1. Spirit Fanfics >
  2. As palavras que eu nunca disse >
  3. Capítulo 07

História As palavras que eu nunca disse - Capítulo 07


Escrita por: KatherineHanzen

Notas do Autor


Mais um hoje pra tentar acompanhar a postagem original <3

Capítulo 8 - Capítulo 07


            Quando chegaram ao apartamento de Katherine, o sol já havia se posto no final da tarde.

            - Kath, é muito legal! – Rosalya olhou ao redor. Era simples e aconchegante, além da mobília ser moderna e elegante apesar disso.

            - É, não dá para reclamar. – Katherine caminhou até o final da sala, abrindo a porta da sacada, deixando o vento refrescar todo o cômodo, balançando as cortinas. – A vista também é incrível. – Ela concluiu com a voz em êxtase, amava a visão acima de tudo.

            Rosalya a acompanhou e assoviou. – É... Incrível.

            O prédio ficava em um lugar privilegiado. Não muito no centro da cidade, então não era cercado por prédios luxuosos maiores ainda, possibilitando assim a vista panorâmica a todo o redor.

            As luzes ao longe ofuscavam o céu, piscando e brilhando, coloridas, representando a vida e a atividade noturna. Mas, ali sobre a sacada dela, não havia poluição luminosa. O único brilho era o da lua e das estrelas no céu. Lindo, de tirar o fôlego, e apaixonante.

            Rosalya sorriu. – Fez uma ótima escolha.

            Katherine assentiu, sorrindo quase imperceptivelmente e se debruçando sobre a grade da sacada. – Meu pai ia adorar...

            A amiga a observou com atenção quando seu olhar se moveu lentamente até o céu, com pesar, e um lampejo de dor brotou ali. Começou então a compreender.

            Tocou nos ombros de Katherine, oferecendo seu apoio. – Eu lamento muito, Kath.

            Katherine abaixou o olhar, em silêncio, um luto eterno e a dor se intensificando novamente no peito. Céus, doía lembrar, todas as vezes.

            - Às vezes eu penso que meu pai gostava tanto do céu que quis ir para lá mais cedo do que realmente deveria, e minha mãe o acompanhou. – Ela sorriu tristemente, com a voz amargurada, rouca, e em seguida cerrou os olhos. – Eu também gosto tanto deles que queria desesperadamente que ele tivesse me levado junto.

            Rosalya sentiu vontade de chorar. Sentiu vontade de poder arrancar com as mãos o sofrimento da amiga, mas não podia. Não podia amenizar, nem apagar, nem nada. A única coisa que podia fazer era tentar deixar tudo suportável, e oferecer o seu apoio.

            - Ele queria que você ficasse aqui. Pra criar os próprios caminhos, conhecer o amor, como ele conheceu. Queria que você fosse feliz, Kath.

            - Eu PAREÇO feliz, Rosa? – A amiga a encarou, inconformada. – Eu pareço? Desde que eles se foram eu venho tentando me reconstruir usando os pedaços que sobraram... Mas não dá. É como se um fantasma me assombrasse com o medo da perda em todo lugar para onde vou.

            - Eu sei. – Rosalya sorriu de leve. – Mas, na minha opinião, o seu trauma te preparou para a vida melhor do que qualquer um de nós. Porque você, ao contrário da maioria das pessoas, dará valor ao que tem e ao que realmente importa, já que saberá o que significaria perder.

            Katherine a encarou, em silêncio, e suspirou por fim. – Eu espero muito que tenha razão.

            - Agora... – Rosalya a segurou pelos ombros e a guiou de volta para a sala. – Chega de tristeza, me traga uma bebida ou vamos nos atrasar.

            Katherine riu. – Tudo bem, eu vou buscar. – E então se dirigiu até a cozinha.

            Rosalya ficou na sala, observando a decoração. Quadros com fotografia de paisagens e cidades, mas não chamativas, era quase um contraste monocromático. Haviam apenas algumas poucas fotografias pessoais espalhadas por lá – três para ser exata -, o que chamou-lhe a atenção. Em uma, uma garotinha de cabelos prateados, que identificou por ser mesmo a Katherine, sorria no colo de um homem moreno, que julgou ser o pai dela, com a mãe sorrindo abraçada à eles.

            Ela era linda. O cabelo prateado lembrava muito o de Katherine, embora fosse muito mais volumoso e ela parecesse tão minúscula quanto a filha no colo do marido. O pai dela olhava para as duas com ternura, com um sorriso tão bonito nos lábios que o amor praticamente saltava daquela moldura à fora.

            A segunda foto era somente uma foto de Katherine no colegial, que parecia normal e ela não entendeu a importância de estar em um quadro.

            A terceira, porém, lhe chamou a atenção. Nela Katherine estava abraçada à um rapaz lindo, de cabelos tão prateados quanto os seus. Os olhos eram de uma tonalidade quase igual, e os dois sorriam para a foto como se na boca tivessem estrelas. As feições eram idênticas, e ele era tão bonito quanto Katherine.

            Rosalya congelou no lugar.

            Irmãos.

            Eles eram irmãos.

            - O nome dele é Gabriel.

            Rosalya foi acordada do choque com a voz dela, e automaticamente a encarou. – Ele...

            Katherine suspirou pesadamente e deixou o copo com a bebida sobre a mesa de centro. – Ele é meu irmão.

            Rosalya assentiu. – É super notável... Mas você nunca me disse que tinha um... – Ela piscou devagar e suspirou. Na verdade Katherine ainda não havia dito muita coisa sobre seu passado. – O que aconteceu com ele?

            Katherine caminhou em silêncio até o lado dela, e retirou a fotografia da parede, acariciando a imagem do irmão com a ponta dos dedos. – Ele me abandonou quando eu mais precisava dele. Simplesmente não soube lidar com a dor. Não o culpo. Quando ele foi embora, eu já tinha tentado trazê-lo de volta de todas as maneiras possíveis, mas ele não voltou pra mim. – Ela deu uma pausa, procurando as palavras, remexendo na dor. – Então eu deixei que ele fosse, na esperança de que um dia os olhos dele voltassem a ter vida. E ele nunca mais voltou.

            Rosalya absorveu a história. Não sabia o que dizer pela primeira vez em muito tempo.  Talvez simplesmente não houvesse nada a ser dito. - Eu... Sinto muito.

            Katherine assentiu. – Agora, você pode me ajudar a escolher uma roupa?

            Rosalya sorriu, abraçando a amiga. – Garota, achei que nunca fosse pedir!

...

            Katherine começou a se arrepender de ter pedido ajuda à Rosalya quando ela finalmente a deixou se olhar no espelho.

            Exagerada.

            Excessivamente exagerada. 

            - Não mesmo. – Ela levantou as sobrancelhas.

            - Quieta. Você está deslumbrante!

            - Rosa, estou parecendo uma meretriz, só que daquelas de luxo!

            Rosalya riu. – Cale a boca. Não vai haver um único homem, com exceção do Leigh, é claro, que não vai olhar pra você! – Ela a rodeou, satisfeita com o seu trabalho.

            - Exatamente. Vai parecer que eu estou desesperadamente tentando chamar atenção. E pior, para o que eu tenho debaixo dessa saia ridiculamente minúscula. – Ela girou os olhos ao se olhar no espelho mais uma vez.

            O vestido era de um vermelho gritante que se destacava completamente sobre a sua pele clara. O decote não era profundo, era discreto, porém realçava a curva de seus seios de uma maneira que ela não achava necessária. Rosalya havia maquiado e delineado seus olhos, tudo preto. Sentia-se uma boneca. Uma boneca de vestido rodado e ankle boots.

            - Cale. A. boca.

            Rosalya estava linda também. Usava um vestido negro com detalhes roxos que realçava todas as suas curvas, sem exceção, o que não era difícil. Nos pés, a mesma bota over knee que ela parecia adorar. Ela havia amarrado o cabelo magnificamente, deixando o belo rosto todo à mostra.

            Katherine pegou uma jaqueta de couro, curta, e vestiu. – Pronto, ao menos agora já não pareço tanto com a Betty Boop.

            Rosalya soltou uma risada. – O seu senso de humor é ótimo, não posso negar.

            Katherine sorriu de lado. – E você ainda nem viu nada.

            - Se for assim eu prefiro nem ver. – Ela balançou a cabeça, e então o seu celular tocou. Era Leigh avisando que havia chegado para busca-las.

            - Vamos indo, o show já vai começar!

...

            Quando chegaram, Katherine chegou à conclusão de que Rosalya havia descrito o lugar como “um barzinho legal” com muita modéstia. O lugar era simplesmente incrível, ela constatou.

            A luz ambiente era quase escassa, e seria se não fosse pela luz negra e luzes coloridas que piscavam e faziam com que aquilo parecesse uma balada tranquila. Havia música alta, mesas, uma pista de dança enorme e um palco nada modesto. No local, também haviam muitas pessoas. Estava quase lotado.

            Leigh falou com a recepcionista na porta, que os deixou entrar sem nenhum custo e os indicou a mesa da banda, que tinha lugares reservados para eles. Sentiu sua autoestima se reerguer com isso enquanto caminhava desviando das outras pessoas, embora se julgasse mentalmente por isso.

            Conforme atravessavam a pista, em um lampejo de luz que brilhou mais forte e iluminou todos os cantos, ela viu algo que fez o seu estômago se contrair.

            Castiel estava com uma garota, loira, próximo demais para que fosse somente uma fã comum. Ela não conseguiu parar de olhar. Não conseguiu simplesmente ignorar quando ele a segurou pela nuca e puxou o rosto dela de encontro ao seu. E odiou aquilo. A raiva e a frustração cresceram dentro de si com aquilo e ela nem se quer teve a chance de tentar evitar.

            Contraiu o maxilar.

            Algo dentro dela doeu, como se tivesse levado um soco no estômago, como se tivesse sido atingida em cheio. Xingou então, Castiel e a si mesma, e por fim se deu conta de que ela não tinha direito nem muito menos porque reagir daquela maneira. Mas reagiu.

            Então, a raiva de si mesma aumentou, gradativamente.

            Rosalya a puxou pelo pulso, como se tivesse visto também e tentasse tirá-la dali o mais rápido possível. Katherine piscou, tentando iluminar os pensamentos. Não funcionou.

            - Kath...

            - Não. Diga. Nada. Não importa.

            Rosalya suspirou, derrotada. Sabia exatamente o que a amiga estava carregando no peito e não havia nada a ser dito a não ser o clichê “eu te avisei”. Ela sabia que esse momento uma hora ou outra chegaria, então agradeceu por isso ter acontecido logo. Pouparia sofrimento, frustração e raiva.

            No entanto, Katherine não parecia decepcionada, como se já previsse isso. Por outro lado, sua irritação era evidente.

            Elas chegaram rapidamente à mesa onde estava o restante da banda.

            Tudo parecia já estar organizado no palco, com os instrumentos em seu devido lugar, e a iluminação e som ajustados. Lysandre e Charli estavam na mesa, bebendo e conversando. Nenhum deles estava acompanhado, e Katherine pensou que ao menos a maior parte da banda realmente se concentrava no que realmente importava.

            Eles cumprimentaram Leigh com o típico cumprimento de homens, e Katherine e Rosalya foram recepcionadas com sorrisos e acenos de cabeça limitados. Ela gostou. Demonstrava respeito.

            Leigh saiu para buscar bebida para elas, uma mistura doce que Rosalya havia praticamente suplicado para tomar, dizendo algo como “aquela coisa é o manjar dos deuses”, e quando voltou elas começaram a beber, conversar e rir tanto que ela conseguiu esquecer da existência de Castiel por um momento.

            Por um breve momento, pois logo os rapazes se posicionaram em seus devidos lugar no palco para dar início ao show. A mesa deles ficava bem em frente à Castiel. Ela sentiu a raiva voltar com tudo, como uma explosão dentro do peito.

            Ela o encarou enquanto dava mais um gole, grande, sentindo o líquido queimar na garganta e no estômago. Já tinha bebido muito mais do que estava acostumada e sabia que sua facilidade em voltar a ficar irritada muito se dava por conta disso. Castiel olhou pra ela também, o olhar indecifrável, mas algo dentro dela supôs que ele não esperava que ela estivesse lá.

             É claro que não.

            Então, ela desviou o olhar, disposta a ignorá-lo da melhor maneira que podia, e voltou a conversar com Rosalya, que já estava muito contente também. Leigh teria muito trabalho até ela finalmente dormir. Àquela altura, mais pessoas tinham se aglomerado em frente ao palco e consequentemente se aproximado de onde elas estavam. Alguns rapazes se aproximaram para conversar com Leigh e Rosalya também foi cumprimenta-los. Katherine não conhecia ninguém, então sentiu-se um pouco deslocada e optou por ir até o bar buscar mais bebida para elas.

            O barman era gentil e muito bonito. Tinha cabelo preto desalinhado e olhos verdes como esmeraldas. Lançou-lhe algumas cantadas criativas, que ela soube muito bem como recusar e se divertiu com isso, juntamente com ele. Por fim, conseguiu aquele copo por conta da casa e voltou para a mesa.

            No caminho, porém, encontrou Nathaniel.

            - Nath?

            Ele se virou subitamente, parecendo tão surpreso quanto ela por encontra-lo ali. Ele vestia uma camisa azul escuro, com as mangas dobradas até o cotovelo, e calças jeans justas.

            - Kath... – Ele sorriu. – Não esperava te ver por aqui.

            Ela sorriu em resposta, dando um gole na bebida doce. -  Eu acho que posso dizer o mesmo. Nunca diria que isso aqui faz o seu estilo.

            Ele coçou a nuca. – Acho que também faço o tipo muito mais discreto do que imagina.

            Ela riu. – Isso vai me perseguir para sempre. – Ela notou que ele não estava bebendo nada, então ofereceu o seu copo, que ele negou.

            - Agradeço, mas não bebo.

            Ela o encarou, franzindo o cenho. – Então o que é que você faz em um BAR se não bebe?

            Ele riu. – Ótima observação. Mas só porque eu sou o representante de turma eu não posso simplesmente sair pra me divertir?

            - Sinceramente, eu pensei que você fizesse o tipo chato e monótono. – Ela o observou, irônica, como se o analisasse.

            - Se enganou, eu adoro dançar, e outras coisas mais. – Ele terminou deixando a frase pairar no ar.

            - Você? Dançar? Tá ai uma coisa que eu não acredito.

            - Só acredita vendo?

            Ela riu pelo nariz. – É, pode ser que sim.

            - Então... – Ele estendeu a mão, cortês, e ela o encarou em um misto de confusão e surpresa. – Me concede a honra de uma dança?

            Ela olhou para ele, em dúvida do que responder.

            Não havia nem se quer reparado que o show havia acabado de terminar e que a música anterior voltava a tocar.          

            Nathaniel estava apenas sendo gentil e parecia gostar da companhia dela, então não podia ser tão errado quanto a cabeça dela martelava em dizer. Além do mais, seria uma boa vingança para Castiel. Ele havia brincado com a garota errada.

            Vingança.

           Repreendeu-se automaticamente por isso, e tentou afastar qualquer tipo de pensamento ruim, ou qualquer tipo de pensamento que Castiel povoasse, e decidiu a realmente aproveitar o momento e permitir que se pudesse se divertir. Ela precisava daquilo. Desesperadamente. E, pra isso, precisava de alguém que realmente estivesse disposto a fazer isso com ela.

            - É claro.

            Ela levou o copo até Rosalya rapidamente, antes que os rapazes tivessem tempo de voltar para a mesa, para que ela não precisasse cruzar com ele. Em seguida, voltou para a pista e entregou a mão à Nathaniel, que gentilmente a conduziu ao centro da pista de dança. Ele colou as mãos na cintura dela e a olhou, como se pedisse permissão silenciosamente.

            Ela sorriu, assentindo.

            Então, ele a puxou para mais perto, enlaçando-a com seus braços. A respiração batendo contra seu rosto e o sorriso branco iluminando sua feição. Ele era bonito, ela não podia negar.

            O ritmo da música foi se acelerando, e ele a virou de modo que as costas dela se chocassem contra o peito dele. Ele era forte, ela notou isso naquele instante. Ele a puxou para ainda mais perto, praticamente colando o corpo ao dela. As mãos seguravam a cintura com força, mantendo-a fixa lá e fazendo com que o corpo dela acompanhasse o movimento do seu, em um único ritmo.

            Ela podia sentir o hálito fresco em sua nuca. E a maneira como Nathaniel a segurava fazia ela se sentir desejada.

            Ele dançava muito bem, ela precisava admitir.

            Então finalmente se sentiu à vontade para se soltar e fazer com que ele também tivesse que acompanhar os seus movimentos. Ele não se afastou por nenhum segundo e ela foi embalada pela êxtase do momento. Olhou para ele por cima dos ombros, só para ter certeza de que ele sorria.

            Ele parecia um anjo no meio da escuridão.

            - Você está linda. – Ele sussurrou.

            Com aquele ato ele a virou abruptamente, talvez embalado também pelo momento, e a puxou contra si. Seguro, forte, protetor. Ele fazia com que ela se sentisse segura.

            Katherine inclinou o rosto para olhar para ele, e ele fez o mesmo. Se aproximando, devagar, cruzando as barreiras.

            Ela fechou os olhos e esperou a explosão.

            Que, no entanto, não veio da maneira que ela esperava.

            Foi diferente. Ela sentiu as mãos de Nathaniel serem arrancadas bruscamente de sua cintura, embora tenham lutado contra isso. Depois disso, foi tudo muito rápido.

            A aglomeração de pessoas. Nathaniel sendo puxado para trás enquanto um furacão de cabelo escarlate praticamente saltava para cima dele, furiosamente. E ela quis gritar, mas estava atordoada. Levou alguns segundos para compreender o que estava acontecendo.

            - Castiel, para!

            Ela gritou. Ele não ouviu.

            Nenhum dos dois.

            Quando ela ia correr para tentar afastá-los, foi segurada e puxada para trás, encontrando Charli e Rosalya. O semblante deles era de tensão.

            Ela tentou se soltar, inutilmente.

            Então olhou novamente para a cena. Lysandre segurava Castiel com dificuldade notável, enquanto Leigh afastava Nathaniel para o lado oposto com o mesmo esforço. Leigh sumiu com ele em meio à multidão e todos se focaram em Castiel, que ainda lutava ferozmente contra os braços de Lysandre.

            - Me solta, Lysandre!

            - Enlouqueceu, cara? Já chega! Já deu o seu show!

            Castiel piscou lentamente e relaxou os músculos. Lysandre o soltou.

            Então, ele encarou Katherine. Ela parou de respirar.

            O cabelo grudava na testa suada, e o olhar carregava muita raiva e também desprezo. Ela não desviou o olhar. Estava confusa. Assustada, irritada, surpresa. O surto de Castiel não era algo pelo que ela esperava, não depois da cena que viu ao chegar.

            Ele se aproximou, passos fortes e rápidos.

            - Kath? – Rosalya perguntou, e ela compreendeu.

            - Está tudo bem, Rosa.

            - Tem certeza disso?

            Ela assentiu em resposta, não conseguia desviar os olhos de Castiel, que atravessava a multidão, feroz. Estava se aproximando rápido demais e ela não sabia o que esperar, mas queria enfrenta-lo, não fugir.

            - Tudo bem então.

            Então, ele a alcançou.

            Parou em sua frente, tão próximo que ela sentia a respiração pesada contra sua pele, e por ele ser consideravelmente mais alto, precisou olhar para cima para encará-lo. E se arrependeu daquilo.

            Os olhos deles eram um imenso abismo de escuridão. Ela nunca havia visto nada parecido. Ele parecia querer mata-la, rapidamente. E por um breve momento ela pensou que ele realmente faria isso, quando segurou em seu braço com força e a arrastou para fora do bar.

            Ele a “jogou” contra um carro preto, que ela considerou ser o dele, e ela chocou as costas contra o metal frio.

            Levantou os olhos para ele novamente, esperando que ele falasse.

            - Eu digo pra você não confiar nele e você CORRE para os braços dele?! – Sua voz era ríspida, parecia tão sombria quanto seus olhos. Ele não gritou. Não precisava.

            - Ele não me deu motivos para não confiar nele. – Ela respondeu cheia de amargura. O ar parecia ter ficado muito mais frio e ela sentiu o corpo todo se arrepiar.

            - Eu. Disse. Pra. Não. Confiar. Nele. – Ele grunhiu, cerrando os punhos.

            - E por quê, Castiel? Me dê os seus motivos!

            Ele se aproximou, acabando com a distância entre eles com um único passo, e socou a lataria do carro ao lado do corpo dela.

            - PORQUE EU ESTOU DIZENDO, DROG*!

            Ela o encarou. O peito subia e descia muito rápido, mostrando o quanto estava irritado. Ela podia ver em seus olhos.

            - EU ESTOU CANSADA DAS SUAS INSINUAÇÕES! ESTOU CANSADA DE VOCÊ! – Ela deixou toda a raiva que estava reprimindo sair, explodindo dentro de seu peito. – Você acha que pode brincar comigo e me dizer o que fazer e o que não fazer?! Eu não dei à você esse direito!

            A cabeça dela dava voltas.

            A raiva pulsava em suas veias e ela abrira o portão que não conseguiria mais fechar.

            Ele contraiu o maxilar. – Eu só pensei que você não merecesse aquilo. Que fosse diferente. Me enganei.

            Ele se afastou.

            Algo perfurou o peito dela.

            - Não fale de mim como se você soubesse de alguma coisa! Você. Não. Sabe! – Ela gritou, preenchendo o vazio.

            Ao redor dele uma pequena multidão de pessoas começava a se aglomerar para assistí-los. Deviam mesmo estar dando um belo show.

            - Não. Você é que não sabe. Garota ingênua! Ingênua e fraca. – Ele falou com a voz rouca, a olhando com desprezo.

            Ela quis gritar.

            Seus dedos finos acertaram em cheio o rosto dele, e tudo ficou em silêncio ao redor quando o estalo ecoou.

            Castiel tocou no rosto e a encarou, perplexo.

            - Nunca mais... – Ela grunhiu entredentes. – Nunca mais diga isso. Não tem o direito. – A voz dela era uma imensidão de amargura, e ele se manteve em silêncio, absorvendo a reação dela.

            Não soube se se sentia arrependido ou apenas chocado demais para falar qualquer coisa.

            Quando ele abriria a boca para falar, porém, algo atingiu a sua cabeça. Parecia uma garrafa de água.

            Castiel olhou para trás, estreitando os olhos e buscando quem o havia atingido no meio da multidão. Quando seus olhos focaram em alguém, ele ficou em choque.

            - Emilly?

            Então, o mundo de Katherine girou, e ela não viu mais nada.



Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...