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História As Máscaras de Sakura - Primeira Fase: Confronto


Escrita por: SiryenBlue

Notas do Autor


Oi! Eu sei que era pra ter postado ontem, mas meu dia foi tão corrido que não dava nem tempo de comer direito. Desculpem. Aqui está o capítulo nove.

Enjoy!

Capítulo 9 - Primeira Fase: Confronto


Finalmente o sábado havia chegado. Depois do encontro de ontem com Sasori, tudo que eu precisava era de descanso. Se fosse dia de aula, eu muito provavelmente teria faltado. As minhas costelas doíam tanto que era até difícil respirar. Ter dormido no sofá pequeno e desconfortável da sala também não havia ajudado.

Mamãe saiu do quarto e seu rosto adquiriu uma expressão irritada quando percebeu que eu ainda estava acordando. "Já são mais de 8 horas e você ainda está deitada? E a comida? Não vai fazer?" Jogou as perguntas em mim, em tom raivoso.

"A comida está pronta." Disse uma voz muito conhecida, vinda da cozinha. 

Virei-me para conferir se minha mente não estava pregando peças.

Não estava. Era mesmo o Sasuke-kun.

"Você, Uchiha?" Mamãe suavizou sua expressão ao reparar na comida que havia na mesa.

"Bom dia, Mebuki-san." Disse, educado. "Eu preparei dashimaki, gohan e missoshiro. Espero que goste."

"Hum..." Mamãe foi até a mesa e provou o missoshiro. "Delicioso, Sasuke." Sorriu para ele, que correspondeu.

Quando mamãe começou a comer, Sasuke-kun veio até mim, no sofá.

"Você já pode me explicar, porque eu não estou entendendo nada." Falei, o encarando enquanto ele se sentava ao meu lado.

"Bom..." Começou, baixinho, para que mamãe não escutasse. "Eu conheço sua mãe, então achei que você ia acabar tendo que cozinhar, mesmo no seu estado. Resolvi dar uma mãozinha, já que foi por minha culpa que você se machucou ainda mais." Explicou.

"Não precisava, Sasuke-kun. Eu sempre dou um jeito de me virar, você sabe." Respondi, tocada por seu gesto.

"Basta dizer "obrigado", Sakura." Deu um sorriso de lado. "Não é assim tão difícil."

"Ok." Disse sorrindo. "Obrigada, Sasuke-kun." Agradeci.

"Sem problemas." Respondeu.

Mamãe disse que iria para casa de sua amiga e só voltaria à noite.

Sasuke-kun e eu só comemos quando ela saiu. Ele fez questão de lavar a louça e arrumar a casa em meu lugar.

"Hoje é seu dia de patroa." Falou, quando eu insisti que me deixasse fazer algo, ao invés de só assistí-lo.

Ele me fez ficar sentada o tempo todo. Não me deixava fazer nada.

Eu estava comovida com seus atos. E sabia que não era algo bom, porque só me fazia amá-lo ainda mais.

Sasuke-kun me ajudou a subir para meu quarto quando insisti em pegar roupa limpa. Ele disse que podia fazer isso por mim, mas eu rebati falando que não queria que ele visse minhas calcinhas.

Sim, eu precisava de um banho e era verdade que não o queria vendo minhas roupas íntimas, mas o que me fez querer desesperadamente subir, foram as folhas com a minha música mais recente, que ainda estavam no quarto de instrumentos. Eu precisava guardá-las para não correr o risco de Sasuke-kun vê-las.
Por isso, quando ele se distraiu limpando a sala, eu escapei para o quarto de instrumentos e dobrei as duas folhas de modo que coubessem em meu bolso.

Respirei aliviada assim que as guardei junto as outras.

Já com as roupas em mãos, chamei Sasuke-kun, para me ajudar a descer as escadas.

"Quer que eu limpe seu quarto?" Perguntou, assim que terminei de descer.

"Não." Respondi rápido demais. Sasuke-kun arqueou as sobrancelhas. "Quarto de menina é sagrado. Nunca lhe disseram?" Tentei consertar.

O moreno assentiu e não tocou mais no assunto.

Quando terminei meu banho, procurei por Sasuke-kun e o encontrei no quarto de instrumentos.

"Você mantém tudo tão limpo e organizado." Comentou, quando percebeu minha presença.

"São lembranças do papai e do vovô. Tudo aqui dentro é precioso para mim." Disse, sincera.

Sasuke-kun sorriu. "É uma pena que você não saiba tocar nada."

Engoli em seco.

Não era certo mentir. Ainda mais sobre um parte tão grande de mim, como era a música. Mas mesmo assim eu não conseguia evitar. Não conseguia contar a verdade.

Quando eu pedi ao papai para me ensinar a tocar, tudo que eu queria era compor uma música para o Sasuke-kun.

Hoje, eu já havia perdido a conta de quantas músicas compus para ele, e no entanto, nunca consegui mostrar-lhe nenhuma. Havia um bloqueio me impedido.

Minhas músicas eram quase que sagradas para mim, a parte mais sincera do meu ser. Se Sasuke-kun — ou qualquer outra pessoa — as rejeitasse, eu sabia que isso me mataria por dentro.

Eu já havia aguentado muita rejeição, mas de alguma forma, sabia que não aguentaria ver minha música ser rejeitada.

Por isso eu tinha tanto medo. Medo de minhas composições não serem boas o suficiente. Porque isso significaria que eu não era boa o suficiente.

Então, mantendo a mentira, eu apenas concordei com Sasuke-kun. "É... Uma pena mesmo."
 

*

*

*
 

Depois do almoço Sasuke-kun saiu para se encontrar com os meninos da banda. Eles iriam ensaiar. Como estava muito indisposta e dolorida, preferi ficar em casa.

E também, não queria ter que presenciar outra cena entre Sasuke-kun e Ino, como a de ontem. Não queria vê-lo cantar pra ela.

Assistir televisão o dia inteiro parecia ser a melhor opção.

Logo no primeiro canal que eu liguei, o assunto era Sabaku no Gaara.

A notícia de que ele estava de volta ao Japão, em uma cidade tão pequena como Konoha, era de longe o assunto mais bombado.

O programa que eu estava assistindo mostrou o momento em que Gaara chegou na escola, acompanhado de seus seguranças.

Konoha School estava na TV!

Ha! Eu podia reconhecer alguns de meus colegas que apareciam em rápidas passagens. Tinha até entrevista com alguns alunos contando como era ter Gaara em nossa escola.

Isso era incrível! Konoha nunca viveu algo assim!

Uau! Gaara tinha mesmo uma vida de sonhos! Só o fato de ele respirar causava comoção pública.

Aquilo tudo fazia eu me perguntar o que levava um cara que tinha o mundo aos seus pés, viver se metendo em confusão.

Em meio a pensamentos que não me levariam a lugar algum, escutei uma batida na porta.

Meu queixo caiu quando o vi parado na minha porta, de capuz na cabeça e óculos escuros.

Sabaku no Gaara.

"O... O que vo-você... Está... Fazendo aqui?" Perguntei gaguejando, surpresa.

"Vai me deixar entrar antes que um papparazzi nos veja?" Disse em uma voz impaciente.

Automaticamente, dei-lhe passagem. Mais do que depressa, ele entrou em minha casa. Fechei a porta olhando para ele, atônica.

Gaara tirou o capuz e o óculos, observando atentamente cada detalhe da casa, com uma expressão séria.

Arrependi-me naquele instante de ter o deixado entrar.

Minha casa era pobre e feia. Nada com o que ele estava acostumado.

O ruivo, então, passou a me observar, sua expressão ficou mais séria ainda. "Por que cada vez que eu te vejo, você está num estado pior que o anterior?" Perguntou.

Dessa vez a culpa não foi minha, quis dizer. Foi de Sasori. Mas ao invés de falar isso, mudei de assunto. "Afinal, o que você está fazendo aqui?"

Gaara se sentou no sofá. A televisão ainda estava ligada. E ainda falava sobre ele. "O empresário Stuart Camp, responsável pela carreira de Gaara não disse o motivo que levou o Sabaku a agredí-lo, mas confirmou que irá ao Japão tentar se reconciliar com seu artista." A apresentadora do programa de notícias falou. "Para alguns, tudo não passou de um surto de Gaara, causado por álcool ou drogas, que Stuart nega para não manchar ainda mais a imagem do Demônio."

Gaara pareceu ficar bem irritado e desligou a TV.

Por um momento meus olhos brilharam quando um pensamento passou em minha cabeça.

Não importava o que Gaara estava fazendo em minha casa. Quantas pessoas não dariam tudo pra saber o porquê do ruivo ter agredido Stuart? E ele estava na minha frente! Não aguentei. Tive que perguntar: "Por que você agrediu seu empresário?"

Gaara me olhou feio. "Porque eu estava bêbado e drogado." Respondeu, ríspido e irônico.

De alguma maneira, eu soube que aquilo era uma mentira.

"Sabe... Você tem tudo... Pra quê bancar o rebelde sem causa?" Disse, arrependendo-me no segundo seguinte. Às vezes eu não tinha filtro!

Gaara levantou do sofá, pisando fundo até a porta, o rosto com um expressão raivosa. "Eu não devia ter vindo."

Arregalei os olhos. Algo dentro de mim não querendo que ele saísse. "Espera!" Falei. Ele parou. "Desculpa, mas você sabe... É que com tudo que dizem de você..."

"Nem tudo que a mídia diz é verdade." Interrompeu-me.

"Pode ser. Mas como que eu sei o que é verdade e o que não é?"

"Você não sabe." Respondeu-me. E então um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. "Ao menos que eu deixe você me conhecer."

Encarei-o surpresa. "E você deixaria?"

"É uma troca, Sakura." Respondeu, aproximando-se. "Só se você deixar eu te conhecer."

Sorri, sem graça. "Não há muito o que conhecer. Eu sou exatamente o que aparento. Você, no entanto, é um mistério pra todo mundo."

"Discordo. O mistério aqui é você. Eu acho, que na verdade, ninguém te conhece realmente. Você é tudo aquilo que não aparenta ser."

Seus olhos olhavam os meus como se pudessem ver através de mim. Como se me desvendassem. "Não sei de onde você tirou essa ideia." Falei, virando-me de costas para ele. Seu olhar era forte demais. Assustava-me.

Senti a mão de Gaara no meu ombro. Encolhi-me. Ele, no entanto, não tirou sua mão de mim. "Eu ouvi, Sakura." Disse, suavemente. "Sua música. Eu ouvi."

Como se tivesse levado um choque eu me afastei dele, virando-me para encará-lo.

Não podia ser! Ele não podia estar dizendo o que eu estava pensando.

Com olhos arregalados e voz incerta, perguntei-lhe: "O que você ouviu?"

"Sua música." Respondeu firme. Meu coração batia descompassado. Minhas mãos tremiam. "No meu refúgio da escola. Eu te segui e ouvi você cantar. Eu estava lá."

Não!

Não! Não! Não! Não! Não!

Não podia ser!

Enquanto minha respiração se acelerava, eu comecei a lagrimar. Por quê? Por quê isso estava acontecendo?

Burra! Burra!

Que ideia foi essa de cantar no esconderijo do Gaara?
 

De todos que podiam ter me ouvido cantar, ele era um dos menos indicados.

Ele era Sabaku no Gaara! Não era um amador! Ele entendia de música como ninguém!
 

E ele me ouviu cantar.

Eu. Haruno Sakura.

Uma completa amadora!

O que ele não estaria pensando de mim?

Ele veio aqui pra me zoar. Só podia ser! Ele veio aqui pra rir da minha cara.

"Vai embora." Disse, com a voz embargada.

"Ei. Por quê você ficou assim?" Perguntou, confuso.

"VAI EMBORA!" Gritei, avançando em cima dele. Empurrei seu peito com força. Eu estava fora de mim.

"Você é maluca, garota? Quer se machucar ainda mais?"

Eu não ligava. Ignorava a dor. Só tinha vontade de sumir. Ou de que ele sumisse.

Tentava empurrá-lo até a porta com todas as minhas forças — não que fosse muita coisa.

Gaara segurou meus pulsos firmemente, e eu comecei a me debater, tentado me soltar. "Para! Só quem vai se machucar é você." Ele disse.

E eu parei. Mas só quando o cansaço e a dor falaram mais alto. A consciência de meus atos me atingiu. Agredí-lo não iria resolver nada.

Gaara soltou meus pulsos. Imediatamente, afastei-me dele. "Por que você ficou desse jeito?" Perguntou.

"Vo-você não tinha o direito." Funguei, apontando o dedo para ele.

"Direito de quê?"

"De me ver cantar. De ouvir minha música."

"Sakura." Sorriu, levantando as sobrancelhas. "Você invadiu o meu espaço e eu que não tenho direito?"

Contra a isso eu não podia argumentar. Mas ainda assim...

"O que você veio fazer aqui, Gaara?"

"Vim aqui pra falar da sua música." Respondeu, sério.

Respirei fundo. Precisava manter o controle.

Era surreal! Eu queria desesperadamente voltar no tempo e não ter ido cantar no esconderijo dele. Eu queria puxar meus cabelos e me bater. 

Como eu fui tão descuidada ao ponto de deixar isso acontecer?

Eu não conhecia Gaara há nem uma semana e ele já havia me visto em mais situações embaraçosas do que eu gostaria de admitir. Eu, que não chorava na frente de ninguém, parecia ter uma facilidade ridícula de chorar na frente dele.

Mas me ver cantar? Uma de minhas composições, ainda por cima? Como eu deixei isso acontecer?

E o cara ainda vem aqui pra falar da minha música.

Se isso for um pesadelo, já está mais do que na hora de acordar!

Meu Deus! 

Se eu pudesse escolher preferia estar morta!

Mas não havia essa opção. 

Eu não estava morta e nem no inferno, mas teria que lidar com o Demônio.

"Olha..." Comecei. "Não era para você escutar aquilo. Mas já que eu não posso mudar o que aconteceu, eu te peço, por favor, pra que esqueça que escutou." Supliquei.

Gaara olhou pra mim como se eu fosse louca. "Impossível. Sua música é incrível! Não tem como esquecer."

Olhei para o ruivo surpresa.

Como é?

As palavras dele me pegaram totalmente desprevenida. O meu coração bateu tão forte que eu achei que fosse ter um ataque.

Mas eu não era ingênua ao ponto de acreditar no que ele dizia.

Que tipo de brincadeira cruel era essa, afinal?

Engoli em seco.

"Você está me zoando." Falei, séria.

"Você acha que eu viria até aqui pra te zoar?"

"Você é o Demônio. Acho que seria capaz de coisa muito pior."

Gaara não se abalou. "Você está na defensiva."

Estava mesmo. "Você não sabe... Não faz ideia... Do que a música significa para mim." Falei séria, engolindo o nó em minha garganta. "Eu posso não ser tão talentosa quanto você, não ser tão bonita, não ter uma voz tão boa e nem escrever canções dignas de prêmios como as suas. Mas eu tenho o meu valor, ok? E eu não vou deixar você pisar em cima de mim."

"E quem foi que disse que eu quero pisar em cima de você?" Gaara rebateu, com o mesmo tom sério que o meu.

"Você já pode se retirar." Disse, em uma clara expulsão.

Gaara me olhou incrédulo. "Eu não achei que fosse realmente possível... Mas é! Garota maluca, você não tem noção do quão talentosa é."

Trinquei os dentes e segurei as lágrimas.

Por que ele estava fazendo isso?

Não era certo brincar assim com alguém.

Ele era a porra de Sabaku no Gaara.

Ele esperava mesmo que eu acreditasse que alguém do nível dele me considerava talentosa? Isso era no mínimo ridículo! Ainda mais sendo ele do jeito que era. Um garoto-problema que só ligava pra ele mesmo.

"Vai embora." Disse firme.

Gaara sorriu, sentando-se no sofá. "Não vou."

Bufei com a audácia dele. "Eu estou dizendo que quero você fora da minha casa."

"Obrigue-me." Falou cruzando os braços.

Ha! Inacreditável!

Eu estava chocada com a cara-de-pau dele.

"Você pode ser a porra de Sabaku no Gaara, mas essa casa é minha e eu não estou te dando permissão para permanecer nela." Falei, irritada.

"Você quer mesmo falar de permissão? Porque você definitivamente não precisou dela quando entrou no meu estúdio e usou meus instrumentos."

Eu me senti ficar vermelha. Só não sabia se era de raiva por ele estar certo, ou de vergonha pelo que eu tinha feito.

Inconscientemente, apertei os punhos, mas tudo que eu senti foi uma dor latejante em minhas mãos.

A careta que eu fiz não passou despercebida por Gaara.

"Sabe... Instrumentistas devem cuidar de suas mãos como se fossem tesouros." Gaara disse, levantando-se do sofá e caminhando até mim. "Deixa eu ver suas mãos." Pediu, estendendo as dele. Eu me afastei.

"Elas vão sarar. Vai ficar tudo bem." Falei, lembrando-me de como ele cuidou de minhas mãos no dia em que eu perdi a cabeça por causa de Ino e Sasuke-kun. Lembrei de sua gravata, que mesmo sabendo que não precisava devolver, não a joguei fora. Ao invés disso, lavei-a e a guardei em minha gaveta.

Esse garoto era estranho. Às vezes ele era muito grosso. Como quando brigou comigo no dia do atropelamento. Mas às vezes, ele também era bem gentil, mesmo mantendo sua pose 'bad boy'. Como quando enfaixou minha mão e quando disse que minhas covinhas eram bonitas. Sentia um frio na barriga só de lembrar. Mas agora... Agora ele vinha aqui pra zombar de mim...

"Aliás..." Gaara interrompeu meus pensamentos. "Como que você conseguiu tocar daquele jeito com suas mãos assim?"

Dei de ombros, ignorando sua pergunta. Eu não iria falar de minha música com ele. Hunf! Sem chance.

Gaara não insistiu. Ele olhou para a cozinha e seguiu até lá.

"Ei!" Disse, ao vê-lo abrir a geladeira. "Você é muito folgado, garoto!"

"Eu estou com fome." Falou, simplesmente. Ele observava minha geladeira com cara de desgosto.

"Não tem nada de bom aqui."

Olhei-o indignada. Ainda tinha a audácia de criticar!

Deus! Será que todo famoso era assim?

Gaara passou a vasculhar os armários da cozinha. Finalmente, ele pareceu se contentar com um pacote de biscoitos. "Isso deve servir."

Eu continuava a olhá-lo de boca aberta. "Tudo bem, Gaara. Pode comer, eu deixo." Falei com a voz carregada de sarcasmo.

Ele sorriu. "Você não usa sufixos pra falar comigo." Constatou.

É... Lembrei dos meu colegas da escola. Eles todos o chamavam por 'Gaara-san' ou 'Gaara-kun'.

"Ah... É que eu esqueço. Estou acostumada a te ver na televisão e só te chamarem pelo nome. Sem sufixos." Expliquei. "Mas se isso te ofende, posso te chamar de Gaara-san."

"Não ofende." Respondeu. "Aqui no Japão o uso de sufixos é muito ligado ao respeito. Mas eu não gosto. Vivi na América por tempo demais. Lá não tem nada disso. Sempre me chamaram só pelo nome. Mas depois que eu vim pra cá, é só 'Gaara-san', 'Gaara-kun'... Mas de longe, o pior é Gaara-sama."

Sorri. "Por quê? Ninguém ainda te chamou de Sabaku-sama?"

"Ugh." Ele fez uma careta enquanto comia um biscoito. "Dá até arrepios!"

Eu ri. "Sente falta da América?" Perguntei, mudando de assunto.

Gaara suspirou. "Você não faz a mínima ideia."

"É... Bom... Aqui não tem muita confusão pra se meter como em Nova York, certo?"

O ruivo bufou. "Já disse que nem tudo que sai na mídia é verdade."

"Também não disse que é tudo mentira." Retruquei. "E como não tem como saber o que é verdadeiro e o que é falso, a gente acaba acreditando em tudo."

"Você tem como saber." Afirmou.

Olhei-o confusa. "Ah é? Como?"

"Já te disse. É só eu deixar você me conhecer."

Bufei. Essa era boa. "Você não deixaria."

"Se você deixar eu te conhecer, eu deixo."

Balancei a cabeça, incrédula. "Você não quer me conhecer, Gaara."

"Não sou um cara de brincadeiras ou incertezas, Sakura. Eu sei bem o que quero." Afirmou, sério. "Eu não tenho nenhum amigo nessa cidade. Não conheço ninguém. Você... Você é minha parceira de química. E nós temos mais em comum do que aparentamos."

"Tipo?"

"Tipo a paixão pela música."

Suspirei. Eu não iria voltar para esse assunto.

"Você quer... Ser meu... Amigo?" Perguntei, incerta. "É isso?"

"Sim."

Não aguentei. Gargalhei. "Você só pode estar brincando!"

"Quantas vezes vou ter que dizer que não sou de fazer brincadeiras?"

"Ah, qual é?" Zombei. "Olha pra você e olha pra mim! Nós somos de mundos completamente diferentes."

"Eu pertenço ao planeta Terra. Você não?" Perguntou, sarcástico, comendo o último biscoito do pacote.

"Você me entendeu."

"Eu sou apenas uma pessoa, Sakura." Falou, jogando o pacote vazio no lixo.

"A porra de uma pessoa bem conhecida." Falei baixinho.

Gaara ignorou. "Onde é o banheiro?"

Ele não esperou eu responder e já foi abrindo a primeira porta que viu: a do quarto de instrumentos.

"Ei!" Falei brava, arrastando-me com meus machucados até ele.

Gaara estava quieto, apenas observando. Ele entrou no quarto, lentamente. Eu o segui. "Você sabe tocar todos eles?" Perguntou, passando a mão, suavemente, no piano.

"Sim." Surpreendi-me com minha resposta. Foi a primeira vez que eu havia sido sincera sobre isso. Hoje mesmo havia mentido sobre o fato a Sasuke-kun, afirmando que não sabia tocar nada.

Eu não sabia o que sentir. Eu havia falado a verdade pela primeira vez. E foi tão fácil. Tudo bem que Gaara já sabia da minha relação com a música. Mas ainda assim... Foi a primeira vez que eu fui sincera.

Gaara olhou-me admirado. "Isso é incrível." Falou, franco. Eu podia ver a sinceridade em seus olhos e aquilo me emocionou. "De onde vieram todos eles?"

"Eram do meu avô. Passaram para o meu pai e hoje são meus."

"E onde está seu pai?" Perguntou, observando-me.

Apenas dei-lhe um sorriso mínimo. O ruivo pareceu compreender e mudou de assunto. "Foi seu pai que te ensinou a tocar?"

"Meu pai e algumas vezes meu avô." De novo. Eu havia contado algo a ele que nunca contei a mais ninguém. 

Precisava parar. Ou daqui a pouco ele saberia da minha vida inteira. 

Algo sobre Gaara... Era diferente. Não acreditava muito em auras, mas essa parecia ser a única explicação. Quando ele estava por perto, tudo mudava, como se sua aura preenchesse todo o ambiente.

Até mesmo minha defesa, sempre tão impenetrável, começava a rachar.

Perigoso. Muito perigoso.

Então antes que ele pudesse me fazer outra pergunta, eu disse: "Mamãe está para chegar." Menti. Ela só chegaria a noite. "E não vai ser muito legal se ela te encontrar aqui... Acho melhor você ir indo."

"Que mãe não gostaria de me encontrar?" Disse, convencido.

Pois é. A minha gostaria até demais. Se tem grana, ela dá um jeito de se aproveitar.

"A minha é um pouco diferente. Melhor você ir." Insisti.

"Tudo bem." Gaara concordou. "Mas antes me passa seu número."

Olhei surpresa para ele. O ruivo tirou o celular — que aparentava ser caro o suficiente para pagar minhas despesas pelo resto do ano — do bolso.

Sem muita opção dei a ele meu número, que prontamente anotou.

"Vou indo." Falou, dirigindo-se até a porta. "A gente se vê."

Colocou o óculos e o capuz. E tão rápido como entrou, ele saiu, batendo a porta.

Por um momento fiquei parada, tentando absorver tudo que acontecera. Não estava funcionando muito bem.

O quão surreal aquilo podia ser? Se eu contasse, ninguém acreditaria. Aliás... Se me contassem que isso aconteceria, eu também não ia acreditar.

Imersa em pensamentos, senti meu celular vibrar no bolso.

Era uma mensagem de número desconhecido, que dizia: "Yo. É o Gaara. Salva meu número mas não passa pra ninguém. Vou te dar esse voto de confiança."

Oh. Meu. Deus!

Eu tinha o número de Sabaku no Gaara. Não pude evitar o sorriso em meu rosto. O quanto isso valeria? Poderia ganhar uma boa grana vendendo esse número.

Balancei a cabeça.

Não.

Não era certo. Eu não era como minha mãe, que sempre tirava vantagem de tudo.

Gaara havia me dado um voto de confiança, e algo dentro de mim queria muito honrá-lo.

Talvez ele houvesse mesmo gostado da minha música. Talvez ele quisesse mesmo ser meu amigo. Talvez — e só talvez — nossos mundos não fossem assim tão diferentes.
 


Notas Finais


Para as meninas que ficaram o dia esperando atualização ontem e comentando pedindo capítulo, vou deixar um pequeno — pequeno mesmo — trecho do cap 10 aqui, pra vcs terem um gostinho.

["Por quê?" Perguntei em um fio de voz. "Por que você quer me ajudar?"

"Porque você vale a pena." Gaara respondeu, usando sua sinceridade como uma arma para rachar minha barreira.

E havia conseguido.]


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