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História Artemis - 010. A amiga genial


Escrita por: CameliaBardon

Notas do Autor


Irra! Como prometido, vamos para o segundo desse mês!
Falamos tanto do calor de Florença que o sol resolveu se presentear um pra cada KAKAKAKA Pelo menos aqui na minha cidade, estamos todos derretendo.
Sem mais delongas, boa leitura!

Capítulo 12 - 010. A amiga genial


Fanfic / Fanfiction Artemis - 010. A amiga genial

Dei-me uma terceira chance, me julgando merecedora do sol. Estendi a mão pela última vez, fechando os olhos no processo.

Finalmente, o sol me abraçou como um bom e velho amigo. Eu e ele sorrimos, nos cumprimentando. Eu, feliz pela gentileza do calor concedido; ele, grato por ser reconhecido naquele fim de mundo. Naquele momento, eu e o sol pertencíamos um ao outro, e isso era suficiente.

───── ⋆⋅10⋅⋆ ─────

Meu plano de autossabotagem começa muitíssimo bem. Pelo tempo que deveria estar escrevendo, estou na verdade arquitetando uma tramoia contra mim mesma. Melhor dizendo... Arquitetando uma tramoia contra Artemis. Afinal, apesar de sermos duas em uma, admito que tenhamos personalidades diferentes. Artemis é mais confiante. E não se importa com o que os outros digam dela. Porque Artemis não deve nada a ninguém. Ela é uma rosa selvagem, a qual as pessoas certas a veneram.  

Aqui, em Florença, eu sou venerada por...

Bem, aparentemente por mosquitos, apenas.

E por vendedores de gelato, o que devo dizer que começa a ser incômodo se está tentando salvar algum dinheirinho. Eu e Nora não gastamos todo o dinheiro que nos fornecem, mas ainda assim crescemos em economias e sabemos que dinheiro não dá em árvore.

Enquanto Nora olha pela janela da Università – munida do chá gelado que é cortesia de Annabella –, eu me concentro nas minhas “pesquisas” para Meia-Noite e Quinze. Nos fones de ouvido, What a Feeling me faz sentir invencível. Isso acontece porque não fui eu quem a colocou. T. Kyrell me mandou-a para ouvir. O que podemos fazer quando te recomendam sua banda favorita, não é mesmo?

“Veja bem: essa música tem uma pegada muito legal. Não quer dizer que eu escute sempre... Mas veja a letra. Sim, dona Lua?”

“Ah, claro! Eu gostei dela!”

Sorrio sozinha com o apoio silencioso. Acabo de comentar com T. Kyrell a questão de ter uma personalidade dualista. Espero até que ele termine de digitar, apenas para respirar fundo antes de ler toda a mensagem.

“Eu tenho um palpite, mas... Por favor, dona Lua, não me considere egocêntrico. Cada um tem o direito de considerar apropriado um conselho para si ou não.”

“Há algo que não conseguimos conectar nesse meio. Tinha planos para não ser identificada como ‘Nora Fox’ futuramente desde o começo. Foi por isso que criou para si uma identidade nova, a qual ninguém conhecia – inclusive você.”

“Você moldou a si mesma desde o início. Porque queria ser identificada como QUALQUER pessoa que não fosse ‘Nora Fox’. Porque você não tem orgulho dela. Não de verdade.”

“Você gosta de tudo que flui das suas mãos. Mas não gosta de si mesma a ponto de admitir que sejam SUAS mãos. SUAS palavras. Enquanto não aprender a se enxergar como Artemis, não será uma só.”

“Entende?”

É bem provável que eu tenha lido ao menos cinco vezes sua sentença. Absorvendo. Como se meu vaso tivesse sido regado após um longo período de seca.

Droga, ele tinha toda razão.

“E como eu faço isso...?”

“Confie nos elogios que te fazem. Ainda que não concorde com eles ou não veja motivo para o fazerem.”

“Existe uma diferença enorme entre ser modesta e ser soberba. Assim como não é bom se ter tão em alta, não é bom se ter tão em baixa, dona Lua.”

Assinto com a cabeça, saboreando o conselho. Posso ser a escritora, mas T. Kyrell tem a praticidade que preciso para lidar com a realidade. Não posso fugir para a Terra das Rosas Selvagens sempre que algo vai errado. Florença agora tem de ser minha Terra das Rosas Selvagens.

Daqui, essa farsa não passa. É isso que significa “aqui se faz, aqui se paga”, não é?

— Di? — para me despertar do torpor, Nora para em frente ao notebook para que eu a note. O sol está brilhando forte lá fora, o que faz com que os cabelos loiros de Nora pareçam ainda mais reluzentes. Pisco algumas vezes para sinalizar que estou a escutando. — Reid e Elio nos chamaram para almoçar. Segundo o Reid, é uma trattoria bem família. Mas vamos ter que ir de táxi, porque ela fica fora do centro. Está a fim?

Fecho o notebook, imensamente mais animada.

Claro! Podemos ligar para o Paolo. O que acha?

— Mas é claro, o Paolo! — Nora se dá um tapinha leve na testa, como se a possibilidade mal tivesse passado por sua cabeça. Enquanto ela ri de sua própria falta de atenção, busco nos meus materiais o cartão de visitas com o desenho de bigode e passo para ela. — Obrigada. Enquanto vou ligando, pode ir ali ao escritório de um dos dois avisar que aceitamos, por favor?

Assinto com a cabeça, despedindo-me dela com uma piscadela como quem diz “estou de olho em você, mocinha”. Nora revira os olhos de brincadeira, enquanto eu trato de ir procurar os dois patetas. Vou rodopiando pelos corredores do terceiro andar, lendo os nomes na porta. Quando enfim encontro Reid Byrne, eu bato na porta com mais seriedade do que a situação exige.

Reid e seus cabelos ruivos nos cumprimentam com um largo sorriso. Apesar disso, tenho certeza que meu cabelo também deve estar uma bagunça. Nossos caracóis se entendem.

— E aí, Lady Di? — ele cumprimenta, com o bom-humor inabalável. — Como vão as coisas aí?

Ergo um polegar com um sorriso, que ele corresponde com um riso contagiante.

— Que bom. Aqui também. O Elio está logo ali, na porta à esquerda. A Annabella até agora se esqueceu de colocar uma plaquinha, acredita? Ele raramente usa o escritório, ainda assim...

Torço o nariz e passo para a porta seguinte. É claro, não sem antes também dar uma piscadela de “estou de olho em você, mocinho” para ele também. Escuto Reid gargalhar atrás de mim e me parabenizo em silêncio por ao menos ser engraçadinha sem precisar abrir a boca. Ao bater à porta de Elio, entretanto, sou tomada por um suor frio que temo estar molhando os cabelinhos da testa.

Céus, Diana.

Quando Elio me atende, sorrio instantaneamente. Seu rosto me é motivo de calma. Não sei exatamente o que mais me exala o significado de lar – se é sua tez morena e bronzeada ao estilo da Toscana, se são seus olhos castanho-escuros que quase se fecham sempre que sorri ou se é o sorriso em si que parece me convidar para um abraço. De qualquer forma, antes que possa partir para dar vazão às minhas carências internas, Elio se adianta:

— Oi! Entra aí, tenho um presente para te dar.

Primeiro, ergo uma sobrancelha, confusa com a frase inusitada. Depois, sinto minhas bochechas pegando fogo. Há tanto tempo não recebo um presente que é quase impossível não me comportar com a curiosidade infantil.

— Na-ah, estou vendo a cara que está fazendo. Nada de pensar em retribuir. Feche os olhos, não deu tempo de embalar.

Faço como ele está pedindo, e me deixo ser conduzida por seu escritório guiada apenas por sua mão e pelos sons do ambiente. Elio me posiciona sentada no chão – que está forrado com uma almofada, por sua falta de uso suponho que ele não tenha tido paciência para arranjar uma cadeira – e em seguida deixa o “presente” em minhas mãos.

Pelo formato e peso, só pode ser um livro.

Ainda não o vi, mas já sei que vou amar.

Após sentar-se ao meu lado, Elio ri baixinho.

— Pronto, agora pode abrir os olhos.

Abro um olho após o outro na tentativa de prolongar a sensação de surpresa. Não é necessária muita coisa, uma vez que estou verdadeiramente surpresa de desconhecer o título e ainda assim achá-lo convidativo. A amiga genial, de Elena Ferrante. Provavelmente estou sorrindo feito idiota.

Italiana? — deduzo, pelo sobrenome. Tenho de gesticular letra por letra, por não ser uma palavra que usamos normalmente em uma conversa.

— Ah, sim! Ela é ótima!

Assinto com a cabeça, me esparramando no chão com a almofada. Elio acha graça, mas me acompanha nos movimentos, até que estamos os dois com os pés apoiados na janela do escritório. Se não temos bancos, improvisamos. Certo? Elio abre o livro na página e dá metade do livro para que eu segure. Logo estamos encarando as páginas de ponta cabeça, no entanto é bem agradável. Resisto à tentação de olhar para ele, e não para o livro em frente de nós.

— Quer dizer, não se passa em Florença... Estamos falando de Nápoles. No... Sul. É. No sul da Itália.

Tenho de deixar o livro com ele para poder me comunicar, então é inevitável que eu olhe para ele enquanto estou falando. Percebo que Elio se constrangeu com o próprio gaguejar, então sorrio de uma maneira tranquilizadora. Peço para que ele continue a conversa apenas com os olhos.

Cresceu lá? Em Nápoles?

— Na verdade, minha família é da Sicília. Depois da Primeira Guerra o pessoal se mudou para Manhattan, então... Sabe? Para firmar as raízes. Então, quando ganhei o concurso, eles ficaram felizes de... Eu estar voltando para casa pelos meus avós. Minha irmã Fanny mora em Palermo. E... É.

Elio cessa a conversa por ali, o que me faz pensar que o buraco da questão era bem mais embaixo. Quanto a mim... O que posso fazer além de encarar o teto do escritório?

Se fechar os olhos, posso pintar ali minha versão da Capela Sistina. O Vaticano está há pelo menos duas horas e meia de distância, mas o teto está apenas doze pés acima de mim. Antes que perceba, estou erguendo a mão numa tentativa de alcançar o céu através do concreto. Apenas paro quando sinto que Elio está me encarando de soslaio. Sinto o suor frio novamente. Meu Deus, será que não consigo agir feito gente ao seu lado?

Isso, é claro, e também não ajuda o pigarro que Reid solta à porta. Eu e Elio nos sobressaltamos, e meu pé escorrega da janela. Tenho quase certeza de que Elio levou um susto maior que o meu. Reid está sendo educado, ainda assim não consigo não conter um suspiro de frustração.

— Hum... Pessoal? O Paolo já chegou. Vamos indo?

Sou a primeira a me levantar. E A amiga genial vai debaixo do meu braço, como se eu e o livro fôssemos melhores amigos desde sempre.

Deve ser mais suportável ficar de vela em companhia de outra vela.


Notas Finais


What a Feeling, para quem quiser: https://youtu.be/dobIacPL7HE
Hum, essa história do Elio me cheira a treta interna, e a vocês? Cenas dos próximos capítulos...
Por último, e não menos importante, o obrigada de hoje vai pra tswmari que presenteou Artemis com um belíssimo comentário-dissertação ♥ bem-vinda!
Até mais! ♥


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