ver aula mesmo — e os olhos negros caíram em sua pessoa. — Você parece que viu um fantasma, senta aqui.
Seguindo o que eles pediam, Hinata se sentou só pra se encolher como uma bolinha. Ela não chegou a ouvir o que mais os dois caras trocaram de informações, pois tudo o que importava era tentar não passar mal e precisar ir pra casa.
Contou em Francês, alemão e latim antes que estivesse só ela e Sasuke.
Ele se sentou ao seu lado.
— Um pouco melhor?
Hinata assentiu.
Não queria conversar, mas sabia que era o melhor para não entrar em pânico.
— O que é isso na sua mão?
— Isso? — Sasuke ergueu um papel. – Algumas exigências do meu pai.
— Veio lá de Chicago?
— Veio. Você quer ler?
— Não, deve ser algo importante, guarde para você. — Hinata suspirou. — Estamos os dois fudidos, não estamos?
— Nossa alegria é correr o perigo da maneira mais louca, Hinata. — Sasuke sorriu de modo divertido. — E devo dizer que você é bem mais legal quando tá bêbada.
— Ai, nem me lembre. Dor de cabeça assim sempre é normal?
Sasuke deu de ombros.
— Depende, comigo não acontece mais. Acho que o seu corpo se acostuma ao álcool. E você, o que a traz aqui?
— O meu passado me perseguindo.
— Ah, sei bem como é. Mas, hey, eu to aqui. Eu bato em alguém se for preciso.
Hinata sorriu um pouquinho para Sasuke.
— Eu sei que faz. Obrigada.
— Disponha, bater é comigo mesmo. A Sakura já deve ter te contado como eu era um garoto brigão de bar. — Sasuke riu baixinho. — Ela ficava puta da vida comigo quando me via depois de uma briga.
— Ficava mesmo.
Então, a conversa deles foi interrompida.
A dita cuja que eles diziam entrou como um furacão no ginásio, bem ao lado de Naruto e nenhum olhou para eles sentados. Sakura estava no telefone, arrumando fosse lá o que fosse enquanto Naruto parecia conversar com o pai. A pasta ainda estava nos dedos dele.
Hinata ficou quieta, junto de Sasuke, olhando-os. Pareciam bem mais velhos do que de fato eram. Então, Sakura desligou o seu enorme celular e encarou os seus olhos.
— Sob o indício de estar perseguindo uma antiga vítima, Shinji está sendo caçado para entrar em prisão domiciliar. O máximo que dá pra fazer enquanto ele não dá nenhum passo, Hina. E você sinceramente não ia me contar isso? — os olhos verdes estavam escuros. — Sabe que eu colocaria aquele cara em uma masmorra através da constituição pra você.
— Você e mais nós dois — Sasuke disse, com os cotovelos apoiados no andar de cima da escada, quase deitado, atraindo a atenção dos olhos dela para ele. — Olá, Haruno. É bom ver você também.
— Não tenho tempo para as suas brincadeiras, Sasuke. Hina, eu preciso que você afirme diante a polícia isso, como um tipo de Boletim de Ocorrência. Só assim vou poder agir.
Mas antes mesmo dela ter terminado, Hinata já negava.
— Não posso... Ele vai perseguir vocês, todos vocês.
— Hinata, perceba uma coisa... — Naruto disse olhando em seus olhos seriamente. —... Nós somos pessoas que temos influência, temos o que outras pessoas não teriam para se proteger.
— Isso é um fato — concordou Sasuke. — E nós temos uma advogada ao nosso lado.
Sakura cruzou os braços.
— Pode ser por escrito.
Olhando nos olhos deles, ela suspirou.
— Tá bom, ok, eu faço.
Naruto sorriu.
— Era só o que precisávamos, Hina, nós vamos dar um jeito, acredite nisso.
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