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História As correntes que nos prendem - Sente-se ao meu lado.


Escrita por: Curious-girl

Notas do Autor


Mais um capitulo, espero que vocês gostem!

Boa leitura.

Capítulo 3 - Sente-se ao meu lado.


O guarda anterior bateu nele com um tipo de bastão de ferro que tinha kairouseki, como tudo nesse lugar. Ele pareceu ficar frustrado depois de alguns minutos sem receber reações. O homem magro, de pele bronzeada e um nariz pontudo, não parecia dominar o haki e, felizmente, seus golpes eram fracos. Marinheiro estúpido, isso não era nada comparado ao que ele passou nas mãos dos dragões celestiais.

Nos últimos três dias a rotina se repetiu, dois guardas se revezavam vigiando pela metade do tempo, na outra metade Ace assumia. Aparentemente ele usou o grande casaco da marinha apenas para contrabandear alimentos para ele. Ace sempre abria suas correntes no início do turno e o acorrentava novamente no final.

As vezes ele fazia pequenas perguntas curiosas.

 

- Você pode voar por muito tempo? 

- Você é médico?

- O Barba Branca é descendente de gigantes?

- Você pode viver na sua forma de fênix?

- Como é ser um pássaro?

- Incrível! Como é ter tantos irmãos?

 

Geralmente Marco apenas ria e era gentil, tentando explicar o que sabia. Poucas perguntas depois Ace sempre parava, como se não quisesse incomodar. E sempre mantinha aquele olhar de quem está prestes a perguntar algo.

Marco deveria iniciar uma conversa, mostrar para o homem que estava confortável, mas ele era naturalmente quieto. Ele queria contar que Ace não o incomodava, que conversar com ele era fácil e agradável, o homem era incrivelmente carismático e mantinha uma alegria quase infantil enquanto ouvia as histórias mais comuns. Seus comentários eram sempre cobertos de uma gentileza e bondade que Marco nunca tinha visto antes.

Ace era precioso demais para esse mundo, e era cruel e doloroso vê-lo neste lugar. O peito de Marco apertava toda vez que ele o acorrentava novamente, com olhar desamparado e mãos tremulas.

 

Ele tentou dormir depois do espancamento, mas seu haki da observação o mantinha alerta, percebendo cada movimento neste andar e acima dele, além dos reis dos mares do lado de fora das paredes. Três marinheiros entraram com comida, distribuindo nas celas. Agora ele sabia que as celas tinham uma quantidade de água que deveriam durar uma semana, até a próxima vez que a comida fosse distribuída. E eles eram alimentados apenas uma vez por semana, as vezes menos.

Neste ponto Marco tinha certeza que seria executado, estava claro na diferença de tratamento em relação aos outros. Os demais presos permaneciam algemados com kairouseki de alguma forma, mas apenas ele era mantido totalmente contido, não pretendiam alimenta-lo, mas alguma ordem de Ace mudou isso (além de contrabandear comida para ele todos os dias), e por fim, a vigilância constante. Não, ele não seria apenas jogado aqui como os outros.

O homem de cabelo azul deixou a comida na sua frente, e a água no canto. Mas não fez nenhum movimento para soltar as algemas.

- Hayato é um imbecil – murmurou após dar uma boa olhada nele. Provavelmente falando dos hematomas em seu rosto.

Neste momento Marco sentiu a presença de Ace descendo as escadas, o homem notando algo em seu comportamento franziu a testa antes de caminhar pelo corredor e esperar Ace.

“Perceptivo, e claramente entende o haki da observação”

- Não seja imprudente ­– murmurou o homem, quando Ace se aproximou.

- Por quê? O que Hayato fez? – respondeu Ace, e Marco sentiu a presença dele passando pela do outro, que aparentemente o segurou pelo braço.

- Nada que você não tenha visto centenas de vezes aqui e nada que você não tenha visto muito pior – continuou. Pela distância das outras celas e altura das vozes Marco acreditava que apenas ele e Crocodile podiam ouvir a troca. – Por que ele é diferente?

Se passaram alguns segundo em que Ace não respondeu nada, e o homem continuou ainda mais baixo, Marco teve de se esforçar para ouvir.

- Eu te segui até aqui capitão – Ace tentou dizer algo, apenas para ser interrompido novamente – Não me arrependo, eu te seguiria até o fim do mundo, todos nós faríamos. Eu sei o que você pretende, não sei por que ele, mas eu não vou deixar você se prejudicar.

“A forma com que ele disse Capitão, não soou apenas como o título de Capitão da marinha e sim como um subordinado se referindo ao capitão do seu navio. todos nós faríamos... Novamente, soou como uma tripulação.”

- Deuce, eu nunca te prejudicaria. – disse Ace.

- Você acha que eu não sei, idiota? É com você que eu estou preocupado.

E se Marco estivesse olhando para o lugar errado?  E se ele não se lembrasse de Ace da marinha...

“Ace, Ace, Ace... Portgas. D. Ace... Ace punhos de fogo. Porra!”

Como ele não percebeu isso antes? Não é como se ele tivesse conhecido outros “Ace” na vida. Ace foi o novato que escalou três anos atrás, o pirata para quem foi oferecido o posto de Shichibukai em menos tempo, o mais jovem também. Ele negou, foi um escândalo para o governo, Ace ficou muito conhecido na época. Mas nunca mais se ouviu falar dele, ou dos piratas Spade depois disso.

Marco se lembra da história, de ver os cartazes no jornal, de questionar o sumiço brevemente, e esquecer o assunto em meio a rotina do dia a dia. Mas Marco nunca conheceu Ace pessoalmente, ele se lembra dele apenas pelo nome, então de onde vem a familiaridade que sentiu ao ver Ace?

“Portgas. D. Ace, cabelos negros, sardas no rosto, olhos prateados...De onde eu te conheço?”

- Não precisa se preocupar comigo Deuce – disse carinhoso, encerrando o assunto.

Alguns segundos depois Deuce subia as escadas e Ace estava na frente da cela dele.  Marco tentou encontrar as semelhanças entre o homem na sua frente e o jovem nos cartazes em sua memória.

Ok, enquanto ele estava irritado, olhando as marcas em Marco, tinha uma certa semelhança. Seu rosto não era mais arredondado e infantil, o queixo agora era afiado, os ombros muito mais largos e peito musculoso. Marco não pode deixar de notar a cicatriz sobre a sobrancelha esquerda, e alguns cortes no tórax, um conjunto de cicatrizes particularmente profundas em sua lateral esquerda pareciam as garras de um animal. "O jovem Ace se tornou um homem lindo."

- Eu vou solta-lo Marco – Avisou, ele não perguntava mais se Marco iria ataca-lo, como tinha feito antes.

Marco não sabia sobre o que Deuce estava falando, mas era óbvio o quão imprudente Ace era com ele. “Por quê? Por qual motivo ele se arrisca assim, indo contra aqueles que prejudicam Marco?”  

- Obrigado Ace. – Disse em voz baixa.

Ele o olhou surpreso, depois sorriu, e Marco percebeu que nunca havia agradecido Ace antes. Então ele ficou chocado quando Ace não saiu da cela, mas sentou um metro na sua frente, no alcance de suas mãos.

Marco abaixou os braços lentamente, estremecendo de dor quando o sangue voltou a circular normalmente. Se fosse outro marinheiro ele esconderia o desconforto, mas era Ace, e se ele iria confiar tanto assim em Marco, o mínimo que ele podia fazer era devolver a cortesia.

- Você não vai ter problemas, yoi? – perguntou preocupado, enquanto comia... um tipo de grão? Era estranho, mas iria mantê-lo satisfeito.

- Você tem um tique verbal? – perguntou Ace rindo, ao invés de responder. Vendo a careta de Marco ele continuou – É fofo.

Marco sentiu seu rosto esquentar. “Por Kami, ele um adolescente agora?” Respirou fundo e perguntou novamente, com cuidado para evitar o tique que aparecia sempre que ele estava tenso, preocupado ou irritado.

- Ace, você vai ter problemas por me ajudar?

Ele encostou na parede, quase na grade.

- Provavelmente não. Se não me disserem o que pretendem fazer com você não podem me punir por não corresponder aos seus objetivos.

“Atrevido! 

Demorou menos de dois minutos para ele terminar de comer, e depois ficou em silêncio, ouvindo os outros presos comerem. O andar estava quieto, o único guarda além dos que ficavam na escada era Ace, sentado no chão sujo, ao lado de Marco. Como se não houvesse nenhum outro lugar que preferia estar.

- Você deveria estar tão perto de mim? – perguntou Marco, provocando um pouco, mas genuinamente curioso.

- Você disse que não ia me atacar antes, eu confio em você – Respondeu naturalmente, encostando a caça para trás de olhos fechados.

Toda garganta dele estava exposta, e Marco percebeu que seria muito fácil mata-lo, ou pelo menos causar um dano grave. Mesmo não tendo nenhuma intenção de fazer tal coisa ele ainda se sentia frustrado, e incrivelmente irritado. Como Ace podia se colocar em risco assim? Porque o homem era tão imprudente?

- E você acreditou? – Disse, deixando transparecer seus sentimentos.

Ace se sentou corretamente e a respiração de Marco falhou um segundo perante ao olhar intenso dele. Os olhos acinzentados fixaram nos seus, analisando. Havia algo de inebriante em ser o foco de alguém desta maneira, como se não existisse nada no mundo além daquele instante. O que era realmente ridículo, considerando onde eles estavam e o risco que Ace estava correndo sentado com ele. Mesmo Marco não sendo um risco para o rapaz (ainda assim Ace não devia confiar nele desta forma!) ainda existia o risco de chegar outro guarda, ou qualquer funcionário da marinha, e vê-lo assim. Ele podia ser acusado de traição, pelo amor de Deus! 

Sua raiva aumentava, assim como o sentimento de proteção. Alguém tinha que salvar esse garoto da sua própria estupidez.

- Marco – Disse seu nome em voz baixa , mas ainda era firme e determinada – supondo que você tivesse sucesso em me nocautear, o que você faria depois? – Disse sem desviar o olhar, e apesar de Marco ter várias opções em sua mente, ele nem tentou responder – Você sequer tiraria a corrente em seu pé, por que eu não tenho a chave dela. Então você perderia seu único aliado. Se você fizer barulho levaria no máximo vinte segundos para os guardas no corredor acionarem os superiores e virem verificar. Se não fizer os Den Den Mushi passariam sua imagem assim que você saísse. E você estaria cercado, e sozinho. O que você faria?

Marco apenas o olhou impressionado por alguns segundos.

- Você pensou muito nisso.

Ace soltou uma risada baixa e triste, encostando na parede novamente.

- Você não é o único prisioneiro aqui – sussurrou, quase para si mesmo – Supondo que alguém consiga subir – continuou acenando com as mãos, ainda falando para si mesmo – E estiver lá, do lado de fora, ainda não consegueria sair pelo mar sem antes abrir os portões da justiça. Não consegueria por ar por não ter ilhas por perto.  

 

Marco se lembrou das perguntas 

- Você pode voar por muito tempo? 

 

“As perguntas... Ace estava analisando formas de impedi-lo de fugir? Ele podia ter esperanças que fosse o contrário?”

 

 

- O que estou dizendo, é que eu confio em você. E mesmo se não confiasse, não faria diferença. – Encerrou.

- E sua vida? E se eu te matasse?

- Então você me mataria – deu de ombros.

Ele não se importava com sua vida, ele não temia a morte. O que aconteceu? Quando ele desistiu de lutar pela vida?

- Não descarte sua vida dessa maneira, yoi!

- Eu não estou descartando, porque você não vai me machucar – disse sorrindo, provocando.

- Pirralho idiota.

A risada de Ace era linda, seus olhos se fechavam quase totalmente enquanto ele jogava a cabeça para trás.

Alimentado e temporariamente seguro, Marco relaxou um pouco. Incapaz de se conter ele iniciou a conversa novamente.

- Eles não podem ver você aqui? – sussurrou.

- Não, eles não veem essas celas, assim se de alguma forma seu pai interceptasse as imagens, sua posição ainda estaria em segredo.

Fazia sentido. 

- Descanse Marco, você parece exausto. Eu te acordo se vier alguém.

Ele tinha ficado tanta raiva pelo jovem confiar nele facilmente, mas talvez Ace fosse o sábio, enquanto ele era o estúpido aqui, porque mesmo com seu rosto ainda latejando dos golpes anteriores, mesmo mal conhecendo Ace, Marco percebeu que confiava nele. A verdade era que ele confiou no moreno desde o início, talvez por estar à beira da morte, talvez não, como Ace tinha dito, não importava. Os motivos não importavam algumas vezes.

Ele fechou os olhos e desativou seu haki.

Adormeceu, ouvindo as respirações lentas de Ace.

 

 

Ace quase se sentia mal por observar.

O homem forte e orgulhoso estava vulnerável, profundamente adormecido. Seu corpo um pouco mais magro do que quando chegou, seu rosto, braços e tórax cobertos por cortes hematomas novos e antigos.

Mas nada disso escondia sua beleza. Diferente de Ace ele não parecia ter nenhuma cicatriz visível de antes dos abusos recentes. Ace se perguntava se ele se curaria totalmente, quando essas algemas saíssem, ou ainda se restariam marcas. Seus olhos eram lindos, azuis e profundos, ele tinha um corpo forte e esbelto. Tinha também aquela voz baixa, rouca e profunda.

Marco tinha uma família, muitos irmãos desesperados, buscando por ele lá fora. Uma família pela qual ele se sacrificou para proteger. Ace entendia o sentimento, se identificava.

Deuce havia perguntado, e ele não pôde responder.

Marco era diferente porque o sacrifício deles eram semelhantes. Ace não era uma boa pessoa, ou uma pessoa altruísta, ele tentaria salvar Marco por puro egoísmo. Ace não merecia ser salvo depois de tudo que fez nesta prisão, mas ele podia tentar salvar essa família.

Muitas escolhas foram tiradas dele, mas essa sua escolha. 

 

...


Notas Finais


Alguém sente Marco passando a ver Ace como um homem, e não uma criança?

Obrigada por ler!

Deixe um comentário se quiser, me diga o que você achou.


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