CARTER
O ronco do carro de Mariah, em uma tentativa de funcionar, trouxe para Carter um pensamento, uma intrigante vontade de saber.
Ele havia comido ali e agora estava esperando para que o carro da tia de Aurora pegasse e ele pudesse ir embora, mesmo não querendo isso, tinha que aceitar que não poderia ficar com a garota a noite inteira, era contra as regras.
Olhou para Aurora e parou seus olhos sobre os braços cicatrizados dela, e naquele momento foi quando o pensamento chegou e o fez perguntar, mesmo que recusando.
_ Aurora...Como você...fez isso..pela primeira vez?..._ pausadamente disse, enquanto o som do motor do carro abafava suas palavras.
Ela o observou como se algo estivesse errado, talvez a pergunta que veio dele ou então a forte e palpitante dor de cabeça que se aproximava.
_ Um amigo..._ ela despechou as palavras sem o olhar com atenção.
_ Como?_ Carter ainda mantia suas dúvidas.
_ Você sabe quando temos que escolher um correspondente para mandar cartas na escola?_ ela o indagou, explicando.
_ Sei._ Respondeu.
_ Bem, meu correspondente, ele uma vez me mandou uma carta dizendo que ele se mutilava para acabar com sua dor._ Admitiu pegando na mão de Carter assustada.
_ E então você fez o mesmo na esperança que a sua dor parasse?_ ele disse contando a verdade.
_ Sim. A pessoa na carta era meu único amigo, com o tempo as cartas pararam de chegar._ Ela falou se aproximando de Carter, era difícil para ele ouvir de seus lábios coisas tão deprimentes.
_ Você sabe o que aconteceu?
_ Talvez ele tenha se cansado. Venha vamos lá_ ela puxou sua mão em direção ao carro que já estava parado do lado de fora, esperando para que eles se sentassem no banco de trás.
AURORA
As perguntas de Carter vieram tão de repente quanto um carro sem controle. Ele chocou-se com força em seu corpo e ela sem alternativas teve que dizer a verdade. A dura e sufocante verdade.
O que ela poderia dizer? Que a única pessoa que teve amizade fora alguém sem rosto em uma carta e que lhe dizia palavras confortantes? E que está mesma pessoa fora capaz de a fazer cometer seu primeiro corte, pois ela achou que resolveria?
Eram coisas absurdas de serem ditas, mas era a verdade e ela sempre parece impossível.
A cabeça de Aurora estava quente enquanto o carro da tia dirigia até a casa de Carter, ela não estava triste ou irritada, apenas sentia aquela pontada, aquele pulsar constante de suas veias.
_ Esta tudo bem?_ Carter perguntou preocupado.
_ Só estou com dor._ falou francamente.
Quando se preparou para responder o garoto, sua tia parou o carro na frente de uma casa grande e de madeiras de cores brancas.
Sairam do carro e Carter pegou o cortador de gramas que estava no porta malas.
_ Até amanhã._ ele disse sorrindo carregando o cortador em direção a porta de sua casa.
_ Até_ Aurora gritou de dentro do carro, enquanto a tia dava a partida. Estava mais calma e estava sorrindo.
CARTER
Entrar dentro de casa sempre era uma disputa entre correr ou abaixar a cabeça, ele preferiu a abaixa-la, pois estava cansado, sujo e necessitava de seu banheiro.
A luz da cozinha era a única acesa e foi para onde ele moveu-se com o cortador ja não mais em suas mãos.
Havia um bilhete na geladeira, dizia que os pais tinham saído e voltariam apenas no dia seguinte, aquilo o surpreendeu.
Correu ligando as luzes até o andar de cima, estava feliz e extremamente cansado, o que mais queria era deitar em sua cama e apagar pensando no rosto de Aurora.
Ao caminhar pelo corredor ele passou pelo quarto do irmão e continuava ali imóvel, um santuário que agora era a única presença dele. Quantos problemas uma pessoa pode ter e ainda continuar sorrindo? Carter pensou quando viu pela porta entreaberta os desenhos do irmão e a foto da namorada ainda colados no mural ou seria memorial?
Ate aquele momento Carter não entendia o porquê de ter uma foto de Natalie ali, o irmão a odiava, o namoro era uma perda de tempo, um assunto complicado e errado, foi então que percebeu que a garota na foto na verdade era uma mulher, sua mãe, era uma foto de quando eles estavam tirando férias em um lago da cidade.
Sem perceber ele já havia entrado no quarto, ainda tinha o cheiro do irmão, como se tivessem espalhado sua fragancia por todos os cantos do lugar, tudo estava igual e intacto, como se fosse uma fotografia, era quase possível ver o irmão sorrindo nela.
Deu alguns passos para trás, o quarto lhe trazia lembranças, imagens desconexas do irmão, cenas de dias e horas em que estiveram juntos.
Saiu, não conseguia ficar ali dentro, o quarto era como um buraco negro que sugava toda sua felicidade para si.
Pegou uma toalha velha e entrou no banheiro e um lampejo invadiu sua mente, uma cena, uma lembrança, um dia, o dia onde ele descobriu tudo e se manteve quieto, o dia que ele desejava mudar.
Ele se viu, ele o viu e quando menos esperava estava novamente vivendo o mesmo acontecimento.
Abriu a porta do banheiro e o encontrou parado rente ao lavatório, segurava um estilete gravado no braço esquerdo e sangue vertia inocentemente desse, como a torneira, porem de coloração vermelha. Virou-se rapidamente quanto viu o irmão menor estupefato na entrada, tentando entender o que ele estava fazendo.
_ Joseph? o que?_perguntou Carter com os olhos arregalados.
_ Não conte nada para a mamãe_ disse o maior largando o estilete e usando o braço livre de ferimentos para fechar e trancar a porta. Deixando assim Carter do outro lado, assustado e curioso com o que havia descoberto.
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