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História As Estrelas Que Você Me Deixou - Abismo


Escrita por: guilhermelefay

Notas do Autor


Avisos:
Essa é uma história de como um abismo encontra outro. E juntos se consomem.
Essa não é uma história de amor e as relações expostas aqui não são saudáveis.
Se estiver passando por um momento sensível, talvez seja melhor deixar o livro para ler em outra hora.
Caso se veja em alguma das situação de abuso emocional ou físico descritas aqui, procure ajuda.


PARTE 1: ONDE TUDO TERMINA

Capítulo 2 - Abismo


Fanfic / Fanfiction As Estrelas Que Você Me Deixou - Abismo

O calor da tarde fazia a minha nuca suar enquanto o ônibus deslizava devagar pela interestadual. Com tantas paradas durante o trajeto e trechos esburacados na estrada ruim, a viajem para João Alfredo podia durar até três horas. O longo período de inércia em um banco de estofamento velho e ar condicionado ruim não me aborrecia. Passaria dez vezes mais, se pudesse, só para não ter que descer.

O meu ponto se aproxima e me preparo. Tiro os óculos escuros e guardo na caixa. Abro o fecho do colar, o deixo com os anéis no menor dos bolsos da mochila. Enfio o cabelo dentro de um boné surrado, me certificando de que a real extensão dos fios não é perceptível. Uma última olhada no reflexo do visor apagado do celular, confiro se não há mais nada na minha aparência que atraia "aquele olhar" dos meus pais, que no silêncio ofende tanto quanto as piores ofensas ditas em voz alta.

Com a passabilidade hétero arrumada, levanto e levo minha mala e mochila de costas até a porta do ônibus, andando a passos arrastados para não perder o equilíbrio devido ao peso e ao balanço do veículo. Paro, espero até chegar na parada. A porta abre e desço com pé direito, torcendo para que aquele ato simples me traga sorte e faça as duas semanas finais de dezembro, as quais passarei confinado na minha cidade natal, passem voando e não tragam muitos tormentos.

A poeira sobe, embaçando o ar quando o ônibus se distancia. A encruzilhada tem pouco movimento. Os últimos motoristas de condução aguardam passageiros que ocupem os assentos vazios, nos antigos toyotas, carro parecido com um pau de arara. Dois deles tentam me convencer a entrar nos carros, aos berros, assim que a nuvem de areia fina desce. Nego veemente com um aceno de cabeça e logo eles já estão gritando com outra pessoa.

Olho ao redor, o peso da mala de mão faz os meus dedos protestarem. O frentista do posto à direita luta contra o sono enquanto espera por clientes. Tons de rosa vivo e dourado se misturam no céu, colorindo as poucas nuvens enquanto o sol se afoga na cadeia de montanhas no horizonte.

Ele ainda não está ali.

Pego o celular e disco o número familiar que guardo na memória. O sinal é ruim e leva um tempo até que finalmente complete a ligação.

Ele atende depois do terceiro toque.

— Tô chegando, dirigindo — e desliga.

Os motoristas voltam e insistem. Nego impaciente e me afasto deles e do posto de gasolina, indo até um estacionamento deserto e arenoso, onde o vento do fim de tarde sopra novas nuvens de poeira, que refletem a luz dourada e morna do céu.

Espero. Queria estar em outro lugar, mas se me pergunto qual é, não me vem à mente lugar nenhum.

Meu pai chega e estaciona a poucos metros de mim. Antes que eu alcance o carro, ele desce, dá a volta e me abraça, da maneira mais rápida e amena que conheço. Depois, tira a mala das minhas mãos.

— Por que tão pouca coisa? — Pergunta, carregando a bagagem até o carro.

— Isso dá — respondo.

Sento no banco do passageiro, a mochila no colo. Meu pai deixa a mala no banco de trás. O vejo pelo espelho retrovisor quando se dirige ao volante, um homem de estatura mediana, com barriga proeminente e cabelos cinzentos, recém chegado aos sessenta, muitas vezes sujo de graxa quando deixava o trabalho para resolver alguma outra tarefa.

Ele dá a partida, volta à estrada e antes de seguir em frente, buzina em resposta aos acenos de um conhecido do outro lado da rua.

Moramos a menos de vinte minutos, em um bairro mais afastado do centro da cidade, próximo a zona rural. Meu pai me pergunta como vão as coisas, respondo com "normais" e o trajeto segue em silêncio. Com a janela aberta, o vento atinge meu rosto com força, trazendo cheiro de grama pisada, fumaça e poeira. Afundo no banco, quando um suspiro frustrado me escapa e agradeço ao barulho intenso da corrente de ar, que não deixa o meu pai perceber.

As casas na entrada da cidade são espaçadas umas das outras, construções recentes das últimas duas décadas, resultados de vendas de lotes de terra mais barata, onde antigamente se criava gado. Depois que os donos morreram, os herdeiros, que há muito não colocavam o pé em Pernambuco, arrendaram o terreno para moradias a preços menores, já que longe de tudo, a região não era valorizada.

Com quintais largos e extensos jardins de samambaias e roseiras, conheço várias das residências que cruzamos no trajeto, famílias de antigos amigos dos tempos de escola, que nunca deixaram a cidade. Cinco anos depois do ensino médio e o contato com eles, quase todos, havia se perdido por completo. Sequer tenho ideia do que andam fazendo da vida, mas considerando as opções que esse lugar oferece, imagino não ser nada extraordinário. Não que eu estivesse fazendo.

Apesar do tempo, lembro bem de tardes como essas, de pessoas que faziam inúmeros planos durante o entardecer, sem conhecer os meios com os quais a vida trabalha, sem saber que a realidade é muito mais tortuosa que os sonhos. Porém, não eram de grande importância, eram planos que só ardiam na memória até a semana seguinte, quando novas fantasias trazidas pela idade da inconstância vinham para substituí-los.

É fácil encontrar nas lembranças, enquanto passo por essa estrada, diálogos entremeados de lágrimas, ecoando do passado, arrastados pela corrente forte de vento que entra pela fresta do vidro do carro. Posso repeti-los na cabeça agora, palavras que descreviam problemas na época tão grandiosos e insolúveis, que no presente parecem bobos ao ponto de serem vergonhosos.

— E o gato? — Meu pai pergunta.

A paisagem muda quando nos aproximamos do núcleo urbano. Um lago raso de água escura, palmeiras ladeando a via, uma alta encosta de pedra e barro vermelho, nua em diversos pontos. Uma igreja simplória, mais ao fundo da paisagem, ligada a estrada de asfalto por um caminho estreito de terra batida. São as marcas da entrada de João Alfredo. Não há nenhuma placa ou arco dando as boas vindas, apenas uma série de outdoors, que expõem os feitos recentes da prefeitura. Em um lugar onde na política populista, herdeira do coronelismo, se faz carreira, a autopropaganda se mostra a cada esquina. Surge uma fábrica têxtil, seguida de uma academia pública. A oficina de carros separa um conjunto de casas da área de uma escola primária.

— A vizinha de cima vai tomar conta. Ele quase não para em lá, mesmo. Só precisa colocar comida vez ou outra.

Lumos é o gato velho que me obrigou a adota-lo. Há cerca de dois anos, quando a janela da área de serviço quebrou, ele vinha todas as noites dormir em uma das cadeiras da cozinha. No dia seguinte, agia como se fosse dono da casa, pedia comida e depois desaparecia, para voltar a noite outra vez. Aos poucos, foi ficando. Quando a janela foi consertada, eu mesmo a abria para que ele entrasse. Seus hábitos continuam os mesmos desde então.

Há um movimento de trânsito tranquilo ao nosso entorno, outros carros e motos seguindo devagar, junto com um fluxo de pedestres. Assim como Recife, a maioria das pessoas está voltando para casa no fim do expediente, mas aqui não se compara ao alvoroço da capital.

As construções se resumem a casas apertadas, lanchonetes, bares e lojas, dos mais variados tipos. Se caso você não fizesse parte dos sortudos abastados, era nessas lojas que trabalharia quando terminasse o ensino médio, vendendo roupa, eletrônicos, mobília e artigos domésticos, pelos seis ou sete anos seguintes, até ter filhos e perder o emprego, ter que procurar em desespero por um novo, aceitar receber o mesmo ou até menos que o anterior e assim passar boa parte da vida, talvez toda, se não conseguisse montar o próprio negócio. É o que acontece com a maioria.

Mas, em caso de você ser parte da seleta elite joãoalfredense, que se autoproclamavam trabalhadores empenhados e pessoas de bem, poderia tirar um ano ou dois para se descobrir. Fazer viagens e encher a cara, dirigir o carro que ganhou dos pais depois da formatura, com os amigos, sem nenhuma responsabilidade ou propósito, até se matricular em alguma faculdade particular cara, por insistência dos pais e pelo incansável desejo de maior status social. Entretanto, seguindo o padrão, largaria o curso, voltaria para casa e tomaria conta da rede de lojas da família, onde passaria a fingir trabalhar e gastar algumas horas do dia dando ordens àqueles que suavam a camisa atrás de um balcão por um salário ínfimo, cujo trabalho bancava a riqueza da tal elite.

Ainda haviam os dois extremos das categorias, aqueles que não se encaixavam no comércio de nenhuma forma, ou nos cargos mal pagos da prefeitura. Os primeiros eram os filhos de políticos, as duas famílias rivais que competiam em todas as eleições, nunca se preocupavam com emprego. Nasciam com dinheiro para a vida toda. O segundo era formado por aqueles que sequer terminavam a escola, largavam os estudos para atuar como domésticas e cozinheiras, podendo assim alimentar a família. Ou trabalhavam em uma das diversas fábricas de móveis, em um emprego precário e informal que lhes consumiria a saúde, mas orgulharia a cidade ao poder usar o slogan de "maior polo moveleiro de Pernambuco".

Essas são as opções que João Alfredo oferece.

Meu pai estaciona em frente à casa, obstruindo a calçada. Um hábito comum. Já é noite. As luzes brancas dos postes iluminam e refletem no calçamento de pedra. Moramos em meio a meia dúzia de bares, espalhados de ponta a ponta na rua. A música alta que escapa deles é o barulho noturno, substituto do trânsito que ocupa o dia.

Pego a mala no banco de trás. A voz do meu pai já ecoa nas escadas. A casa é mediana. Um galpão espaçoso de dois andares, comprado pelo meu pai meses antes do casamento. O lugar precisou de diversas reformas para parecer uma casa, adicionando paredes divisórias, novo sistema de energia e encanamento. Mais de vinte e um anos depois, continuava recebendo retoques.

Emerjo na sala, passo pelo meu pai no sofá, ligando a TV. Encontro minha mãe na parte da cozinha, a torneira aberta e o barulho de óleo estalando no fogão. Ela é uma mulher esbelta e vaidosa, recém chegada aos quarenta anos. Sou uma cabeça mais alto que ela, mas temos as feições extremamente parecidas.

— Que demora! — Exclama ela quando me nota e se aproxima para um abraço. Sinto o toque úmido nas costas.

— Tá com fome? Já tô terminando o jantar. Ah! Perdeu peso de novo... — aponta minha mãe, com o tom de desaprovamento.

— Gustavo não tá? — mudo de assunto, perguntando sobre o meu irmão.

— Casa da namorada, de novo — ela responde, sorrindo.

Aquilo era novidade, mas não me delongo.

— Fiquei cansado da viagem, vou deitar um pouco. Quando for hora de comer, você me chama.

Assim, me dirijo para o quarto, ainda ouvindo o eco dos sons da cozinha. A lâmpada pisca seguidas vezes antes de acender. À primeira vista, meu quarto está exatamente como o deixei, meses atrás. Pelo ar abafado, também não parece ter sido aberto nos últimos tempos.

Deixo a mala jogada atrás da porta e abro a janela, permitindo que o ar noturno com cheiro doce renove os ares. Sento no parapeito, de costas para a rua de bares e os quintais das casas que descem a ladeira até encontrar com o pé da serra, que se ergue ao fundo.

Meses haviam se passado, mas o tempo me parece um borrão indistinto. Na última vez que visitei minha família, ou melhor, que fui arrastado até aqui, faziam apenas alguns dias, dois ou três, pelo que me lembro, desde que eu encontrara Álvaro. Minha mãe temia que, de alguma forma, eu o seguisse.

Então, aquilo volta.

Meus dedos se fecham e apertam o parapeito, até que as pontas machuquem. A sensação de queda reaparece com um simples pensamento. Me afasto da janela e respiro fundo, buscando controle. Deixo os pés firmes no chão, seguro a beirada da escrivaninha com força e faço a contagem regressiva, respirando devagar, em intervalos, como Doutora Verônica me ensinou. O frio que se espalha pelo meu peito contamina o estômago, como uma descarga de adrenalina, um terror sombrio que tenta me arrancar de dentro de mim.

Recomeço a contagem, respirando mais fundo, mas mesmo com os pulmões doendo de tão cheios, a falta de ar me sufoca. Contar mais uma vez. Me esforço para não fazer o menor barulho e atrair a atenção da minha família. Minha mandíbula treme, descontrolada, os dentes se chocam convulsivamente. De novo, recomeço a contar e quando termino, mais uma vez.

Quando passa, sinto uma fina camada de suor se acumular nas costas e na testa. Devem ter passado cinco, dez minutos, mas o cansaço que domina meu corpo é o mesmo de ter corrido por horas.

Sento na beirada da cama. Só então percebo as diferenças no quarto. O abajur não está mais ali. Abro a gaveta da mesa de cabeceira, as fotos desapareceram. No guarda roupa, as duas camisas também sumiram. Minha mãe tirou as coisas de Álvaro do quarto.

Preciso lembrar de pedi-las de volta, antes de voltar a Recife. Por enquanto, me contento em deitar na cama, do jeito que estou, e como uma pedra, afundar na escuridão do sono.

O lençol fino tem um toque suave contra o meu corpo nu. O tecido se move com o vento do ventilador, mas este não traz alívio, já que a atmosfera é morna e abafada.

Afasto as cobertas, os olhos semiabertos no escuro completo. Em resposta a minha inquietação, um braço pesado recai sobre o meu peito e me puxa para um abraço.

— Abre a janela, tá quente demais.

Meu pedido é atendido, junto com o ar fresco e úmido da noite, o corpo sonolento de Álvaro retorna a cama com um baque surdo e um grunhido, feito do ar fugindo dos seus pulmões.

Sinto o beijo da noite tocar a camada singela de suor sobre a pele, como toca o orvalho das folhas lá fora. Ele me embala de volta a inconsciência, mas antes que ela me tome por inteiro, o braço volta a me arrastar.

— Perdi o sono — diz Álvaro, em um sussurro arrastado. Ele me abraça pelas costas, passa uma perna por cima de mim, enquanto me beija o pescoço.

— Você tá todo suado — reclamo, tentando me afastar. Seu aperto só aumenta e ele pressiona cada parte do seu corpo no meu.

— Toma um banho comigo — pede. E grogue, demoro a responder.

Com o silêncio, Álvaro começa a se afastar. Dessa vez, sou eu que o seguro. Não posso deixá-lo ir.

Ele volta a mim, agora coloca a cabeça sobre o meu peito, a respiração me percorre a barriga, até abaixo do umbigo. Ele emana calor, ao ponto de ser incômodo, mas não o afasto, sinto um desespero crescente, a certeza de que preciso mantê-lo perto.

— Sinto sua falta, o tempo todo — digo, a voz saindo rouca. Engulo em seco. — É tão forte que às vezes nem consigo me mexer.

Ele beija o meu tronco, os lábios percorrem a pele, as mãos acariciam perna, quadril, costela, quadril outra vez.

— Mas eu tô bem aqui — responde. E no escuro, sinto que me observa. — Não tem porquê.

Suspiro. Mesmo que ele seja lógico, suas palavras me soam erradas.

— Não queria que fosse embora, teria feito qualquer coisa, qualquer, pra ter chegado em casa mais cedo e te parado.

As palavras saem. E embora sejam o que quero falar, não estou ciente do que dizem ou do motivo para usá-las.

— Tô bem aqui — Álvaro repete. — E vou estar sempre. Nada vai separar nós três. Eu, você e Lumos.

Com um beijo, ele sela sua promessa. Ela é doce, fácil de se agarrar e acreditar, fazer dela uma absoluta verdade de conforto.

A atmosfera é outra. Me pergunto como não senti a mudança, mas essa e outras lacunas são logo esquecidas devido a plenitude do momento. O ar é agradável como a brisa no verão. Não tem nenhum cheiro. Também não ouço sequer um som do que acontece ao redor.

Percebo que estou de olhos fechados e ao abri-los, a escuridão se esvai. No meu campo de visão só há Álvaro e lençóis, que se estendem para o longe. Iluminadas por uma luz do sol nascente, um azul fosco que aos poucos esmaece, as feições dele se mostram desafiadoras e contemplativas, uma maneira intensa e familiar que faz um sorriso largo rasgar o meu rosto.

Seus lábios voltam a encontrar os meus e logo o beijo se torna intenso e faminto. Respondo no mesmo ritmo. Permito que Álvaro se coloque sobre mim e o peso me pressione, me roubando o ar.

— A gente fez agorinha — digo, mas não quero que ele pare. Todo o meu íntimo já anseia.

— Mas eu quero de novo — diz ele, no tom determinado, o mesmo usado sempre ao falar de suas vontades. — E de novo e de novo e de novo...

Minhas pernas se afastam e se entrelaçam ao redor de Álvaro, à medida que ele se aperta contra mim, com extrema urgência, como se pudesse fazer de nós dois um só usando a força.

Meu íntimo responde ao toque dos contornos tão conhecidos dos seus membros, responde a textura da pele, ao calor que verte e contamina tudo.

Aos poucos, Álvaro ganha destaque e o ambiente se apaga. Não sinto mais a cama ou a infinidade de lençóis, não vejo mais a luz do alvorecer. O ar que entra pela janela, assim como o quarto em si, deixa de existir. A sensação é de flutuar no espaço, um espaço preenchido por Álvaro, em todos os sentidos que se possa imaginar. Ele é tudo o que vejo, tudo o que sinto.

A realidade surge lenta e silenciosa, imitando as doenças que nascem nas profundezas do ser e só se mostram junto ao anúncio da morte.

— Olha pra mim, quero lembrar do seu rosto quando acabar — peço, sentindo a fantasia esfarelando.

Álvaro ergue a cabeça, fixa os olhos nos meus. Os lábios entreabertos, a respiração ofegante, o brilho de suor na testa, uma mecha de cabelo castanho caindo sobre o verde dos olhos.

É o mais perto de perfeito que conheço, mas a angústia me impede de observá-lo com alegria. Minha mente desperta, acordo sozinho na semiescuridão de João Alfredo.

Engulo o ar, devido a violência com a qual a verdade me atinge, o rosto de Álvaro continua estampado no fundo dos meus olhos, como se eu tivesse olhado por tempo demais para uma luz forte e um ponto houvesse queimado na visão.

Sento, ofegante. O cheiro vívido dele é o pior fantasma que poderia vir me assombrar, tão real quanto o eco suave de vozes na cozinha.

Tento empurrar para longe o turbilhão de pânico e agonia que sempre me atinge depois de sonhos como esse. Sem sucesso, mordo a língua com violência, me obrigando a não chorar.

Meu corpo reage de forma estranha, confusa. Ao mesmo tempo que o peito aperta, o erotismo do sonho toca em uma chama do meu íntimo há muito adormecida por remédios e tristeza. Lágrimas escorrem, afundo o rosto no travesseiro, desejando sufocar até perder a consciência.

— Caio! Caio, vem comer!

Minha mãe bate freneticamente, mas não força a porta para abrir, algo que já foi motivo de inúmeras brigas.

— Caio, levanta! — Ela continua quando não lhe dou uma resposta.

— Tô indo! — grito de volta, ato que me exige enorme concentração. Passos se afastam da porta e volto a ficar sozinho, com o cheiro de Álvaro na memória e o calor do seu toque percorrendo a pele.


Notas Finais


Muito obrigado por ler até aqui! Essa história tem me dado um trabalhão (tô escrevendo desde 2019, acredita?) e a meta é concluir ainda nesse semestre. Gostaria muito de saber a opinião de vocês e por isso resolvi ir postando os capítulos por aqui. Portanto, não deixem de comentar, por favooor! Trago atualizações muito em breve. Mais uma vez, obrigado por ler <3


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