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História Armas e bisturis - Capítulo XXV


Escrita por: tiffanyisles

Capítulo 26 - Capítulo XXV


O dia estava amanhecendo preguiçosamente, pela janela ela podia ver o azul escuro se dissipando nos raios da manhã, revelando um céu azul turquesa no processo. O vento frio soprou lá fora, levantando as últimas folhas secas do chão. Taeyeon rolou na cama e cuidadosamente colocou Tiffany em seus braços. A morena ainda dormia profundamente e o sono não tinha sido perturbado pelo movimento. Era algo costumeiro; levantar a cabeça devagar, apoiar em seu peito e depois virar o corpo da outra em sua direção. Taeyeon já tinha feito tantas vezes que o gesto era quase automático, e Tiffany muitas vezes colaborava em estado de sono mais leve, voltando a dormir tranquilamente em seguida.

A noite anterior tinha sido uma de comemoração, e Taeyeon não pôde deixar de comparar o contraste dos últimos meses. Todo sofrimento dela e de Tiffany em relação ao bebê, e depois somado à situação de Irene, e logo, em tão pouco tempo, a mudança que ela trazia. Os sorrisos matutinos, o companheirismo, o corpo fofo e quente da criança em seus braços. O rosto de Tiffany se iluminando quando Irene corria em sua direção. Fazia agora, um mês que a menina estava com elas. A tempestade tinha definitivamente passado, e o sol brilhava forte e caloroso.

O contato com o advogado horas antes do jantar, na noite anterior, tinha colocado o maior sorriso no rosto de Tiffany. Irene seria delas, agora era certo. Levaria mais um mês, no máximo dois, para a legalização dos documentos. Taeyeon sentiu pele primeira vez um dos benefícios de carregar o sobrenome “Hwang”. O juiz era um velho amigo do pai de Tiffany, e embora não tivessem tido contato durantes anos, ele havia ficado mais do que feliz em prestar um favor. É claro que isso só foi possível porque ambas tinham tudo o que precisavam para adotar uma criança: lar seguro, estabilidade financeira, família bem-estruturada. O sobrenome veio, na verdade, como uma garantia no processo de adoção.

Em poucas horas um grande jantar tinha sido preparado por Nawoon, e mesmo Irene que não entendia completamente o que elas estavam festejando - por que ela não poderia morar ali se não tivesse um pedaço de papel? - parecia satisfeita demais com a casa cheia. Uma ligação de Tiffany para a mãe, para agradecer o apoio dos pais, tinha deixado a menina ainda mais feliz. Em uma semana Yonghee estaria de volta, e Irene mal podia se conter de felicidade e empolgação.

- Halmoni! - Ela gritou da sala para a mulher que estava na cozinha. - Grandma chega semana que vem! - E todos voltaram o rosto para ela. Nenhuma delas - Yuri, Sunny e nem Sooyoung - tinham ouvido a menina chamar Nawoon de avó. A primeira vez tinha chocado Taeyeon também, mas conhecendo bem sua mãe, ela simplesmente revirou os olhos e riu em seguida. Agora a loira parecia orgulhosa demais estudando os rostos surpresos por causa de Irene, e Nawoon estava vívida pela cena. Por um minuto a garotinha pareceu tímida com todos os rostos encarando-a, mas tão logo ela encontrou o olhar de Tiffany - os olhos castanhos brilhando para ela - ela ergueu os braços e correu na direção da mulher, pulando em seu colo.

- Maravilhoso! - Nawoon exclamou para a menina de onde estava

- Isso não é ótimo? - Tiffany perguntou, arrumando a blusa da garotinha que tinha se levantado quando a segurou no ar.

- Mal posso esperar! - Ela abraçou a mulher. - Quanto tempo é uma semana?

Tiffany riu, divertida - São sete dias, Irene. O que significa que ela chega no próximo domingo.

- Passa logo? - A menina perguntou, ainda desorientada no tempo.

- Bem... - Tiffany deu de ombros. - Imagino que sim.

E então toda a comoção tinha se passado, e o jantar foi regado de risadas, e gestos singelos entre Taeyeon e Tiffany, e gargalhadas de Irene. No final todos estavam no sofá assistindo um filme, e a criança dormia sossegada nos braços de Taeyeon. Tinha sido uma noite leve, feliz e que havia deixado seus resquícios de doçura para ser lembrada na manhã seguinte - pelo resto da vida.

Como se num presságio, Irene abriu a porta do quarto e colocou a cabeça para dentro. Quando Taeyeon acenou com a mão, a menina contornou a cama e foi ao seu encontro. Ela escalou o colchão e Taeyeon a colocou de baixo do cobertor, e logo em seguida beijou sua cabeça.

- Bom dia, tartaruga. - Ela murmurou silenciosamente, já que tinha Tiffany encostada em seu peito.

- Dia. - A menina respondeu e sorriu para ela, devolvendo o beijo na bochecha. Depois ela se inclinou e beijou carinhosamente a bochecha da médica. De sobrancelhas franzidas, ela olhou intrigada de Tiffany, que dormia, para Taeyeon. - Muito cedo? - Ela inclinou a cabeça se referindo à morena.

- Muito vinho. - Taeyeon murmurou de volta e riu, tentando não chacoalhar, em vão, o peito.

- Vinho dá sono? - Ela perguntou para esclarecer enquanto se deitava de novo, apoiando a barriga ao lado do corpo de Taeyeon.

- Oh, sim. Bastante. - Ela abraçou a menina que apoiou a cabeça em seu ombro. Parecia ser tão certo ter as duas ali, enroscadas nela.

- Mais meia hora? - A menina murmurou, porque era sempre o que elas falavam para ela quando não queriam levantar logo tão cedo, “mais meia hora, Irene”, o que significava que ela tinha que, ou dormir, ou ficar em silêncio ali com elas.

- Sim, querida, meia hora. - Taeyeon acariciou seu corpo.

Irene descansou sua mão no rosto de Tiffany, e a morena instintivamente lançou o braço por cima de Taeyeon e apertou um abraço nas duas figuras, respirando fundo. Taeyeon reconhecia quão confortável era aquela situação, quão promissora aquela manhã estava sendo desde as promessas da noite passada. Era um novo dia, fresco, carregado por uma sensação de plenitude vinda de uma fonte que Taeyeon soube imediatamente identificar. Brotava da combinação de Tiffany em sua vida, vivendo e correspondendo o amor que a loira sentia por ela, e da chegada e estadia de Irene em seus corações. Não havia mais ameaças, Irene ficaria, e o incômodo da dúvida tinha sido varrido para fora na noite anterior. A menina era delas, e Taeyeon sentiu os olhos se encherem de água com o pensamento. Se Tiffany não estivesse dormindo, ela teria gritado de felicidade. Em vez disso, ela optou por beijar a cabeça de cada uma demoradamente. Sim, aquilo estava tão certo. Era tudo o que ela precisava: sua família dentro de seus braços, num encaixe que parecia ter sido meticulosamente talhado.

O corpo de Tiffany se juntava no dela numa combinação perfeita, do mesmo modo que o corpo pequeno de Irene se ajustava. Uma do lado esquerdo, a menor do direito. Elas eram como um quebra-cabeça mutável, onde as curvaturas e esquinas das peças se dobravam e estendiam, contraiam, de acordo com a necessidade da mudança de cada uma. Sempre mudando, sempre se adaptando - sempre conectadas.

De forma impecável e ideal.

 

...

 

O caso da mãe de Irene ainda permanecia aberto, e era uma pasta que Taeyeon jamais colocaria numa caixa de arquivo morto enquanto não o encerrasse. Por outro lado, o corpo da mulher tinha sido dispensado para o sepultamento depois de recolhido todas evidências possíveis. Mais uma semana tinha se passado desde o telefonema com o advogado, e Tiffany decidiu, junto com Taeyeon, que elas seriam responsáveis pelo velório da mulher. Era uma forma de honrar a memória da mãe da criança, que agora também era filha delas, e zelar pelo bem da própria menina.

Elas explicaram para Irene o que iria acontecer no dia anterior. A menina ouviu atentamente, com olhos estudiosos e marejados, mas ela não chorou. O caixão estava lacrado, pronto para ser abaixado, e ela não chorou. Ela não chorou quando jogou uma última rosa em cima dele e sussurrou “eu sinto tua falta” e viu a flor pousar levemente, respeitosamente lá em cima. De algum modo, mesmo para sua mente ainda infantil de criança, ela sabia que sua mãe estava em paz. Ela sentiria falta dela, para todo o sempre, mas agora já não era tão dolorido porquê...

- Ela vai estar aqui sempre, Irene. - Taeyeon disse enquanto acariciava seu rosto. Ela estava aninhada nos braços de Tiffany, e a loira estava logo ao lado. - Ela vai estar sempre aqui. - Taeyeon pressionou o indicador no peito da menina, em cima do coração - E ela pode te ouvir não importa aonde você esteja. Entende?

Irene balançou a cabeça em sim.

- E ela sempre vai cuidar de você. - Taeyeon sorriu gentilmente para ela.

- E de vocês, porque vocês são minhas e cuidam de mim. - E tinha sido tão firme e confiante que Taeyeon acreditou que sim, que agora de algum modo elas tinham a benção e a proteção de Bora para continuar com Irene. Tiffany abraçou a menina sem dizer uma palavra, não confiando na própria voz, e lançou um olhar marejado para Taeyeon.

Irene era capaz de fazer algo bonito das coisas mais tristes - da sua própria tristeza, da tristeza de Taeyeon e Tiffany. Ela era empenhada o suficiente para consertar a si mesma, e de quebra as duas mulheres.

Taeyeon balançou a cabeça em afirmativo para Tiffany e sinalizou para que elas retornassem, já que agora só restavam elas ali. Tiffany se virou para fazer o caminho até o carro, e Taeyeon, antes de segui-la colocou as mãos no bolso e encarou a lápide recém colocada.

Obrigada, Bora. Por mandar Irene para Tiffany, para mim. Por guiar nossos caminhos de volta uma à outra. Ela tem sido nosso raio de sol, e nos dias tempestuosos só basta olhar naqueles olhos azuis para saber que o céu... Deus, o céu existe. Eu sinto muito que isso tenha acontecido a você, e eu prometo que Irene será amada e cuidada da forma mais completa possível. Quer dizer, nós já a amamos tanto. Ela é pequena, ela é tão pequena - Taeyeon riu sozinha, balançando a cabeça enquanto se lembrava da menina se enroscando nela naquela mesma manhã, enquanto Tiffany tentava acordá-la - e mesmo assim, tem um espírito tão grande. Isso me faz pensar que ela só é extraordinária porque você foi uma ótima mãe para ela. E você vai continuar sendo, Bora. Nós não vamos deixar que ela te esqueça. Fique em paz, e...

Taeyeon suspirou fundo e olhou para trás. Tiffany tinha parado na distância, esperando por ela. O vento frio balançava o cabelo moreno e Irene balançava as pernas no colo de sua mulher. Ela sorriu e se virou de novo.

Nós também temos uma garotinha aí em cima. Um bebê, na verdade. Talvez se... se você puder dar uma olhada nela para gente?

Ela revirou os olhos. Desde quando tinha se tornado tão emocional? Se ela demorasse mais um minuto Tiffany ficaria impaciente e Irene irritada. Yonghee estava esperando no carro por um longo tempo agora, e talvez não fosse educado de sua parte deixá-la na espera. De qualquer forma, emocional ou não, ela sorriu e piscou os olhos uma última vez para a lápide antes de se virar e partir.

- Taeyeon! - Irene a chamou e esticou os braços, inclinando o corpo para frente. A loira a pegou no colo e beijou a bochecha fofa e vermelhinha por causa do frio. Em seguida, Irene apoiou a mão no seu peito e olhou com o cenho franzido em pensamento para ela, e então...

- Nós cuidamos uma da outra.

Taeyeon balançou a cabeça em sim, concentrada, e olhou para Tiffany. A morena deu de ombros, não tendo ideia de onde e porque a menina dissera isso.

- Certo, tartaruga. - Ela confirmou com a cabeça. - Nós cuidamos uma da outra.

E então ela não chorou porque sua mãe estava ali - em seu coração - e Tiffany estava ao seu lado, e Taeyeon a segurava forte num abraço. E a presença de todas elas era tão forte, tão real, que Irene sorriu para elas - para as três - e suspirou fundo ao olhar para o céu azul em cima de suas cabeças.

- Nós podemos ir para casa? - Ela balançou as pernas na cintura da loira.

- É claro. - Taeyeon disse e estendeu a mão para segurar na de Tiffany. - Vamos para casa. - Porquê de algum jeito a vida tinha se encarregado de juntar os fios soltos para continuar tecendo outras histórias.

 

...

 

Tiffany escutou o grito vindo da sala. Ela sentiu um calafrio percorrer o corpo a deixando em estado de alerta. Ela não tinha ideia do que poderia ser o motivo da menina ter gritado daquele jeito e, apressada, ela se virou rapidamente, fechando a geladeira e caminhando em direção ao som. Ela nem alcançou seu destino, descobrindo logo o motivo do barulho.

Irene bateu de novo as mãos no chão e gritou um “ah” mais curto dessa vez, e Ginger abaixou a parte dianteira do corpo no chão, a parte traseira inclinada com um rabo se movendo alegremente de um lado para outro. Depois das mãos da garotinha acertarem o carpete, o cachorrinho latiu uma vez em alegria e saiu correndo pela sala. Ele completou uma volta e parou em frente da menina de novo que agora ria desesperadamente. Irene inclinou o corpo para trás, e as mãos apoiadas no joelho estavam contraídas, assim como a barriga pelo esforço da risada. E depois de rir o suficiente, ela fez de novo: gritou, bateu as mãos no chão e observou enquanto Gingger disparava em torno da sala mais uma vez, e logo sem seguida parava em sua frente. Agora o cachorrinho batia as patas dianteiras no chão, como se pedindo por mais.

Tiffany se encostou na parede e observou a cena, se deliciando com a simplicidade e graça da menina. Um sorriso brincou em seus lábios quando a criança estendeu a mão para Ginger, que a lambeu abaixando as orelhas de forma que pareceu à Tiffany um agradecimento. Ele se afastou de novo, dando espaço para Irene e quando a menina insistiu na brincadeira, o cachorrinho correu mais uma vez, agora pulando no sofá, no chão e contornando a sala. Quando ela voltou, bateu as patas no peito de Irene e a garotinha inclinou a cabeça para trás, a gargalhada chacoalhando o corpo inteiro.

Tiffany se descobriu rindo também. Ela levou a mão na boca para abafar o som quando Ginger pulou em Irene de novo, e a criança rolou de costas para o chão e protestou com “Gingeeeeeeeeeeer”, esticando bem a vogal, levando as mãos ao rosto quando recebeu lambidas ali. E mais uma vez, rapidamente recuperada de uma crise de riso, Irene se levantou e Ginger já esperava por ela de novo, pulando de um lado para outro como se dissesse “você não me pega”.

Os olhos da menina se fecharam com o sorriso sapeca, e incansável, as mãos atingiram o chão depois de um curto grito, o animal correu furiosamente pela sala e a gargalhada encheu o ar. Ginger latiu. Tiffany riu e chacoalhou os ombros. E então aconteceu.

Os olhos castanhos da menina encontraram a mulher do outro lado da sala, quase escondida pelo ângulo da visão, e Irene inclinou sua cabeça para vê-la melhor. Tiffany se aproximou, agora que já tinha sido pega, de qualquer forma. Sorridente, ainda entre risadas e com Ginger a sua espera, a menina apontou para o animal e ergueu as sobrancelhas numa expressão de puro divertimento.

- Omma, olha! - Ela disse empolgada. Ela levantou as mãos no ar e o movimento parou por ali, logo quando ela percebeu o erro.

Tiffany também congelou, e ela só soube que não tinha se transformado numa estátua - como na história que lera para Irene na noite anterior - porque escutava seu coração bater fortemente em seu ouvido. Ela não tinha escutado errado, tinha sido alto e claro. E Irene parecia culpada demais, agora mordendo um dedo e encarando-a com seus grandes olhos castanhos, como se a espera de uma reprimenda.

- Oh. - A morena finamente conseguiu dizer, entendendo que o silêncio era a deixa para dizer o que quer que fosse. Mas antes de qualquer coisa, ela sorriu. Ela sorriu porque Irene não tinha ideia do quanto ela parecia adorável com aquele olhar de “estou encrencada”, e porque a menina tinha a chamado de mamãe. Era estranho porque Tiffany não esperava por isso, pelo menos não por agora - mas com certeza futuramente - e era doce pelo mesmo motivo. Bem, a quem ela queria enganar? Ela estava extremamente feliz. Ela amava a menina. Amava como sua cabeça descansava em seu ombro antes de dormir, como Irene corria de encontro a ela depois de um dia de trabalho, abraçando-a pelas pernas fortemente, amava seus bicos e suas caras feias para os legumes, amava os costumes que a menina tinha aprendido com Taeyeon - o jeito que dizia as palavras separadamente quando irritada, e o jeito carinhoso nas manhãs - amava tê-la enroscada na cintura quando estava cansada demais para andar durante os passeios, sua inteligência e o modo como observava o mundo à sua volta. E amava ser responsável por ela; Tiffany era a mãe dela. E agora ela estava sendo reconhecida como tal.

Sorrindo, ela dobrou os joelhos no chão e esticou as mãos para alcançar a menina. - Você pode me chamar de omma, você sabe... - Ela colocou uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha de Irene. - Se você quiser, é claro, e se você achar que soa bem. - Ela encolheu os ombros. A menina parecia em conflito e ela pensou no que poderia ser. - Eu sei que você tem sua omma, mas...

- Halmoni disse que posso ter três. - Irene concluiu sabiamente.

Tiffany ergueu as sobrancelhas em surpresa. É claro que Nawoon sabia aproveitar uma oportunidade como ninguém, e é claro que a terceira mãe seria Taeyeon. - Oh, ela disse?

- Disse. - Ela apertou os olhos. - Isso pode? - Ela acreditava em Nawoon, mas precisava da confirmação de Tiffany.

- Sim, Nawoon tem razão. - Ela confirmou. - Irene, você se lembra daqueles papéis de que falávamos antes?

- Lembro, sim. - Ela balançou a cabeça em afirmativo.

- Certo. Aqueles papéis... Bem, eles garantem que você irá ficar comigo e com Taeyeon. E que nós somos as responsáveis por você agora, como... ommas.

- Para sempre?

Tiffany quase riu com a inocência da menina. Ela parecia mais preocupada com a promessa de eternidade do que com o título que aquilo acarretava.

- Sim, você vai ser nossa garotinha para sempre.

- Você é omma, Fany. - Ela disse, tímida. - Só pode ser. Você faz todas as coisas de omma.

Tiffany sorriu enquanto sentia os olhos encherem de lágrimas. - Oh, é mesmo? - Ela apoiou as mãos nos joelhos.

A menina imitou a mulher e se ajoelhou no chão também, mordendo os lábios. - Minha omma me colocava na cama e me contava histórias, me levava para passear com ela em qualquer lugar e... assistia desenhos comigo. E brincava comigo. E me obrigava a comer ervilhas. - Ela franziu o rosto em desgosto. - Mas me comprava sorvete também. E desenhava comigo! - Ela disse empolgada e depois olhou para Tiffany pensativa de novo. - Isso são coisas que todas ommas fazem, não são?

- Bem... - Tiffany mediu as palavras. Sua mãe realmente não tinha feito muito dessas coisas com ela, mas aquele era o parâmetro de comparação de Irene. – Sim. - Ela concordou - É isso que ommas fazem.

Irene deu de ombros, provando seu ponto. - Então você é uma. E Taeyeon também. E são minhas, não são?

São minhas, não são? Tiffany repetiu a última frase na cabeça e sorriu. Irene era possessiva e a morena se perguntou como ela reagiria com a notícia de ter um irmão, ou irmã. - Sim, Irene. Nós somos suas ommas agora. Para sempre. - Ela adicionou porque se lembrou que isso parecia ser tão importante para a criança.

A menina sorriu e pulou no colo de Tiffany, que a segurou e beijou sua bochecha quantas vezes achou necessário. - Três ommas! - A menina riu nos braços e Tiffany e jogou a cabeça para cima para olhá-la. - Isso significa que vou poder comer sorvete duas vezes! - Ela disse pensativa e Tiffany riu.

- Não, não mesmo. A quantidade de sorvete permanece igual. Boa tentativa. - Tiffany riu e se sentou no chão, segurando a criança em seus braços.

- Caramba, achei que ia colar.

E o comentário fez a morena rir mais ainda. Era uma frase tão típica de Taeyeon que o coração se inflou de um jeito singular, e algo quente e macio dentro de si a fez sorrir. Tiffany se perguntou como tinha sido possível viver sem Irene e Taeyeon antes. Aquela menina podia não ter vindo de nenhuma delas, mas estava se tornando claramente uma cópia da loira. No humor, nas falas, no jeito com as pessoas. E Tiffany Hwang, aquela que era filha de sua mãe, jamais sentaria no chão de uma sala - nem quando pequena, quem dirá agora grande - e mesmo isso Irene tinha conseguido mudar.

- Fany, como você vai saber que eu estou falando com você e não com a Taeyeon? – A menina perguntou com um semblante confuso no rosto. Ela não havia pensado nisso antes, ter duas mães significava chamar as duas igualmente, mas isso confundia a cabeça da mais nova.

Tiffany segurou o riso, ela queria apertar muito as bochechas de Irene naquele momento. – Você pode me chamar de ‘mom’. – A morena respondeu com um eye-smile.

- Mom?

- É assim que as ommas são chamadas de onde eu venho. – A menina abriu a boca em ‘O’ como se tivesse solucionado um mistério em sua mente.

- Então você é minha mom e Taeyeon é minha omma. – Os olhos castanhos brilhavam para Tiffany.

- Isso mesmo, meu amor. E quer saber? Vamos nos arrumar e esperar Taeyeon chegar, e então nós podemos ir no parque.

Irene piscou os olhos para ela.

- Naquele parque. - E ela ergueu as sobrancelhas de um jeito sugestivo e Irene agarrou seus ombros em empolgação.

- Você tá falando sério? - Ela se levantou, ainda se segurando na mulher.

- Sim.

E a menina levantou os braços e saiu correndo pela casa, gritando. Tiffany a perseguiria por cinco minutos até conseguir alcança-la, mas tudo bem. Era tudo o que ela sempre quis, afinal.

 

...

 

- Pipoca, pipoca, pipoca! - A menina repetia incansavelmente enquanto Taeyeon entregava o saco de pipoca para ela. Ela já tinha andado em todos os brinquedos que sua idade permitia. A pequena montanha-russa para crianças - mas que parecia terrivelmente alta para ela, a xícara que rodava e rodava durante alguns minutos, os carrinhos bate-bate - ok, não era de criança, mas como Taeyeon iria naquilo sem a desculpa de ser para Irene?, o trem fantasma que não era nada assustador, mas que deixou Irene em estado catatônico depois do primeiro minuto que saiu de lá, e que logo foi recuperado pela roda-gigante que era realmente alta, e que entregou uma Irene saltitante e feliz de volta ao chão.

Faziam duas horas que ela estavam ali, andando, rindo e conversando. Era domingo, mais uma vez, e agora todas as tardes desse dia eram preenchidas com atividades fora de casa. Até enquanto o inverno permitisse, pelo menos. Agora que Irene caminhava com um braço segurando o saco e a outra mão ocupada, cheia de pipoca, o cuidado tinha que ser redobrado. As duas mulheres caminhavam lado a lado, cuidando da direção que a menina tomava. Ela andava distraída, realmente concentrada na pipoca que estava comendo.

Pipoca, aliás, que Tiffany achava ser inapropriada depois de dois picolés, um refrigerante e meio cachorro-quente (Taeyeon comeu a outra metade). Tudo isso, em duas horas. Toda essa comida entre as voltas nos brinquedos. Mas era domingo, e Irene parecia feliz demais ali, e era difícil de argumentar enquanto Taeyeon sorria para ela daquele jeito que a desarmava. Não era justo, as duas se unindo contra ela. E porque era domingo, porque era o dia que estava destinado à diversão (o que incluí permissão para comer coisas deliciosas e gordurosas, Fany-ah!, disse Taeyeon) ela não iria se aborrecer com isso.

A loira apontou uma árvore grande, perto do local aonde estavam passando, e Tiffany alcançou Irene com os braços e indicou o lugar para ela. As três se sentaram lá em baixo, descansando as pernas depois de andarem por tanto tempo. Irene sentou no meio das pernas de Taeyeon e apoiou as costas em sua barriga. A loira beijou sua cabeça e roubou uma pipoca do saquinho.

- Fome? - Ela ofereceu para Tiffany, que revirou os olhos em reprovação.

- Não, obrigada. - Ela se encostou na árvore e observou a roda-gigante, funcionando ao longe.

- Irene, você sabe que Tiffany tem medo de fantasmas? Por isso ela não quis ir no trem com você. - Ela mastigou a pipoca, enquanto tentava suprimir um sorriso.

- Isso não é verdade! - A morena se defendeu, endireitando a coluna. - Fantasmas não existem, Taeyeon, você sabe disso, logo não existe razão para temê-los.

A menina trocou um olhar significativo com Taeyeon - um gesto que ela tinha aprendido com a loira - e as duas riram em seguida. Tiffany caía tão facilmente nas provocações das duas. Ela revirou os olhos, mas acabou rindo também.

- Acabou a pipoca. - A menina anunciou, embora continuasse a pressionar o dedo e lamber o sal que havia sobrado lá de dentro.

- Lixo no lixo, tartaruga. - A loira disse enquanto apontava para uma lata, a direita e não muito distante delas.

- Ok. - Irene se levantou, andou até lá e arremessou o saquinho de papel - que havia transformado numa bola - direto na lata. Ela ergueu as mãos em comemoração, procurando o olhar de Taeyeon e a loira sorriu para ela, e acenou com a mão para que voltasse. Determinada a seguir sua direção, Irene apressou o passo e ignorou o resto em sua volta.

E trombou com um guarda local. Taeyeon estava pronta para se levantar e resgatá-la, quando Tiffany segurou seu braço, impedindo-a de fazê-lo. Ela estava perto demais, não havia necessidade. As duas observavam enquanto Irene se endireitava e olhava para cima, para o rosto do homem.

- Desculpa, não te vi. - Os dois disseram em uníssono.

Ela mordeu o lábio e sorriu. - Tudo bem, não foi nada.

O policial, gentil, sorriu também e se curvou um pouco para baixo. - Você não se perdeu de seus pais, se perdeu?

- Não, minhas ommas estão logo ali. - Ela apontou para as mulheres que sorriram para ela. - Minha omma é policial igual você.

- É mesmo? - Ele parecia mais divertido do que interessado.

- É. E minha outra mom é médica.

As duas mulheres se entreolharam e sorriram orgulhosas. Era a primeira vez que a menina tinha apresentado elas como suas mães.

- Legal! Você tem duas heroínas, então.

- Três. - Ela disse rapidamente.

- Três? - Ele pareceu intrigado.

- Três, mas é uma longa história e eu preciso ir. Adeus! - Ela balançou a mão e saiu apressada em direção as mulheres, logo depois que o guarda acenou também. Quando ela parou, mais uma vez em frente das duas, os lábios se transformaram num círculo. – Ooooooh - Ela disse encantada. - Carrossel! Posso ir? - Ela apontou para o brinquedo atrás de Taeyeon.

- O que você quiser. - A loira deu de ombros e Tiffany já estava se levantando.

Mãos pequenas nas mãos de suas mães. Elas caminharam até o brinquedo e esperaram na fila, até a vez da menina. Irene dava pequenos pulinhos até que Taeyeon a ajudou a subir num dos cavalos.

- Unicórnios! - A menina a corrigiu, ainda mais empolgada.

- Não solta. - Taeyeon a instruiu.

- Não vou. - Ela prometeu. Mas não cumpriu completamente. A cada volta que ela completava, ela erguia uma mão e gritava para Taeyeon “Ommaaaaaaa”, e ria loucamente.

E Taeyeon nunca sorriu com tanta vontade. Os olhos negros brilharam e a mão ergueu em sua própria vontade para acenar para a garotinha. Sim, a garotinha dela. Sua filha.

E de novo. “Mooooooom.” E Taeyeon riu, e Irene chamava tanta atenção com sua gargalhada que algumas pessoas olhavam para ela, e depois para Taeyeon e Tiffany. As duas estavam em êxtase. Bem, as três estavam, mas Irene não tinha ideia daquilo que estava causando nas mulheres. Tiffany tinha tirado uma foto com o celular, e tinha ficado cômica. A menina com um braço estendido, a boca aberta em risada e os olhos espremidos. Um retrato da felicidade.

Quando a volta acabou, a menina correu para elas e abraçou a perna de Taeyeon. - Isso foi tão divertido! Você viu, você viu? - Ela perguntou para Tiffany. A mulher balançou a cabeça em sim, e tomou sua mão.

- É claro que eu vi. Você quer ir em outro brinquedo?

- Sim, sim, sim! - Ela saiu saltitante na frente das duas, tentando decidir qual seria o próximo brinquedo. De repente ela parou e pareceu cansada demais.

- Irene? - Tiffany chamou, parando também. - O que foi, querida?

E a menina deu um passo à frente e se curvou, e vomitou tudo o que tinha comido na última hora.

- Oh, não. - Tiffany murmurou e colocou a mão nas costas da criança que tossia. - Oh, Irene... - Ela lamentou, sabendo que depois disso viria...

O choro. A menina abriu a boca, completamente entristecida e chateada, e chorou dolorosamente porque estava tão feliz até então, e aquilo deveria durar.

- Comida e brinquedos? Acho que não foi uma boa combinação. - Taeyeon disse olhando para Tiffany, arrependida. A morena balançou a cabeça com uma expressão de “eu te avisei”.

A médica se curvou e segurou a cintura da menina para pegá-la no colo, mas o esforço do choro lhe causou ânsia, mais uma vez. Tiffany esperou até que ela terminasse e limpou a boca da criança com a pequena blusa que segurava nas mãos. - Tá tudo bem, querida. Você não está realmente doente.

- Mommy. - Irene choramingou e ergueu os braços para Tiffany. Fim da festa.

- Tá tudo bem. - A morena a ergueu do chão e beijou sua cabeça.

Irene se aninhou em seus braços. - O unicórnio. - Ela insistiu entre o choro. Aparentemente era divertido demais para ser posto de lado.

- Outro dia, meu amor. Outro dia você volta. - Tiffany disse acariciando suas costas.

- O-o-omma. - Ela esticou o braço para Taeyeon, implorando, mas dessa vez nem mesmo a loira podia ficar de seu lado. A criança parecia esgotada, e não era apenas por causa do episódio do enjoo. Elas já estavam lá há muito tempo agora, e ela só tinha seis anos. Tinha sido o suficiente - um pouco demais - e já era hora mesmo de voltar para casa e dormir um pouco. Sim, era disso que a menina precisava agora: descanso.

- Sinto muito, tartaruga. Hora de voltar para casa.

E a menina curvou os lábios para baixo e os olhos castanhos se encheram de lágrimas. Se Taeyeon não a conhecesse tão bem... Mas imediatamente ela identificou o começo da irritação que a garotinha sentia quando estava cansada demais. Os sinais estavam se mostrando. O choro, a cara feia. Ela sabia. Ela sabia tão bem quanto Tiffany sabia, porque aquela garotinha... Aquela garotinha era filha delas.



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