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História As Leis do Sol - Problemas e Reuniões


Escrita por: Tulyan

Notas do Autor


É gente... tem coisa tensa vindo por ai... cuidado viu D:

Ou n... vai q 6 tão doidão XD

Capítulo 31 - Problemas e Reuniões


167

 

“Não posso pedir que você me mime como se fosse um filhote, eu não sou. Quando o sirvo eu sou culpado pelas minhas ações, se o desagradei, como disse, vou aceitar o que decidir fazer comigo.”

Abaixado ao seu lado eu me lembro o que ele disse agora a pouco, é verdade.

Quando aceitei que ele ficasse comigo eu aceitei as suas leis, posso protege-lo assim, só que também preciso entender melhor ainda essa dinâmica. Mas ele está sentado no tapete de novo, suas mãos para trás o impedem de cair por ali e não há muito a ser dito. Com a mesma dificuldade estende a sua preciosa pata pra mim, um gesto que há pouco lhe fez perder as estribeiras, mas agora é outro Nanci.

Sua pata pesadinha é posta na minha mão e o osso do tornozelo aponta na minha palma, ao contrário de antes, ele não toca os dedos no meu braço, dá pra ver como estica cada um para longe deixando visível o que há entre elas, não que ele tenha alguma diferença nos pêlos daqui, não como o Tsaida que é mais branco.

Faço como antes, rápido e ágil circundo seu tornozelo com metal e levo a chave para até a tranca e a giro antes de pousar sua pata no tapete macio que demarca o início da sua cama. Quase automaticamente ele aperta os dedos grossos e puxa a sua pata pra si, mas, uma vez mais a corrente o atrapalha.

Isso o incomoda muito, é mais que claro, só que depois dos eventos de hoje, ele não vai reclamar.

— Estão bem? – pergunto revezando os olhos aos dois.

— Sim senhor. – é quase ao mesmo tempo a resposta de ambos.

Cada assente do seu lado, bom, os tapetes de peles parecem ser o bastante pra eles apesar de eu sentir frio agora.

Por isso me viro até a minha Gaiola de Faraday com a sua porta ainda aberta, para fechar pra mim o Siqat está de prontidão com a chave azul em mãos, por mais que eu possa ficar com ela o tempo todo, Sha não me deu certeza se daria pra ela abrir e fechar por dentro.

Mas os dois Nanci andam um ao lado do outro para isso, eu prendo eles e eles me prendem aqui, justo, eu diria. Só que quando eu retorno a esse lugar, apesar de terem limpo eu ainda posso ver as cinzas, de papel, tecido e o que mais houvesse. Os meus pés quase sentem as cinzas ainda e aqui eu não consigo me sentar nessas almofadas novas, o vermelho delas parece errado e se isso for o meu destino?

— Meu senhor, tá tudo bem? – a voz do Rajza quase parece vir do fundo de um poço.

Mesmo que a porta ainda esteja aberta eu viro o rosto sobre o ombro pra vê-lo ao lado do Siqat, os dois tem apenas o Shenti comum e cinza, mas, parecem não ligar pro frio, quer dizer, talvez pro oposto.

— Tô sim, sai da frente da porta. Siqat, fecha. – mando aos dois.

O chacal estende a chave de fenda azul em direção ao metal bronzeado e dá pra ver como o vidro leitoso começa a ser refeito, mas, o lince segura a sua mão e gentilmente o afasta pro lado, pra que saia da frente da porta e fique só ele.

— Rajza!

— Meu senhor. Como seu servo eu devo cuidar do senhor, e-e está bem claro que-

— Sai da frente da porra da porta. – me viro pra ele apontando pro lado. – Anda!

Ele me obedece, dá um passo pro lado que o chacal está e eu aponto pra porta que havia logo ali, com o movimento sutil da mão, o jovem procura em mim uma ordem que lhe dou silencioso. Os vidros leitosos se formam e criam a barreira novamente, mas eu não tiro os olhos do lince.

— Eu tenho que dormir aqui, eu não vou ficar com essas correntes o dia todo. – aponto as algemas com o queixo. – E eu estou cansado, não vou lidar com você agora, amanhã vamos conversar direito. Por hora, vai dormir.

Dessa vez eu não peço, a minha voz fica mais intensa e eu mando. É nítido como o olhar e as orelhas do chacal baixam e obedece, mas, o lince continua de pé por um instante até que a corrente do seu grilhão se estica sutilmente e com cuidado o rapaz tenta incomodar o menos possível.

— Senhor Celeste, não quero ser desobediente, só estou preocupado com você, só estou querendo ajudar. – e ele baixa a cabeça sutilmente. – Boa noite, meu senhor.

— Hm... vai caçar um rumo rapaz.

Como o costume Nanci comanda, faço ele desviar o olhar primeiro. Só quando os dois me deixam eu me viro e busco as chaves da corrente no pescoço com um suspiro pesado, há quase um rosnado surgindo de mim quando as algemas caem no chão, longe dos meus pés dessa vez.

Me deito nas almofadas quase depois dos dois Nancis fazerem o mesmo, escoro as costas nisso e sinto no meu tornozelo o que a Sha me deu, a concha balança um pouquinho e me lembro dela agora.

Esses Nanci estão me “contaminando” com a sua cultura, e eu não sei se é tão ruim mesmo. É obvio que há partes que eu não vou concordar nem na vigésima encarnação, mas eu me deito sentindo o cansaço de um dia cheio chegando em mim, quase posso imaginar como vai ser amanhã, se hoje eu coloquei fogo nesse lugar, descobri ter clarividência e o Rajza fez essa bagunça. Amanhã vai ser terrível.

Mas o meu corpo só quer descansar, e eu acho que vou deixar isso pra amanhã também.

 

 

≫ ────── ≪•¤◦ Ӝ ◦¤•≫ ────── ≪

 

 

Realmente não tive problemas nos dois dias seguintes, na verdade, fora o guarda gavião que está sempre lá fora ninguém veio aqui. Nem houve quem chamasse o Rajza pra treinar ou coisa do tipo, bom, numa guerra as pessoas são ocupadas demais, e também, Siqat me ajuda a escrever todos os dias, acho que poderia até me acostumar com isso.

Bom, o lince parece incomodado, principalmente quando eu tenho de lhe prender a pata no grilhão. E toda vez que tem de se soltar eu estendo a chave, evito tocar e interagir com essa parte dele. Mas, ele está caladão, diria até mesmo tímido de falar comigo e acho que, sinceramente, também não estou a fim de ser seu mestre e força-lo a parecer bem comigo.

Nossas refeições são simples, talvez o ponto alto pra eles é quando eu coloco um pouco de música. Por hora lhes mostro apenas música clássica, não acho que estão prontos pro Rock, não ainda, mas há uma sensação em mim, principalmente quando encontro na tela o histórico e a Indestructible, de quando mostrei ao Tsaida a quanto tempo? Uma semana?

— Mestre Celeste. – a voz do lince acontece depois de tanto silêncio. – Por favor, eu não consigo aguentar mais. Por favor, me diga se vai me punir ou se não vai, eu estou ansioso.

Ao meu lado esquerdo o lince se aproxima, suas mãos à frente de si e as orelhas caídas me dão dó de ver, mas.

— Eu não vou, eu preciso bater em você pra que aprenda algo? – e termino a palavra que escrevia.

— Muitos aqui diriam que sim.

— Mas não estou perguntando pra eles, estou?

— Não senhor, não precisa bater em mim pra que eu aprenda.

— Ah... bom! – e lhe devolvo um sorriso simpático, ao menos o melhor que posso.

— Sério?

— Sério.

— Ahm... o-o senhor não está irritado?

— Pareço irritado? – pergunto.

— Parece impaciente, desculpe, não quero... incomodar. – por isso ele estende as mãos e dá um passo para trás com o olhar baixo.

— Não há muito o que possamos fazer por aqui. Quer dizer, dá pra aproveitar a sombra, a água fresca e comida.

— Não reclamo, senhor, sinceramente gosto de viver aqui. – e ele aponta a tenda toda com o focinho. – Mas eu pensei em continuar o treinamento.

— E se ela pisar nas suas patas?

— Hnf. – ele se incomoda de novo. – Meu senhor, posso? – ele aponta as mãos para uma cadeira a minha esquerda.

— Claro que pode. – aceno com o queixo assim que termino mais uma página.

O lince se senta com calma e tranquilidade, coloca os braços sobre a mesa e une os dedos antes de apontar os indicadores para o que eu faço.

— O-o, está escrevendo sobre o quê?

— Sobre pressão atmosférica, mas eu vou contar isso pro Tsaida também. – comento bem mais que distraído.

— Ahm, o senhor tem uma relação muito boa com o Dat’al Katish Tsaida, não é?

— Ele é meu amigo. – e dizer isso o assusta.

— C-como? Amigo?

— Uhum, ele é meu amigo. E é um cara muito legal.

Os olhos do lince arregalam um pouco quando leva os dedos unidos para baixo do queixo, a fim de apoiá-lo. Ele inspira antes de mover a boca, mas, só do queixo pra cima.

— O Tsaida é “legal”? É por isso que você o ensina coisas?

— É por aí.

— Pode... pode me ensinar também? Meu mestre. – ele relembra os bons modos.

— Eu tenho muita coisa escrita aqui, grande parte eu dou a Sha pra ela traduzir e estudar, se houver algo que você possa saber, acho que vão compartilhar.

— Senhor... compartilhar e militares não combinam. – ele até sorri pra si mesmo. – Eles têm tantos segredos quanto grãos de areia nesse deserto.

— Hah, eu tenho certeza disso. – compartilho o seu riso.

— Hm, não acha que estão escondendo coisas do senhor? – ele me questiona.

— Eu tenho certeza, mas, se não fizer mal a mim ou a vocês, não me importa.

— Aquelas coisas na sua gaiola, não te fizeram mal?

— Onde quer chegar? – adianto o assunto levando os olhos pra ele.

— E-eu nunca protegi alguém já protegido, então eu não sei o que fazer direito. Desculpe se pareço inconveniente. Não é a minha intenção ser tedioso ou te deixar contra eles, só dou ao senhor toda a minha lealdade e esforço, eu estou aqui pra fazer o que quiser que eu faça e no dia que não quiser mais, eu vou embora assim que me mandar.

— Vou deixar claro algumas coisas. – e largo a pena pra me virar completamente a minha atenção a ele, um ato que o assusta, o faz tirar as mãos do queixo e coloca-las sobre a mesa outra vez. – Eu vou fazer o que eu achar melhor pra mim, mas por você eu vou pedir a sua opinião porque você não é um escravo, como eu disse, você me confia sua lealdade e eu o manterei seguro como eu puder. Suas indagações são úteis pra mim, posso não parecer dar todo o mérito que espera, só que eu posso confiar em você mais a cada dia. Suas palavras pra mim, são um voto de sinceridade, se mantenha assim que eu ficarei do seu lado o tempo todo.

Calo esse lince por alguns segundos, mas, o seu olhar atento em mim permanece por todos esses instantes até cair de volta as suas mãos e um sorriso suspirado e rapidinho lhe faz confirmar algo pra si mesmo.

— Entendi, senhor... o senhor é muito diferente. Mas é um diferente bom. – ele reitera.

Quase no mesmo instante, pela tenda estar com a entrada aberta eu posso ver o gavião bem daqui e como mantém a guarda mesmo com o Sol no céu. Mal parece incomodá-lo. Mas há um olhar que chega até ele, um olhar que custa ficar no guarda, pois me encontra com pressa e uma felicidade que me contagia com um sorriso.

— Valeu. – e aponto pra fora. – Olha quem tá aí.

Assim que Rajza se vira ela entra, com seu brilho de sempre a gueparda dá um sorriso de um lado a outro do rosto.

— Celeste! – e ela ignora o lince, na verdade, eu também, me levanto. – E-eu pude vir te dar uma boa notícia!

— Opa! Qual é? – me aproximo dela e ofereço o punho fechado que ela encontra com o seu, um gesto que eles entendem ao menos.

— Hah, bom, eu sai do meu... castigo. – e isso a faz baixar as orelhas com um riso pra ela mesma. Não é algo pra se dizer com orgulho, não é? – Mas, a minha senhora, disse para vir convidá-lo a uma reunião entre os Aksus, ela disse estar confiante de que a sua presença possa incentivar a todos a tomar uma decisão mais favorável.

— Decisão favorável. – a retruco pra reforçar.

— Ahm. – e ela suspira prendendo a respiração antes de continuar. – Será uma reunião de Aksus, na verdade, alguns Dat’al Katish e Dat’al vão participar. E bom, vamos falar sobre o senhor. – a forma que ela larga isso entre nós é quase como se jogasse um barril no chão. – E a minha senhora tem uma ideia, afinal, se discutirmos sobre o senhor, não é justo que o mais afetado por isso esteja presente?

— Já decidiram tanta coisa sem mim, porque agora?

— Eu simplesmente não sei. – e ela parece animada demais pra ficar quieta. – Achei que ia gostar de saber!

— Poxa, eu gosto, Jaya. Mas a Sha pode só estar querendo me usar de peso pra conversa. – deduzo comigo mesmo. – Tá, eu vou nisso, mas, antes de tudo. Como você tá? Como estão as suas mãos?

— Bom, Celeste, estão muito bem. – a gueparda me mostra as suas, não há falta de pêlo nem nada, na verdade, mal parece que uma vez houve. – Consigo fazer magia de novo e... bom, eu agradeço. – ela toca o meu ombro. – E agradeço muito que tenha confiado em mim naquele dia, mesmo com tudo que houve.

— Falando nisso, soube do Naji?

Esse nome das as orelhas dela tombarem para os lados um pouco, como se o assunto fosse batido, saturado pra ela.

— Bom, ele foi acu-, foi investigado e isso o deixou abalado. A confiança nele foi... – ela coça a cabeça. – Foi comprometida, sinceramente falando.

— Mas, ele não foi condenado por ser um espião, por que desconfiam ainda assim?

— É o que dizem sobre boa e má reputação, a má gruda mais fácil.

— E onde ele tá agora?

— Bom. – a gueparda pensa consigo mesma. – Ele não saiu da sua tenda, pelo que sei. Eu não tive muitas chances nem motivos para procura-lo.

— Teve medo de ser mal vista também? – a questiono.

Talvez eu tenha cutucado a ferida com mais força do que imaginei, pois a sua cara é de quem levou um soco na barriga. Mas, o seu olhar espantado se transforma em aceitação, há um pouco de vergonha de dizer isso na presença dos dois outros Nanci, isso é óbvio, mas eu acredito.

— Eu acho que sim... me sinto mal por isso. – e seu focinho baixa ao chão.

— Antes de ir a essa reunião, vou ver ele, vou ver como ele tá. Beleza?

— Beleza? – ela tomba a cabeça sutilmente pra direita.

— Concorda? – dou outra palavra.

— Ah, não estou em posição de exigir. – ela nega com a cabeça. – Apenas sou a mensageira dessa notícia... achei que ia gostar. – e sua mão escorre do meu ombro.

— Ah, falando em não demonstrar. – falo olhando pro Rajza que ainda se mantem sentado na sua cadeira. – Eu gostei da ideia, vai ser bom eu poder opinar sobre mim. Mas eu gosto ainda mais de saber que você tá bem. – seguro a sua mão que fugia de mim.

O susto dessa gueparda acontece quando seguro os seus dedos macios e faço com que eles dancem junto a minha mão, como massagear a mãozinha de um gato gigante.

— O senhor se importa demais conosco.

— É o que amigos fazem. – respondo nos mesmos instantes que os seus olhos sobem da sua mão que seguro para os meus outa vez. – Eles também deviam se importar menos com o que os outros dizem sobre eles e mais com o seu amigo.

Essa pequena farpada é o bastante, acho que consegui coloca-la no momento certo, quando ela está confortável pra receber essa lição. Não sei se vai entender bem isso.

Sinceramente? Não importa, não posso pedir pra ela mudar a sua cultura assim do nada.

— Eu não pensei nisso. – ela baixa a cabeça um pouco e aperta os dedos das patas contra o tapete. – Desculpe.

— Vamos concertar isso hoje.

— Uhum. – e ela coça a sua nuca um pouco constrangida. – Vamos? Te levo até eles.

— Certo. Rajza, Siqat. – chamo os dois que se colocam a postos. – Guardem os papéis na gaiola e tranquem ela. Mantenha a guarda, tá bem? – minhas últimas palavras são para o lince.

Palavras que o deixam atordoado de começo.

— Senhor, eu não posso protege-lo?

— Não entenda a minha palavra errado. Só que a Jaya me protege o suficiente. – e é claro que ele fica triste ao ouvir. – Mas eu vou deixar você aqui pra uma missão mais importante que isso. Vai manter as minhas coisas, a minha “casa” segura, e vai manter o Siqat também.

— Mas, eu vim proteger o senhor.

— Você veio me servir também. Quer servir a mim? Faça o que eu disse, haverá outro dia que vai me acompanhar como guarda, mas não hoje. – falo com toda a firmeza que posso.

Mas o lince baixa as orelhas e olha pro canto, para onde ele dorme todos os dias e onde guarda as suas duas armas.

— Eu farei o que me manda. – mas o seu rosto é todo desapontado.

— Muito bem, Jaya, partiu? – viro pra gueparda com um toque no seu ombro.

— Sim, claro, ahm, calce os seus calçados, senhor. – ela comenta.

É fato que apenas os oficiais de alta patente e derivados podem usar essas coisas, mas, eu estou aqui a quantos dias já? No outro mundo eu podia ficar semanas no meu quarto, só que aqui, eu estou ansioso demais pra ver o lado de fora, de tudo que eu pude pensar nesse tempo todo, de toda a expectativa que pude juntar nesse tempo eu me dou goles de grande paciência, talvez isso mude agora.

Acho as minhas sandálias no canto, mas, antes de pegar o lince se propõem com os olhos apenas. Louco para ser útil, eu imagino. Aponto e nesse mesmo instante Rajza dá uma corridinha pra buscar enquando eu me sento numa das cadeiras.

— Aliás, Celeste, se não incomodar, posso perguntar sobre o que está escrevendo?

Jaya aponta aos papéis na mesa com a cabeça, os mesmos que o rapaz chacal recolhe como pedi e junta cada página na ordem que combinamos.

— Pressão atmosférica, pressão geral também e algumas ideias.

Suas sobrancelhas branquinhas sobem com uma expressão animada.

— Se me permitir, adoraria poder falar sobre essas coisas com o senhor. Depois, claro.

— Uhum. – e o lince traz as sandálias pra mim. – Valeu, Rajza.

Eu ia pegá-las pra calçar, mas, ele se abaixa a frente de mim e coloca um joelho sobre o tapete.

— Permite, senhor?

— Ah, tá bem. Sabe como colocar?

— E-eu tenho uma boa ideia. Por favor. – assim que pede, coloco o pé esquerdo sobre o seu joelho macio.

Um gesto que faz os dois tremerem um pouco, eu acho até engraçadinho como a Jaya tá embasbacada e o Rajza parece não saber o que fazer. Eu imagino o quão difícil poderia ser conseguir isso de um Nanci, mas eu não me importo.

Assim que recobra a compostura, o lince começa a calçar a sandália em mim com todo o cuidado que pode juntar. Há um breve instante que ele aperta as fivelinhas ao redor do meu tornozelo que ele desacelera, mas, com todo cuidado deixa o meu pé no chão e pede o outro, esse inclusive que a Jaya encara com ansiedade. Talvez seja pela tornozeleira que uso agora, que ela me encara com tanta intensidade.

— Pronto, senhor. – o lince se levanta e arrumo os dedos dos pés um pouco melhor. – Fiz direito?

— Fez sim, obrigado cara. – me levanto da cadeira também e encontro o meu celular que levo ao bolso de novo. – Vamos?

Jaya perde a concentração dos pensamentos e sobe o olhar para o meu. Quase no mesmo instante jogo os cabelos para trás e espero a gueparda voltar a realidade.

— Ahm, sim! Vamos sim! – dois passos dela vão para trás um pouco de lado.

E antes que a sua mão toque no tecido eu volto ao lince.

— Atenção. Hm?!

— Sim senhor. – Rajza baixa a sua cabeça pra mim.

Um gesto acompanhado silenciosamente pelo chacal mais atrás que tem um pouco dos papéis entre os braços cruzados à frente do seu peito.

E então, inspiro fundo, me preparo pra rever o lado de fora onde o Sol brilha tanto e tem tanta gente nova. Jaya lidera o caminho e deixa o tecido fora do meu caminho e o olhar do gavião vem diretamente pra mim, imagino como ele tá preocupado, o cara que ele vem a todo esse tempo protegendo saindo do nada assim.

Quer dizer, Jaya deve ter dado a carteirada necessária, afinal tiveram que mandar a Jaya, alguém que eu conheço, não é? É mais fácil de convencer. Mal sabem que eu to louco pra dar uma volta.

Puta que pariu.

 

 

≫ ────── ≪•¤◦ Ӝ ◦¤•≫ ────── ≪

 

 

Os olhares me acompanham pra onde eu vou, mas parece que a Jaya é a mais constrangida de nós dois. Ela não para de olhar para os cantos, sobre os ombros ou para todos os que a questiona em silêncio.

Ao lado dela eu seguro as correntes atrás do pescoço pra manter o seu comprimento mais controlado, na verdade, me interesso mais em ver todas essas raças aqui por entre as tendas altas de pano como aquelas dos índios norte-americanos. Não é mistério pra ninguém que a minha presença faz pescoços entortarem, alguns que faziam exercícios param, aqueles que corriam desaceleram e os poucos que carregam coisas simplesmente parecem esquecer do peso que levam.

Kha, Axcell, Ezyur, Cemuri, são todos os nomes desse povo diverso. Bom, lagartos, aves, cavalos e coelhos seriam boas traduções para um ignorante, mas esses povos fazem parte da minoria dentre todos os Nanci. Os Nanci parecem englobar todos os canídeos e felinos, como a Jaya aqui, e, poxa, tem um monte deles.

— Celeste, fica comigo. – Jaya me chama pra perto.

Isso porque os meus olhos ficam nos Axcell que voam ali no canto, com lanças e até uma glaive treinam combate enquanto voam, uma visão que eu adoraria ficar vendo se a Nanci aqui do lado não me tocasse o ombro ou eles fossem chamados a atenção por outros ao redor que apontam pra mim.

— Jaya, você tem que me levar pra andar mais vezes. – comento.

— É perigoso, senhor. Apesar da sua existência entre nós não ser segredo pra ninguém, a sua segurança ainda é complexa de manter.

— Não estamos muito além das frentes de batalha?

— Sim, mas, tanto eles quanto nós podemos invadir o território um do outro. Claro que só invasões rápidas, mas, infelizmente a magia é ferramenta dos nossos inimigos também.

— Magia... – comento pro ar.

Essa palavra é quase um milagre pra se dizer, ainda mais tendo certeza de que ela existe ao meu redor agora, é realmente um paraíso.

— Hm?

— Onde fica a tenda do Naji? – mudo de assunto na hora.

Parar de andar faz um pouco da areia subir pela minha sandália, mas não olho pra ela, continuo vendo os dois Ezyur zebras andando com um monte de espadas dentro de uma caixa que me observam com os olhos arregalados e um com a boca um pouco aberta.

— Ah! Bom, por aqui. O local onde os soldados dormem é pra cá.

Jaya aponta para o sul, uma parte onde várias outras tendas estão montadas. Eu até poderia esperar um lugar todo bagunçado, as tendas montadas aleatoriamente, só que o que eu vejo faz o meu T.O.C. feliz ao extremo. Cada tenda está montada numa fila e os corredores ao redor delas tem quase um metro pelos lados dando passagem aos que transitam por ali.

— Nossas tendas são organizadas em blocos, nós do terceiro batalhão estamos nesse lado.

Não consigo notar de primeira essa ideia formidável, mas, com o pouco que consigo ver por entre todas essas tendas e outras construções eu vejo que todas as tendas iniciais, que dão o início as fileiras, tem símbolos de sua língua, números, como posso deduzir.

— Pera, todo mundo do batalhão tem uma tenda? Vai demorar quanto pra achar ele?

— Ah, fique tranquilo. Meu batalhão tem quase quarenta, todos nós temos nossos números na tenda também. – e ela parece gostar muito de me contar isso.

— Hm, então vocês todos tem número, quanto menor melhor?

— Não senhor, é apenas um número de identificação. – e o olhar dela repentinamente vai em outra direção junto a suas orelhas, mas depois volta pra mim com um tom de voz mais suave. – A algum tempo era assim, mas, esse tipo de incentivo se tornou um problema.

— Começaram a competir.

— De forma não saudável. Havia prestígio e honra em estar entre os cinco primeiros. – a sua mão oferece pra puxar uma corda diagonal que mantém uma estrutura onde guardam sacos de algo que não tenho tempo de observar. – Então abandonamos esse tipo de divisão a alguns meses atrás.

— Você estava entre esses cinco?

— Número três, senhor. – apesar de não ser bom pra ela, um pequeno sorriso orgulhoso aparece no seu rosto. – Mas eu já não gosto de ser chamada por um número, realmente foi uma ideia ruim que abandonamos.

— E o Naji?

— Hah, sua curiosidade é tão infindável quando o seu conhecimento, não é? – ela retruca.

— Bem por aí.

— Naji nunca se importou com isso, ao menos pelo que eu pude reparar. Ele sempre foi o tipo comum, faz seu trabalho e nada mais. – andando por aqui, até parece que ela conhece todos. – É aquela ali.

A gueparda aponta pra uma tenda mais à frente. Logo ao lado existe diferenças por um pequeno tapete de fios grossos, talvez pra limpar as patas? Bom, um pouco antes há um pouco de carvão e rochas em círculo, talvez seja um ponto de luz para eles ou algo do tipo.

— Não vem comigo? – reparo só agora que ela não me acompanhou nessa última dúzia de passos.

— Não. Não tive essa iniciativa, não posso fingir que tive essa gentileza sua. É mérito seu.

Dou meu tempo pra digerir as palavras, dou tempo pro frio do vento e do Sol arrepiarem as minhas costas outra vez.

— Ele não é amigo seu? Ao menos ele é seu parceiro de batalhão, seria legal se você desse um apoio.

— Sua forma de lidar com as coisas é muito gentil. – e suas orelhas baixam como os seus olhos pro chão. – Mas nós Nanci não somos tão... como você.

— Tá... então, fica vigiando aí, não vou demorar. – comento apontando pra todo canto, os mesmos cantos que eu adoraria ir.

— Claro. – e suas patas parecem agarrar o chão arenoso com os dedos pra se fixar. – Vou esperar aqui.

— Hm... Beleza.

E me viro a aquela pequena tenda, acho que cabe umas quatro pessoas de pé, só que, com o que já vi de cabanas, parecem bem espaçosas por dentro. E eles usam magia, né, vai que.

— Naji. – assim que eu chego perto o bastante o chamo.

Seria meio rude abrir os panos de uma vez, e eu sei muito bem como é irritante ter o seu espaço pessoal invadido.

— Naji. – as minhas mãos agarrando as minhas correntes balançam cada uma de um lado a outro, só pra me distrair. – Najiii... aloo.


Notas Finais


Yap, Franklyan é um migo maneiro UwU


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