Diário de Gravidez da Lynn palhaça.
Terceiro mês:
Conferência no Skype
- Lynn! – herdeira de um cartel de diamante falando ao lado de um surfista australiano irritantemente bonito. – Eu estou grávida!
Lynn começa a chorar sem saber o porque estava chorando, mas tendo certeza de que aquele evento, o de sua amiga rica estar grávida, teria alguma repercussão cômica no futuro.
- Lynn, por que você está chorando? – isso foi o surfista.
- Eu não sei! – eu disse soluçando. – Agora eu estou chorando porque eu não sei porque estou chorando! – puxei o ar. – Parabéns para vocês dois...
- Ah, meu Deus, eu vou ficar assim? – a herdeira pergunta para o surfista.
- Vai, mas acho que no seu caso vai ser por causa da abstinência. – o surfista respondeu.
- CASTIEL! – Lynn grita para o resto da casa. – A Seraphine está grávida! – Castiel aparece no quarto quatro segundos depois.
- Por favor, me diga que não é um menino.
- É cedo demais para dizer. – a Seraphine responde.
- Qual o problema ruivo? – o sorriso do Dake era maligno como o mar. – Está com medo que vocês tenham uma menina e nossas crianças fujam?
- Meu Deus do céu Lynn, se a gente tiver uma filha o filho do casal sorriso vai ser o amigo de infância dela. – eu preferia “casal ternura”.
- Número um: eles moram da Austrália. – falei. - Número dois: agradeça que o amigo de infância do nosso filho não será um psicopata sequestrador. – o casal sorriso concordou via Skype. – Número três: mesmo que todos nós tenhamos meninos, ou meninas, você realmente acha que nosso filho conseguiria resistir a uma criatura que foi feita por esses dois? Digo, olha pra eles. – eles eram um casal tão bonito que irritava.
- Lynn, você deveria ter nos dito isso quando estava solteira.
- Como é que é? – isso foi Cassy.
- Além do mais, essa paixão enrustida que você e o Viktor têm pelo Dake com certeza vai influenciar nosso filho. – expliquei. – Então é melhor aceitar logo os fatos de que nossas famílias estarão predestinadas.
- O QUE?!
- É meio difícil te defender dessa ruivo. – o Dake falou. – Até hoje nenhum de nós esqueceu daquele festival em Brisbane.
- FOI UMA VEZ E EU ESTAVA BÊBADO!
- O que aconteceu no festival de Brisbane? – perguntei.
- NADA!
- Você não precisa me contar. – falei para o Castiel. – Só me diga se o Viktor estava no meio e o resto eu descubro sozinha.
- Huh! Talvez nós possamos fazer um contrato e obrigar nossos filhos a se casar! – a Seraphine disse.
- Isso é a ideia mais idiota que eu já vi na minha vida.
- Castiel, é melhor nós juntarmos logo nosso filho com o herdeiro da Seraphine. – falei. – E se, pela misericórdia dos deuses, o Viktor tiver um filho?
Silêncio sepulcral e agourento.
- Será que se você ligar para o representante ele faz o contrato de graça?
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Quarto mês:
- Ficar grávida é fácil. – falei com a Rosalya. – Difícil é acordar todo dia com a barriga cada vez maior e não poder fazer nada.
- Mas sua barriga não parece muito maior.
- Rosalya, você acha que eu estou de moletom no meio da rua por que eu quero? – na verdade eu estava usando moletom toda hora porque, aparentemente, dizer que eu estava grávida me livrava de muitas obrigações da moda. - Tem horas que eu visto uma calça e dez minutos depois eu sinto ela apertada.
- Isso é exagero, nem dá para ver que você está grávida. – ela disse. – Mesmo com o tamanho dos seus peitos.
- É o Castiel está adorando isso.
- Você não?
- Digamos apenas que eu estou aproveitando o máximo disso. – se é que vocês me entendem.
- Vocês já sabem se vai ser Annette ou Nathaniel? – depois de três meses as pessoas começaram a se referir ao meu possível garotinho como “Nathaniel” de forma séria. Cassy não me perdoou por isso nem depois de ver que eu aumentei três números de sutiã.
- Não. – sorri. – Nós decidimos que queremos uma surpresa.
- Mas por quê? Como é que vocês vão saber a cor do enxoval, o modelo das roupinhas, dos acessórios, os sapatinhos e tudo o mais sem saber o sexo do bebê?
- Rosalya, depois de descobrir que eu estou grávida de uma criança não planejada, qualquer outra surpresa vai ser fichinha.
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Quinto mês:
- PARE de me fazer comer sorvete! – isso foi a maluca aqui gritando com a própria barriga.
- Pare de gritar com ele ou ela. – o Castiel falou. – Você vai ter bastante tempo pra isso depois do nascimento.
- Então diga para o seu filho parar de se mexer durante a noite. – eu acordava assustada achando que estava sendo possuída. Isso não tinha relação nenhuma com o fato de eu estar devorando sorvete, mas enfim, não importa, eu estou carregando outro ser dentro de mim.
- É, não tem como eu te defender dessa. – isso ele falou olhando para a minha barriga. O Castiel pegou a mania de dormir com a mão sobre a minha barriga, e toda vez que nossa criatura se mexia ele também acordava assustado dizendo “MEU DEUS, O QUE EU FIZ?!”.
- Com licença. – ah sim, por um acaso nós dois estávamos no supermercado, e isso foi uma mulher chamando nossa atenção enquanto estávamos na fila. – Mas por que vocês dois estão na fila preferencial?
- Ela está grávida. – o Castiel apontou pra mim.
- Ela não parece grávida.
- Minha barriga tem dezoito centímetros de circunferência. – eu falei entregando o pote de sorvete que eu estava atacando para o Castiel. – Sabe quando eu tive dezoito centímetros de barriga?! Nunca!
- Ainda assim, você não parece grávida.
- Você está me chamando de gorda?!
- Lynn, você comeu dois potes de sorvete numa espera de cinco minutos. – Cassy cochichou no meu ouvido. – E eu acho que a gente nem podia ter aberto...
E foi assim que eu quase matei uma mulher aleatória e o pai do meu filho no mesmo dia e na frente de todo o supermercado. Foi assim também que eu consegui fazer com que banissem, pela primeira vez em quinze anos de negócios, uma grávida do supermercado.
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Sexto mês:
- AH finalmente! – cenário atual: Lynn palhaça chegando a casa depois de uma eternidade de aulas.
- Olá professora. – Cassy aparece da cozinha sem camisa e com o cabelo molhado. – Não tinha pudim no mercado, mas eu achei chocolate e fiz...
Cassy não terminou de falar por que Lynn palhaça o agarrou pelos ombros e se pendurou no colo dele. Lynn palhaça fez isso porque a libido dela aumentou em escalas astronômicas no sexto mês. Yep, só isso mesmo.
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Sexto mês e uma semana:
Madrugada – quarto da Lynn palhaça e de Cassy.
- Castiel... – isso fui eu cutucando o pai do meu filho, dormindo ao meu lado. – Castiel, acorda...
- Só mais cinco minutos... – ele respondeu com a voz rouca de sono. – E eu prometo que a gente faz de novo.
- Não... – parei um pouco para pensar no que eu queria mais. – Não é isso.
- O que foi então? – ele falou se virando para ficar de frente pra mim.
- Nós queremos milk-shake. – falei com um sorriso inocente.
- Por que você não faz com o sorvete da cozinha?
- Porque eu já tomei o sorvete inteiro. – respondi simplesmente. – E nós também queremos batata frita.
- Como é que é?
- E um sanduíche de três andares e bacon.
- Lynn, são três horas da manhã. – ele disse olhando o relógio de cabeceira.
- Por favor, por favor, por favor, por favor... – falei abraçando ele pelo peito. – Por favor, a lanchonete do centro fica aberta vinte e quatro horas...
- Seria melhor se você parasse de comer tanta porcaria, você mesmo vivia me criticando por causa disso. – isso antes de eu começar a carregar uma criança sua no meu útero.
- Cassy... – me levantei, coloquei uma mão no rosto dele e olhei profundamente em seus olhos. – Eu quero um milk-shake de chocolate, um sanduíche de três andares e batata frita, e eu quero agora...
- Lynn...
- E se você não for buscar agora, eu juro por todos os Deuses que pego uma faca na cozinha espero você dormir e faço com que a criança no meu útero seja o primeiro e único bebê que nós vamos ter...
Ele demorou um tempo para entender.
- Você está dizendo que vai me castrar enquanto eu durmo?
- Que nem um cachorro. – sorri e dei batidinhas leves na cabeça dele. – Quero cheddar com as batatas e pedaços de cookies no milk-shake.
- Bem que meu pai avisou... – ele falou pulando da cama. – A diferença é que minha mãe não saberia como castrar meu pai enquanto ele dorme.
Mal sabe Cassy que, mesmo que eu não soubesse, eu descobriria um jeito.
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Sétimo mês:
Interior – sala de jantar em reforma.
Lynn palhaça se mantém a frente de uma parede, horrendamente pintada de vermelho, com uma expressão assassina direcionada ao namorado e aos homens que estavam pintando a casa.
- Eu não sei que espécie de seita vocês querem fundar aqui, mas eu tenho certeza de que essa tinta hedionda deve ter sido feita com sangue de cachorrinhos.
- Você tinha concordado em pintar uma parede da sala de jantar de vermelho. – Cassy retruca.
- Não interessa, odiei essa merda.
- Lynn já é a terceira vez que você odeia a cor. – Cassy se impõe. – A gente não pode ficar mudando de cor toda hora...
- Você quer criar seu filho num porão sadomasoquista?
- O que?
- Se for isso o que você quer, senhor Castiel, então continue pintando esse vermelho satânico na sala de jantar onde nossa família vai fazer as refeições.
- Mas...
- Rapaz... – um dos pintores intercede colocando a mão no ombro de Cassy. – Eu tenho três filhos, só escute o que o que sua mulher fala, elas são capazes de matar nessa fase... Sete meses não é moça?
- Nossa, que olho bom... Escute o homem, Castiel. – o bebê na barriga chuta. – MEU DEUS, ele chutou!
- Sério? – Cassy se aproxima para sentir.
- Ah, isso é tão fofo!
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Sétimo mês, uma semana depois:
- PARA DE ME CHUTAR! – isso foi a maluca gritando com a própria barriga em plena sala de aula. – O que você quer de mim?! Eu não posso comer sorvete em plena sala de aula!
- Professora! – a Amber levantou a mão. – Eu tenho chocolate aqui se você...
- Quero. – Lynn palhaça pega o chocolate da mão da aluna antes de a mesma terminar a frase. – Na verdade, façamos o seguinte: dessa fileira para cá – do meio para a esquerda. – e dessa para cá. – do meio para a direita. – Escolham alguém para ir até o supermercado e me trazer uns biscoitos, um sanduíche e uma bomba de chocolate, quem chegar primeiro ganha meio ponto para o seu lado da sala.
- Professora, nós estamos em horário extracurricular, você pode ir lá você mesma se quiser. – a Amber falou enquanto os colegas decidiam quem iria.
- Eu prefiro não ir para o supermercado da vizinhança.
- Mas...
- Eu prefiro não ir visitar o supermercado da vizinhança. – voz de maníaca. – Alguma coisa contra?
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Oitavo mês:
Cenário atual: mudança para a nova casa na capital, quarto da criatura por nascer.
- Lynn... – Cassy estava com duas caixas nos braços. – Onde ficam essas aqui?
- Se está escrito “pratos” então deve ser na cozinha, a não ser que você saiba de alguma cultura exótica que guarda seus pratos no banheiro. – eu estava ocupada dobrando roupinhas e colocando nas gavetas da cômoda.
- Nossa alguém está de mal humor. – ele falou colocando as caixas no chão.
- Se você tivesse uma criatura que não para de se mexer dentro de você fazendo giros no seu útero... – me sentei no divã que os pais do Castiel nos deram de presente. – E que não te deixa dormir, você também ficaria de mal humor.
- Eu sei princesa, eu durmo na mesma cama que você. – ele se sentou ao meu lado, passou o braço pelo meu ombro e colocou a mão na barriga colossal que havia a minha frente. Por um momento nós ficamos assim, em silêncio observando o quarto desarrumado da nossa criatura.
- Quem diria... – falei me aninhando ao peito do Castiel. – Que desde aquele dia em que eu falei da sua blusa, nós chegaríamos até aqui...
- Nem me fale... – ele passou a mão no meu cabelo. – Aposto que você nunca imaginou que trocaria mais de duas palavras comigo depois daquele nosso encontro no pátio.
- Eu odiei você assim que bati meus olhos na sua jaqueta de couro e no seu cabelo tingido. – falei. – “Ah céus, então ele é o bad boy”.
- Engraçado, não tinha um “bad boy” na sua antiga escola não? – engraçado é ele falar bad boy com ironia, como se ele próprio não fosse um.
- Tinha. – refleti um pouco. – Engraçado, ele até disse que gostava de mim uma vez, como amiga. – estalei a língua. – Não sei por que ele me falou isso, eu não era amiga dele e o odiava. – Enfim, depois das férias do primeiro ano ele se mudou.
- Ou talvez o Viktor tenha mandado matar o cara. – acho essa mais provável.
- Talvez. – nota mental: lembrar de perguntar para o Viktor o que foi que ele fez com o pobre garoto.
- É... – pausa. – Sabe o que eu pensei na primeira vez que te vi?
- “Caralho, que garota gostosa”?
- Além disso, foi “caralho, ela vai explodir alguma coisa aqui”. – dei um risinho.
Nós suspiramos ao mesmo tempo, lembrando daquela época em que éramos jovens e imbecis... Tecnicamente nós ainda somos jovens e imbecis, mas diferença é que toda juventude que nos restava seria sugada assim que a criatura dentro de mim nascesse.
Por fim, Cassy se levantou.
- Vou terminar de pegar o resto das caixas. – ele disse. – Você termina aqui?
- Não. – falei me deitando no divã.
- Por que não?
- Eu não faço mais merda nenhuma dentro dessa casa.
- Você quer que eu arrume tudo sozinho?
- Ah, perdão, você está terminando de formar os pulmões do nosso filho? – retruquei. – Não né? Então você termina a mudança.
- Mas...
- E me traga um cobertor, nós estamos com frio.
- Mas...
Eu já estava dormindo antes de ele poder protestar. Gravidez faz isso com as pessoas.
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Oitavo mês, uma semana depois:
Cenário atual – consultório ginecológico.
- Isso é algo que nós geralmente instruímos o contrário. – Cassy e eu estávamos sentados do outro lado da mesa da médica. – Mas vocês precisam parar de praticar relações a partir de agora.
- O QUE?! – primeira vez na minha vida que o Castiel processou uma informação antes de mim.
- Até descobrirmos se essas contrações vão se tornar frequentes. – a médica continuou. Só por informação, eu tive dores que fomos descobrir serem contrações e acordei socando a cara do Castiel achando que estava parindo. Literalmente socando, ele estava com a marca no olho até agora. – Por precaução é melhor suspender as atividades sexuais, ou então pode ser que vocês sofram com um parto prematuro.
- Com “atividades” você quer dizer...
- Ela quer dizer tudo, Castiel. – falei.
- Tudo?!
- Ele tem a libido de um adolescente, doutora. – não que eu não fosse culpada também, os hormônios da gravidez... Como eu vou dizer isso sem parecer que eu sou uma tarada? Triplicavam as... Sensações, durante minhas atividades carnais. – Tem horas que me assusta.
- Tudo?!
- Não se preocupem depois da trigésima nona semana vocês vão poder fazer todo sexo que quiserem. – ela sorriu como se estivesse falando com dois jovens idiotas... Na verdade ela realmente estava falando com dois jovens idiotas. – Mas agora temos que fazer o que é melhor para o bebê.
- Não fique assim, Cassy, você sempre vai ter o chuveiro. – falei dando tapinhas na coxa dele. Cassy ainda parecia em choque. – A nossa conta de luz é obscenamente cara. – expliquei para a doutora.
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Oitavo mês de gestação, duas semanas depois.
- Lynn, querida. – papai Jean-Louis apareceu na cozinha no exato momento em que eu ia roubar o sorvete dele. – Pode ficar com eles querida, você precisa mais do que eu.
- Ah que ótimo. – eu disse abrindo o pote. – Porque eu não ia deixar de comer mesmo que o senhor me encarasse o dia todo.
- Eu sei, querida. – ele me mostrou dois envelopes abertos cheios de números e tristeza, algo que os adultos chamam de conta. – Você pode me explicar porque nossa conta de luz e água duplicou esse mês?
- Hm... – passei um breve olhar para analisar os números. – Essa explicação é meio constrangedora...
- Uma conta de quase quatro dígitos também é.
- A médica meio que nos proibiu de... – eu só demorei para achar a palavra por que enfiei uma colher de sorvete na boca. Eu não estava nem aí se era constrangedor, você meio que liga o modo “foda-se” quando tem uma barriga de trinta centímetros de diâmetro com um ser vivo se mexendo dentro. – Ficarmos íntimos nessas últimas semanas, para eu não ter um parto prematuro.
Papai Jean-Louis estreitou os olhos e balançou a cabeça.
- É por isso que ele está dormindo no sofá? – por isso e pelo fato de o seu filho ser um maníaco sem nenhum autocontrole... Tudo bem, também era pelo fato de minha barriga imensa estar quase ocupando a cama toda e eu adorar espaço.
- Sim senhor.
- Isso é muito melhor do que a nossa hipótese. – ele explicou. – Pensamos que vocês tinham brigado e você o chutou para a sala.
- Me admira isso não ter acontecido até agora.
- São onze horas da manhã! – mamãe Valerie entrou na cozinha com um roupão e o cabelo molhado. – Como é que a água quente já acabou?! – se já eram onze horas, então isso quer dizer que o Castiel estava no banho há exatamente quarenta minutos.
Papai me lançou um olhar cheio de sabedoria.
- Eu espero que você tenha uma filha, Lynn. – o pai do pai do meu filho falou. – Assim você nunca vai precisar explicar para o síndico porque toda a água quente do prédio acabou enquanto seu filho tomava banho.
Dois segundos depois a campainha foi tocada e nós três sabíamos que era o síndico vindo nos dar uma bronca por, pela terceira vez na semana (ainda era terça) o Castiel ter conseguido acabar com a água quente do prédio.
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Nono mês.
Nono e último mês, trigésima sexta semana, graças aos deuses, duplamente inclusive, o bebê nasceria em algumas semanas e Sweet Amoris já estava encerrando o ano letivo. A nova casa já estava pronta, decorada e permeabilizada para a segurança de bebês, Cassy e eu iriamos nos mudar efetivamente no final da semana. Hoje era o último dia para a entrega de provas e relatórios e por isso, somente por isso, eu tinha levantado da minha cama e dirigido com uma barriga monumental entre mim e o volante. Esse e os biscoitos do senhor Faraize, por algum motivo ele sabia fazê-los como se usasse um pedacinho do céu em cada um.
- Olhe só para você, senhorita Lynn! – titio Boris disse quando nos encontramos na sala dos professores na última confraternização. – Radiante como o sol!
- E esférica como ele também. – eu falei terminando de mastigar minhas bolachas.
- Ah, você tendo um bebê, Dake se casando e tendo um bebê... – a Seraphine estava no quinto mês agora, o mês em que a gente fica excitada toda hora e chora com tudo o que acontece... Ah, é mesmo, isso é durante toda a gravidez. A desgraçada quase não tinha engordado. - Céus como eu estou velho!
- Você sempre será o espírito mais jovem que eu conheço professor. – respondi.
- Muito gentil da sua parte querida. – ele beliscou minhas bochechas como se eu tivesse cinco anos. – Espero que a senhorita não se esqueça de nos visitar de vez em quando.
- Os pais do Castiel moram aqui, então pode ter certeza que as visitas serão frequentes. – senão eles matariam nós dois e criariam o neto, ou a neta, como se fossem sua segunda tentativa de criar um ser humano que não era um idiota.
- Esplêndido! – ele sorriu. – Bem senhorita Lynn, então em nome de toda Sweet Amoris... – os outros professores levantaram seus copos. – Até logo!
Até logo, Sweet Amoris.
Quando a confraternização terminou eu fui uma das últimas a sair porque... Bem é difícil levantar de uma privada estando grávida de nove meses. Ao chegar ao pátio eu dei uma parada, primeiro para respirar, depois para dar uma olhada em volta e pensar, com uma nostalgia até agradável, que foi ali que tudo começou entre o pai da criança e eu. Imagine só, como são as coisas.
- Professora! – claro, como no meu primeiro dia em Sweet Amoris, um bad boy surgiu do nada para perturbar minha paz. – Ah, que bom que nós te encontramos!
Comichão e Coçadinha se colocaram na minha frente, com isso eu quero dizer Amber e Erik.
- Nossa professora, sua barriga está enorme! – o Erik falou. O buraco que eu vou abrir na sua garganta também será.
- Erik! – a Amber meteu um tapa tão forte na nuca dele que o pobre garoto deu dois passos para frente. – Professora, você está linda.
- Amber, tem uma criatura de três quilos dentro de mim. – falei. – Tem como vocês dois serem rápidos?
Eles se olharam meio que ansiosos.
- Nós só queríamos falar para você que...
- Nós vamos para a universidade! – o Erik a interrompeu e como recompensa levou outro tapa.
- O que?
- Nós fizemos a prova de admissão para a universidade na capital! – a Amber falou. – Nós dois passamos! – ah... Meu... Deus.
- Isso quer dizer...
- Nós vamos estudar na sua universidade professora! – ah mer... Maravilha... – E adivinha só! O Erik disse que vai querer fazer biologia.
Não reaja de forma exagerada Lynn.
- O QUE?! – bom trabalho, palhaça.
- É a única matéria que eu gosto professora. – o idiotinha masculino deu de ombros. – Você faz parecer muito legal ser biologista...
- O que...? Por que...?! Eu sou veterinária, seu idiota.
- Não se preocupe, professora, eu vou cuidar dele. – a Amber disse.
- Depois de seis anos e nove meses venha me contar como é que isso terminou.
- O que?
- Nada. – suspirei e olhei para aquelas duas criaturas, aqueles dois pedaços de desperdício de gás carbônico a minha frente, com seus olhinhos brilhantes, suas almas cheias e esperança e tão ansiosos por orientação e sabedoria adulta. – Então isso quer dizer que eu ainda corro o risco de dar aula para um de vocês?
- Sim! – os dois responderam alegremente.
- Ah, céus. – eu iria acabar matando o Erik, tenho certeza. – Pelo visto eu vou ter três filhos. – a diferença era que eu poderia torturar mentalmente dois deles. Abri os braços. – Venham aqui seus merdinhas...
Os dois sorriram e me abraçaram, um de cada lado. Provavelmente jurando que foi uma boa ideia ter a Lynn palhaça como professora. Não me entenda mal, eu pegava leve com esses dois porque eles eram crianças e professores de adolescentes não podem xingar alunos. Ah, mas na faculdade seria diferente, muito diferente. Essas criaturas não tinham ideia do inferno que iriam enfrentar comigo sendo...
- Professora, acho que você derramou chá na sua bolsa... – o Erik disse se afastando.
Ah, que merda... Meu chá...
Espera aí, eu não estava carregando chá. Olhei para baixo e...
- AH MEU DEUS! – calmamente falei. – AH MEU DEUS! QUE INFERNO!
- O QUE?! O QUE?!
- Não é possível! – agarrei no braço do Erik. – Amber vá chamar o professor Boris!
- O que está acontecendo?!
- Minha bolsa estourou!
- Sua bolsa parece normal. – isso foi o Erik dando uma amostra de inteligência enquanto a Amber ia atrás do titio Boris.
- Minha bolsa... Ah, meu Deus, como é que você quer ser biólogo assim, seu garoto idiota?! – comecei a respirar. – Eu não acredito! Eu não acredito! Você tinha que querer nascer justamente aqui?! – isso foi a maluca gritando com a própria barriga.
- O bebê está nascendo?!
- Ah, isso é tão injusto... Faltam duas semanas ainda... – peguei o celular, o número do Castiel estava na discagem rápida. – Castiel... Não, não fui eu! – o Erik me conduziu até o banco no pátio. – Tá bom! Fui eu... Caralho eu não dou a mínima se você estava guardando o último pedaço... FODA-SE Castiel! Porque eu estou carregando seu filho!
- Professora, você está apertando muito... – isso foi o Erik tentando se livrar da minha mão apertando o braço dele.
- Castiel! FODA-SE... ME ESCUTA! Seu idiota! Castiel eu estou em trabalho de parto! – pausa. – Não! Dessa vez é verdade! – pausa. – Eu sei! Mas eu juro que dessa vez é verdade... Tem como você vir me buscar logo antes que nosso filho nasça nessa desgraça de escola?!
Enquanto eu convencia o Castiel de que não, não era a terceira vez que eu fingia estar em trabalho de parto para assustá-lo, o Erik, ainda comigo agarrada no braço dele, se abaixou a frente da minha barriga, como se quisesse manter o bebê calmo, e disse para a criatura lá dentro ansiosa por nascer.
- Bem vindo, ou bem vinda a Sweet Amoris.
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