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História Artemis - 015. Suspiros


Escrita por: CameliaBardon

Notas do Autor


Aô bagaceira, me atrasei mas tô aqui xD
O tanto de fome que passei escrevendo esse capítulo não tá escrito. Vocês não tem NOÇÃO. Mas enfim, vamos para a primeira parte desse encontro fofurinha que está prometendo todas ♥

Capítulo 18 - 015. Suspiros


Fanfic / Fanfiction Artemis - 015. Suspiros

No sétimo dia, o sol me queimou. Não doeu, mas ardeu e contrastou com o resto da minha pele fria. Ela ansiava pelo outono por completo, mas eu insistia em tentar. Afinal, eu não desistiria do sol apenas porque ele havia me queimado uma vez. Era só uma questão de adaptação.

───── ⋆⋅15⋅⋆ ────

Enquanto Elio dorme em meu braço – de um modo tão leve que até me esqueço de que seu peso é bem maior do que o meu e que, segundo a física, deveria estar pesando horrores –, alcanço o celular em minha bolsa e abro minha janela preferida de conversas. Fora a ocasião com Rosas Selvagens, T. Kyrell não é muito de puxar conversa. É claro, as pessoas no mundo real têm afazeres, não me chatearia nunca com isso. Aliás, até agradeço por isso, porque ele sempre diz algo maior do que penso. Mando a mensagem com um sorriso no rosto.

“Há grandes chances de eu estar me apaixonando. Não quero precipitar nada – meu coração é meio melodramático. Alguma dica?”

A notificação demora alguns minutos para pipocar em minha tela, mas não falha em chegar. Kyrell nunca me decepciona. Espero que ele sinta o mesmo por mim, após tantos anos.

“É, eu também... E tenho a impressão de que ela seja muita areia para o meu pobre caminhãozinho solar”.

“Acho difícil ter dicas para isso, Madame Lua. Seria uma indireta para eu mesmo”.

Sorrio sozinha, uma vez que se me mover muito bruscamente atrapalharei o sono de Elio. Sinto uma grande vontade de acariciar seu cabelo. Diferente do meu, o dele é liso e grosso, o que não faria diferença alguma em sentido de embaraço ou bagunça. Guardo a ideia para depois.

“Imagino que esse seja o início de nossa jornada pessoal, não acha?”

“Sim”

“Você se tornou muito sábia com o tempo, aprendiz”

Eu tive um grande mestre!”

“Ei, Kyrell?”

“Sim, Dona Lua?”

“Obrigada. Por tudo.”

“Não estaria onde estou se não fosse por você”

“E não me esqueci de nosso acordo”

“Cuide bem do seu amor!”

“Você também, Dona Lua. Divirta-se!”

Por ora, me sinto muito satisfeita. Há uma nova energia em mim – desta vez, eu a atribuo à Veneza, e não à Florença – que me enche de felicidade imediata. Não me arrependo de acordar Elio com aquele carinho que iria guardar para mais tarde. Ao dar seus primeiros sinais de que estava de volta ao mundo dos lúcidos, ele abre um sorriso doce e se espreguiça todo ao meu lado no banco. Por sorte, eles são extremamente confortáveis.

— Bom dia novamente — ele ri com a voz rouca. Sinto-me uma heroína de romance: fatalmente atraída. — Já chegamos?

Confirmo com a cabeça, batendo no vidro de leve com a unha para que ele observe a paisagem junto comigo. E assim fez ele, meneando a cabeça num misto de tranquilidade e ansiedade. Imagino que voltar à um lugar que conheça provoque essas reações controversas.

— Acho que minhas pernas dormiram também...

Exibo minha melhor careta compassiva. Elio dá de ombros, então espero até que ele sacuda e bata o pé no chão do trem enquanto esperávamos até que ele freasse por completo. Os passageiros ao nosso redor observam a cena com curiosidade. Quer dizer, todos estavam meio sonolentos, então oferto meu melhor sorriso de desculpas e o acompanho. Como se estivéssemos pisoteando formigas. Divirto-me ao espiar que alguns passageiros fazendo o mesmo; Elio nota o pandemônio que causei com um sorriso travesso. Então, finalmente nos levantamos para travessar o portal entre a terra e as gôndolas.

É exatamente o que parece. Oposta à terra firme, há uma vastidão de águas por todos os lados que olhamos. As pessoas ao longe parecem pequenos pontinhos. Na Ponte Rialto, os pontinhos convidam: venham, venham ver. É isso que fazemos. Esperamos o traghetto mais próximo e nos juntamos à multidão de turistas maravilhados.

— Essa cidade é mágica, não acha? — Elio sussurra, quando nos aconchegamos no banco do barquinho. Quando assinto com a cabeça, ele sorri. — Então. O que fazemos primeiro: comida ou atrações?

Meu estômago responde por mim, soltando um ronco cavernoso e nada atraente. Sinto minhas bochechas pegando fogo; por sorte, Elio apenas gargalha bem-humorado.

— Certo. Tem um bar no rio della Misericordia que faz uns lanches ótimos. O que acha da ideia?

Ele olha para mim, e o sol ilumina seu rosto e seus cabelos por trás. Como dizer não para uma carinha dessas?

Por favor, mostre o caminho.

 

É exatamente isso que ele faz. Passando por entre canais, ruelas e vendedores ambulantes, Elio sabe exatamente onde está e o que quer fazer. Permaneço o observando embasbacada. Ele tinha razão quando conversava com Fanny: em meio a desconhecidos, se dava muitíssimo bem. Pouco parecia o Elio tímido e retraído que eu conhecia e que se atrasava com frequência por falta de descanso. Sem prazos ou compromissos o aguardando, foi me revelada uma nova camada de seu eu.

Para minha infelicidade – melhor dizendo, para a infelicidade de meu pobre coraçãozinho –, eu apreciaria até as camadas ruins de Elio. Desde que, é claro, não fossem de mau caráter. O que eu podia fazer? Ele era o Sol, afinal.

O bar, que fica no território judeu de Veneza, é extremamente aconchegante. Como está fora do horário comercial, não demora muito a sermos atendidos. Elio pede um sanduíche vegetariano com queijo scamorza e legumes grelhados, e eu fico com um com queijo edammer e atum. Compartilhamos dois copos de chá gelado de limão e um suspiro, porquanto que... Meu Deus. O sabor dos lanches é simplesmente divino. Foi só vir para a Itália que meu gosto por queijos sem ser o cheddar foi aperfeiçoado. É um caminho sem volta. Enquanto comemos, o apresentador local anuncia que o tempo previsto para o dia é chuva. Olho para fora e não vejo uma nuvem sequer.

— Acha melhor voltarmos? — Elio questiona enquanto deixamos o lugar. — Não acho que inunde, não estamos na época de chuva forte...

Não, tudo bem — sorrio com toda a certeza. Não sou feita de açúcar! — Para onde vamos?

Elio aprova minha positividade. Voltamos para os pequenos canais, através de um vaporetto com a legenda “Ponte dei Suspiri-San Marco”. Olho para Elio e tenho de dizer letra por letra para que ele me entenda.

Suspiros? Como o merengue?

— Ah, é, isso... — ele coça a nuca, rindo de nervoso. — A Ponte dos Suspiros parece ter uma origem romântica, mas não é bem assim. Estamos entre o Palazzo Ducale e a prisão. Vê essas janelinhas? Quadradas?

Assinto com a cabeça, me aproximando da janela para observar.

— Os prisioneiros de alto escalão ficavam nas celas de baixo, as úmidas, bem perto dos poços. Os suspiros vinham dos prisioneiros, porque as janelas eram a única fonte de luz do lugar... Geralmente eles morriam afogados.

Meu Deus! — arregalo os olhos. — E tem casais ali!

— Pois é. Mas, às vezes, é bom imaginar que as coisas são diferentes. Não acha?

Concordo um tanto distraidamente. Nosso vaporetto passa por debaixo da Ponte, e fico me imaginando as lamúrias dos prisioneiros anos e anos atrás. Resisto a suspirar junto a eles.

A realidade não inspira se for contada em toda sua essência. Precisamos de imaginação, do contrário é só uma máscara. Isso, é claro, se aplica a romances, não documentários.

Elio me olha com uma curiosidade que identifico como o de um autor, e não de um observador. Por um minuto, temo que ele descubra meu segredo com apenas uma espiada em meu olhar. Ele grita: culpada! Culpada! Culpada! Se não meu olhar, minha consciência. No entanto, Elio apenas assente com a cabeça, olhando para a ponte acima. Percebo que estou prendendo a respiração apenas quando a solto. Céus...

— Você tem toda razão — ele diz, por fim. — Acho que o mundo todo deveria ficar honrado de estar nele, Diana Davies.

Tudo parecia novo e único. Mas ele estava errado, nesse ponto.

O mundo deveria ficar honrado de ele estar ali.

Não o merecíamos nem um pouco.

Elio me dá uma aula da história de Veneza, a qual eu escuto atentamente. Desde o chão torto da Basílica de San Marco até os cavalos roubados por Napoleão, e desde a Torre do Relógio que não bate o sino no horário certo até o Campanário onde Galileu descobriu que a Terra gira em torno do sol. E... Aí, então, ele foi ameaçado de pena de morte pela Igreja. Bem. Melhor que Giordano Bruno, não?

Após toda nossa reflexão sobre liberdade de expressão, morte e a vida relativa, o céu pareceu enfezado e fechou de uma hora para a outra. Os turistas e os venezianos todos olharam para cima, para as nuvens branquinhas como algodão, como se olhassem para uma criança fazendo birra. Eu e Elio acompanhamos os olhares deles tentando acompanhar o ritmo da cidade.

— É... Ela não vai inundar, eu tenho certeza.

Sim... Está bem.

— Estou falando sério!

Sei disso... Acredito.

Elio suspira, principalmente porque um pingo cai bem em seu nariz. Damos alguns passos para trás, em busca de algum abrigo. Como a Basílica já está fechada, voltamos para a via dos barcos-táxi, que já debandaram todos por conta da chuva. Engulo em seco, bem como Elio ao meu lado.

Não é preciso enunciar em voz alta o que é óbvio para nós e para todos os outros.

Estamos presos em Veneza.



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