História As Crônicas da Legião - A Lenda do deus roxo (Parte 6)

-Bill, você está me escutando?

-Em alto e bom som.

-Certo. Por favor, muito cuidado com isso. Você pode terminar de colapsar esse universo, e se isso acontecer, vamos perder mais uma oportunidade de testar a hipótese de Alex.

-Heiwyer, você está se ouvindo? Por favor né…

-Bill, não seja convencido. - uma terceira voz se uniu à conversa.

-Deixa disso, Laurel. Não é convencimento. É confiança.

Bill desligou as comunicações. Provavelmente o momento havia chegado.

-Ele vai fazer besteira. - Heiwyer reclamou.

-Deixa o garoto, Hei. - Laurel o repreendeu - Ele sabe o que faz.

-Nós também sabíamos nos outros universos.

Bill avançou silencioso por um prédio abandonado. Aquilo ia ser divertido. Ele seguia uma garota loira de sobretudo e chapéu. Ela não parecia querer ser reconhecida, mas é claro que não dá pra enganar um Guardião do Tempo.

A garota entrou no prédio abandonado e foi subindo as escadas. Bill foi logo atrás. Ele tirou o casaco e ficou apenas com sua regata branca. Subiu as escadas logo atrás da garota, tentando não ser notado. Até que ela parou de subir. Bill se esgueirou pelas paredes, numa tentativa de conseguir analisar a cena sem ser visto. A garota loira tirou o chapéu e olhou para os lados, verificando se estava sozinha. E então entrou em uma enorme sala. Assim que ela saiu da vista, Bill saiu de trás da parede onde estava e entrou também. Estava preparado caso houvessem problemas.

-Laurel, ambos sabemos que ele vai fazer besteira. Bill é muito convencido.

-Hei, já conversamos sobre isso quando recrutamos ele.

-Eu sei que sim, mas naquela época a promessa era de ele mudar, de ele evoluir e melhorar isso.

-E eu ainda acredito nessa hipótese.

-Pare de ser iludida.

-Então pare de ser cético. Eu confio nele, e ele vai conseguir.

Heiwyer se preparou para contrariar a companheira novamente, mas Laurel foi mais rápida e mudou de assunto.

-Loren, como estamos por aí?

-Muito bem, sis. - ela respondeu, num tom confiante e seguro.

-Já está com ela?

-Ainda não. Mas tenho visão, e ela está sozinha.

-Então por que não avançou ainda? - Heiwyer estranhou a situação.

-Estou esperando o momento certo.

Laurel e Heiwyer se entreolharam. Não era só Bill que estava sendo ousado e sem juízo.

-Lo, já conversamos sobre isso. Se pode fazer algo de modo seguro, faça.

-Confia em mim, Lala. Eu já vi o que vai acontecer.

-Loren, você sabe que não pode mexer com o Tempo assim. - Heiwyer a repreendeu, num tom sério e preocupado.

-Relaxa, Wyzinho. - do outro lado da linha, Heiwyer soltou um grunhido estressado. Odiava quando Loren o chamava daquilo - Já fiz isso várias vezes antes e nunca deu errado.

-Só mais um motivo pra não continuar fazendo… - Heiwyer resmungou baixinho.

-Loren, por favor, cuidado. - Laurel também parecia preocupada.

-Confia em mim, sis. Tô com tudo sob controle.

Loren então desligou. Laurel deu um longo suspiro. Amava a irmã, de coração. Mas ela tinha algumas características realmente preocupantes…

-Às vezes eu acho que Loren seria uma Guardiã melhor se não tivesse tantos poderes… - Heiwyer refletiu.

-De fato. - Laurel concordou - O que era pra ser um dom acaba se transformando em um obstáculo. Sabe quem poderia trabalhar isso com ela? Você.

-Por que eu? - Heiwyer fez um tom de indignação que Laurel não conseguiu identificar se era falso ou genuíno - Já não faço tarefas o suficiente por aqui?

-Não, é verdade! - Laurel bateu em cima dessa tecla - Você é um dos melhores Guardiões, mesmo tendo tantos poderes. Seria um bom professor para ela nesse caso.

Heiwyer ficou quieto. Tinha entendido o ponto de Laurel, e, de certo modo, concordava com ele. Mas então ele fugiu do assunto.

-E o Alex? Alguma notícia dele?

-Por enquanto, não. Ainda está em fase de orientações com o Tempo.

-Isso é bom. Alex tem muito potencial, quanto mais aprender sobre a nossa função e sobre com o que estamos mexendo, melhor ele pode se adequar para nos ajudar.

-Este - ele pegou uma ampulheta que continha uma areia alaranjada - é o fluxo do tempo. Tudo o que fazemos, tudo o que poderíamos ter feito, todas as possibilidades… Bem na palma da sua mão.

Alex olhou para ele. Tempo, com seus cabelos laranjas e expressão brincalhona lhe oferecia a ampulheta. Com cuidado, Alex a pegou e a admirou.

-Você aprendeu muito aqui comigo, Alex. - ele disse, provocando um sorriso no aprendiz - Estou orgulhoso.

-Obrigado, Tempo. - ele agradeceu - Você é um ótimo professor.

Eles se cumprimentaram com um aceno de cabeça.

-Mas ainda há algumas pequenas coisas que eu não entendo… - Alex disse, curioso.

-Não tenha receio em perguntar.

-O Tempo externo. - ele começou - Não afeta nenhum dos tempos internos dos universos.

-Sim, está correto.

-Então qual é exatamente a função que você atribui a ele?

-Veja bem, Alex. O Tempo externo é meramente uma ferramenta para organizar os eventos do multiverso. A partir dele nós podemos analisar em qual universo determinado evento ocorreu primeiro, ordenando assim os fatos e possibilitando novas análises e previsões.

Alex parou por alguns segundos para pensar. Ele então colocou a ampulheta em uma prateleira, grudada em um pilar no meio da sala. Tempo logo ajeitou a ampulheta em seu devido lugar. Era muito rígido com a organização de seus pertences.

-Sinto falta dela. - Alex confessou.

-Eu sei que sente. E realmente não é algo fácil de ser superado. - Tempo disse, num tom triste - Mas o que você faz, seus novos objetivos… Tenho certeza que Erin estaria orgulhosa.

Alex deu um leve sorriso, ainda com um olhar triste.

-É, acho que sim. É só que… Ela sempre foi minha companheira, meu braço direito, meu ponto seguro…

-E isso ela sempre será. Aqui dentro. - Tempo colocou o indicador no peito de Alex - Mas há algo valioso para se aprender aqui, Alex. As perdas servem para nos motivar a sermos melhores. Quando se perde alguém, deve-se seguir em frente, honrar a pessoa amada e perdida.

-Exatamente.

-Mas nem sempre é o que acontece. Há escuridão dentro de todos. E essa escuridão é ativada quando perdemos a pessoa fisicamente e espiritualmente. Quando a dor da perda toma o lugar da motivação e vontade de honrar a pessoa, algo perigoso está para acontecer. Devemos sempre nos orgulhar de quem somos e nos alegrarmos com o que aconteceu.

-Erin diria algo parecido. - Alex deu um leve sorriso novamente. Ele colocou a mão no ombro de Tempo - Você está certo. E é assim que seguirei.

Bill avançou com tudo na garota de sobretudo. Ele a derrubou e a apagou sem nenhum esforço. Pronto. Seu trabalho estava feito. Ele então a amarrou e se pôs a descer do prédio, com a garota sobre seus ombros. Parecia orgulhoso com outro ótimo trabalho realizado.

Loren cronometrava suas ações. Ela contou até cinco, e quando a contagem terminou, ela correu para o outro lado da rua. Imediatamente uma estudante loira que entrava em uma pizzaria desmaiou. A estudante então caiu no chão dentro de uma espécie de vórtice verde. Algumas pessoas olharam para a cena, mas apenas por um ou dois segundos, pois imediatamente passaram reto e voltaram a fazer o que quer que fossem fazer. Loren caminhou tranquilamente até o vórtice, e, como se ninguém pudesse vê-la, mandou um beijo irônico para a rua, entrando no vórtice logo depois.