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História As Leis do Sol - Obstáculos


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


Alooo, boa noite pessoas! Aqui um pouco de fantasia pra vcs hihihi, espero que torne a sua noite mais mágica!

Capítulo 13 - Obstáculos


Os três correm rocha a baixo, não parecem se importar muito com a altura da queda logo a direita deles. Apenas sacam suas espadas, ou melhor, uma khopesh e dois facões kukri que recebem o encanto do guepardo que estende a mão para os outros dois e faz uma energia azulada se projetar para eles como um vento protetor, que lhes cobrem por cima da armadura que usam.

Logo depois, sem pensar muito mais, eles pulam daqui de cima. É uma queda de quatro metros para a areia onde o verme se contorce e chia.

Parece que acertaram ele em cheio, pois a sua traseira não parece sair do lugar, em oposto ao resto do longo corpo castanho e rígido. Cristas articuladas como dedos longos, ossudos e monstruosos saem das suas costas e acompanham todo o seu corpo até a cabeça que tem dois pares de olhos pequenos e avermelhados, dois acima e dois abaixo, como se tivesse evoluído para enxergar não importa como esteja enterrado na areia, é uma visão de trezentos e sessenta, eu acho.

Mas, o que preocupa os soldados todos não é isso, é a sua bocarra grande e gastada como se alguém tivesse forçado elas a se abrir demais, pois não só são alongadas de forma monstruosa, como se dividem em quatro partes distintas, cheias de dentes pretos e curvos como azóis podres.

— Ele foi preso! Flechas! – Tsaida comanda de uma boa distância e deixa os dois Nanci que acabaram de cair na sua frente lhe fornece proteção.

Juntos, os dois estendem o braço esquerdo pra frente, e, ao mesmo tempo, fazem aquele brilho azulado que foi lançado sobre eles percorrer seus corpos e irem para o mesmo braço. Como o escudo de um certo deus da guerra, surge no antebraço deles com a cor azul claro, um tom etéreo que mal parece ser seguro, não até o verme chicotear o seu corpo e lançar um golpe pesado sobre eles, mas, juntos, o mabeco e o chacal com coleira unem os ombros e forçam as pernas em sincronia.

O impacto passa para a areia que esvoaça, eles perdem um pouco o equilíbrio, mas isso é muito pouco perto do que poderiam ter recebido. O tremor do impacto da criatura nessa parede que me coloco sentado é forte o bastante pra me assustar, acho que se não fosse um escudo mágico, teria sido destruído.

— Mantenham a forma! Jaya!

Trazendo a atenção da gueparda, ela instantaneamente leva a mão para o seu líder, mais pra suas pernas, na verdade.

— Aer current!

Dos seus braços, uma energia verde-claro e brilhante surge entorno do seu pêlo amarelado, isso corre para o Tsaida que recebe sobre o seu corpo em similar, do quadril as patas, o seu pêlo ganha um leve tom esverdeado e logo em seguida, ele se move tão rápido quanto as flechas que voam por cima deles e caem na criatura que chia outra vez.

A sua Khopesh cintila com um pouco da luz do Sol que vem pelas suas costas até a fenda, a prata reflete o dourado e laranja junto ao amarelo da sua pelagem. Com os olhos sérios demais pra se distrair, ele corre pelo lado esquerdo dos seus soldados de escudo, cada vez que pisa na areia ela mal afunda, é como assistir um velocista, só que, não acho que algum atleta olímpico chegue nessa velocidade.

Pois ele passa ao lado do verme que se projeta da areia amarelada, um golpe crescente na lateral acompanha o movimento limpo que ele faz ao saltar e conseguir subir uns bons três metros e se apoiar nas pedras que caíram logo ali. O chiado da criatura ressoa por toda a fenda, é como ouvir um grito rouco e molhado ecoando por um tubo de carne, o sangue que verte da ferida aberta é esverdeado e cai na areia na textura de gelatina quente.

— Avancem! – segurando-se numa pedra com apenas a mão esquerda e as patas, Tsaida aponta para a criatura. – Ela vai tent-

Antes que pudesse completar, a criatura mexe o seu corpo com fúria, seu corpo enorme da circunferência de um tobogã, e talvez isso o torne mais assustador, quantos ele já deve ter engolido?

Tsaida perde um pouco do equilíbrio, mas não chega a cair, e seus dois guerreiros não tem mais o que fazer, obedecem a ordem sem pestanejar e correm em direção à criatura que vira sua bocarra para o Tsaida. Os dois soldados correm sob as chuvas de flecha, escudos acima, prontos como suas Kukri que golpeiam contra a pele da criatura quase em sincronia.

As flechas partem sobre o ventre do verme que não se distrai também, seu corpo faz um movimento ondulatório da base até a cabeça e nessa mesma iminência, Tsaida salta para o lado e deixa que a criatura cuspa uma rajada veloz de um fluido esverdeado como o seu sangue. Não é preciso ser algum gênio pra saber do que se trata, mas, o vapor que sai da pedra ao ser derretida conta o perigo que esse verme ainda representa.

O guepardo cai na areia e já começa a correr ao redor da criatura, não espera pra ver se o cuspe ácido vai acabar ou não, já segue na direção de onde veio, deixando os seus soldados fora do caminho no processo.

Eu adoraria ver o que acontece depois disso, sim, mas eu ouço algo me chamar junto com o vento. É um sussurro misturado que vem da esquerda?

Olho para o vale enorme e iluminado com toda essa luz, dá pra ver o horizonte todo e com algum esforço, o quão longe essa cordilheira vai.

Não é dali! Da direita!

Olho para as montanhas altas, os cumes escarpados e afiados como espinhos avermelhados de arenito se erguem tanto que acho poderem ser divisores de umidade, tipo os Andes. Só não acho de onde veio essa voz, esse sussurro que sequer sei o que disse.

— Celeste! – a voz de Jaya me chama a atenção.

Lá embaixo, o combate acabou com a criatura caída sobre a areia. Da sua boca e de vários cortes e flechas sobre o seu corpo, seu sangue verte como o vômito que sai do seu interior e corrói a pouca areia que consegue chegar.

— Desça daí! Vamos nos reagrupar!

Descer é sempre mais fácil que subir, mas não é pra mim mesmo, a pedra arranha o meu braço direito e algumas outras rasgam um pouco da minha calça. Dá pra chegar no chão sem problemas? Dá. Gostaria que fosse na elegância que eles têm? Também. Consegui? Nenhum pouco.

— Você está bem, Celeste?

O primeiro a perguntar é o Tsaida, que está no canto, sentado sobre uma pedra recebendo atendimento médico de Naji que enfaixa o seu braço esquerdo com ataduras brancas, mas, entre ela e seu pêlo, uma pasta esverdeada está posta.

— Eu... estou sim, e vocês? Estão bem também?

Olho para todos os seis soldados, em especial aos dois que fizeram aquela defesa incrível a pouco, mas, parece que só o Dat’al ali sofreu alguma coisa.

— Eles estão bem. – Tsaida corta a deixa deles. – Todos foram muito bem, inclusive você, Celeste, toda ajuda foi bem-vinda por lá.

Apontando para o alto das rochas com o focinho, ele até me deixa um pouco acanhado.

— Gostaria de ter ajudado um pouco mais.

— Não foi para isso que veio. Mas, Icid, busque o meu colar e meus calçados. – estalando os dedos para o tigre, ele o faz partir com pressa daqui.

— Ahm... Tsaida. – até chego mais perto dele. – Teria mais desse bicho?

A curiosidade pode ter suprimido o rosto severo que ele dava a mim por não o ter chamado pela titularia que lhe compele. Talvez o meu tipo de intimidade na conversa não seja o mesmo para os outros Nanci, que continuam nos olhando curiosos.

— Mais algum verme?

O olhar amarelo dele agora sombreado pelas rochas e o Sol entardecendo chegam até mim depois de observar a criatura caída ali.

— Não, esses Vermes da Areia são extremamente territorialistas, apenas se unem com uma fêmea nos períodos de acasalamento. – e um bufado feliz surge do seu focinho. – E dizem que eles se matam um pouco depois disso.

— Entendi... ahm... – eu quero falar daquele sussurro, mas, não parece a hora. – O que vão fazer com esse bicho?

— Não sei se o seu corpo pode servir de comida, Jaya, Naji, conhecem algum uso para essa criatura?

Os dois conjuradores que seguem até algumas mochilas no canto param o movimento e se colocam em postura de novo. Ao serem chamados, colocam as mãos para trás e pensam ao mesmo tempo no que dizer um ao lado do outro.

— Senhor, a criatura não tem nenhuma qualidade conhecida, a não ser o seu órgão ácido. – Jaya, mais uma vez dá uma aula de seu conhecimento.

Algo que transborda pelos seus olhos tão cansados quanto a respiração que tenta conter, é a alegria de saber.

— Não vale a pena extrair agora, temos que prosseguir com a missão. – batendo nos seus joelhos, o guepardo se levanta e olha para onde Icid foi.

A sua boca até se abre, mas é impedido pelo afobado tigre que chega correndo, os olhos arregalados.

 

 • ────── ✾ ────── •

 

— Sim senhor, eu procurei em todo lugar, encontrei as suas sandálias, o colar devia estar logo ao lado. E-eu procurei por todo o lugar, mas...

Apontando de onde viemos às pressas. As marcas de suas pegadas rodeiam a pedra que Tsaida deixou o seu colar de Dat’al Katish são as de quem duvidou de si mesmo mais de duas dezenas de vezes, tenho certeza.

— Meu senhor, peço perdão por não as ter vigiado. – Icid baixa a sua cabeça e se coloca de joelho na areia assim que Tsaida para de andar.

— Meu senhor, imploro sua misericórdia. – o chacal Basê também faz o mesmo.

Ambos ficaram mais para cá durante o combate, além de fazerem a retaguarda e de darem uso aos arcos.

— Procurem pegadas, rastros, cheiros, o que seja. – o seu olhar furioso passa por todos nós, mas para pouco depois de chegar a mim. – Subam nessas rochas e observem as redondezas, faremos grupos de buscas para esse ladrão. Meu colar não tem pernas, muito menos asas, mas quem o roubou vai perder as suas.

— Sim senhor!

Dessa vez eu também me mexo, não respondo com esse “hin katish” que falam juntos, só quero voltar lá pra cima, quem sabe.

— Celeste, onde vai?

— Esse colar é importante pra você, então...

— Meu colar de Dat’al Katish. – ele então olha as costas de todos os soldados que se apressam para a busca, dois sobem as rochas e os outros se espalham pela área rumo onde soterramos as carruagens. – Parece que os deuses não querem que cheguemos nessa ruina.

— Um Verme da Areia não pareceu parar você, um ladrão... – me viro de costas pra ele e me sento numa pedra próxima. – Vocês têm barcos da areia?

— Barcos?

— Sim, cascos de madeira com uma vela, o vento a levaria por aí, existe?

— Sim, existem. – Tsaida até coloca as mãos nos quadris, deixando a cauda dançar atrás dele com a curiosidade de um gato.

— Se houver algum rastro de areia, poderão saber disso, se não...

— Ainda está aqui. – acenando um “boa ideia” pra mim, o guepardo calça suas sandálias com pressa e segue para os seus soldados.

— Naji, leve Agrun e Basê para as redondezas e vasculhe atrás de pegadas e qualquer rastro, se o localizarem, Naji manda um sinal para o céu se achar.

Apontando ao destacamento que formou com a voz, o guepardo assume a liderança e volta a olhar até mim duas vezes antes de estalar os dedos em um par.

— Celeste! Vem comigo! – e o seu pedido me tira do assento. – Vamos até as carruagens, Jaya, levanta a deles e entrega pra que usem.

Antes que chegasse perto, a gueparda assente e se curva levemente, não fala nada, ninguém fala. A pressa é muito mais alta nessa urgência, tanta que o destacamento de três até se assusta com a magia que ela conjura, com a areia e a terra emergindo do chão e a voz que ela emposta pra que a magia tenha seu efeito e levante o veículo enorme do subsolo.

— Celeste, vamos seguir por cima das rochas, consegue me ajudar nisso?

— Ah, claro que sim, vamos nessa.

— Ótimo. Jaya! – ele chama a moça que ainda se concentrava em levitar a carruagem do chão. – Você, Icid e Tisma virão comigo vasculhar as fendas, eu e o Celeste vamos por cima, vocês passam por baixo.

— Ahm, sim senhor! – com um pouco de dificuldade, ela até acena com a cabeça e deixa o veículo de canto pra que o seu parceiro conjurador suba no acento da frente e bata a mão no couro pra tirar a areia de cima.

É irado como ele estende as mãos para os lados e runas surgem por ali, como um painel de nave espacial, dá os comandos primários pra fazer a carruagem ligar e começar a se mover logo quando os outros dois soldados sobem pela madeira e se colocam a cada lado, apoiando as patas nos batentes das portas se manterem preparados pra descer quando for preciso.

Tisma estava alto nas rochas para descer agora, mas, Icid assente pra ele com o respeito que um Nanci no meio de uma escalada pode dar.

— Pensando melhor, vão por cima, eu e o Celeste seguimos por baixo. – a fim de poupar tempo, eu acho.

— Sim senhor. – um tanto mais felizes por não precisarem descer tudo de novo, os dois Nancis que se levantam no topo das rochas e assentem ao seu líder.

— Vamos? – com a sua khopesh pronta na cintura, o guepardo puto me chama pra seguir.

— Vamos.

Da sua cintura oposta, ele pega um pano pequeno e branco pra limpar os olhos e a boca, é notório que eles não suam, mas, me pergunto se eu não devia também.

O guepardo segue calado por entre as fendas que eram território daquele Verme da Areia. Seu corpo ágil se move pelos cantos mais estreitos e sombrios daqui como uma cobra, muito diferente de mim, que tenho de espremer e tomar cuidado pra não me arranhar contra a pedra áspera daqui.

A pouca luz que vem de cima acompanha um pouco de areia que cai junto com o vento, mas aqui é bem mais quentinho do que lá fora, dá pra sentir o calor subindo pelos meus pés, até a minha pele se conforta nessa caça pelo gato.

É como andar numa biblioteca de estantes altíssimas, mas todos os livros são ásperos e um pouco pontiagudos demais pra passar o tempo. Não que o curador seja paciente pra isso já que ele olha todos os buracos e fendas com atenção, e sua khopesh fica pronta pra qualquer ataque surpresa, pra qualquer coisa do tipo.

Acima, saltando pelas fendas posso ver os dois solados que Tsaida chamou. Isso até me faz sentir como um cara de elite, fatiou, passou! Fatiou, tomou cuidado pra não tropeçar em nada, nem arranhar mais o braço na pedra, passou!

Enquanto o guepardo a minha frente vistoria tudo com as orelhas atentas, sempre para as virando para trás, pra me procurar assim e saber se estou perto o bastante pra continuar. É engraçadinho ver elas se movendo assim, até daria pra dar um peteleco se não fosse ele, nem essa ocasião, algum dia... eu espero.

— Eu sei do valor do seu colar, Tsaida. Mas, não daria pra prosseguir sem?

— Você prosseguiria... – e ele se espreme pra passar por um lugar ainda mais estreito. – sem o seu vidro negro?

— Justo. Mas... eu estou curioso. – me abaixo pra passar também, só que uso o tamanho das coisas e não o simples fato de ser um felino. – Além de ser feito de ouro, porque alguém roubaria o seu colar? Não seria burrice? Não teria como vender dentro do reinado.

— Ladrões adoram o ouro, vão derreter o colar e tirar as joias com a seda, venderão como achados, os canalhas.

— Então, o reino tem algum controle em todas as fronteiras?

Por um instante, o guepardo para e se vira pra mim logo depois, seus olhos pareciam mais que irritados, demais pra responder com franqueza. Por isso ele dá alguns segundos pra respirar fundo e pesado enquanto observa o alto, onde as fendas já não deixam tanta luz passar pra cá.

— Vamos nos focar em procurar primeiro, se não acharmos, verificamos a ruina a noite e voltamos ao acampamento.

— Tá bem.

Isso é quase um “foi mal por insistir”, mas, sei lá, ficar seguindo ele nesse lugar apertado tá me dando um enjoo de lugar fechado demais. Talvez o que mais me distrai é a esperança de realmente encontrar alguém, ou algo.

Nem que seja um traço, só pra ele parar de ficar encarando qualquer buraquinho como se houvesse um tesouro logo depois.

 

 • ────── ✾ ────── •

 

E eu o sigo de perto por quase meia hora, é bem fácil de definir pela luz do Sol faltando e pelo relógio do celular dando uma ajudinha. Mas tem areia na minha sandália, no meu cabelo, nos meus bolsos, nos meus olhos, é um inferno conseguir enxergar direito nessa escuridão crescente, e nem as Siemaras estão conseguindo iluminar isso aqui, não devem ter o mínimo ângulo pra...

— Ah!

Tsaida grita perdendo o ar e o chão, o seu vulto amarelado é tudo que desaparece na minha frente. A minha barriga fica gelada, tateio a tela do celular e aciono a lanterna pra ver que não tinha caminho, só pedra pra todo lado e pr-

O chão sob os meus pés cede, não sei se já senti isso antes, mas é bem parecido com errar o passo descendo uma escada, só que bem mais longo a vertigem de ser dragado por essa escuridão tão profunda que sinto as rochas me levarem. Elas são lisas, por isso não sinto estar navegando em navalhas ou lixa, mas o fim disso é um monte de areia macia.

Não nego que prefiro proteger o meu celular do que eu mesmo, só me encolho pra proteger a cabeça e a barriga, só que, o impacto na areia é igual o esperado, dói pra porra.

— Hnf...

Mordo os dentes sentindo cada grão fazendo marca no meu braço e por toda lateral direita do meu quadril, arde mas fico de pé, quer dizer, me arrasto por essa pilha até sentir um toque no braço que me faz levantar bem mais rápido.

Primeiro vem os olhos brilhando na escuridão, depois a sua mão um pouco áspera contra a minha pele me puxando pra um canto que sequer sei pra onde fica.

— E-eita por-

— Sh... – ele soa bem mais baixo que eu. – Pode haver algo aqui.

— Tá, isso é uma armadilha ou é de algum bicho novo?

— Nenhum Verme da Areia faria aquilo tão liso, se temos pele nas costas ainda, é por que alguém se preocupou com isso.

— Tá... buraco perto da ruina abandonada, nem preciso dizer, né?

— Não, Celeste. Acho... que podemos voltar pelo túnel, consegue escalar de volta?

— Eu posso tentar, mas, não tenho garras.

Posso ver o brilho do seu olhar baixando para as mãos que não consigo distinguir nesse breu completo, e como ri pra si mesmo antes de tornar os brilhos amarelados pra mim.

— Desculpe ter te enfiado nisso. Confesso que o meu colar é...

— Não se desculpe por isso, vamos tentar escalar isso de volta. – aponto com o polegar sobre o ombro o escorregador de pedra que viemos. – Se não ser, vamos achar uma saída daqui juntos.

— Eu posso subir primeiro e conseguir uma corda, eu jogo pra cá pra você subir melhor.

— É uma boa ideia sim, mas, eu vou tentar subir contigo primeiro.

Até lhe dou um joinha amistoso, mesmo que eu não possa ver como é a sua reação. E eu mesmo o deixo me levar pra onde estávamos a pouco, dá pra sentir o monte de areia no chão e de onde entra um pouco de ar fresco de cima.

É muito difícil definir onde é o buraco realmente, são tons de cinza e preto escuros demais pra distinguir. Não pro guepardo, que dá um salto e ouço as suas garras arranhando a pedra, é naqueles momentos que você sente a presença das pessoas mesmo sem vê-las, eu sei que ele está subindo só por isso.

— Ah, desculpe. – a sua voz vem apressada.

Não é por que eu dei um tapa na sua cauda, é por ela ter batido no meu rosto que nem uma aranha bizarra.

— Tranquilo, como tá indo? – tranquilo o cacete, susto da porra.

— Consigo subir, tente vir comigo.

— Tá bem. E mantém essa cauda contigo.

— Vou tentar não cair encima de você primeiro.

Encaro esses olhos amarelos e brilhantes que me olham a alguns metros do chão. Gostaria de puxar sua pata só de sacanagem, mas, o que é sacanagem mesmo é como eu não consigo sequer tocar na pedra sem sentir deslizar. As minhas mãos estão um pouco suadas, mas resolvo com um pouco de areia e duas batidas das palmas uma na outra, não pra fazer barulho, mas como os alpinistas fazem.

Eu tenho uma, duas e mais oito vezes, mas só não consigo, volto a pisar sobre a areia enquanto o Nanci já está bem mais alto. E o pior de tudo são essas algemas que uso.

— É... eu te espero aqui. – balanço a corrente um pouco, só pra lembra-lo.

E nem se quisesse dava pra tentar mais, os meus braços doem.

— Me espera?

— Uhum. – até me escoro de costas ao começo da escalada, eu não sou do tipo atleta, a minha garganta seca prova isso, nem preciso dos meus braços e pernas não, é bem óbvio.

Suspiro fundo pra escuridão e espero muito começar a ouviu coisas, ver vultos nessa escuridão tão silenciosa. Talvez tenho algum joguinho no meu celular pra passar o tempo, mas eu não posso me dar ao luxo de criar luz ou me distrair aqui, não nessa...

O som de algo se arrastando me chama a atenção, primeiro olho pra cima e depois pra minha direita onde o Tsaida volta como um gato descendo a cortina de casa.

— Não conseguiu?

— Não.

— Ficou com saudades?

— Não, Celeste. Eu não vou te deixar sozinho aqui, seria irresponsável da minha parte.

— Ficou com saudade... – até deixo um sorriso largo escapar.

Mas viro o rosto pro lado, eu sei que ele ainda pode ver mesmo que eu não.


Notas Finais


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