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História As 3 flores do jardim de Violeta - Quando a chuva passar


Escrita por: tali-ta

Capítulo 19 - Quando a chuva passar


— Violeta, calma! - eles estavam sozinhos na casa de Eugênio 

— Como, calma? Olha a chuva que está caindo lá fora. Por que, me diz, por  que, as minhas filhas têm a necessidade de sair na chuva, de desaparecer sem me dar notícias?! - Violeta escuta um trovão e se agarra em Eugênio, segurando em seu paletó, como aconteceu da primeira vez e ele dá um leve sorriso. 

— Lembra a primeira vez que isso aconteceu? 

— Claro que eu lembro, bobo. - Ela fala perto dos lábios dele. 

— Você se agarrou em mim assim por medo do trovão. Ficou grudada em mim por alguns segundos….

— Eugênio…..

— Eu confesso que eu adorei quando você se refugiou nos meus braços naquele dia. 

— Para de ser bobo. - Ela se afasta dele, mas com um sorriso bobo nos lábios. Ela também se lembrava bem do que tinha sentido naquele dia. - Quero saber onde é que a Cecília está.

— Você que não me invente de sair no meio dessa tempestade, Violeta. Aquilo que eu disse naquele dia, vale pra hoje também. 

— Mas o que é isso agora? Ficou maluco, homem? 

— A Cecília não é nenhuma doida e se alguém tiver que sair atrás dela, esse alguém sou eu. 

— Mas você  não vai começar com isso de novo!

— Sim, porque hoje, mais uma vez, porque nos outros todos quem manda é você e eu tenho consciência disso, mas hoje eu vou mandar e você vai obedecer e não vai sair nessa chuva. 

— Eugênio, a Cecília está lá fora! - outro trovão e ela segura o paletó de Eugênio com uma mão 

— Eu sei, eu vou atrás dela.

— Eu vou com você sim, eu não vou ficar aqui esperando. 

— Você vai ficar aqui! 

— Eugê…..

— Violeta, não tem o que discutir. Você fica aqui! 


Quando Eugênio estava pronto para sair de casa, a tempestade ficou ainda mais forte e um trovão ainda mais barulhento, assustou os dois e Violeta o puxou pela mão.


— Meu amor, vai ficar tudo bem. - Nesse instante o telefone da casa, por um milagre, tocou. - Pronto. Alô? Isadora? Sim, ela está comigo. A Cecília nós não sabemos onde está. Alô? Alô, Isadora? Ficou mudo. 

— O que foi que ela disse? 

— Disse que está bem e queria saber de você e da Cecília. 

— Pois bem, onde está a Cecília?


Depois disso, um raio mais forte acabou cortando a energia da cidade, enquanto a chuva continuava ainda mais forte. 


— Está chovendo ainda mais forte. Não sei se nós vamos conseguir sair daqui. 


Cecília falou, olhando pela janela da sala da tecelagem. Cecília olhou para Joaquim que estava em silêncio, sentado no sofá, o lampião ao lado dele, e se aproximou. 


— Eu ainda não acredito que ela foi capaz de fazer o que fez. De mentir pra mim, me tirar da minha família, me transformar em uma marionete dela. - Cecília se sentou ao lado dele e ficou em silêncio, apenas ouvindo as palavras dele - Eu podia ter tido uma vida diferente, eu podia ser uma pessoa melhor, poderia ser uma pessoa diferente. 

— Você ainda pode. Eu não consigo imaginar o que você esteja sentindo, mas não significa que você não possa mudar, na verdade você já está se transformando. Nós dois estarmos aqui é um sinal dessa mudança.  

— A minha mãe morreu. 


Cecília sabia que aquela frase tinha um peso ainda maior do que o natural. Joaquim havia perdido a mãe duas vezes naquele mesmo dia e ela não tinha ideia do que ele estava sentindo. 


— Mas você ainda tem o Eugênio, você ainda tem seu pai biológico e nós podemos procurar por ele. Eu sei bem a falta que um pai faz. Isso nós temos em comum. - ela segurou a mão dele - A Margô, ela sabe muito sobre a vida da sua mãe, ela deve saber alguma coisa sobre o seu pai. 

— Você me ajudaria?

— Você me ofende me perguntando isso. - ele dá um sorriso e olha pra baixo - Nós vamos procurar por ele e eu tenho esperanças de que nós iremos encontrar o seu pai. - Joaquim olha para ela de novo

— O padrinho sempre foi um pai pra mim. Sempre me deu tudo que eu quis, que eu precisava, me criou como se cria um filho e eu retribui da pior maneira possível, da maneira mais sórdida, mais leviana, mais suja e tudo porque eu fui um fraco e me deixei levar pelas ideias da Úrsula. Eu também tenho culpa, eu sei que eu tenho, eu poderia ter feito diferente, eu poderia ter ficado ao lado do padrinho, ser o afilhado que ele sempre mereceu, retribuir o amor que ele sempre me deu….

— Ei , ei,ei….respira. - Ela segura o rosto dele com as duas mãos - Foi errado o que você fez, foi feio e o Eugênio não merecia isso. Você também tem culpa, mas eu acho que vocês dois precisam conversar quando tudo isso se acalmar. Vocês podem se entender e você pode ainda ser o afilhado que ele sempre mereceu. Você errou e reconhecer isso já é um passo muito importante. Assumir um erro, enxergar onde está o erro, pedir desculpas, tudo isso faz parte do caminho que você precisa percorrer para ser uma pessoa melhor e você já começou a percorrer esse caminho. O Eugênio está magoado, com razão, mas ele gosta muito de você.  

— Obrigada por estar aqui mesmo depois de tudo. 

— Quando eu percebi o que eu sentia por você, quando eu dei nome a isso, o nome verdadeiro a isso, que eu tinha tanto medo de dizer, eu entendi que a nossa história seria turbulenta. Eu percebi que seria complicado porque nós somos muito diferentes em alguns aspectos. Eu sabia que eu poderia me decepcionar com você e tenho total consciência de que você também pode se decepcionar comigo. Então, eu sabia que não seria fácil. Eu sabia que seria colocado a prova e eu teria que prestar atenção nos sinais pra enxergar o que fazer e se valeria a pena. Eu fiquei com muita raiva de você e a minha maior raiva era estar magoada, ferida e eu até pensei que eu deveria ter parado tudo antes, justamente por saber que poderia ter um fim doloroso, mas quando eu fiquei sabendo o que tinha acontecido com você, tudo que havia sido jogado sobre os seus ombros e você estava sumido e a única coisa que eu queria fazer naquele momento era te encontrar, te ajudar, te abraçar e tentar te fazer se sentir melhor……ali, eu percebi que nós dois não fazemos parte de um conto de fadas, que a nossa história está bem longe de ser perfeita porque nós somos imperfeitos e que o nosso amor é complicado. - Ela enxuga as lágrimas - Eu erro, vou entrar muito ainda, você vai se decepcionar comigo inúmeras vezes, eu vou sentir vontade de te estrangular inúmeras vezes, mas eu te amo e às vezes eu te odeio profundamente por isso. 


Joaquim sorri e as lágrimas molham seu sorriso, enquanto ele olha para Cecília. Delicadamente, ele segura a mão dela e dá um beijo suave.  


— Eu te amo muito. Eu demorei pra entender isso e eu prometo que eu vou ser uma pessoa cada vez melhor para  merecer cada pedacinho do seu amor. Eu vou tentar sempre ser a sua melhor escolha, não quero que você se arrependa de ter decidido por nós. Eu quero ser uma pessoa melhor por nós dois, porque eu quero sempre merecer estar ao seu lado. - Ela faz carinho no rosto dele. 

— Você vai ser cada vez melhor por você porque você é importante pra mim e te ver bem, me deixa bem. Me deixa sempre cada vez mais tranquila de que a minha escolha, a nossa escolha por nós dois foi a escolha mais acertada porque eu sinto isso e eu quero sempre sentir isso. Eu sei que no meio dessa chuva toda, sabendo que nesse exato momento a minha mãe quer me matar, eu sei que eu deveria estar exatamente aqui, do seu lado. 


Ela sorri e Joaquim sorri de volta, acariciando o rosto de Cecília. Ele aproxima os lábios devagar e um beijo delicado acontece, enquanto a chuva continua caindo e os dois são iluminados pela luz do lampião. Ele segura o rosto dela com as duas mãos com todo cuidado do mundo e Cecília corresponde ao beijo, que se intensifica naturalmente. 

O beijo é a primeira carícia entre eles e que abre espaço para um toque mais intenso quando a mão dele desceu devagar pelo corpo dela, repousando na cintura de Cecília, onde ele aperta com mais intensidade. 

Eles interrompem o beijo, ofegantes, repousam a testa um no outro e se olham no fundo dos olhos um do outro. Eles sabem o que estão sentindo, sabem o que vai acontecer se seguirem em frente e Joaquim não queria que aquele momento tão especial deles acontecesse ali, mas ali, naquele exato momento, ambos sentiam que era o momento certo. 

Cecília entendia o olhar de Joaquim, era como se ele perguntasse a ela se ela tinha ideia do que iria acontecer e se estava certa que aquele era o momento e o local certo. Ele esperava que ela respondesse a ele com palavras, sabia que ela estava entendendo o que ele estava dizendo no silêncio, mas ao invés disso, Cecília o beija novamente, aproximando ainda mais seu corpo do dele, fazendo com que ele entenda o que ela está querendo dizer. Eles sentem que falam a mesma língua, estão conectados pelo mesmo sentimento e pelo mesmo desejo.

Joaquim desceu os beijos pela lateral do pescoço de Cecília e ela sorria com os olhos fechados, acariciando os cabelos pretos dele, que se perdia no cheiro adocicado e ao mesmo tempo forte que vinha dela.  


— Você tem certeza? - ele perguntou, olhando nos olhos dela

— Joaquim…

— Eu queria que acontecesse de uma maneira mais especial, em um lugar mais especial. Quero que seja especial pra você. 

— Hoje é especial. - Ela falou calmamente - Hoje eu sinto que nós estamos mais unidos do que nunca. Vai ser especial porque vai ser com você, com quem eu amo. 


Joaquim sorri olhando para o sorriso dela e acaricia o rosto de Cecília suavemente, com a ponta dos dedos, como se tentasse ter certeza de que ela é real e que eles estão ali juntos. 


— Eu não vou quebrar, Joaquim. - Ela fala  brincando 

— As vezes eu olho pra você e eu me pergunto se você é real porque você é tão linda…

— Para de ser bobo. 


Ela sorri novamente e eles se beijam, enquanto Cecília coloca os braços em volta do pescoço de Joaquim, o colocando mais perto dela. O beijo se intensifica e Cecília afrouxa a gravata de Joaquim, retirando-a em seguida, retirando o paletó em seguida e aproximando os dedos finos dos botões da camisa branca. Enquanto ele beija o pescoço dela, desabotoa a camisa dela devagar, enquanto ouve o som do sorriso dela quando ele beija um ponto específico de sua pele. 

Aos poucos ela se deita no sofá, sentindo o corpo dele sobre o dela, enquanto eles intensificam ainda mais o beijo  apaixonado. 

Cecília solta gemidos baixinhos quando sente as mãos de Joaquim deslizando por todo seu corpo, sente arrepios por toda parte sentindo o toque delicado e preciso das mãos macias dele. 

Joaquim esperou por aquele momento tanto quanto Cecília, queria que fosse perfeito para ela e queria ser o homem que ela sempre mereceu, queria que a cada toque ela pudesse sentir todo o amor que ele sente por ela, queria que ela entendesse que para ele, aquele momento era tão especial quanto para ela, queria que ela entendesse que não era apenas desejo e sim amor, o mais puro e complexo, aquele que ele nunca pensou que fosse capaz de sentir por alguém. Cada beijo, cada toque, cada carícia naquele momento era parte do amor que eles sentiam. Joaquim queria se declarar a ela a cada segundo daquele momento especial, queria que ela se sentisse a mais especial das mulheres, porque ela é a pessoa mais especial da vida dele e não se cansava de dizer isso no ouvido dela enquanto eles se amavam pela primeira vez. Repetiu inúmeras vezes " eu te amo" enquanto seu corpo se movia sobre o dela. Sentia as mãos dela em suas costas, os dedos dela marcando sua pele, as pernas dela roçando na lateral do corpo dele e sorriu quando ela olhou no fundo de seus olhos e disse " Eu te amo" . Ele sentia aquele amor, entendia aquele sentimento e naquele momento tudo que ele poderia sentir era amor, amor por ela, o amor dela.  Se eles estivessem prestando atenção ao redor, no mundo lá fora, tudo seria o amor que eles sentem, tudo iria refletir o amor que eles sentem e que eles aprenderam a entender a complexidade. Ele não cansava do cheiro dela, adorava a ideia de que agora o cheiro dela estava misturado ao dele. Ele coçou os lábios na lateral do rosto dela, lhe deu um beijo delicado no rosto. Estavam exaustos, mas os dois tinham um sorriso tranquilo nos lábios  


— Você está bem? - ele perguntou, a colocando nos braços e sentindo a cabeça dela em seu peito 

— Não te disse que hoje era especial? - Ela responde olhando para ele, apoiando o queixo em seu peito e ele acaricia o rosto dela. 

— Você está sorrindo. 

— Eu estou feliz. - Ela dá um beijo no peito dele e olha para ele novamente - Depois disso tudo, nós estamos aqui assim, juntos, apaixonados, entendendo o que esse amor significa. - ele coloca o cabelo dela atrás da orelha. 

— No sofá da sua sala. - Ela ri e encosta a testa no peito dele e ele a observa 

— Minha sala que foi cenário de tantas brigas nossas. - Ela fala apoiando o queixo no peito dele de novo.  

— Mas eu ainda quero um cenário especial pra nós dois. 

— Só falta você me dizer que quer ir pra um hotel no Rio de Janeiro. 

— Por que não? 

— Refazendo os passos da minha mãe e do Eugênio. 

— Nós somos bem parecidos com eles, você sabe disso. - ela suspira - O que foi? 

— Nada, só pensando. 

— Então para de pensar nisso que te fez suspirar assim e vem aqui. 


Ela se aninha ainda mais no peito dele, que beija a cabeça dela e faz carinho em suas costas e entrelaça os dedos dele nos dela  na mão que está em seu peito.


— Você mesma disse que vamos ficar aqui por um tempo ainda. 

— Minha mãe vai me matar. 

— Não vamos pensar nisso agora. Vamos esquecer o mundo lá fora, tudo que não se resume a nós dois. Vamos fingir que só existe nós dois no mundo. - Ela sorri - Quero ficar assim com você. Me acostumo fácil com você grudada em mim.

— Meu Deus, você é romântico.

— Azar o seu. - Ela beija a cabeça dela.


****** 


Violeta estava aflita com os barulhos de trovão e a chuva que, embora mais fraca, insistia em cair. Eugênio saiu e ainda não tinha voltado. Violeta sentia seu coração na boca, agora preocupada com Cecília e Eugênio, mas quando ela já estava a ponto de sair atrás dele, Eugênio entrou pela porta encharcado. 


— Ai, graças a deus! - Ela vai até ele - Eu deixei umas toalhas aqui, vai, se enxuga. - Ela enrola toalhas nele. - Você está encharcado, Eugênio, precisa trocar essas roupas. Alguma notícia da Cecília?

— Viram ela entrando na tecelagem e ela  não saiu mais. Viram Joaquim entrar lá pouco tempo antes. Os dois estão juntos lá dentro. 

— Ai, graças a deus! Eles estão bem! - ela fala, enxugando os cabelos dele 

— Estão sim. Estão seguros dentro da tecelagem. Provavelmente estão esperando a chuva passar. 

— Tomara que tenham conversado. Vai tirar essa roupa molhada, senão vai ter pneumonia de novo e vai falar que a culpa é minha. Que cara é essa ?

— Eles estão sozinhos na tecelagem….

— Eugênio….

— Eu estou supondo. Até porque se fôssemos nós…. 

— Vai trocar essa roupa antes que fique aí morrendo de novo como da outra vez. 

— Violeta! 

— Eugênio, vai logo! - quando ele está indo, Violeta se assusta com mais um trovão e corre até ele. 

— Vai me ajudar a trocar de roupa, benzinho? - Ele provoca e ela sorri, mordendo o lábio e segue para o quarto com ele. 


O tempo foi passando e a chuva insistia em ir e voltar. Às vezes parecia que iria parar, mas acabava voltando ainda mais forte, mas Violeta estava um pouco mais tranquila por saber que as duas filhas estavam em segurança.

Ela estava parada olhando pela janela da sala da casa de Eugênio. Observava a chuva caindo lá fora e por alguns segundos se permitiu apenas observar a chuva e foi quando sentiu as mãos de Eugênio a abraçando por trás, a fazendo sorrir. Ela acariciou as mãos dele e sentiu os cabelos ainda úmidos roçar devagar na lateral de seu rosto. 


— Tudo bem? - ele pergunta perto do ouvido dela 

— Acho que sim. Foram tantas coisas em um curto espaço de tempo, que eu não tive tempo de apenas parar e observar a chuva caindo lá fora. - Eugênio sorriu discretamente e deu um beijo no cabelo de Violeta - Você está bem? - Ela perguntou olhando para ele, mas sem sair de seus braços 

— Estou. Depois de tudo, eu estou bem. Será que um dia iremos pensar nisso como algo distante no nosso passado? 

— Em que circunstâncias pensaríamos nisso no futuro?

— Não sei, talvez quando estivermos casados no futuro. - Violeta abriu um sorriso e sentiu os lábios dele tocando em seu rosto - Duvida? Me acha doido? 

— Não, não te acho doido. - Ela faz carinho no rosto de Eugênio. - Quero viver nesse mundo que você imagina pra nós dois. Quero que ele se torne real. 

— Eu acho que nós podemos sonhar que isso vai se tornar a nossa realidade. - ele roça o nariz no dela 


Os dois ficaram ali por mais algum tempo, não sabem ao certo quanto tempo, mas se deram a chance de apenas observar e ouvir o som da chuva. 


Na tecelagem, Cecília acabou dormindo nos braços de Joaquim, que não pregou os olhos, pensando em tudo que havia acontecido com ele nas últimas horas. O tempo que ficou acordado, tentou não se mover para não acordar Cecília e acariciava o braço dela devagar, com a ponta dos dedos, enquanto sentia o cheiro dos cabelos dela. 

O dia estava quase raiando, quando Cecília acordou. Ela olhou para os lados e viu que em pouco tempo a tecelagem estaria cheia de funcionários novamente. 


— Joaquim, acorda. Nós precisamos ir embora. - Joaquim se mexe levemente e abre os olhos, encontrando Cecília olhando para ele, enquanto se senta no sofá. 

— Bom dia. - ele fala, puxando Cecília pela mão 

— Bom dia, mas vamos levantando que eu não quero ser assunto dos funcionários. Vem. - Ela puxa Joaquim pela mão


Enquanto isso, na casa de Eugênio. Ele e Violeta acabaram acontecendo no sofá da sala. Violeta estava nos braços dele, a cabeça em seu peito, estavam cansados e haviam ficado acordados até tarde, esperando que a chuva pudesse dar uma trégua. 

Violeta acordou primeiro e ao olhar para cima, encontrou Eugênio adormecido ainda, mas notou que o dia estava raiando. Sabia que tinha que acordá-lo,  mas a imagem de vê-lo dormindo e a sensação de estar em seus braços, fizeram com que ela se permitisse passar alguns segundos o observando em silêncio. Amava aquele homem como nunca imaginou que pudesse amar alguém, faria qualquer coisa por ele, morria céus e terras, enfrentaria o que fosse necessário, não conseguia mais imaginar sua vida longe dele, se sentia incompleta se ele não estivesse ao seu lado e ter a certeza de que ele também sentia tudo aquilo por ela, lhe fazia ter a certeza de que estariam juntos para sempre, não sabia como, mas estariam. 


— Meu amor. - Ela sussurrou perto do rosto dele, lhe fazendo um carinho na bochecha - Eugênio, precisamos nos levantar. O dia está raiando. - ele abriu os olhos devagar e, inconscientemente, sua mão subia e descia pelas costas dela, lhe fazendo sorrir. - Bom dia. 

— Bom dia. - ele disse em uma voz rouca de sono. - Parou a chuva? 

— Parou, finalmente. Espero que não tenha feito estragos por aí. - Ele acaricia o rosto dela - O que foi? 

— Eu estava com saudades de você ser a primeira coisa que eu vejo ao acordar. - Violeta sorri - Sorrindo ainda, meu Deus, Violeta, eu preciso te beijar. 


Ela sorri novamente e corresponde ao beijo delicado, mas cheio de amor. 


******


Cecília entrou com cuidado em casa, olhando para os lados e tendo a certeza de que não estava vendo ninguém, mas se alguém a encontrasse ali, poderia perceber que estava feliz e  iria querer saber o motivo. Não estava disposta a responder perguntas logo cedo. Quando estava indo para o seu quarto, uma voz a chamou. 


— Bom dia, Dona Cecília. - Ela fechou os olhos, respirou fundo e olhou para trás, encontrando Manuela 

— Bom dia, Manuela, meu amor. 

— Isso lá são horas? 

— Eu fiquei presa por causa da chuva. 

— E essa felicidade toda aí? Ficou presa na chuva com quem? 

— Manuela! 

— Ah, mas finalmente eu estou colocando meus olhos na senhorita! - Violeta disse ao entrar no casarão e encontrar a filha 

— E a senhora estava onde também? - Perguntou Manuela para Violeta, fazendo Cecília sorrir 

— O que é isso, Manuela? 

— Quero saber onde você estava. Ficou presa em algum lugar por causa da chuva também, Violeta? 

— Fiquei sim, Manuela. 

— Deve ter aproveitado para trabalhar, ficou em reunião com o Dr. Eugênio. - Cecília arregala os olhos para a mãe, tentando segurar o riso. 

— Manuela, o que é isso?! - Violeta fala, chocada 

— Eu estou falando alguma mentira? Falo mesmo, comigo não tem lorota. 


Elas acabam rindo com Manuela e se encaminham para o interior da casa, entrando no quarto de Cecília. 


— Você não tem nada pra me contar? - Cecília olha para a mãe - Eu conheço você melhor do que a mim mesma, Cecília. 

— Mãe…..

— Eu já sei que você passou a noite na tecelagem com o Joaquim. Vocês ficaram presos lá por causa da chuva e eu imagino que vocês tenham conversado sobre os últimos acontecimentos e….

— Foi lindo. - ela interrompe a mãe, fazendo Violeta sorrir e as duas se sentam na cama - Nós conversamos sobre tudo, sobre nós, sobre o que sentimos um pelo outro, eu tentei ajudar o Joaquim com tudo que ele estava sentindo e acabou acontecendo. Foi de uma maneira natural e tão especial, mãe. - Violeta segura as mãos da filha e se emociona - Não poderia ter sido em outro momento porque ali ontem, pela primeira vez nós dois estávamos sendo totalmente sinceros um com outro, estávamos ali por inteiro, um cuidando do outro. 

— Ô meu amor. - Cecília deita a cabeça no colo da mãe, que faz carinho em seus cabelos - Te ver assim me deixa tão feliz, Cecília. Te ver feliz, amando alguém e sendo amada. Conhecendo o amor. - Cecília sorri e uma lágrima escorre em seu rosto - Você merece tanto viver o amor, minha flor. Você que cuida tanto de todos, cuida tanto de mim - Violeta beija a cabeça da filha - Mas eu vou ter uma conversa com Joaquim. 

— Eu sei e imaginei que você diria isso. 

— Quero conversar com ele sobre vocês, mas também quero falar com ele sobre tudo que aconteceu nos últimos dias na vida dele. Ninguém consegue passar por isso de maneira tranquila e eu acho que ele, talvez, esteja precisando de afeto. - Cecília levanta o corpo e sorri, olhando para a mãe. - O que?

— Você não existe. 

— Ele também foi vítima nisso tudo, tem a sua parcela de culpa, mas também foi uma vítima da Úrsula. 

— Mãe, tem alguém que quer conversar com você. 

— Quem? 


*****


— Eu falei com ela, disse que você queria conversar, queria tentar explicar pra ela tudo. - Cecília fala com Davi

— Eu quero muito ter a oportunidade de ser sincero com a sua mãe, você sabe disso. O que ela disse? 

— No início ela não estava muito disposta, mas aceitou ter uma conversa com você. Pelo amor de deus, você pensa bem como você vai falar com ela. Eu já te disse como isso é delicado. 

— Eu queria que você estivesse presente. Acho que você é a melhor pessoa para estar nessa conversa. Cecília, por favor. 

— Tá bem. 


******


— Eu não sei se foi uma boa ideia isso. - Violeta fala indo em direção ao ateliê se Isadora 

— Mãe, pelo menos escuta ele. Eu já conversei com o Davi, já disse tudo que eu penso sobre isso, já falei com ele sobre a sua posição nessa história toda. Ele quer uma chance de ser sincero com você. 

— O que é que você acha? 

— Eu acho que….acho que ele pode ter atirado por acidente. É isso que eu acho. - Violeta respirou fundo e abriu a porta do ateliê


Lá dentro, Davi estava à espera delas e assim que olha para Violeta, engole em seco.


— Dona Violeta. Obrigado por ter vindo. 

— A Cecília me convenceu. 

— Primeiro eu queria pedir perdão pra senhora por tudo. Pela mentira, pelo tempo que eu não pude lhe dizer a verdade porque a senhora e o Doutor Eugênio sempre  confiaram muito em mim e eu sei que eu traí a confiança de vocês, mas eu não podia contar. Eu precisava de provas e eu ainda estou a procura delas, preciso encontrar o perito que fez o primeiro laudo que me inocentava. 

— Esse perito sumiu? - Violeta pergunta 

— Sumiu. Eu até coloquei um detetive atrás dele, mas não há qualquer pista do paradeiro do homem. Só ele pode me inocentar. 


Violeta deu um voto de confiança para Davi, que contou a ela os detalhes que tinha à mão naquele momento e ela, por sua vez, ouviu tudo atentamente, segurando a mão de Cecília. Violeta sabia que as chances de tudo aquilo ser verdade, eram imensas, mas ter de acreditar que se casou com o homem que matou sua filha, mesmo que acidentalmente e que havia feito tantas atrocidades era duro demais. Ela olhava para Cecília e sabia que a filha também havia sido uma vítima de Matias assim como todas as mulheres de sua família. Estava acreditando aos poucos nas palavras de Davi, ainda que assim que ouvia cada uma delas, sentisse um pedaço de seu coração se quebrando. As lágrimas estavam rolando em seu rosto, ela respirava fundo e continuava segurando a mão de Cecília.  Davi pediu perdão novamente mais incontáveis vezes, Violeta ouviu cada uma delas e em determinado momento abaixou a cabeça para tentar absorver novamente tudo que lhe estava sendo dito. 


— A Elisa me falou da senhora. - Violeta olhou para ele - Ela me disse que a senhora era uma mulher muito forte, admirável e que teria adorado me conhecer. - os 3 choram - Que a senhora jamais iria se opor ao nosso amor. Ela amava muito vocês e no pouco tempo que estivemos juntos, ela falou de vocês.  - Cecília segura a mão da mãe e dá um beijo carinhoso - Eu nunca faria mal a ela, nunca. Eu amei muito a Elisa e me senti impotente por ter deixado aquilo acontecer, mas eu fui jogado na prisão e eu nem pude viver o luto. Se a senhora puder me perdoar um dia, eu ficaria muito feliz. 


Após a conversa, elas saíram do ateliê em silêncio. Violeta estava sensível demais para dizer qualquer coisa e Cecília não insistiu, não queria forçá-la a nada, apenas respeitou o silêncio da mãe. As duas seguiram para a tecelagem. 


— Existem provas no processo que nós nunca tivemos acesso. 

— Seu pai escondia isso de todos. Meu Deus, eu não aguento mais. Eu não aguento mais - Cecília se aproxima da mãe que está sentada à sua mesa e se agacha diante dela - Cada dia uma rasteira nova, cada dia um fato novo que eu não tinha conhecimento. Eu só queria ter paz, filha. Só isso. Descobrir que o pai das minhas filhas, o homem com quem eu me casei, que eu amei um dia desde que eu era uma menina, descobrir que esse homem matou a minha filha, mesmo que por acidente. Ele apontou uma arma. Ele fez da vida das pessoas que eu mais amo um inferno e eu me sentia culpada por estar amando outro homem. 

— A verdade é que ele nunca te mereceu, muito menos o amor que um dia você deu a ele. 

— Esse homem machucou muita gente. 

— Você, inclusive. Ele te machucou, ele te feriu e eu sei que de alguma maneira você acreditava que estava tudo bem, mas não estava. Ele não tinha direito. Ele não tem e nem nunca teve o direito de ferir as pessoas como ele segue fazendo. 

— Ele fez mais alguma coisa com você e você não me contou? 

— Eu não lembro de tudo. - Cecília fala, segurando a mão de Violeta, que abaixa a cabeça - Mas o pior que ele podia me fazer eu me lembro bem, mãe. Foi me deixar crescer sem pai, foi me olhar com desprezo, como se eu não fizesse parte da família dele - Cecília chora e Violeta enxuga as lágrimas da filha - Me dizer que eu não devia ter nascido, nem eu e nem a Isadora.  Isso foi o pior, mas eu aprendi a ser mais forte, eu tinha você comigo e eu aprendi a entender que nem sempre pai é quem tem o mesmo sangue que você. O Eugênio é muito mais meu pai do que o Matias. Um dia eu vou dizer pros meus filhos que o nome do avô deles é Eugênio. 

— Ô meu amor, vem aqui. 


Violeta abraça Cecília e as duas choram. Violeta sempre se sentiu culpada de alguma maneira por Cecília, por acreditar que nunca fez o suficiente para protegê -la das maldades de Matias, mas nunca soube ao certo o que ele fazia com ela. Queria, naquele momento, poder proteger a filha de tudo e todos, garantir que nada de ruim iria atingi-la. 


— Me perdoa. - Ela fala segurando o rosto da filha 

— Para de me pedir perdão por algo que você nunca fez. Já te pedi isso.

— Eu queria proteger você e a sua irmã de tudo, de todo mal, de todo ódio, dor. 

— Mas você não pode, porém ao invés disso, você não ensinou a sermos fortes e bater de frente com tudo isso, defendendo o que acreditamos. 

— Eu preciso fazer uma coisa. 

— Fazer o que? 


******


Joaquim bate na porta da sala de Eugênio.


— Posso entrar? 

— Pode sim, Joaquim. - ele entra e fecha a porta - Como você está? 

— Melhor. Cecília e eu nos entendemos. Conversamos e está tudo bem. 

— Você trate de fazer por merecer a Cecília. 

— Eu vou fazer, pad… - ele corta a frase 

— Eu ainda sou seu padrinho, Joaquim, e serei sempre. Eu só quero que você aprenda com o que fez. 

— Eu aprendi e vou tentar ser uma pessoa melhor, diferente, a cada dia. Uma pessoa que mereça o amor da Cecília e a sua confiança que eu espero recuperar um dia. Eu sei que eu errei muito, sei que o que eu fiz não foi algo certo ou bonito, sei que eu cometi erros sérios e que mereço ser punido por isso, mas eu quero ser melhor. Quero ser o sujeito que mereça tudo que o senhor um dia me deu e eu não fui capaz de valorizar. - Eugênio se levanta e vai até ele 

— Muito bom ouvir isso. - ele fala colocando a mão no ombro do afilhado, que abre um sorriso tímido e Eugênio o puxa para um abraço. 

— Eu vou ser melhor, padrinho. Cecília vai me ajudar a achar meu pai biológico.  - os dois se olham novamente - Margô sabe o nome dele, nós vamos procurá-lo. 

— Isso é muito bom, Joaquim! Eu fico contente com isso. 

— Obrigado. 


******


— Mãe, o que é que você vai fazer? - Cecília pergunta, entrando na casa atrás da mãe 

— Você fica aqui. - Ela fala, indicando a sala. 

— Por que é que eu ficaria?

— Porque eu sou sua mãe e eu estou mandando. 


A casa parecia estar vazia e isso era um verdadeiro milagre. Não se ouvia nenhum barulho, apenas os passos de Violeta pelo corredor, em direção aos quartos. 

Cecília, em mais um milagre, obedeceu a mãe e ficou na sala, mas se aproximou um pouco mais do corredor, na tentativa de ouvir o que ela iria dizer e viu quando Violeta entrou no quarto de Matias. 


— Mãe, não faz isso. Eu vou ser obrigada a desobedecer. 


Dentro do quarto, Matias estava em pé, perto do guarda roupa, que estava com as portas abertas e falava com a foto de Elisa. Violeta estava disposta a questioná-lo sobre o que Davi lhe disse, queria que ele dissesse o que quer que fosse, mas então ela o observou por alguns segundos em silêncio, queria ouvir o que ele estava falando, aproveitando que ele não tinha notado a presença dela ali, já que estava de costas para a porta. Matias parecia conversar com a foto, como se estivesse falando com Elisa. 


— Ô minha menina, você sempre foi a minha princesa, a mais perfeita, a que só me trazia alegrias. Eu pedi pra você, Elisa. Pedi pra você não se encontrar com aquele mágico, avisei você que ele não era pra você, eu te disse……eu sabia porque eu sou seu pai e eu não queria seu mal, eu nunca quis seu mal……a Isadora, a Isadora não tinha que ter aberto aquela porta, eu mandei, eu dei a ordem - nesse momento ele levanta mais a voz quase num grito - Eu mandei, mas ela me desafiou e deixou você sair, a culpa é da Isadora. - Violeta fecha os olhos e mantém o silêncio  - Se ela não tivesse aberto aquela maldita porta você estaria aqui comigo…… - ele se vira e vê Violeta - Ah, Violeta…..estava aí ouvindo a minha conversa com a Elisa, é?

— O que foi que aconteceu naquele quarto de hotel, Matias? Por que você culpa tanto a Isadora? 

— Porque ela não tinha que ter aberto a maldita porta! Eu mandei, eu mandei ela não abrir, era pra Elisa ficar lá, longe do mágico, enquanto eu…..

— Enquanto você o que?! Enquanto você iria atrás dele?! Enquanto você iria até ele empunhando a sua arma que tinham as suas iniciais e acabaria com a vida dele de uma vez por todas enquanto a sua filha  estava, que você sempre disse amar tanto….

— EU AMO A ELISA! - ele grita por cima da voz dela

— A filha que você diz amar tanto estava trancada num quarto de hotel! 

— Ela não tinha que ter ido lá, ela não tinha que estar lá! Ela não tinha! Eu mandei a Isadora…

— Você sempre manda, não é? Sempre dá ordens, sempre mandou em tudo e todos e nunca se conformou porque não conseguia mandar em mim e nem nas suas filhas. Não conseguiu mandar na Elisa, não conseguiu impedir que ela fosse atrás do homem que ela amava, tentou impedir de todas as formas usando o seu dinheiro, seu nome, seu poder. 

— A culpa é da Isadora!

— A CULPA NÃO É DA ISADORA! NÃO É CULPA DA CECÍLIA A CULPA NÃO É MINHA, A CULPA NÃO É DA HELOÍSA, A CULPA NÃO ERA DA ELISA! Assuma os seus erros! Assuma os seus crimes! 

— Eu nunca perco. 

— Ah não! Você não vai usar disso de novo, você não vai usar da sua doença pra tentar escapar disso mais uma vez. Escuta aqui - Ela olha nos olhos dele - Eu sou a mãe dela, a Elisa saiu daqui - Ela bate na própria barriga - Eu gerei, eu pari, eu criei, eu dei a ela todo amor que uma mãe pode dar, eu não consegui proteger a minha filha da morte, mas ela é minha filha! - Ela bate no peito, falando perto do rosto dele - Ela é minha! Do mesmo jeito que você enche a boca pra dizer que ela era sua filha, ela era minha! Eu tenho o direito de saber o que você fez com a MINHA FILHA! - Ela grita no rosto dele, que está sentado na cama 

— ERA PRA ELE! - ele grita, olhando para ela - AQUELE TIRO ERA PRA ELE! - Cecília escuta do lado de fora e fecha os olhos - Não era pra ser a minha Elisa, era pra ele! 

*****




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