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História As 3 flores do jardim de Violeta - E se fossem 3?


Escrita por: tali-ta

Capítulo 1 - E se fossem 3?


Violeta e Matias tiveram 3 filhas : Elisa, Cecilia e Isadora. 

Elisa sempre foi a mais romântica e doce, contrastando com sua irmã do meio, que sempre teve a personalidade forte. A filha mais velha do casal sempre foi a menina dos olhos de Matias, sendo  chamada por ele de "Princesa da casa" enquanto Cecília e mesmo a pequena Isadora, eram tratadas com bem menos carinho pelo pai.

Matias nunca escondeu a sua preferência pela primogênita e nunca fez questão alguma de, nem ao menos, fingir se importar com a filha do meio, que nunca abaixou a cabeça para as vontades dele e nunca admitiu ser controlada pelo, até então, todo poderoso. 

Cecília sempre foi quase que uma continuação de Violeta, uma cópia da própria mãe, com as mesmas idéias, vontades, comportamento e visão de futuro e sempre se orgulhou por ser reconhecida por ser uma menina forte e muito a frente de seu tempo, não dando importância para convenções.
Enquanto Matias fazia distinção entre as filhas, Violeta sempre tratou suas 3 meninas da mesma forma, não fazendo qualquer diferença entre elas e respeitando as particularidades de cada uma. Isadora, a caçula, sempre foi a sombra das duas irmãs, onde elas estavam, a pequena sempre estava por perto e se tornou um misto das duas, sendo que era possível enxergar um pouco de Elisa e de Cecília na menina. 

Quando Elisa morreu, Cecília tinha 16 anos e nunca se conformou com a morte da irmã e, de alguma maneira, devido a traumas do passado, acreditava que, de algum jeito, ela poderia ter impedido aquela tragédia e nunca entendeu ao certo o que aconteceu naquele trágico dia em que ela e a mãe estavam na fazenda com o avó em seu leito de morte.
Violeta sempre notou as diferenças entre Matias e Cecília, para ela, era comum ver os dois trocando farpas quase que a todo momento e, da sua maneira, tentava compensar a diferença que Matias fazia entre as meninas.

Os embates de Matias e Cecília, geralmente, eram presenciados por Violeta e Augusta e a mãe das meninas, na maioria das vezes, concordava com os argumentos da filha, mas sempre tentava apaziguar os ânimos de ambos, que sempre estavam à flor da pele. 

O que Violeta nunca soube foi o que aconteceu em uma tarde qualquer, quando ela, Elisa, Isadora e Augusta não estavam em casa. 

*****

Cecília estava no parque com um garoto do colégio, estavam andando de mãos dadas e conversando, quando ela foi vista por Matias que, sem qualquer justificativa, saltou do carro, pegou Cecília pelo braço, a arrastou até o automóvel e a levou para casa sob gritos e xingamentos, sem se importar com os olhares assustados das pessoas que estavam no local. 

— Você não tinha o direito de fazer isso! - ela grita assim que eles chegam em casa

— EU SOU SEU PAI! FILHA MINHA NÃO FICA DE SEM VERGONHICE NA RUA!

— Eu não estava fazendo nada de errado! Nós estávamos conversando!

— NÃO É PRA CONVERSAR COM ESSE TIPO DE GENTE! NÃO QUERO FILHA MINHA TENHA CONTATO COM GENTE DESSA LAIA. 

— Que tipo de gente, pelo amor de deus?! O que tem de errado?? Ele é um amigo do colégio, a mamãe conhece a família dele. Ah, já sei, tudo porque ele não é filho de um dos seus amigos, de um dos juízes corruptos que você chama de amigo. Se eu estivesse com um deles, certamente, não teria problema se eu estivesse aos beijos ou me deitando com ele em praça pública!

Nesse momento, Matias dá um tapa forte no rosto de Cecília e ela cai sentada no sofá.A garota não esperava tamanha violência e, por alguns segundos, não consegue ter qualquer reação.

— Você está se comportando como uma vagabunda! - Cecília arregala os olhos para ele, ainda sentada no sofá, surpresa com o descontrole do pai, nunca tendo presenciado tamanha demonstração de ódio.

— Nunca mais você vai colocar a mão em mim! - ela diz com ódio, olhando fixamente para ele, sem temer o que pode vir a seguir, enquanto se levanta do sofá - Eu odeio você! - ela vira as costas para sair da sala

— Heloisa, volte aqui! - Quando Matias a chama pelo nome de Heloísa, ela olha para trás e ele está com olhar perdido - Culpa sua, foi culpa sua, Heloisa.

— O que é que você está falando?

— FILHA MINHA NÃO SE METE COM VAGABUNDO! Heloísa, foi culpa sua!

Cecília não entende o que o pai diz, é como se ele estivesse dizendo coisas desconexas. Matias grita novamente e Cecília sai correndo, se trancando no quarto, tentando se acalmar e entender o que acabou de acontecer. Eles já tiveram inúmeros embates, já gritaram um com o outro, Cecília já o desafiou inúmeras vezes, mas o que acabou de acontecer, nunca havia acontecido antes. Tudo que Cecília queria naquele momento era desaparecer e nunca mais precisar olhar para Matias novamente. 

Mais tarde, quando todas voltam para casa, Violeta pergunta por ela assim que chega e encontra o marido na sala, fumando charuto e com alguns papéis nas mãos.

— Matias, onde é que está Cecília?

— Passou a tarde toda trancafiada no quarto, mal ouvi a voz dela. Aliás, Violeta, é bom começar a colocar rédeas nessa menina.

— É o que? O que foi que aconteceu e você não está me contando?

— Nada, não aconteceu nada, Violeta. Nada ainda, mas essa menina passa dos limites. Devíamos mandar Cecília para um colégio interno.

— Devíamos mandar Cecília para lugar nenhum! Minha filha não sai daqui! Você está me ouvindo, Matias? Cecília não sai daqui! Não há nada de errado com ela.

— Você vai ver daqui uns anos o que essa menina vai fazer conosco. O nervoso que essa menina vai nos fazer passar, vai acabar como a sua irmã. - Violeta abre a boca para responder, mas respira fundo e tenta se acalmar 

— Aconteceu alguma coisa na minha ausência? Vocês dois brigaram?

— Não aconteceu nada, Violeta, já disse! Que inferno! Estou apenas alertando você dos problemas que essa menina vai trazer com esse gênio do cão que ela tem. 

— Essa menina? Matias, Cecília é idêntica a mim.

— Então sabemos de onde vem o problema. 

Violeta fecha os olhos, respira fundo e, naquele momento, seria capaz de atirar um vaso contra o marido, mas mais uma vez ela tenta se controlar para que a situação não piore. Ela sabe que há algo de errado no ar, sabe que algo aconteceu e que Matias está escondendo algo dela. 

Preocupada com a filha, Violeta vai ao quarto dela e lá encontra Cecília na cama, dormindo profundamente. Ela se senta ao lado da filha, acarinhando seu rosto.

— Ô meu amor - ela diz perto do rosto da filha, sentindo o doce aroma dos cabelos de Cecília - Eu entendo tanto seu espírito livre, a sua maneira de enxergar o mundo, seu anseio de liberdade….Não sei o que aconteceu, sei que algo aconteceu, mas eu estou aqui com você e estarei sempre ao seu lado.- ela diz no ouvido da filha, beijando sua têmpora. - Boa Noite, meu amor. 

*****

Na cozinha, Violeta e Augusta conversam.

— Dorinha já dormiu, estava exausta.

— É, eu passei pelos quartos, ela já estava desmaiada. - Augusta nota a preocupação no rosto de Violeta 

— Tudo bem?

— Cecília. Alguma coisa aconteceu aqui hoje, Augusta. Matias não vai me dizer nada e, tenho a sensação de que, Cecília também não.

— Eles sempre têm as brigas deles.

— Tenho medo que Matias tenha passado dos limites, Augusta. Eu me vejo tanto na Cecília, em tantas coisas, e eu não quero que ela sofra….eu sei que Matias não entende nada sobre ela e não faz o menor esforço para entender. Ele mal fala o nome da Cecília. - Violeta diz, sentando-se à mesa e Augusta faz o mesmo, sentando-se de frente para ela 

— Cecília tem a senhora, tem Elisa, Isadora, tem a mim. 

— Augusta, eu agradeço tanto por ter você nas nossas vidas. - Violeta segura a mão de Augusta - Por saber que você ama as minhas meninas tanto quanto eu.

— Eu sempre irei proteger as meninas, nunca duvide disso. 

— Eu sei e isso me acalma. Eu sinto que elas vão enfrentar tanta coisa, Augusta e me apavora saber que nem sempre eu poderei cuidar delas. 

— Elas são fortes, sabem se cuidar, mas sempre que precisar, nós duas estaremos por perto pra dar colo. - Violeta sorri mais calma - Amanhã eu tento conversar com a Cecília e saber o que aconteceu. 

— Obrigada, minha amiga. 

*******

Cecília nunca contou à mãe o que Matias fez com ela naquele dia, sempre tentou poupá-la de tamanho desgosto e de uma verdadeira guerra que poderia se formar dentro daquela casa, sabendo que Violeta jamais iria aceitar o que Matias fez. A única pessoa que sabe do ocorrido, é Augusta.

— Você vai me dizer o que aconteceu aqui ontem ou não? - ela pergunta fazendo carinho no cabelo de Cecília, que está com a cabeça deitada em seu colo. - E nem adianta me dizer que não aconteceu nada porque eu conheço você muito bem. 

— Nós discutimos, mas Augusta - Cecília se senta na cama, de frente para Augusta - Não conte nada para minha mãe. 

— Mas quantas vezes sua mãe já não viu vocês dois discutindo?

— Mas ontem foi diferente. Foi estranho e….. - Cecília olha para baixo, aflita 

— O que foi que aconteceu?

— Ele me bateu. - Augusta não esperava aquilo, olhou para Cecília, que olhava para ela com os olhos pequenos, sabia que ela havia chorado - Ele me tirou do parque pelo braço, aos gritos e xingamentos, eu não estava fazendo nada de errado, Augusta! Estava com um colega do colégio, mamãe conhece a família dele, e de repente ele chegou, desceu do carro aos gritos, me pegou pelo braço, enquanto me xingava, me colocou no carro e chegando aqui, nós discutimos, ele me deu um tapa….- ela pausa - foi tão forte que eu caí sentada no sofá, enquanto ele continuava gritando, dizendo coisas desconexas, ele me chamou de vagabunda, disse que eu era como a minha tia, me chamou pelo nome dela.

— Cecília - Augusta a abraça, tentando fazer com que seu abraço enxugue as lágrimas da menina - Ô minha criança, eu sinto muito que você tenha passado por isso ontem, que nem eu e nem sua mãe estávamos aqui para te proteger. 

— Teria sido pior. Minha mãe não pode saber disso, ela ficaria devastada por saber que ele me bateu. - Cecília olha para Augusta, enxugando as lágrimas

— Ela está preocupada com você.

— Diga que nós discutimos mais uma vez, como tantas outras vezes. Não deixa de ser verdade, nós discutimos mesmo. 

— Me dói tanto te ver assim.

— Eu vou ficar bem, prometo. Sou dura na queda feito mamãe, lembra? 

— Você é só uma menina.

— Mas sou forte. 

— Você não precisa ser forte sempre.

— Eu sei. - ela deita a cabeça no colo de Augusta novamente, que entende que tudo que ela precisa naquele momento é carinho. 

******

Cecília não consegue entender o motivo pelo qual Matias a chamou pelo nome de sua tia e repetia coisas desconexas e mesmo dias após o ocorrido, ela continua pensando nisso, como se ali houvesse algo que ela ainda não sabe. 

Um dia, quando Cecília está pensando no ocorrido mais uma vez, ela acaba se lembrando de um fato que ocorreu há algum tempo atrás e ela, simplesmente, havia tentado esquecer ou apagar de sua memória, algo que ela viu quando era apenas uma criança, mas que naquele momento, sendo uma criança, ela nunca entendeu o que seria. e quando ficou mais velha, de alguma maneira, tentou deixar essa memória esquecida em algum lugar de seu passado, trancafiada em uma caixa, perdida em algum lugar, mas quando Matias a chamou pelo nome de Heloísa, ela sentia como se essa memória tivesse sido desbloqueada.
 

FLASHBACK

Eles estavam na fazenda, foram passar alguns dias com Afonso e Heloísa. Já era tarde na noite, tudo estava silencioso e todos estavam dormindo, mas Cecília levanta no meio da noite para pegar água na cozinha, já que havia esquecido de fazer isso antes de se deitar, e quando entra no corredor, ela vê Matias saindo do quarto de Heloísa, arrumando a roupa e olhando para os lados, como se estivesse preocupado em não ser visto. Cecília se escondeu, para não ser vista pelo pai, pois sabia que iria levar uma bronca por estar acordada tarde da noite e andando pela casa. 

FIM DO FLASHBACK

Na época ela não entendeu o que estava acontecendo, era apenas uma criança, não deu importância e não contou a ninguém.

Após se lembrar daquela noite, no intuito de proteger Violeta e também Heloísa, mesmo entendendo o que aquilo significava, Cecília guarda o segredo para si, já que não poderia afirmar nada e era apenas uma criança. Sabia ainda o que aquilo poderia causar na relação de Violeta e Heloísa, como aquilo poderia ser devastador para todos, mas principalmente a elas. 

******

Quando recebem a notícia do estado de saúde de Afonso, Cecília decide ir para fazenda com Violeta, para não deixar a mãe sozinha, já prevendo que, provavelmente, seu avô tem poucos dias de vida e, sendo assim, ela também não conhece  Davi.

Ao se despedirem de Elisa, Isadora e Matias, Cecília e Violeta abraçam a aniversariante forte, quase que tentando não soltá-la.

— Cecília, você está me apertando! - Elisa fala, rindo

— Você entende, não é? Não posso deixar mamãe sozinha, acho que vovô tem apenas alguns dias. Eu queria muito estar aqui com você, nós duas pensamos em tudo, mas…

— Eu sei e eu te agradeço por ter estado sempre presente em tudo na minha vida, mas nesse momento, eu prefiro que você esteja com a mamãe. Nós poderemos comemorar de novo depois. Fazer uma festa só nossa, que tal?

— Promete?

— Juro! - Cecília abraça a irmã 

 — Eu te amo muito. - Cecília fala no ouvido da irmã

— Ai e eu amo as duas! - Isadora abraça as irmãs.

— E eu amo as três muito! - Violeta abraça as 3 filhas

— Pedi para Cecília para cuidar de você. - Elisa fala para a mãe

— Cecília cuidando de alguém? - Isadora fala, rindo

— Pirralha! - Cecília fala, apertando Isadora nos braços - E você cuida da Elisa, tá?

— Tá! - Violeta observa as três e sente um orgulho imenso pela relação que suas 3 flores têm. 

— Viva tudo na sua festa, prometa para mim. - Violeta fala segurando as mãos de sua primogênita - Depois me conte tudo! 

— Vou guardar cada memória para poder te contar, mãe. 

— Isso, meu amor. 

Violeta abraça a filha mais uma vez, sem saber que aquele seria o último abraço, mas que por algum motivo era diferente de todos os outros. Segurou Elisa forte nos braços, beijou sua cabeça e olhou para seu sorriso mais uma vez, como se tentasse guardar aquele momento na memória. Beijou a cabeça de Elisa, acarinhou seus cabelos e saiu, de mãos dadas com Cecília, deixando 2 de suas flores com Matias, sem imaginar que quando o encontrasse novamente, 1 flor estaria faltando. 

******

Na fazenda, Cecília presencia uma discussão entre a mãe e Heloísa, mas não dá muita importância, rindo da situação.

— Bem peculiar a maneira que vocês duas têm de demonstrar a saudade que sentem uma da outra. 

— Sua tia!

— Sua mãe!

— Elas sempre foram assim, Manuela?

— Já foram piores, Cecília. 

— Sei bem de onde eu puxei o gênio do cão.

— Cecília! - Violeta e Heloísa gritam ao mesmo tempo.

******

Na fazenda, quando  Eugênio e Joaquim aparecem pela primeira vez, ela está com a mãe e repara na maneira como Eugênio olha para Violeta, entende que ele não a observava como uma rival ou algo do gênero, mas sim com olhos de admiração e muito respeito, mesmo quando ela tinha nas mãos uma carabina, talvez, principalmente, nesse momento. Nunca tinha visto Matias olhar para Violeta daquela maneira e gostou do que viu. Por algum motivo, Cecília sabia que Eugênio queria ajudar, mas sabia também que Violeta não seria tão fácil de convencer. 

— Eu acho que, talvez, poderíamos pensar 

— Cecília!. - Violeta interrompe a filha antes mesmo que ela termine a frase 

— Mas eu só acho que…

— Você não acha nada!

— Violeta, deixe a menina falar. - Heloísa tenta argumentar

Violeta não deixou Cecília falar, pois sabia exatamente o que ela diria e não estava disposta a argumentar com a filha na frente de estranhos. Cecília sempre tinha excelentes argumentos para tudo.

Nesse mesmo dia, Joaquim tenta algo com Cecília, mas ela o esnoba, deixando claro que não se interessa pelo rapaz, mesmo que isso não fosse algo totalmente verídico. 

Cecília e Joaquim têm a mesma idade e quando Úrsula conhece a filha de Violeta, ela vê ali a chance de Joaquim de se dar bem na vida, mas como a herdeira esnoba Joaquim, eles passam a focar em Isadora, mas  Joaquim ainda tenta cercar Cecília inúmeras vezes, não desistindo de fisgá-la

— Você não tem mais nada para fazer da vida, Joaquim? Quantas vezes mais eu vou precisar dizer que não quero nada com você? Que eu não me interesso por você, você me irrita, você é chato!

— Acha tudo isso de mim mesmo, Cecília?

— Não, claro que não. Estou aqui repetindo isso porque eu gosto de ver a sua cara de paspalho.

— Um dia você vai entender o que é isso que você sente

— Ah não, mas eu já sei o que é. Chama-se desprezo. - ela sai andando, deixando-o sozinho

Um dia Joaquim acaba beijando Cecília e ela o esbofeteia com tanta força que ele perde o rumo. Depois disso, ela passa a detestar Joaquim. Ela também não contou sobre o beijo de Joaquim a ninguém. 

*******

Quando Violeta recebe a notícia da morte de Elisa, Cecília e Heloisa correm e tentam segurá-la nos braços, mas ela desmaia, tamanha a dor que acaba atingindo-a como uma lança, direto em seu peito, a mais insuportável das dores. Cecília e Heloisa leem o telegrama na mão de Violeta, mas naquele momento nenhuma delas consegue chorar, mesmo sentindo a dor da perda, as duas se fecham em volta de Violeta, tentando, de alguma maneira, tirar um pouco de sua dor e senti-la em seu lugar. O choro daquela mãe é doloroso, é cruel, como se todas as mães pudessem sentir tamanha dor. Violeta solta um grito doloroso, com toda a dor que tem em seu peito.

*******

Violeta e Cecília estão se aprontando para voltar ao Rio de Janeiro, quando a, agora filha mais velha de Violeta, entra no quarto e encontra a mãe sentada na cama, com o olhar perdido. Cecília pára na porta, em silêncio, observando a mãe.

— Eu devia estar lá. - Violeta diz, sem olhar para Cecília

— Não diz isso, mãe. - Cecília se senta ao lado da mãe, segurando a sua mão - Você precisava estar aqui. O que aconteceu lá foi….

— Uma fatalidade? - Violeta diz, olhando para a filha e, em seguida, começa a chorar, sendo abraçada por Cecília, que a envolve em seus braços e beija sua cabeça, enquanto. Violeta se agarra a filha, com medo que ela também desapareça num piscar de olhos. - Eu a abracei, Cecília, se eu soubesse eu teria segurado sua irmã nos meus braços por mais tempo, teria protegido a Elisa….

— Mãe, mãe, olha pra mim. - Cecília segura o rosto da mãe com as duas mãos. - Isso não é culpa sua, você não tem culpa em nada do que aconteceu.

— A Elisa foi embora, eu perdi uma das minhas flores. - Cecília tenta segurar o choro, mas não consegue, diante do sofrimento de Violeta. - A sua irmã não vai voltar mais, eu não vou mais ter o sorriso dela. - Cecília a abraça mais uma vez

— Eu estou aqui e eu vou sempre estar aqui com você. Chora, mãe, pode chorar. - Cecilia diz e beija a cabeça da mãe, chorando com ela. - Eu cuido de você.

— Sabe por que eu chamo vocês três de minhas flores? - Cecília balança a cabeça, dizendo que não - Porque eu sempre disse que minha vida se tornou muito mais florida quando vocês chegaram. Isadora é minha margarida, você sempre foi meu girassol e Elisa…. - ela pausa e tenta não chorar - Elisa, minha azaléia. - Violeta chora mais uma vez e Cecília segura o próprio choro para cuidar da mãe. 

Elas permanecem ali por alguns minutos, em silêncio, como se uma estivesse cuidando da outra. Cecília prometeu para Elisa que cuidaria de Violeta e não iria decepcioná-la. 

******

— Augusta, você disse a minha mãe que no dia da morte da Elisa, meu pai saiu com a arma, dizendo que ia resolver tudo. 

— Ela te contou isso?

— Eu ouvi, ela não sabe que eu sei.

— Cecília….

— Eu apenas quero saber. Você acredita que foi o tal mágico?

— Por que isso agora, menina? Para de querer mexer nisso.

— Você sabe que eu tenho razões para não acreditar nele e me baseando no que ele fez comigo, que nunca fui a preferida dele, imagina o que ele teria feito com a Elisa.

— Cecília, nós estamos falando da morte da sua irmã.

— E de um homem cruel, Augusta. Até hoje não sei como minha mãe se casou com ele.

— Mas meu deus do céu, menina, você está falando dos seus pais. Se eles não tivessem se casado, você não estaria aqui hoje.

— Ou estaria, mas seria filha de outro pai, talvez um pai de verdade e não desse homem.

— Eu nunca entendi porque ele sempre fez diferença entre vocês.

— Porque eu nunca fui perfeita, Augusta. Eu nunca fui doce, eu nunca me sujeitei aos desmandos dele. Não que a Elisa tenha se sujeitado, mas na visão dele, ela era perfeita e ela era, mesmo. Lembra que ele sempre dizia que Elisa era a princesa da casa?  Isadora e eu sempre fomos as preteridas. 

— Não no coração da sua mãe. - Cecília sorri

— Não. Minha mãe nunca fez diferença entre nós, sempre amou as 3 da mesma maneira, sempre protegeu e defendeu nós 3 da mesma maneira. Se ele fez isso, Augusta, a minha mãe vai sofrer tanto e eu queria tanto poder evitar isso.

— Ô minha menina, Deus sabe o quanto você ama sua mãe e tudo que você faz pelo bem dela, mas toma cuidado, Cecília. - Augusta a abraça.

— Ela não merece.

******

Cecília está na sala quando Violeta aparece, senta-se ao lado da filha, a colocando em seus braços.

— O que é que você e Joaquim tanto conversavam hoje?

— Não era uma conversa.

— Ah não? 

— Não. Era apenas eu, mais uma vez, enxotando ele. Garoto chato.

— Ele vive ciscando pro seu lado.

— E eu já disse que não quero saber dele. Ele me irrita, aquela mãe dele também, não gosto. Interesseiros

— Meu deus, Cissa, mas por que essa raiva toda? O que aconteceu?

— Nada, só não gosto deles.

— Também não vou muito com a cara deles. Até parece o padrinho dele, aquele sujeito.

— Ele está tentando ajudar.

— Ajudar como, Cecília?! Não me venha você também me dizer que ele está certo! - Violeta fala, visivelmente irritada em apenas pensar em Eugênio

— Mãe, eu sou nova, não entendo muita coisa, mas até eu sei que o engenho está com os dias contados. É jogar dinheiro fora. 

— Até você?!

— São apenas os fatos. Se você concordar com a sociedade na tecelagem, o engenho pode continuar funcionando porque a renda não viria de lá e fora que a tecelagem pode gerar muitos empregos para as pessoas da vila. Coisa que o engenho já não pode e não é segredo pra ninguém.

— É…

— Eu sei que você detesta ser contrariada, ter que dar o braço a torcer, ainda mais para o Doutor Eugênio, mas você iria manter a promessa para o vovô e pense nas benfeitorias que a tecelagem poderia trazer pra todos nós. Fora que eu acho uma boa ideia essa de você trabalhar.

— Meu Deus, você consegue convencer qualquer um a fazer qualquer coisa! - Cecília sorri.-  Você é impossivel e perigosíssima!  - Violeta abraça a filha, beijando a cabeça dela 

— Dizem por aí que eu sou idêntica a você. 

— Dizem mesmo. Eu também digo. Você é idêntica a mim, girassol.

— Eu amo quando você me chama assim. - Cecília diz, deitada nos braços da mãe.

— E eu amo você.

— E eu amo você. - as duas se abraçam.

****



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