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História As lendas de Walterville - Tome as pílulas


Escrita por: Nicaraiz

Notas do Autor


Fala galera, hoje trago mais uma história pra vocês.
A idicaçao de música pra hoje é Why Human

Capítulo 4 - Tome as pílulas


Fanfic / Fanfiction As lendas de Walterville - Tome as pílulas

 

Acordou sem gosto na boca. Mais uma vez teria de procurar algo que não sabia. Levantou despenteada. Cabelos loiros, pele clara. Olhos azuis perdidos na imensidão de seu vazio.

Quis cantar, mas não lembrava nenhuma canção. Seu toca-discos não funciona mais. Nunca foi adepta da modernidade, não aderiu aos CDs.

Suas pernas estavam peludas, mas que importa? Ninguém a acariciaria. Não lembrava seu nome, afinal não havia quem o chamasse.

Mas naquela manhã acordou diferente. Não havia gosto em sua boca. Lembrou-se então de que sentia sede. Desceu as escadas. Nos pés, as meias coloridas com que dormia todas as noites. Viu no aparador a fotografia de um antigo namorado, mas não conseguia lembrar-se da voz dele.

Lembrava-se de poucas coisas. Todas elas sem interesse para os outros.

Lembrou-se novamente de que tinha sede. Entrou lentamente pela cozinha e pegou um grande copo listrado que ganhou da avó. Bebeu lentamente com o ar solene que lhe era habitual.

Não sabia, mas havia matado a sede.

Por um instante cantarolou uma canção, mas não lembrava a letra. Teve fome. Havia dois dias que não comia. Abriu a geladeira, estava vazia. No armário encontrou torradas, estavam amolecidas, mas não importava. Comeu-as sem prazer.

Não sabia, mas havia matado a fome.

Ouviu um barulho, não sabia de onde vinha. Passou pela sala com as meias coloridas. Abriu todas as gavetas, o velho armário, mas nada encontrou. Tudo cheirava a mofo, mas não se sentia sufocada.

Abriu a pequena porta que fica embaixo da escada. Estava escuro, mas não teve medo. Destampou um velho caixote de madeira e encontrou o que estava fazendo o barulho. Uma velha caixa de música enferrujada que tocava sem ninguém dar corda. Não era o som agradável de antigamente, mas tocava.

Não sabia, mas havia matado a curiosidade.

Sentiu repentinamente falta de sexo. Ligou para um garoto de programa qualquer, que entrou sem lhe olhar nos olhos. Fez o que havia de ser feito, tomou banho e foi embora. Ela nada sentiu, apenas acalmou seu desejo animal.

Não sabia, mas havia matado o desejo.

Chovia lá fora. Uma chuva fria e dissimulada. Teve frio. Vestiu um velho casaco de lã, cheirava a naftalina, mas não espirrou.

Não sabia, mas havia matado o frio.

Queria dormir, mas o sono não vinha. Deitou-se. Rolou para todos os lados: de bruços, de lado, cruzou as pernas, os braços, os dedos, e nada. O sono não vinha. Lembrou-se então de velhos comprimidos que estavam na bolsa. Tomou-os sem fé que funcionariam. Nunca acreditou na ciência. Duas horas depois dormiu.

Não sabia, mas havia se matado…


Notas Finais


Espero que tenham gostado <3
Até a próxima


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